Não sei o que deu em mim. E eu tô lá preocupada com aquele Britânico maldito? É que...é estranho alguém da escola não participar das lutas. Nunca. Porque, geralmente, quem falta ou tá muito machucado ou tá doente. Ou morreu. Se bem que os “CDFs” alheios não vão quando tem prova no dia seguinte.

Mas, Rupert?! Ele não se acha o tal é blábláblá? E porque raios não iria nas lutas?

Numa situação dessas, em que eu estou extremamente confusa com um outro humanóide, eu daria de ombros e inventaria qualquer teoria. A primeira que viesse a minha cabeça seria a explicação e caso encerrado. Mas não foi assim, não NESSA situação, em especial. E era esse o problema. Eu sentia que era uma situação especial e merecia atenção.

Só que eu não fui simplesmente perguntar para ele, porque eu tive um pequeno desentendimento com a pessoa e não queria vê-lo. Então, desenvolvi teorias. Mas teorias malucas e/ou inteligentes. Eu peguei um caderno qualquer e fiquei pensando sobre isso e desenvolvendo as teorias.

Uma delas foi que na verdade ele não existia e era fruto da minha fértil imaginação. O problema, é que a Livvie também viu ele e até se beijaram! Só se ela também é um personagem que eu inventei para não ficar sozinha de novo. Hummmm...preciso pensar numa outra explicação, porque os professores também falam com ele...

Eu desisti e contei para a Livvie a minha situação. Ela também desenvolveu teorias muito tensas (aprendeu comigo!). Só que as dela não envolviam fantasmas, alienígenas ou assassinatos em massa...Não que as minhas envolviam...só que...deixa pra lá.

Ela perguntou porque eu estava tão interessada nesse assunto. Eu sou tão “Deixa pra lá...” ou “E daí?” ou “Que tédio...”. Eu não sou mal com as pessoas, até me importo com elas. Algumas. Mas é que, na maioria dos assuntos, eu fico com tédio e...blábláblá (viu? Fiquei com tédio agora!).

Ela deu um sorrisinho de criança e começou a cutucar minha barriga com cara de “pirralha que paquera”. Que são aquelas menininhas irritantes que se acham grandes e ficam falando que já tem namorado. Em falar nisso, semana retrasada foi dia das crianças. Parabéns (atrasado) pirralhos e pirralhas do mundo! Ta, que seja.

Aquele gesto, que me deu arrepio na espinha, significa que ela acha que eu...e-eu...acho que vou vomitar...

Ta! Eu exagerei quando falei que ia vomitar. É que é muito tenso quando uma amiga sua...bom, sua MELHOR amiga (e única) fala que você ta gostando do repulsivo ex-namorado dela. Se bem que eu acho que a relação deles tava mais pra “amiguinhos coloridos falsos” do que pra namorados. Mas, vá lá, né?

Então, ela sugeriu amigavelmente que eu conversasse com ele. Acontece que ela deve estar com amnésia, porque ela sabe MUITO BEM o que acontece se eu me envolvo demais com uma certa pessoa mencionada mais cedo. Mas ela ficou insistindo, mesmo eu tendo refrescado sua memória.

Caminhando. Lá vou, mais uma vez, caminhando para aquela bendita escada em frente à biblioteca. Ele nem precisou olhar para trás para saber quem estava hesitando em começar uma conversa.

-Que foi, Sofiazinha? –ele se virou com um sorriso sarcástico e divertido no rosto. Como se já soubesse o que eu queria- Sentiu saudades?

-Muito prazer, Sr.Repulsivo. Meu nome é SOPHIE. S-O-P-H-I-E. E não, eu não senti saudades.

-Então, agora meu apelido é ‘Repulsivo’? Preferia os outros. E não sei porque fica tão brava quando eu te atormento. Você já devia ter se acostumado. Luke se acostumou.

-É...tá. Blábláblá. Nossa conversa é sempre a mesma. Você enche o meu saco, eu rebato. Você menciona alguém. Eu pergunto quem é e voltamos ao assunto principal. A propósito...quem é Luke?

-Meu amigo. Eu acho...Não sei porque, mas não tenho muitos amigos confiáveis. Talvez porque eu não confie neles também. –ele virou para mim fazendo uma cara de “isso é obvio” nessa ultima frase- Ele é meu “colega de quarto” na verdade. Não acredito que nunca falou com ele.

