Olhos Felinos escrita por Jodivise
Notas iniciais do capítulo
O Black Pearl, sob o comando de Lara e sempre seguido pelo fiel HolandÊs Voador, teve problemas técnicos ao atravessar o Estreito de Magalhães. O que estará reservado aos nossos piratas, agora que atracaram nas Ilhas Malvinas?
Capítulo 35: Saque
- Qual o nome que gostas mais? – Alicia perguntou, olhando o imponente Monte Usborne na Ilha Soledad.
- Como assim? – Lara perguntou distraidamente, enquanto apontava no mapa apoiado no corrimão do timão, as coordenadas da viagem. Tinham viajado quase 800 quilómetros desde o tempestuoso Cabo Horn. Por causa dos estragos da tempestade teriam de fundear ao largo de uma das ilhas seguintes. Embora necessário, era algo que não deixava Lara satisfeita. O tempo era precioso para salvar a sua filha e o seu marido. – Alicia, ainda falta muito para essa criança nascer e nem sequer sabes o que vai ser.
- Eu não estava a falar do meu filho! – Alicia exclamou. – Apenas queria saber se achas que fica melhor chamar Malvinas ou Falklands.
- O que é que isso interessa? – Lara piscou os olhos em direcção à amiga.
- Nada. Apenas perguntei. – Alicia respondeu secamente.
- Malvinas é o nome francês do arquipélago e só foi atribuído em 1764. Sendo que ainda falta mais de trinta anos, fica-te pelas Falklands e não confundas mais a tripulação. – Lara explicou.
- Ok, Capitã… Sparrow. – Alicia resmungou e olhou de novo a ilha. – Porque é que o vento nos persegue para todo o lado?
- Porque estamos numa região em que chove e faz vento quase todos os dias. – Lara revirou os olhos. – Já te esqueceste do que deste na escola e na faculdade?
- Por acaso… já. – Alicia sorriu. – Só de não ter mais de estudar, faz-me ficar feliz para sempre!
Lara engasgou-se com o absurdo saído da boca de Alicia. Definitivamente aquela gravidez estava a dar à volta ao seu cérebro.
- Oh, é muito melhor arriscar a pele todos os dias, tomar banho de água fria, comer coisas insonsas, passar por tempestades horrendas e lutar pela vida no meio de uma guerra. – Lara desdenhou.
- Também não é assim tão mau. – Alicia torceu o nariz.
- Não é a questão de ser mau, Alicia. Mas não podes dizer que tinhas uma vida desgraçada lá. – Lara fixou a amiga.
- Não era desgraçada. Mas era muito mais monótona sem ele. – Alicia apontou para o Holandês que estava fundeado a uma certa distância. – O que é que se passa Lara? É aqui que tens a tua vida, porque é que dizes isso?
- Os meus pais ficaram lá. – Lara largou o compasso e olhou a amiga. – Se a Mary fosse criada no nosso tempo, eu não teria que me preocupar a não ser com ir levá-la e buscá-la ao infantário. Não estaria a percorrer o globo em busca dela até uma terra perdida de Deus.
- Quer dizer que mais valia teres ficado. Que te arrependes amargamente de teres decidido com o coração? – Alicia estreitou os olhos. – Nunca pensei que dissesses isso.
- Não é só dizer. – Lara abanou a cabeça. – Tu não sabes ou pelo menos ainda não tens noção do que é ser mãe. Eu dava a vida pela Mary sem hesitar.
- Mas parece que não davas pelo Jack. – Alicia disse e desceu as escadas até ao tombadilho, deixando Lara de boca aberta.
- Ela não percebe nada de nada. – Lara abanou a cabeça bufando.
- Parece que você é que está trocando as coisas. – a voz masculina fez com Lara se irrita-se e fixa-se Norrington.
- Ouviu a conversa? – Lara olhou brava.
- Não sou surdo. Mas fiz de conta. Afinal só vim ver as coordenadas. – Norrington pegou no mapa.
- Mas ouviu muito bem. – Lara cruzou os braços. – Porque é que está a olhar para o mapa com ar tão sério?
- Nada. Apenas me apercebo que tem muito jeito para isso. – Norrington passou o mapa a Lara e sorriu.
- A Alicia também, antes de ficar grávida. – Lara disse, enrolando o mapa e descendo as escadas.
- Quer-me parecer que talvez haja uma ponta de ciúmes aí no meio. – Norrington disse.
- Como? – Lara virou-se para este não percebendo a pergunta, mas Norrington limitou-se a sorrir e a ordenar a descida dos botes.
