- Heidi, acorde! - falou Meredith abrindo a janela do meu quarto deixando o sol entrar. Puxei a coberta até a minha cabeça e fechei os olhos.

- Fecha isso mãe! - falei ainda enterrada no lençol.

Não era por sono, e sim por cauda do sol. Eu e ele não somos muito amigos. Me sinto fraca e como se aquilo me queimasse, ou algo do tipo. Era horrível viver em Los Angeles. Não sei como tem gente que fica horas no sol à ponto de ficar bronzeado. Ou vermelho.

Eu era estranhamente pálida. Parecia que eu morava no pólo norte desde sempre, e não em Los Angeles. Minha pele era fria de um jeito ruim. Segundo as demais pessoas, parecia que estavam segurando gelo.

Eu nunca me importei em ser um pouco – sinta o sarcasmo – diferente. Na verdade, era bom. Afastava as pessoas de mim e bem… não sou a pessoa mais social do mundo.

- Heidi, levante agora. – falou minha mãe puxando minha coberta. Levantei e fui fechar a janela

- Melhor agora. – falei sorrindo e indo até o banheiro.

Deixei a água gelada molhar meu corpo enquanto tentava relaxar. Bom, tenho a leve intuição de que não deu muito certo. Sai do banheiro e fui me vestir. Uma blusa branca com detalhes dourados escrito “LoveMusic”, uma saia preta de cintura alta, um óculos aviador de armação dourada, meu colar com crucifixo de pedras verdes, meia-calça quadriculada e um scarpin preto com um laço rosa. Desci as escadas correndo e peguei uma maçã na mesa. Dei um beijo no meu pai e um em minha mãe e me sentei.

- Bom dia Heidi. – falou meu pai sorrindo

- É... – falei passando a mão no cabelo – Acha que vai fazer muito sol hoje? Queria ir na praia... – falei mordendo a maçã

- Acho que sim Heidi. – falou minha mãe sorrindo

- Ah. – falei triste – Porque o sol não tira férias? Seria uma boa idéia. – falei comigo mesma.

- Heidi, você não quer mesmo fazer mechas? – falou minha irmã mais nova passando a mão nos meus cabelos claros. Ela tinha 13 anos, enquanto eu tinha 16. Há, há, há!

- Não Blake. Já disse que gosto dele assim. – falei dando um beijo em sua bochecha.

 - É estranho. Claro demais. – falou sentando e comendo cereal – E que tal luzes? – perguntou com uma sobrancelha arqueada

- Blake! – falei cruzando os braços

- Ok... – suspirou comendo mais do cereal

- Heidi, será que você pode levar Blake à escola? Vamos ficar ocupados a manhã inteira. – falou meu pai sem tirar os olhos do jornal que lia

- Vá se arrumar Blake. – falei me levantando e indo para o meu quarto.

Entrei no banheiro e escovei os dentes, penteei o cabelo, deixando ele com um aspecto bagunçado. Fui até minha penteadeira. Sentei lá, peguei o lápis preto e contornei meus olhos com uma camada média e forte preta. Passei prata no resto da pálpebra. Peguei batom vinho e passei nos lábios. Rímel preto e pronto. Minha maquiagem estava pronta.

Levantei, peguei um treach coat branco em cima da cama e minha bolsa. Desci as escadas correndo e fui até o quarto de Blake. O quarto dela é no primeiro andar, e tem uma porta virada para um jardim que ela amava ficar.

Bati na porta e ouvi ela reclamar que eu era rápida demais, ou algo do tipo.

- Abre essa porta Blake! – falei esmurrando a porta dela

- Está destrancada! – respondeu berrando. Abri a porta e achei o caos.

Tinha roupa por tudo quanto era lado. Tinha maquiagem em todo o canto. Bolsas, sapatos, óculos, etc e tal, estavam todos bagunçados.

- Não sei o que vestir. – falou dando um sorriso amarelo

- Eu separo a roupa e vá terminar o seu cabelo. Deixe-o com ondas. – falei recolhendo umas coisas perdidas pelo quarto.

- não é melhor liso? – perguntou me olhando com os olhos brilhantes

- Não. – falei pegando uma regata azul-piscina jogando no monte de coisas que eu nunca mais quero ver.

