Não podia ser real. Era perfeito demais. E minha vida não era nada perfeita.
O braço de Alex envolvia minha cintura, me dando apoio. Eu estava tão concentrada naquele momento, que nem percebi quando Alex parou de andar.
-- Sua casa é naquela rua, não é? -- ele perguntou.
Aquelas palavras me fizeram despertar do meu mar de pensamentos.
-- Sim, mas como você sabe? -- perguntei. Como alguém podia ser tão perfeito? Sua expressão endureceu. Parecia que eu tinha feito uma pergunta impossível de responder.
-- Você não precisa saber. -- ele disse.
Fiquei calada. Ele tinha um segredo. Mas resolvi não tocar no assunto. Não queria estragar aquele momento.
"Afaste-se dele! Eu já disse que vai se arrepender!"
Não obedeci. Em primeiro lugar, porque eu não estava conseguindo andar. E em segundo, porque ninguém poderia estragar aquele momento, muito menos uma voz que, eu achava que, vinha da minha mente.
Mas a voz era muito parecida com a de Cléo. Eu não sei por que, mas eu tinha quase certeza que ela queria alguma coisa de mim. Talvez fosse Alex. Era o mais provável. Mas eu não podia acusar ninguém sem ter provas.
Olhei nos olhos de Alex. Estavam calmos, como sempre. Mas ele parecia angustiado.
Mas estar com ele fazia com que eu me sentisse diferente. Mais forte. Ou protegida.
Eu estava flutuando em pensamentos. Alex era a única pessoa que me fazia pensar em coisas boas.
Eu estava muito destraída. Mas, o tempo é inimigo das pessoas desligadas. Nem percebi quando chegamos. O tempo passou muito rápido.
-- Bom, então... -- eu disse, pensando no que podia falar. -- Até amanhã. E obrigada por...
-- Não precisa dizer nada. -- ele disse, levemente. -- Até amanhã.
Entrei em casa, com cuidado para que meu pai não me visse. Subi as escadas e fui para o meu quarto.
" Alex, por que você tem que ser tão perfeito?" disse para mim mesma.
Deitei na cama. Senti algo duro em meu travesseiro. Então levantei-o.
Fiquei paralisada. Sem saber que movimento faria. Nada fazia sentido.
A caixa. A caixa com detalhes de ouro que não podia ter sido feita por nenhum humano. Bem ali. Na minha cama. Na minha frente.
Passei a mão sobre os enfeites de ouro. Era a mesma caixa. Havia algo mágico nela. 
A caixa que a criatura de meu sonho me dera. Mas por que ali? Por que apareceu bem debaixo do meu travesseiro? Tudo tinha sido um sonho, não tinha?
Minha mente foi envadida por milhares de dúvidas. Aquilo não podia ser real. Eu tinha que estar sonhando.
Fechei meus olhos com força. Quando abri, nada. Ainda estava na cama, segurando a caixa. Eu estava acordada.
Sempre que quero estar sonhando, não estou. É tudo real. Não sei por que a realidade é tão difícil. Tão traiçoeira. Tão cheia de ilusões.
As melhores, nunca são reais. As ruins, nunca são parte de um sonho. 
Fechei meus olhos de novo. Desta vez, vi a imagem da criatura. Seus olhos vermelhos cheios de arrependimento. Seu rosto estava sem expressão.
Abri meus olhos. Não queria mais ver aquela imagem. Era horrível.
Mas o único jeito de saber a verdade era dormir. E sonhar com aquele lugar de novo.
Eu não gostava do sonho, mas eu tinha que ir. Era a única saída.
Deitei-me no travesseiro. Pensei em Alex. E adormeci lentamente.