Capítulo 7: Obrigado

Lara abanou o corpo inerte da filha. Mary continuava desacordada e bastante pálida.

- Eu não fiz nada, apenas… - Darius tentou se desculpar.

- EU VOU TE MATAR… - Lara ergueu-se encostando a espada ao pescoço deste. Os seus olhos desviaram-se momentaneamente para algo no chão. E foi quando a ficha caiu. Ao lado do corpo de Mary uma grande serpente estava enroscada. A cabeça estava separada do corpo e Lara percebeu que Darius apenas tinha morto a ameaça.

- Ela foi mordida. – Darius afastou a espada de Lara e agachou-se, pegando no braço da pequena e mostrando a marca da mordedura.

- Oh meu Deus. A minha princesa não. – Lara caiu de joelhos e afagou o cabelo de Mary. – Desculpa-me Darius. Eu não queria… eu pensei que… - Lara colocou a mão na boca abafando um gemido.

- Não há problema. Você é mãe eu compreendo perfeitamente. Mas agora temos de nos despachar. – Darius rasgou um bocado da camisa e enrolou-a à volta do braço de Mary. – Tenho de sugar o veneno. É a única chance dela.

Uma sensação de enjoo invadiu Lara. Era muita coisa para assimilar num só dia. Pegou na mão da filha e acariciava a face desta, enquanto Darius se certificava que não havia mais veneno.

- Agora só resta esperar. – Darius disse. – E rezar para que nenhuma gota de veneno tenha sido assimilada pelo sangue.

Lara sentiu uma onda de gratidão enorme invadi-la e ao mesmo tempo vergonha por ter desconfiado deste.

- Obrigada de coração. – Lara abraçou Darius fortemente e este ficou sem jeito. – Nunca esquecerei o que fez pela Mary Rose!

- MAS O QUE É QUE SE PASSA AQUI? – A pergunta a altos berros fez com que Lara largasse Darius e sentisse o chão fugir quando deu de trombas com Jack com uma expressão bastante parecida com um touro enraivecido, Alicia com a mão na boca tentando não rir ou não chorar, Barbossa tentando manter-se sério, e o resto com a boca aberta até ao chão.

- Alto lá Jack! – Lara exclamou enquanto Darius pegava Mary ao colo, deixando os outros em estado de choque. – Mary fugiu e foi mordida por uma cobra. Se não fosse o Darius ela estaria morta e agora não é hora para discussões porque temos de levá-la urgentemente para o Pearl.

- Mas… - Jack estava a ponto de explodir e a única vez que se sentiu assim foi quando Barbossa lhe roubou o navio.

- Com sua licença capitão mas temos de levar a menina embora daqui. – Darius disse, olhando para Jack e depois desviando a atenção para Barbossa.

- Claro! – Barbossa exclamou. – Abram caminho suas ostras idiotas! – Dirigiu-se aos restantes piratas.

- Não. – Jack barrou o caminho a Darius. – Eu levo-a.

- Jack… - Lara ia pedir calma mas sabia que não adiantaria de nada.

- Ela é minha filha, eu levo-a. – Jack olhou duramente para Lara e esta pode notar o esforço que este fazia para não dar um tiro em Darius. "Mas porque é que não te contentaste em agradecer só?", Lara pensou. Mas a felicidade de Mary poder ser salva era tão grande que se atirou ao pescoço de Darius, estragando tudo.

Jack não largou a filha até chegar ao Pearl só permitindo que Lara se aproxima-se, mas sem olhar na cara desta.

- É melhor que ela fique no nosso quarto. – Lara disse ao subirem a bordo do grande navio.

- É claro que ela vai ficar no nosso quarto! – Jack exclamou. – E só irá sair de lá quando estiver recuperada.

- Jack, se quiseres podes tirar uma folga. Eu conduzirei o navio até a pequena ficar bem. – Barbossa falou e Jack nada disse, mas dando a entender que aceitava de bom grado a oferta.

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Durante todo o dia e noite, Mary não acordou, fazendo febre. Lara não saía da beira da cama um minuto e até Alicia tinha dispensado o momento com Will, preferindo apoiar a amiga. Grace era impecável. A avó e mãe que faltava. Não se cansava de ferver água para molhar os panos, na tentativa de conseguir baixar a febre.

- Achas que ela recupera? – Lara disse olhando Mary dormir. Apesar de tudo, esta parecia estar apenas presa num sonho bonito.

- Claro que vai. Vocês actuaram cedo. O veneno já foi e é até bom que ela faça febre. É sinal que o corpo se está a manifestar. – Alicia disse, sorrindo sem vontade.