Peguei uma saia de cintura alta branca com um laço rosa - bebê gigante nas costas. Peguei uma blusa rosinha, uma meia calça preta normal, um scarpin pink. Peguei umas mechas postiças coloridas – cores como vermelho, rosa, roxo, vinho... nessa tonalidade.

Peguei o bebyliss e cacheei as mechas. Prendi elas no cabelos de Blake e olhei no espelho.

- Se vista logo. – disse com um sorriso deixando o quarto.

- Usa isso. – falou me jogando uma mecha azul, já cacheada. Prendi-a no cabelo e fui esperar na sala.

- Querida, como está? – perguntou minha mãe se sentando ao meu lado

- Porque pergunta? – perguntei olhando em seus olhos

- É a terceira escola esse ano Heidi. – falou minha mãe com o olhar triste.

- E daí. Não faz diferença mesmo... Vou ir para outra mês que vem mesmo. – disse rude

- Não precisa ser assim Heidi. Se você me contar o que está acontecendo... – falou minha mãe com os olhos chorosos

- Está tudo bem. Só não... – eu não sabia o que falar. Eu insistia para que ela me deixasse mudar de escola, mas não dava nenhuma justificativa. – Eu vou melhorar. – falei olhando para a janela. – Diga à Blake que eu estou no carro. – falei me levantando e indo para o meu carro.

- Qual Heidi? – perguntou Blake vindo correndo atrás de mim com um tom divertido

- Mercedes vermelha. – falei ainda não muito feliz

- Ok. – falou ela me alcançando – Porque continuou à correr? – perguntou cruzando os braços

- Relaxa. – falei ligando o som. Highway to Hell estava tocando. Fechei meus olhos enquanto colocava o cinto e esperava Blake fazer o mesmo.

- Oh não. Essa música de novo não. – falou tapando o ouvido. Eu tive que rir

- Quer ouvir o que? – perguntei cedendo

- Taylor Swift. – falou com um sorriso

- Ok... – falei pegando o pen drive que estava na minha bolsa e colocando Love Story.

- Valeu! – falou batendo palmas. Passava pelas ruas de Los Angeles e via as pessoas andando para lá e para cá. Eram umas seis horas, então as pessoas estavam saindo para ir para seus trabalhos. – Pronta para a nova escola? – perguntou com um sorriso de lado.

- Talvez. – falei dando de ombros – E de que importa?

- Importa para nossa mãe. – falou olhando para o sol – Não sente calor? – questionou apontando para o casaco com a cabeça sem tirar os olhos do sol.

- Já disse que não Blake. – falei revirando os olhos – Você já tocou minha mão?

- Já, mas...

- Então, como uma pessoa assim pode sentir calor? – perguntei rindo

- Isso não te incomoda?

- Porque deveria? – ela encolheu os ombros, como uma pessoa que não sabe a resposta – Eu sempre fui assim. Melhor me alto aceitar do que ficar me odiando. – dei de ombros

- Eu não gostaria. – falou e completou – Eu não sirvo para ser fria.

Era verdade. Ela tinha a pele em um tom rosado, que aparentava exalar calor, que ficava legal com o cabelo arruivado dela. Seus olhos eram castanhos, mas meio avermelhados, de um tom diferente. Era bonito. Eu gostaria de ter esses olhos.

- Meu colégio é ali. – falou apontando para um prédio de aparência antiga.

- Eu sei. Já estudei aí. – falei com um sorriso de lado

- Quando minha aula terminar eu te ligo. Quero ir a um rio qualquer. – falou fechando a porta, sem me dar chance de descordar.

Acelerei para um colégio não muito longe dali. Era um prédio azulado como se fosse uma casa gigante. Ou um condomínio. Tanto faz. Academia Nell’s Olimpus. Sinceramente, quem teve a brilhante idéia de colocar esse nome?

Estacionei em uma vaga ao lado de um carro preto e desci. As pessoas me olhavam torto e pensavam algo como “Que maluco usa casaco em um dia quente como esses?”, “Que roupa feia” ou até “Que cabelo é aquele?!” e coisas desse tipo.