- Tentem achar material que auxilie na colocação do novo mastro. O outro está inutilizado. – Gibbs disse quando pisaram o cais de Port Stanley.
- Achas que os habitantes vão engolir a bandeira branca que apresentamos? – Elizabeth perguntou a James Norrington.
- Se não engolirem logo, logo, saberão o que somos realmente. – Lara disse e entrou dentro da pequena localidade.
- Definitivamente ela não tem nada a ver com o Capitão Jack. – Raguetti balbuciou.
- É mais estilo Barbossa. – Pintel acrescentou.
Enquanto Gibbs, Pintel, Raguetti e mais dois piratas acompanhados por Norrington foram tratar de reparar o Pearl, as mulheres do navio exploravam a pequena povoação juntamente com Darius.
- Meninas vou dar uma espreita ao ferreiro. Preciso de facas novas. – Grace disse com ar natural, enquanto Lara, Alicia e Elizabeth rodavam lentamente os pés e fitavam Grace de olhos arregalados. – Qual é o problema? Preciso de facas novas ou irão comer peixe cru a partir de hoje.
- Ah ok. – Alicia disse rindo. – Podes ir Grace, ou melhor eu vou contigo!
- Não preciso de babá. – Grace disse. – Ainda não fiquei esclerosada.
- Eu sei. Só quero ver como é um ambiente de um ferreiro. Faz-me lembrar o tempo em que o Will fazia espadas e… - Alicia suspirou.
- Vai com a Grace. Não devemos andar sozinhos aqui. – Lara disse. – Pode haver guardas ingleses.
- Aonde vamos? – Elizabeth perguntou.
- Preciso de rondar o ambiente. – Lara disse. – É preciso saber se estamos num ambiente hostil ou não.
- A população daqui não me parece ser perigosa. – Darius observou dois pescadores no cais que nem sequer olharam para os visitantes.
- Talvez eles estejam habituados a ter visitantes. – Elizabeth disse, mas algo perturbava Lara.
- Elizabeth, podias acompanhar a Grace e a Alicia? – Lara pediu.
- Porquê? – Lizzie arqueou uma sobrancelha.
- Tenho a sensação de que há algo errado com toda esta calmaria. Além do mais, Alicia está grávida e não quero deixar as duas sozinhas. – Lara explicou. – Tu és uma excelente espadachim.
- Eu não gosto quando tens esses pressentimentos. – Elizabeth virou costas e caminhou em direcção ao ferreiro.
Lara sabia muito bem o significado das palavras de Elizabeth. Podiam ter passado alguns dias sobre a morte de Thomas, mas esta não o esquecia. E a última vez que tivera um pressentimento, Mary, Jack e Barbossa sumiram e Thomas morrera.
- Olhando o cima da montanha? – Darius perguntou, enquanto Lara mirava a elevação no meio da ilha.
- Quanto tempo demorará a lá chegar? – Lara perguntou.
- Você está falando do cume da montanha ou do Egipto? – Darius aproximou-se.
- Ambos. – Lara suspirou e olhou nos olhos deste. Subiu um trilho que dava para uma rocha sobre o mar e sentou-se apreciando o horizonte e o navio de velas negras. – Nós estamos a demorar tanto. Quando lá chegarmos já terão passado meses.
- A esperança é a última a morrer. – Darius disse, sentando-se ao seu lado.
- Eu sei, mas… - Lara baixou a cabeça. – É horrível ter de conviver com este aperto no coração que nos corrói por dentro.
- Eu sei. Mas pior é além de não sabermos como o outro está, este também não fazer ideia sobre o que nos aconteceu. – Darius disse.
- O Jack deve pensar que estou morta. – Lara disse. – Não me importava se isso fosse garantia de que ele e a Mary estavam bem.
- É isso que mais mexe consigo. – Darius olhou Lara. – A situação da Alicia.
- Não percebi. – Lara abanou a cabeça. – O que tem a Alicia a ver com isto?
- Toda a gente notou que ouve um certo atrito entre si e a Alicia.
- Não foi nada. Eu apenas estava um bocado irritada.
- Não. Você tem inveja da Alicia. – Darius atirou.
- É claro que não! – Lara levantou-se. – Ela é como se fosse minha irmã. Nunca teria inveja dela.
- Eu não falei de inveja má. – Darius disse. – Você involuntariamente, sente inveja da Alicia.