- O Jack vem aqui, olha para a filha mas nem sequer se digna a dizer uma única palavra para mim. – Lara disse, passando as mãos na cara e no cabelo.

- Lara… - Alicia tentou falar baixo. - … ele está preocupado com a Mary. Havias de ver como ele ficou quando soube que ela tinha desaparecido!

- Eu sei. Se há coisa que eu não duvido é do amor dele pela filha. – Lara disse. – Agora eu sou mãe e preciso de apoio. E ele simplesmente vira as costas?

- Também querias o quê? – Alicia arqueou uma sobrancelha. – Ele não gosta do Darius. Já o disse muitas vezes. Ele já estava furioso de andares à procura da Mary com ele e sem mais nem menos ele depara-se contigo enrolada nele!

- Que exagero, Alicia! – Lara exclamou arregalando os olhos. – Eu apenas lhe agradeci. O Darius é uma boa pessoa. Toda a gente gosta dele menos o Jack com esses ciúmes ridículos e tu.

- O Will também não vai com a cara dele. – Alicia disse. – E desculpa, só um cego não vê que ele está fazendo tudo para te agradar.

Lara bufou pronta a responder, mas a entrada de Grace fez com que as duas se calassem.

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- A noite está estrelada. – Will disse quando se colocou no parapeito ao lado de Jack.

- Só se for para os seres marinhos como tu. – Jack disse secamente bebendo um gole de rum.

- Eu sei que o que se passou com a Mary foi pesado, Jack. E já deixei de ligar há muito tempo para os teus comentários. – Will disse, olhando o horizonte escuro.

- A sorte é que a Mary vai recuperar. No entanto, existem outras coisas que não se podem esquecer. – Jack disse.

- Jack… - Will suspendeu a frase. - … aquelas duas mulheres foram capazes de abandonar tudo para viverem connosco. Não achas que esse ciúme é demais?

- Não é pela Lara. Aquele dentuças está de olho nela há muito tempo. E se eu quiser como capitão deste navio, dou-lhe um pontapé no… - Jack tentou normalizar a respiração. - … atiro-o borda fora.

- Ele salvou a vida da Mary. – Will disse. – Acho que mais do que a desconfiança que se tem num desconhecido, deve-se agradecer por isso.

- O que sabes tu de filhos se não tens nenhum? – Jack perguntou virando-se para Will e dando-se conta que tinha exagerado no discurso. – Quer dizer… para agora ainda não tiveste nenhum rebento… o que não quer dizer que seja definitivo, já que sem mais nem menos pode… - Jack exibiu o seu sorriso sem graça para um Will muito sério.

- Você acha que estou tão desesperado para ter um filho como a Alicia? – Will perguntou, deixando Jack com cara de quem não percebeu. – Claro que adoraria ter um filho com ela e sei que neste momento é tudo o que a Alicia quer. Mas ao mesmo tempo eu não sei como conseguiria aguentar sabendo que tinha a mulher que amo e o nosso filho viajando num navio e se algo acontecesse não pudesse fazer nada.

- Você está sempre navegando por baixo de nós! – Jack exclamou.

- Menos quando estou cumprindo o meu fardo. – Will disse rispidamente. – Nunca me iria perdoar se algo lhes acontecesse.

- Isso… - Jack aproximou-se de Will. - … é no que dar viver a vida sem ter tomado um único gole de rum.

- Jack, Will. – Barbossa apareceu com ar de louco. – É melhor vocês verem isso.

Os três correram para a sala de navegação. Barbossa apontou para o mapa de Sao Feng.

- Não vejo nada. – Jack disse.

- Nem eu. – Will acrescentou.

- Olhem para a zona do Cabo das Tormentas. – Barbossa colocou o dedo no lugar.

Mais atentamente viram uma nuvem negra cobrindo toda a zona, como se aglutinasse tudo o que se atravessasse no seu caminho.

- Eu disse que era má ideia atravessar o Cabo. – Will disse.

- Não sei do que te queixas. Basta mergulhares e não dás fé de nada. – Jack disse.

- Podemos esperar para ver se isto se dissolve. – Barbossa aconselhou.

- Ora essa! Vocês vão acreditar em algo que aparece no mapa, sendo que ainda estamos a minhas desse lugar? – Jack perguntou.

- Vamos. – Barbossa e Will disseram.

- Fazemos assim. Continuamos no mesmo caminho e não dizemos nada às mulheres. – Jack disse.

- Eu acho má ideia… - Barbossa ia começar.

- Pssiu cala-te. – Jack ordenou. – Se porventura lá chegarmos e virmos um buraco negro vir em nossa direcção, damos meia volta e fugimos.

Will e Barbossa entreolharam-se e miraram Jack.

