Capítulo 21: Esperanças e Desassossegos

Alicia sentiu a sua cabeça à roda. Era como se tivesse entrado num sonho e a primeira coisa que fizesse fosse dar com um martelo na sua própria cabeça.

- Como assim, tu és eu? – Alicia balbuciou mas a resposta estava mesmo na frente do seu nariz. Uma jovem estava sentada aos pés da sua cama. Era exactamente como se Alicia estivesse olhando um espelho. Poderia dizer até que os seus pais teriam lhe ocultado a sua gémea até agora. Mas Alicia sabia que não tinha nenhum parentesco com o clone à sua frente.

De facto, sentiu-se até ridícula. Sempre se achara bonita mas aquela mulher à sua frente era tudo o que quis ser. O vestido sem mangas cor de salmão caía até aos pés e o cabelo escuro estava apanhado num grande rabo-de-cavalo ornamentado com pequenas pérolas. Para completar o cenário, irradiava desta uma luz intensa que ao princípio quase cegava Alicia. Concluindo, aquela mulher era a réplica de si própria no que deveria ser o dia do seu casamento.

- Não sabes mesmo quem sou? – A mulher falou e Alicia constatou que esta possuía a mesma voz que ela. No entanto, tudo era delicado naquela personagem perfeita.

- Eu devo estar mesmo maluca. – Alicia riu abanando a cabeça. – Talvez a Lara tenha razão e algum insecto me tenha ferrado e infectado e…

- Acredita Alicia Turner. Isto é tudo menos uma partida. – A mulher sorriu e Alicia continuou sem perceber.

- Se eu não estou maluca e isto é real, então como é que eu estou a falar comigo própria?

- Digamos que eu sou a tua imagem que existiu… há milhares de anos. – a réplica de Alicia sorriu ainda mais ao ver os olhos desta esbugalharem-se.

- Não pode ser… - Alicia disse quase num sussurro. - … tu és… ela? A… princesa Serena?

A bela mulher abanou a cabeça em sinal afirmativo e Alicia ajoelhou-se na cama.

- Eu tenho uma princesa no meu quarto? Uma verdadeira princesa? Daquelas que passearam por palácios, que usavam vestidos lindíssimos e coroas brilhantes? – Os olhos de Alicia pareciam dois diamantes acabados de lapidar e polir.

- As pessoas tendem a florear essas histórias. – Serena disse.

- Mas… se eu sou a tua reencarnação, como é que estás aqui? – Alicia arqueou a sobrancelha.

- Isso é um caso complicado. – Serena sorriu. – Tu és a minha reencarnação física e também espiritual. Ninguém se lembra do que foi na vida passada, mas há casos raros, de quem tu e a Lara são exemplo. Digamos que eu sou como a voz da tua consciência, como uma luz que te guia pelos caminhos da vida quando estes se cruzam com o passado.

- Ah… - Alicia abriu a boca. - … não entendi.

- O que eu quis dizer foi resumidamente: eu sou o teu anjo da guarda. – Serena disse e Alicia finalmente compreendeu. – Cabe-me a mim, através da tua consciência e da ligação que inconscientemente tens à vida passada proteger-te e principalmente aconselhar-te.

- Mas porque vieste me aconselhar? Também vais dizer que estamos todos em perigo como Hermes avisou? – Alicia perguntou.

- Não. Mas digamos que te vou indicar o caminho que deves tomar nesta jornada. E irás ter um papel importante Alicia Turner.

- Nossa, basta me chamares de Alicia Turner para eu dizer que foste uma grande pessoa na vida passada! – Alicia exclamou.

- Acho que nem por isso. Tu não tens o poder de ver o passado, mas digo-te que a vida de princesa não é assim tão divertida. – Serena sorriu e Alicia notou que uma tristeza súbita passou pelo olhar desta.

- É, eu não tenho sonhos nem visões esquisitas como a Lara. – Alicia torceu o nariz. – Já agora, porque é que Lara tem poderes e eu não?