Lara nada disse e desviou os olhos para o horizonte, respirando a brisa forte que lhe bagunçava os cabelos.
- Dentro de si, sente inveja pela Alicia estar grávida. Não pelo facto de ela vir a ser mãe, mas porque esta tem o seu filho protegido dentro de si, enquanto a sua filha está longe. – Darius explicou. – Como se não bastasse ela tem o marido ao seu lado.
Lara ficou estupefacta olhando Darius e sentou-se novamente. Pela primeira vez desde que partiram da Ilha de Páscoa, alguém a atingia com as palavras certas. A verdade era que a sua cabeça iria explodir a qualquer momento. O desaparecimento daqueles que mais amava, a morte de Thomas, a preocupação em manter Alicia segura por causa da gravidez, o próprio desaparecimento de Barbossa que deixava o navio sem rumo e todo o peso em cima de si.
- Às vezes penso que os deuses se uniram numa brincadeira. – Lara disse. – Colocar o peso do mundo nas costas de Lara Sparrow e saber se esta se irá safar ou não. O que é que eu faço? – Lara perguntou sentindo os olhos humedecerem.
- Você sabe o que deve fazer. – Darius disse. – Está dentro de si.
- Eu saberia o que fazer... se tivesse o Jack aqui. Foi por ele que eu vim. Sem ele ao meu lado é como se estivesse sozinha no meio do mar.
- Mas você não está sozinha. Tem a Alicia que a adora, a Grace que faria sem lá o quê para a proteger, o Will, todos na tripulação. – Darius sorriu. – E de certeza que onde quer que esteja, o Thomas a protege. – Lara sorriu e olhou para o céu. – E tem a mim.
Desta vez Lara baixou o olhar até ao horizonte e fixou depois Darius.
- Sabe que eu não sou a Mayara.
- Eu a ajudaria mesmo que fosse totalmente diferente dela. Os amigos estão em todas as ocasiões. – Darius explicou.
- Começo a pensar que foi a Mayara que o enviou. – Lara riu. – Eu sempre tive simpatia por si, sempre o defendi. E mesmo depois do que se passou naquela ilha, doía pensar que tinha confiado em si e fora traída.
- Ainda bem que tudo se esclareceu.
- Sim, mas você acabou por saber que a Mayara pode ter morrido por culpa da Circe. – Lara disse.
- Mais um motivo para ir atrás dela. – Darius encolheu os ombros.
- Desculpe fazer esta pergunta, mas... – Lara ficou subitamente vermelha. – Eu sei que você ama a Mayara, que depois deste tempo todo não esqueceu. Mas durante os 10 anos que andou deambulando por aí... nunca ouve ninguém?
Darius fixou o chão e sorriu enquanto o vento lhe agitava o cabelo.
- É melhor voltarmos ou vão começar a desconfiar de algo. – Darius levantou-se. –Principalmente a Alicia.
- É... – Lara suspirou. – Preciso de saber quanto tempo vai demorar essa reparação. Quanto mais depressa partirmos melhor.
Um dia depois...
- Parece que a sorte está do nosso lado! – Gibbs exclamou para Lara. – Conseguimos contratar um calafate no porto e em princípio o navio estará pronto a navegar na máxima força daqui a algumas horas.
- É bom que isso aconteça, Gibbs. – Lara disse. – Quero partir o quanto antes.
O tempo tornara-se mais frio, com ventos gélidos a varrerem o convés do Pearl anunciando uma carga de água para breve.
- Desta maneira iremos ter neve, o que não vai ser bom para a navegação. – Norrington avisou.
- Quanto tempo irá demorar até passarmos o equador? – Lara perguntou.
- Não vá com tanta pressa ao pote. – James avisou. – Ainda teremos de fazer algumas paragens antes. Não sabemos o que iremos encontrar e à medida que navegarmos para Norte estaremos a entrar em águas mais vigiadas.
- Mas iremos perder imenso tempo! – Lara exclamou.
- O que prefere? Tentar chegar em segurança e viva para os salvar, ou acabar presa ou morta antes disso? – Norrington perguntou.
- Ele tem razão Lara. – Elizabeth aproximou-se. – É preciso ter cuidado acima de tudo.
- Lara! – Will exclamou, aparecendo no convés e assustando os presentes.
- Credo, acalma-te! – Lara exclamou. – A Alicia está com a Grace. Podes ir lá ter.
- Não é isso. Nós estamos fundeados em alto mar e tivemos de submergir por precaução. – Will disse. – Há um navio se aproximando.