- Estão com medo? – Jack perguntou divertido.

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Lara acordou com algo afagando o seu cabelo. Abriu os olhos ainda estremunhada. Deparou-se com Jack olhando para si.

- Bom dia, love. – Jack disse sorrindo.

- Bom dia. Como é que ela está? – Lara olhou para Mary que dormia tranquilamente. Haviam se passado dois dias e Mary acabara por acordar. No entanto tinha estado a vomitar toda a noite, para alarme dos pais. No entanto, Grace dizia que era normal assim como todos na tripulação que percebessem de picada de cobra.

- Melhor. Não vomitou mais e agora dorme que nem um anjo. – Jack disse.

- Graças a Deus. – Lara gemeu quando suas costas deram sinal da noite mal dormida. – Falta muito para chegarmos a Madagáscar?

- Há volta de 12 dias, mais ou menos. Porquê? – Jack perguntou.

- Nada. Apenas estou com um pressentimento ruim. – Lara disse.

Voltaram-se ambos para Mary que acordava como se não se tivesse passado nada.

- Bem-vinda de volta, princess! – Jack disse fazendo cócegas nesta que se riu. Lara sentiu uma onda de alívio. Sua filha estava bem e Jack parecia ter esquecido o que se tinha passado. Parecia que agora seria tudo fácil até ao próximo porto. Ou não.

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Seis dias depois…

O Black Pearl navegava em direcção ao famoso Cabo da Boa Esperança, chamado por muitos como Cabo das Tormentas. Eram constantes os relatos de tempestades naquele sítio. Nada que assustasse Jack e Barbossa. Como era de dia, Will não iria aparecer a não ser que algo de muito ruim acontecesse.

- Até agora tudo no sítio. – Gibbs disse, subindo as escadas do timão e puxando as calças para que estas não caíssem.

- O vento está bom. O céu tem a companhia do sol. – Jack sorriu. – Até agora nada de escuro e arrepiante apareceu!

- Jack, Jack. Até parece que o impossível não aparece sem mais nem menos. – Barbossa disse.

- Navegamos em alto-mar, Hector! Acreditas mesmo que o papão nos vem visitar? – Jack deu uma gargalhada.

- Quem é o papão? – a pergunta inesperada fez com que Jack e Barbossa olhassem na direcção do chão, encontrando uns olhinhos brilhantes e ansiosos.

- Oh o papão é alguém de quem o tio Hector tem medo! – Jack exclamou.

- Que medo que o quê? – Barbossa ficou indignado. – Eu não tenho medo de nada! Sou um pirata destemido. O teu pai, pequena Mary é que tem medo de toda a gente, principalmente de quem deve dinheiro!

- Não ligues ao zumbi, darling. – Jack fez uma cara de morte a Barbossa. – Por onde anda a tua mãe?

- Ainda não acordou. – Mary disse. – Tia Licia tão com ela.

Jack ficou pensando no assunto. Desde que Mary tinha sido mordida, Lara não teve mais pesadelos. Pelo contrário andava a dormir muito e quando acordava dizia sempre que tinha um pressentimento ruim.

Lara acordou sobressaltada. Não se lembrava do que sonhara, apenas de uma voz doce que lhe sussurrava uma canção ao ouvido. No entanto, essa não era a voz do Jack. Olhou para o seu lado direito e deu com Alicia. Esta parecia absorta e tinha uma cara parva.

- Passa-se algo? – Lara perguntou.

- Hã? – Alicia acordou do transe. – Já acordaste! Eu estava mesmo à espera que isso acontecesse. Já é quase meio-dia.

- Oh e tu acabaste adormecendo acordada, se é que isso é possível! – Lara exclamou, levantando-se num ápice, vestindo o colete e calçando as botas.

- Eu não adormeci. Apenas tive uma noite… - Alicia sorriu deliciada. – Ai aquele Will mata-me!

- Ele só esteve um dia ausente, Alicia. – Lara rolou os olhos.

- Ah mas regressou melhor que nunca, estava completamente insaciável…

- Ok, acabou! Poupa-me dos detalhes mais sórdidos. – Lara pediu, colocando a mão no ar e arregalando o olhar.

Saíram as duas para o exterior e Lara deu logo de cara com Darius sorrindo. Fez um aceno de cabeça e subiu até ao timão.

- Ainda falta muito para chegarmos a terra? – Alicia queixou-se.

- Depois de ultrapassado o Cabo, tudo fica mais fácil. – Jack agarrou Lara pela cintura beijando-a apaixonadamente e deixando os presentes a tossir.

- Jack! Olha a nossa filha. – Lara disse entre dentes.