- A Lara não tem poderes. Ela apenas ficou com um sexto sentido apurado que lhe permite ter visões quando algum perigo está próximo. O que se passou em Salania, quando a Lara derrotou a Éris e quando tu conseguiste parar o tempo, foram apenas ajudas nossas. No entanto, a Lara está numa posição mais delicada que tu.

- Como assim?

- Tu consegues ver-me e falar comigo através da tua consciência. Mas a Lara por algum motivo não o consegue fazer com a Mayara. E isso pode ser perigoso. – Serena avisou. – Se a Lara não der ouvidos à minha irmã esta poderá literalmente encarnar nela, como aconteceu em Salania.

- Eu posso fazer uma pergunta? – Alicia fez ar interrogativo.

- Podes, mas só uma. – Serena sorriu divertida.

- A Mayara estava noiva, certo? – Alicia perguntou e Serena olhou distraidamente para o chão antes de responder.

- Sim. – Serena disse. – E já sei que vem outra pergunta atrás.

- Pois. Eu só queria saber se tu também estiveste noiva antes de… - Alicia engoliu em seco. - … morrer.

- Na minha civilização existia o costume de a filha mais velha casar primeiro. – Serena disse. – Quando Árias me matou eu nem estava noiva nem sequer apaixonada por alguém.

- Apaixonada? Não era costume os reis arranjarem noivos para as filhas? – Alicia perguntou surpreendida.

- Não em Atlântida. Nós é que escolhíamos o noivo. A única condição era ter a aprovação do rei e da rainha. – Serena explicou. – Mas digamos que eu não tive a sorte de encontrar um Will Turner por lá. – Serena piscou o olho e Alicia riu.

- Bem dito. – Alicia disse. – Mas eu pensei que no que toca ao amor, este duraria eternamente, mesmo depois da morte. Quer dizer que o noivo da Mayara não era igual ao Jack Sparrow? – Alicia perguntou aproveitando a onda.

- Não. – Serena disse. – Mas é melhor ficarmos aqui. Há mistérios que devem permanecer ocultos.

- Oh. – Alicia sentiu-se ruborescer. – Também não me interessa nada saber quem foi o noivo dela! Mas afinal sobre o que me vinhas avisar?

- Alicia, uma grande descoberta mas também um grande perigo se aproxima do vosso horizonte. – Serena começou. – Todos têm um papel nesta jornada, mas o teu será bastante importante.

- Como assim? – Alicia arqueou a sobrancelha com receio do que aí vinha.

- Tu terás o papel de grande protectora. Terás de proteger as grandes esperanças do futuro.

- Grandes esperanças do futuro? – Alicia ficou ainda mais baralhada.

- Aqueles que continuarão o vosso trabalho quando já não estiverem aqui. Tens de proteger a Mary Rose a todo o custo. Grandes dificuldades estarão no caminho do Jack e da Lara. – Serena explicou.

- Calma aí. Se algo nos acontecer, como é que eu vou proteger a Mary?

- Esse é o papel de uma madrinha. – Serena disse.

- Eu sei e nunca me negarei, mas o que quero dizer é que eu sou uma simples mortal. E tanto tu como Hermes falam de uma maneira que parece que vem aí o apocalipse! – Alicia exclamou.

- Não te preocupes. A partir de agora tu terás os mesmos poderes que eu tinha. – Serena disse e viu Alicia abrir a boca até ao chão. – O caminho até à Ilha vai-se encurtando e por isso mesmo perigos vão ficar à espreita. Vais precisar deles e espero que faças um bom uso.

- Eu com poderes… - Alicia continuava absorta e viu que a luz que irradiava de Serena vinha ficando mais forte. – Antes de ires, eu posso perguntar porque disseste eles, quando tenho apenas de proteger a Mary?

Serena levantou-se e antes de desaparecer sorriu enigmática.

- A resposta está dentro de ti. – disse, deixando Alicia sem perceber até que um nó no seu estômago se formou.

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Lara saiu da cabine e deu com Will especado à porta do quarto de Alicia. Já tinha anoitecido e corria um vento frio.

- Porque estás aqui à porta e não lá dentro com a Alicia? – Lara perguntou.