- Como assim? – Lara arregalou os olhos e pegou no óculo.
- Talvez seja um navio comercial... – Elizabeth levantou o sobrolho.
- Não parece. – Lara passou o óculo a James.
- É quase de certeza um galeão de guerra pelo seu tamanho. – Will explicou, colocando-se em cima da amurada.
- O que é que fazemos? – Marti perguntou.
- Navio demasiado pesado para ser de guerra. – Norrington comunicou, enquanto observava pelo óculo. – Mas demasiado sumptuoso para ser um simples baleeiro.
- Então no que é que ficamos? – Lara perguntou já irritada. – Esse navio oferece perigo ou não?
- Estranho. – Norrington balbuciou. – Não é com certeza um navio de guerra. Parece mais um galeão espanhol.
- Um navio do tesouro? – Gibbs perguntou entusiasmado, fazendo um burburinho correr a tripulação.
- Mas não navega com a bandeira espanhola. – Will disse.
- Aí está a questão, Mr. Turner. – Norrington encolheu o óculo e virou-se para a tripulação. – Galeão do tesouro espanhol em águas disputadas com a Coroa Inglesa, numa terra que pouco pode oferecer e navegando sem nenhuma bandeira.
- Piratas. – Lara balbuciou.
- Merda, quando já estava a ver aquele brilho dourado à frente, eis que outros chegaram primeiro. – Gibbs lamentou-se.
- James... – Elizabeth percebeu a expressão do ex-comodoro. – Estás pensando o mesmo que eu?
- Talvez desse resultado. – Norrington pensou.
- Hei, eu também estou aqui, eu sou a capitã do navio. Alguém faça o favor de dizer que raio estão a pensar? – Lara perguntou exaltada.
- Esse navio pode estar cheio de ouro. Quem quer que sejam os rafeiros que o roubaram, de certeza que não vinham parar a este lugar senão... – Elizabeth disse.
- Estivessem fugindo. – Norrington acrescentou.
- Exactamente. – os olhos de Elizabeth brilharam pela primeira vez em dias.
- É a oportunidade perfeita. – Gibbs deu um murro na palma da mão. – Vamos atacá-los! O Pearl é muito mais rápido que aquela mula espanhola e além do ouro pode ser que haja rum.
- Mas vocês estão doidos? – Lara perguntou rindo-se descontroladamente. – Nós não estamos aqui para atacar ninguém. E o navio ainda está em reparação!
- Algum problema? – Alicia saiu do porão juntamente com Grace.
- Problema? – Lara virou-se para esta. – Eles querem atacar um navio de piratas!
- Sério? – Alicia arregalou os olhos. – Até que enfim acção a valer!
- Alicia, não devias pensar assim agora que estás grávida. – Will alertou.
- Olha-me este. – Alicia olhou o marido de lado. – Eu sou uma pirata, vivo num navio pirata, sou casada com um pirata e o meu filho vai ser um pirata. Por isso é perfeitamente normal que eu queira voltar a ter um bocado de acção!
Lara ia falar, mas Darius puxou-a para si. – Dê ordens para eles atacarem o navio.
- O quê? – Lara olhou-o escandalizada. – Você também ficou louco.
- Não estou louco. Mas os seus homens são piratas. Eles irão atrás do Jack e do Barbossa até ao fim do mundo, mas dê-lhes animação. – Darius explicou. – Afinal eles são piratas.
Lara pensou um bocado no assunto. Sim, eles erão piratas. Há muito que não faziam grandes saques por causa de Mary e a busca pelo Olho-de-Tigre fora o único projecto que os deixara contentes.
- O Darius tem razão. – Alicia aproximou-se. – Há muito que não pirateamos e aquilo da Ilha de Páscoa não deu em nada. Um bocado de acção e riquezas não vai fazer mal.
- E rum também. – Grace acrescentou. – Eles andam meio cabisbaixos. Será bom terem algo com que se entreter antes de voltarem ao trabalho.
- Mas isso vai-nos atrasar ainda mais. – Lara protestou.
- Capitã Sparrow. – Gibbs pediu licença. – O navio está quase pronto. Não precisamos mais de ir a terra e poderemos fazer as reparações necessárias durante a viagem.
Lara pensou por um momento mordendo o lábio inferior. "O que é que o Barbossa faria?", pensou. "Atacaria com certeza. E o Jack?" Lara percebeu imediatamente. Jack nunca viraria costas a um saque se este fosse rentável e estivesse em vantagem.
