A garota caminhou até o único quadro daquela galeria. Ele era tão sombrio, tão simples, que chegava a ser hipnotizante. Um mar de tristeza inundou o corpo de Juliana, uma garota de aparentemente 12 anos, que ficou observando aquela imagem. Havia uma menina no quadro, os seus olhos eram negros e piedosos. O quadro representava uma viela muito estreita e bastante poluída pela cidade grande. A menina na imagem tinha os pés descalços e sujos, com algumas feridas que caracterizavam os seus braços pequenos e magricelos e parte de seus pés. Os olhos dela fitavam Juliana, que ficou imóvel enquanto contemplava a realidade que era tratada naquela obra de arte. Os dedos de Juliana se encontraram com o rosto da garotinha, que fazia um sorriso torto, e desceram até algumas sacolas de lixo que estavam perto da menina na pintura.

- Mãe! Posso levar esse quadro pra casa? – A menina perguntou, virando-se para procurar pela mulher que cuidava dela desde pequena.

- Maria, eu não já disse para você procurar comida! Deixe isso aí, aposto que a gente não vai ganhar nem uma migalha de pão com esse negócio! – A mulher apareceu no beco nojento onde estava jogada a criança e puxou a mão da menina, tomando cuidado para não atingir uma das suas feridas. Maria tentou resistir, aquela garota no quadro parecia estar olhando para ela, parecia até mesmo ter tocado a sua face, mas não havia como lutar contra a força da mãe. Saiu do beco, deixando o quadro que achara no lixo ali, jogado no chão.

- Enfim, só novamente. – Juliana respondeu, sentando-se numa cadeira que formava parte do cenário da pintura e olhando para o quadro, sua única fonte com a realidade, agora sem a menininha de rua. Iria esperar que outra pessoa aparecesse naquela viela para então torcer que ela a levasse a um local mais movimentado. Odiava ficar naquela pintura sem graça e ainda mais olhando para aquele beco imundo, entretanto não sabia como sair de lá. Apenas esperou pela próxima admiradora.