Fui até a secretaria para mais um tormento diário.

Um breve resumo. Um saco, um tédio, uma merda e bem… UM SACO!!

Sinceramente não sei o que faço na escola. É sério. Tipo... não tem sentido e é sem graça. Sei que precisamos estudar para ser alguém no mundo, mas e quem quer ser um artista? Sair por aí pintando quadros e vendendo? – Não que seja o meu caso, claro. Mas é por aí.

Estava indo para a escola de Blake para levar a criaturinha a um rio. Tinha um perto de nossa casa, então podia deixar as coisas em casa. Eu acho. Entrei no estacionamento e todos olhavam para o meu carro. Alguns já sabiam quem estava lá dentro, outros nem faziam idéia.

Abri a porta do carro e sai lentamente. Vi uma loira aguada vir na minha direção com uns peep-toes azuis muito feios. Jennifer, pensei com raiva.

- Olá Heidi. – disse com um sorriso estúpido no rosto. Algo como “Eu sou superior à você! Lá, lá, lá!”

- Jenny. – disse amargamente cruzando os braços

- Faz um bom tempo que não te vejo...

- Tempos de ouro. Poderia continuar sem te ver. – falei cortando ela com um sorriso amarelo. Ela logo ficou enfezada. Um para Heidi, zero para Jennifer.

- Olha aqui sua mendiga...! – começou a falar apontando o dedo para mim

- Eu não sou mendiga. Sou mais rica do que você até. – falei com um sorriso superior

- Pois se veste feito uma sua... Emo! – falou rindo, com suas amigas de eco.

Nessa hora me deu uma raiva. Eu simplesmente odeio que me chamem de emo. Eu não sou emo! Eu posso ser punk, mas não sou emo. Sou roqueira, mas e daí?! Não é da conta dela!

Senti uma ventania forte vinda de trás de mim. Ou até de mim, não sei. Sei que era forte. Vi todos tentarem proteger seus olhos, mas eu não precisava. Não me incomodava.

- Eu não sou emo. – falei pausadamente. Senti o ar ficar mais frio, mas eu não sentia frio. Isso era estranho.

- É sim! – falou caindo de bunda no chão berrando um “Ai!”. Vi Blake chegar perto de mim, ou tentar. Eu relaxei e a ventania foi passando. Como se eu controlasse ela. E o pior é que já tinha acontecido isso outras vezes.

- Vamos logo. – falou Blake entrando no carro. Sem falar uma palavra, entrei no carro e acelerei. – O que aconteceu?

- EU NÃO SEI!! – berrei de raiva enquanto lágrimas caiam molhando meu rosto. Vi ela se encolher de medo no banco abraçando a mochila. Fiquei em silêncio até chegar à nossa casa. Estacionei o carro e enterrei o rosto nas mãos – Eu gostaria de ser um pouco mais normal. É como se eu controlasse os ventos e fizesses o tempo ficar mais frio. E isso é estranho. Eu já fiz uma pessoa se contorcer como se estivesse sendo torturada só de olhá-la. Eu não me encaixo em lugar nenhum, as pessoas estão sempre caçoando de mim e...

- Respire Heidi. – falou Blake me abraçando. – Vamos lá no rio. Você vai relaxar e vai esquecer tudo isso... – falou afagando meu cabelo. Ah, como você estava errada Blake.

Soltei-me do abraço dela e sai do carro. Tirei o sapato e a meia-calça ali na garagem mesmo e deixei minha bolsa dentro do carro. Vi Blake fazer o mesmo e sai da garagem.

Começamos a andar pela floresta em silêncio, mas Blake começou a falar algo sobre um garoto novo muito bonito no colégio dela, mas eu deixei minha mente vagar pela floresta. Reparar o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas... Tudo tão perfeito...

Em alguns minutos chegamos ao rio e Blake se jogou no rio rindo. Sentei na margem e coloquei os pés dentro d’água. Blake ria e falava alguma coisa, mas eu não reparava. Escutei algo como “tump-tump-tump.” E me levantei. Blake ficou séria e saiu d’água. Eu realmente não esperava ver um cachorro gigante com um garoto em seu dorso. Esperava tudo, menos isso.