Achei estranho ele fazer as aspas com as mãos no ar. Eu já encontrei duas pessoas que fazem isso: ele e Ruddy. E eu. Que saco, achei que só eu fizesse isso.

-Eu não conheço muitas pessoas. Bom, eu vim falar de outra coisa.

-Diga-me.

-Bom...porque não vai às lutas?

Fui bem direta, não acham?

-Porque eu não gosto.

-Como assim não gosta?

-Não gosto. Como você não gosta de...do que você não gosta mesmo?

-Saltos.

-Exatamente. Dããã!

Lálálálálá...sorriso sarcástico irritante (contando até dez para não arrancar aquele sorriso da boca dele com as próprias mãos).

-Mas...todo mundo vai! Até quem não gosta! Tipo...os NERDs!

-Eu sei.

-Então...porque não vai?

-Porque eu não gosto!

-Todos gostam!

-Nem todos!

-Até os NERDs  vão!

-Para de falar isso!

-Mas é verdade!

-Eu só...não gosto!

-Isso é ridículo!

-Porque se importa?

Meus olhos se arregalaram um pouco. A pergunta veio tão de repente no meio de respostas rápidas e gritadas. Ele não era de subir o tom de voz. E, quando subia, não era por muito tempo. Então, ele fez a pergunta calmamente.

-E-eu...não sei...

Eu fitava o chão enquanto meus olhos o percorriam rapidamente, procurando alguma coisa. Talvez uma resposta.

-Porque. Se. Importa?

Ele perguntou calmamente e me encarando. Eu o encarei de volta, meio assustada e confusa comigo mesma.

-Não. Não me importo.

-Claro que não.

Ele se levantou e foi embora, me deixando ali...confusa...sozinha...procurando a resposta. Eu me importava sim.

Eu bati na porta do dormitório dele, à noite. Mas ele não estava. Luke atendeu a porta. Ele era familiar. Não familiar tipo o Miguel, familiar tipo...eu já vi ele antes, mas não na escola. Sabe? Estranho.

Ele não era bonito nem feio demais. Era normal.

Tinha o cabelo castanho claro liso que caia até o começo de seu pescoço, atrás, e ,na frente, formava uma franja que chegava até a sombracelha. Essa franja se abria de um lado, não sendo contínua. Ele tinha o rosto de um menino comportado mas meio...sei lá...rebelde, acho. Isso é meio contraditório. Isso é extremamente contraditório, mas tudo bem. Só pra constar, ele tinha os olhos castanhos também.

Ele me deu um sorriso gentil quando abriu a porta.

-Olá, Sophie! Tudo bem?

Meu Deus. Ele sabe meu nome. Estranho!

-Olá. Luke, né? Tudo sim, obrigada.

Eu retribui o sorriso, hesitante.

-Entre, por favor.

Ele abriu espaço para eu entrar no quarto e fechou a porta atrás dele. Meus pensamentos me atropelavam a mil por hora.

Pelo menos ele não trancou a porta. É só dar um soco nele e sair correndo...Ai Meu Deus! Acho que eu pirei! Ele só é um menino educado!

-Aceita um refrigerante, ou água?

-Não, não. Obrigada.

-Sinto muito Rupert não estar aqui. Queria falar com ele, não é?

Estranhei ele saber que eu queria falar com ele.

-Ah...tudo bem. Só queria fazer uma pergunta simples a ele.

-Se quiser, pode perguntar para mim.

Ele sorriu de novo. Que relaxante, um sorriso normal e não-sarcastico.

-É que, eu não o vejo nas lutas. Queria saber o porque dele não ir.

-Ele não gosta.

Aquilo me irritou profundamente.

-Mas, quer saber a verdade? Ele não luta bem. Nada bem. E odeia admitir que faz algo mal. Ele é tão arrogante! Tentei mudar seu comportamento em vão. Mas é só dar uma arma a ele que acerta uma abelha a metros de distância!

-Então...ele não é perfeito! E não consegue admitir isso! Uau. Obrigada, Luke.

-Imagine! É um prazer.

Eu sai do quarto acenando para meu novo “coleguinha”. Ou informante, como quiser chamar. Mas, aquilo que ele me contou, não saía da minha cabeça e me assustou um pouco...uma arma? Então, Rupert atirava bem. Mas...como Luke sabia disso? Muito, muito estranho...