Novos Olhos escrita por Maybe Shine


Capítulo 3
Me recheiam com esperança


Notas iniciais do capítulo

Fiz com carinho, reescrevi várias vezes. Espero que não tenha erros. :B
Boa leitura!



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Voltei para casa de metro, o que foi bem estranho. Para ser sincera aquilo mais parecia uma latinha de sardinha em movimento, coisa mais idiota. O metro, quero dizer. Apareceram umas três pessoas perguntando se eu precisava de ajuda porque a escada rolante estava estragada.

Por mim nunca mais entraria naquele lugar.

Acho que foi por não ter gostado nada de andar de metrô que fiquei feliz quando minha mãe avisou que iríamos de carro até a clinica, porque nunca que eu ficaria feliz por ter que ir até uma clinica.  Apesar, ninguém ficaria.

 

A Clinica era em um prédio baixinho, não tão no centro da cidade. Mamãe parou o carro em frente a entrada. O lugar era arborizado. Casinhas achatadas, flores coloridas, árvores altas, cercados bonitinhos. Tinha esperança que saindo do interior encontraria apenas prédios cinzentos e mendigos nas esquinas.

Olhando assim, de primeira, deu para reparar que a nova clinica não tinha nada a ver com as que cheguei a frequentar antes. Essa tinha um ar calmo, não como se lá dentro fossem nos amarrar em uma cadeiras e tentar costurar uma mão ou pé novo na gente. Era uma coisa mais amigável.

Enquanto seguia ao lado da minha mãe para entrar na clinica reparei em algo. No jardim extenso ao lado haviam uns bancos e uma árvore bem alta. Logo abaixo da árvore, sentados nos bancos, haviam algumas pessoas do meu tipo. Quero dizer, da mesma idade e com alguma deficiência. Tinha até uma garota em uma cadeira de rodas. Todos eles riam.

Olhar para eles e ouvir todas aquelas risadas despreocupadas me fizeram sentir essa coisa. Era meio que uma dor de barriga.Talvez, apenas talvez, eu não estivesse totalmente sozinha.

 

Depois de entrar e conhecer todos os cantos da clinica acompanhada por uma senhora bem simpática me mandaram sair.

- Mas mãe, não quero sair.

Ela chegou seu rosto bem perto, sussurrou.

- Eu vi que você ficou olhando pelo cantinho dos olhos para aqueles outros adolescentes lá fora, vá conversar com eles, um pouquinho...

- Não, não. Nada disse, não vou.

- As vezes você parece tão tímida, Alex.

Olhei para minha mãe, ela estava com aquele sorriso vacilante.

- Eu sou tímida, mãe.

- Então não seja!

 - Essa coisa de timidez é muito idiota, mas não é assim. Porque não é uma coisa que nem chulé ou sei lá, mal hálito, não é uma coisa que desejemos ter. Simplesmente temos, e é muito difícil mesmo vencê-la.

O sorriso sumiu. Seu cenho começou a franzir .

- Escute, mãe. Não é que eu ache que mal hálito é uma coisa que desejemos ter. Só que timidez é da personalidade de cada um, e na minha opinião não devemos mudar a personalidade da gente. A não ser que a pessoa tenha propensão a ser psicopata, daí vale a pena investir num tratamento. Apesar, ninguém quer ser esfaqueado enquanto toma banho.

Ela continuou me olhando daquele jeito, disse que precisava tratar de uns assuntos com a diretora da clinica, me chamou de Alexandra e mandou que eu fosse pegar um ar.

 

Uma garota se aproximou devagar e disse oi toda sorridente, depois sentou-se ao meu lado, meio se apoiando, meio caindo.

- Oi – disse eu, tentando não parecer encabulada.

- Você é nova aqui, certo? – perguntou ainda sorrindo.

- Certo.

- Me chamo Suzana, você deve ser a Alex. Nos avisaram que você viria. Sabe, aqui é um lugar muito bom, para pessoas como nós.

Pensei que era uma coisa muito estranha algumas pessoas simplesmente chegarem e já começaram a conversar, mas não sei bem ao certo porque, mas sorri para Suzana e disse que esperava que fosse. Depois disso não parei mais de falar. E ela também falou bastante.