- Love, o que é bonito é para ser mostrado. – Jack disse e berrando mais alto declarou. - Que ninguém duvide do nosso amor não é?

Jack olhou para baixo deliciando-se com a expressão de Darius que virou a cara.

- Francamente, Jack. - Lara protestou quando reparou que Jack só o fez o para picar Darius.

Darius colocava uma amarra no sítio. O horizonte estava calmo. Calmo demais. Olhou para o lado e viu Mary olhando para si.

- O que é que uma menina tão pequenina está fazendo aqui? – Darius sorriu simpaticamente.

- Eu não sou pequenina. Todos os dias cresço mais para me tornar uma pirata. – Mary disse, balançando-se.

- Acredito que irá ser uma grande pirata Mary Rose Sparrow! – Darius riu, divertindo a miúda.

- O meu pai diz que irei ser tão boa como ele e tão bonita como a mamã.

- Disso tenho a certeza. Deixará muitos piratas a seus pés. – Darius afagou o cabelo desta mas ao olhar para o horizonte ficou sério. Algo tinha mudado e não era bom sinal.

- Mary, acho que deves ir para dentro, ou então para junto da tua mãe. – Darius aconselhou. A menina subiu as escadas e Darius decidiu ir atrás.

- Mamã o Dai disse que irei ser mais bonita que tu. – Mary disse, saltitando e chamando Darius pelo apelido que lhe colocou.

Lara ficou rubra e sorriu para a filha, mas Jack teve um acesso de olhar mortal para Darius.

- Algo se aproxima no horizonte. – o jovem avisou.

- É, efectivamente o céu escureceu de repente. Estamos a menos de 2 milhas, Jack. Continuamos? – Barbossa disse.

- De certeza que é só uma tempestade, certo? – Lara balançou o olhar entre Jack e Barbossa.

- Diga-me rapaz insolente. Quando por cá passou, aconteceu o mesmo? – Jack disse arqueando uma sobrancelha.

- Não. Quer dizer, apanhámos uma valente tempestade mas o céu já estava carregado há dias. Era só uma questão de tempo. – Darius explicou.

- O que é que vocês dois estão a esconder? – Alicia perguntou. – O Will tinha falado de algo que o preocupava, mas não acabou a frase. Por isso, cheira-me que vocês estão tramando…

- Jack? – Lara franziu o sobrolho em direcção a Jack que sorriu ironicamente.

- Hector? – Grace perguntou, depois de sair e reparar no céu escuro.

- Gibbs? – Alicia entrou no jogo.

- Eu não sei de nada juro! – Gibbs não estava entendendo nada.

- Cotton? – Alicia interrogou o velho pirata que se encontrava no leme.

- Negativo! Negativo! – Exclamou o papagaio ao ombro deste.

- Querem a minha humilde opinião? – Grace disse. – Isto não é bom sinal. Hector faz alguma coisa.

- Eu? – Barbossa indagou.

- Claro. Não passas a vida a dizer que és o verdadeiro capitão deste navio? – Grace bateu o pé e todos se calaram menos Jack.

- Hei, eu sou o verdadeiro capitão deste navio! – Jack exclamou.

- Grace, agora não. Estamos no meio de uma reunião… - Barbossa tentou explicar.

- E EU FAÇO PARTE DESTA REUNIÃO. AFINAL VIM PARA ESTE FIM DE MUNDO ATRÁS DE VOCÊS MEREÇO LIBERDADE DE OPINIÃO E SE ME DESAUTORIZARES ACREDITA QUE VAIS LEVAR COM UM TACHO NA CARA, SEU PIRATA DE UMA FIGA! – Grace berrou.

- Ups, parece que o Hectorzinho está em mãos lençóis! – Jack exclamou rindo.

- Até parece que nunca discutiste na vida. – Lara falou. – Afinal eles são um casal, certo? Têm direito a ser felizes e discutir quando quiserem.

- Oh. Desculpa mas é inédito vê-lo com uma mulher e ainda por cima levando um sermão. – Jack falou baixo.

- Desculpa… mas estes cinco anos permitiram-me ver e ouvir muitas coisas sobre piratas e se há coisa que vocês não são é santos! – Lara exclamou.

- Mas há quem seja eunuco! Ai! – Jack queixou-se quando levou um murro no braço de Alicia.

- Ok, visto que nenhum dos capitães se decide eu vou passar essa responsabilidade ao mestre Gibbs. – Lara disse. – O que decide?

- Eu? – Gibbs viu os olhares ameaçadores de Barbossa e Jack encima de si. – Bem… deve ser só uma tempestade, certo?

Jack sorriu triunfante e o Black Pearl navegou até ficar sob o céu escuro como breu, sem saber o que o esperava.

Continua…