- Bando de doidos. – Lara suspirou. – RECOLHAM ÂNCORA, ICEM AS VELAS!
- Aye Capitã! – os marujos responderam.
- Will, achas que vai ser preciso o Holandês? – Alicia perguntou.
- Não creio. O Pearl é suficiente forte. – Will sorriu. – Mas é melhor ficar de prevenção. E tu volta para dentro.
- Como? – Alicia franziu o sobrolho. – Casas-te com a mulher certa Will Turner, mas lamento dizer que eu não sou uma lesma a quem dás ordens!
- Temos de os supreender antes de entrarem na baía. – Norington disse.
- Eu sei. Não içaremos a bandeira nem atacaremos até que nos vejam. – Lara recomendou. – É melhor que fiquem na dúvida.
- E se eles nos atacarem primeiro? – Darius perguntou.
- Não terão tempo. – Gibbs respondeu, passando por si e dando ordens à tripulação.
Enquanto o navio sequestrado avançava na direcção de Port Stanley, o Black Pearl começava a sair lentamente para alto-mar, enquanto que o vento favorável insuflava as velas negras.
- Estou orgulhosa de ti. – Elizabeth aproximou-se de James. – Nunca pensei que começasses a pensar como um pirata.
- Quando não tens escolha, junta-te a eles. – Norington respondeu. – Mais do que um alto cargo, sempre gostei de percorrer os mares. E claro, a sua presença aqui ajuda muito.
Elizabeth sentiu-se corar e não respondeu. Limitou-se a sorrir e voltar ao seu posto. Não queria dar falsas esperanças a James.
-Veja se não acaba ferido de novo. – Lara lançou um olhar a Darius. – A última vez que enfrentamos um batalha acabou na cama.
- Fui atingido pelo seu marido que não está cá. – Darius disse. – Por isso será mais fácil protegê-la sem me preocupar de levar outro tiro.
- Eu não preciso de protecção. Sei lutar muito bem e não vai ser um bando de piratas bêbados que me fará frente. – Lara troçou.
- Mas é sempre bom ter alguém a proteger... – Darius sorriu.
- Já me tinha esquecido que você foi soldado. Mas eu não uma princesa que precisa ser protegida. – Lara sorriu e fixou o navio que se aproximava.
Os traços do navio não deixavam dúvidas. Era um galeão espanhol. Quando a silhueta ganhou forma, Lara engoliu em seco. O navio três vezes superior ao Pearl, ostentava quatro mastros de alto bordo.
- Aquilo tem pelo menos 50 canhões de guerra. – Lara avisou.
- E tem tudo para ir ao fundo. – Will sorriu. – Olha bem.
Lara pegou no óculo e enquanto analisava os detalhes do navio, um sorriso desenhou-se no seu rosto. Era efectivamente um grande navio, mas o seu peso tornava-o lento não ultrapassando os 7 nós. Um dos mastros parecia tombado e as velas estavam rasgadas.
- Vamos deixar que eles passem por nós. – Lara sorriu. – Preparem os canhões.
O assobio do vento gélido era a única coisa que se ouvia face ao silêncio da tripulação. O Pearl estava a poucos minutos de alcançar o navio espanhol pelo lado de bombordo.
- É impressão minha, ou o navio parece completamente abandonado? – Alicia arqueou uma sobrancelha. – Parece que não tem ninguém a bordo.
Entre a observação de Alicia e os navios ficarem lado a lado foi apenas uma questão de segundos. As portinholas do galeão abriram-se e cerca de vinte canhões dispararam fogo contra o Pearl. As balas passaram de rajada, mas não afectaram o Pearl.
- É guerra que eles querem? – Lara perguntou. – Então vão tê-la. FOGO!
- FOGO! – Elizabeth, Norrington, Will e Gibbs gritaram ao mesmo tempo.
Os canhões do Pearl abriram fogo sobre o galeão espanhol atingindo-o na proa e no castelo da popa. O que outrora parecia um convés vazio encheu-se de homens gritando e pegando em armas.
- ATIREM AS CORDAS! – Lara ordenou e fez sinal para que Cotton aproxima-se o navio. Quanto mais cedo se adiantassem no ataque, mais cedo poderia dominar o inimigo.
Assim que cordas foram lançadas unindo os navios, as tripulações trataram de se invadir mutuamente.
- Sabes o que faltava aqui? – Alicia perguntou depois de disparar sobre um pirata suspenso numa corda. – As piadas do Barbossa.