Mas após um tempo ela fez a pergunta que eu não queria que ela fizesse.

- Alex, você não quer conhecer meus amigos?

Olhei para onde Suzana apontava, alguns dos seus amigos continuavam por ali, alguns já haviam ido embora. Senti umas coisas na barriga.

- Não, tudo bem, não precisa.

- Mas eles não são tão chatos quanto parecem, nem precisa ter medo.

- Não estou com medo – me apressei em dizer.

Suzana riu de um jeito gostoso.

- Alex – Suzana, que estava prestes a dizer mais alguma coisa, fechou a boca  no mesmo instante. Senti uma onda de alivio, tenho que admitir, por minha mãe ter aparecido– já resolvi tudo... oh! você fez uma amiga!

Mamãe sorriu toda orgulhosa, Suzana retribuiu o sorriso, e eu me senti uma idiota, como me sinto 90% do tempo.

- Já podemos ir, mãe? – ela respondeu que sim, então me despedi de Suzana dizendo que teria muito tempo para conhecer todos os seus amigos, mas que hoje não daria para ser.

 

- Não brinque com a comida – advertiu meu pai, o que é uma coisa muito idiota, quando se diz isso a sua filha adolescente que esta enfileirando ervilhas no prato e fingindo que vai atirar uma a uma na irmã mais velha.

Mas não estava fazendo isso só porque ervilhas são bolinhas verdes sem gosto e sem graça, e sim porque Ellen causa esse efeito em mim. O de querer atirar nela a primeira coisa que vejo pela frente.

- Ellen, me responde uma coisa? – perguntei enquanto começava a enfileirar os cubinhos de  cenouras no prato.

- Claro.

- Porque você esta com estas coisas na cabeça?

- Ah, sua bobinha – Ellen soltou algumas risadinha enquanto balançava o garfo com um pedaço de aipo espetado nele – para meus cabelos ficarem bonitos.

Respire fundo Alex, respire fundo.

- Eu sei porque as pessoas enfiam bobs em seus cabelos, só não entendi porque você esta se arrumando para dormir.

- Ah, isso – risadinhas, mais aipo sacudido - porque tenho um encontro hoje.

- Um encontro? – meu pai perguntou com a voz de repente séria.

Todos olhamos para Ellen meio espantados. Acho que porque não é uma coisa normal já ter um encontro assim, tão rápido.

- É, um encontro com Jack – Ellen ficou com aquele olhar sonhador, o mesmo que fica toda vez que vê o novo catalogo de roupas para o próximo verão.

Depois disso não calou a boca. Disse que conheceu o tal de Jack na escola, que ele lhe ofereceu carona até em casa, que eles trocaram algumas ideias e tudo mais.

Precisei morder a língua para não dizer que eles não haviam trocado ideias coisa nenhuma, e sim um pouco de saliva, porque minha irmã não é bem do tipo que tem ideias. Isso seria complexo demais para ela.

- E você Alex, fez alguma amizade na escola?

Ah, claro. Se vocês contarem como amizade eu ter conseguido trocar de lugar com o garoto remelento que sentava na ultima classe no canto da sala de aula.

- Não muitas, pai - foi apenas o que disse, para não decepcioná-los.

- E porque alguém iria querer ser amigo dela? Vocês vêem o jeito que ela se veste?

- Ellen, não fale assim da sua irmã, e Alex, solte logo essas ervilhas!

 Ellen ficou dizendo mais algumas coisas que eu não achei nada legal de ficar ouvindo, mas logo meu pai ficou todo bravo e mandou que subíssemos para os quartos.

 Sabe, é incrivelmente irritante ter uma irmã igual a Ellen. Ela consegue acabar com toda a minha alegria. Sei que não é nada difícil disso acontecer, mas tanto faz.

Como se não bastasse ter uma irmã maluca no dia seguinte teria aula e seria aquela mesma coisa,  teria que ver aqueles mesmos rostos,  teria que ouvir as mesmas conversas. Seria apenas o segundo dia de aula e eu já estava detestando aquele lugar.

 Fui tomar banho antes de deitar, para ver se dessa vez  tinha um pouco de sorte e encontrava um psicopata no caminho.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?