Lara sorriu mas ficou branca quando viu um pirata inimigo aproximar-se de Grace. Chamou esta, mas Grace já estava de frente para o pirata.
- AHRG! – o pirata berrou. – Navios não são lugar para mulheres!
- Ai não? – Grace olhou para o pirata como se nada fosse. Antes que este pudesse fazer algo, Darius mandou-lhe um murro e este estatelou-se aos pés de Grace. Meio baralhado viu Grace erguer a pistola e mandá-la com ela à sua cabeça, perdendo os sentidos. – DIZ OUTRA VEZ QUE AS MULHERES NÃO PODEM ANDAR EM NAVIOS, SEU FURÚNCULO ANDANTE!
Por momentos tanto a tripulação do Pearl como do navio inimigo ficaram parados olhando Grace.
- Que é? Nunca virão uma mulher de armas? – Grace perguntou disparando na direcção de um pirata adversário.
- Repete lá o que estavas a dizer do Barbossa? – Lara perguntou a Alicia.
Esta não respondeu, continuando de olhos arregalados vendo Grace. Um pirata enorme aproximou-se de si, mas Will conseguiu derrubá-lo com um só golpe de espada.
- Está bem? – Will perguntou, segurando a mulher pelos ombros.
- MEU HERÓI! – Alicia abraçou-se a este. – Já disse hoje que te amo?
- Não... – Will olhou-a assustado. – Estamos no meio de uma batalha, Alicia.
- E depois? – Alicia ficou brava. – Tu casaste no meio de uma batalha. Aí não pensas-te no perigo pois não?
A batalha durou menos de uma hora. A tripulação do Pearl era mais numerosa e qualificada do que os outros piratas. Lara analisou os bandidos amarrados no convés do seu navio. Eram quase de certeza piratas amadores. Tiveram a sorte de roubar o galeão, mas eram demasiado poucos para o manejar como devia ser. Assim, acabaram por se perder, passar por uma tempestade e ficar sem leme. A corrente trouxe-os até às Falklands.
- Coloquem-nos no convés do galeão. – Lara ordenou. – Revistem todos os cantos do navio.
O navio espanhol não tinha particularmente arcas cheias de ouro, mas poderam encontrar prata, bronze e pedras preciosas. Era efectivamente um navio do tesouro espanhol.
- RUM! – Pintel e Raguetti gritaram quando desceram ao porão.
- Vamos levar um barril só para nós. – Pintel disse.
- Mas onde vais escondê-lo? – Raguetti coçou a cabeça.
Ambos se olharam até sorrirem e terem aquilo a que chamavam ideia genial. Pegaram num barril e seguraram um em cada lado, subindo as escadas e descendo até ao bote. Quando chegaram ao Pearl, tentaram descer as escadas passando despercebidos, mas Grace interpelou-os.
- Onde é o que o careca e o zarolho pensam que vão com esse barril? – Grace bateu o pé.
Os dois piratas entreolharam-se.
- Íamos colocá-lo na despensa... – Pintel disse e sorriu encabulado.
- A Lara deu ordem para que todos os achados fossem colocados no tombadilho. – Grace aproximou-se. – Se eu sei que vocês andam a roubar algo...
Os dois largaram o barril e sorriram, atropelando-se um outro para fugir a Grace.
- Nossa, nunca pensei que fosse tanta coisa. – Lara disse, observando a mercadoria no convés do navio. Para trás ficava a Ilha Soledad e o galeão espanhol.
- Quem é que tinha razão? – Alicia riu. – A Elizabeth e o James! Eu não digo que você fazem um belo casal?
Todos fitaram Alicia com cara de parvos para constrangimento de James e aflição de Lizzie.
- Tu não podes ficar calada um segundo? – Lara deu uma cotovelada em Alicia. Depois olhou para a amurada e viu Darius com ar pensativo. – Algum problema, Darius?
- Não. – este disse. – Apenas começamos mais uma jornada não é?
- Sim. E espero que consigamos chegar o mais longe possível antes de pararmos de novo. – Lara disse.
- Tenho a sensação que alguém está à nossa espera. – Darius disse.
- Como assim?
- Apenas um pressentimento. – Darius sorriu e fixou Lara. – Não se preocupe minha capitã.
Continua...
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Oi leitoras e leitores! Aqui vai novo capítulo! Aviso desde já que o próximo demorará um pouquinho já que me encontro em trabalhos de faculdade. =/Obrigada a todos que mandaram review! =)Espero que gostem!!!Saudações Piratas!!! :DJODIVISE