- Ela ficou estranha e pediu para que eu saísse. – Will explicou com um ar ainda mais melancólico.

- Oh. Mas porque ela faria isso? Afinal a Alicia estava louca para te ver. – Lara estranhou o pedido da amiga.

- Não sei. Talvez quisesse descansar. Afinal já passou quase uma hora. – Will disse com certo nervosismo.

- UMA HORA E TÃO NÃO DESCONFIASTE? – Lara colocou as mãos na cabeça. – Will, a Alicia está doente. Nunca deveria ficar sozinha e mesmo que o fizesse, uma hora é demais. Eu vou entrar.

Lara rodou a maçaneta, mas a porta estava trancada. Tentou com mais força e nada.

- Alicia abre a porta, se faz favor. – Lara pediu com um certo tom nervoso na voz. Do outro lado não houve resposta.

- Talvez seja melhor ir buscar a chave. – Elizabeth aproximou-se. – Eu notei que estavas aqui à porta, mas não me quis meter.

- A chave está no lado de dentro e a Alicia não a fechou. – Will disse, rodando a maçaneta sem sucesso. – Além do mais, desde que fiquei… bom, vocês sabem, o meu sentido auditivo ficou muito melhor. Tenho a certeza que a Alicia não se ia trancar.

- Mas o que é que passa? – Jack perguntou ao juntar-se aos três piratas. – A Alicia cansou-se de vos ver e expulsou-os do quarto? – Jack sorriu mas ninguém se riu ou achou piada.

- A Alicia quis ficar sozinha e ao que parece trancou-se no quarto. – Lara explicou, tentando mais uma vez sem sucesso abrir a porta.

- Por Calipso, vocês são mesmo atados! – Jack exclamou. – Basta arrombar a porta e… AI!

- O que foi? – Lara perguntou quando viu Jack saltar depois colocar a mão na maçaneta.

- Como o que foi? Essa coisa está em brasa! – Jack agarrou-se à mão e Lara viu que este tinha-a queimado.

Os quatro olharam a maçaneta e esta parecia perfeitamente normal. Will colocou lá a mão e nada sentiu. Lara imitou-o e nada aconteceu.

- Estranho. – Elizabeth observou. – Acho que a Alicia colocou um repelente de Sparrow's!

- Eu não estou louco. – Jack mostrou a queimadura. Elizabeth rodou os olhos e deu um pontapé na porta que não se moveu um milímetro. O mesmo não aconteceu com o pé desta.

- Irra que essa porta está amaldiçoada! – Elizabeth exclamou enquanto esfregava o tornozelo.

Antes de haver explicações, os piratas ouviram um clique e a porta entreabriu-se. Lara não esperou e entrou de rompante. Ficou especada quando viu que Alicia dormia.

- Uau. Pela primeira vez na vida houve um milagre a bordo do Pearl. A Alicia dispensou o seu querido maridinho para dormir à vontade. – Jack apareceu por detrás de Lara e sorriu cinicamente.

- Ela não está a dormir. – Will disse e correu até ao corpo da mulher. – Está desmaiada.

- Eu disse que uma hora era demais. – Lara imitou o gesto de Will mas ambos se assustaram quando Alicia abriu os olhos e se ergueu subitamente, como se tivesse regressado de um outro mundo.

- O que é que se passou? Disseste para eu sair e… - Will passou a mão pelo cabelo de Alicia e esta olhou para si esbaforida. De repente um sorriso do tamanho do Mundo invadiu a sua face.

- Eu acho que a Alicia pirou de vez. – Elizabeth sussurrou para Jack.

- Só agora viste isso? – Jack perguntou no mesmo tom baixou mas sorriu amarelo quando viu que Lara o fulminava com o olhar.

- EU ESTOU GRÁVIDA! – Alicia gritou tão alto que só Lara percebeu o que esta disse.

- O quê? – Will ficou mais branco do que era e Lara julgou que este ia caindo para o lado.

- Eu vou ter o nosso filho, Will. Eu não acredito que finalmente aconteceu, eu… - Alicia quase sufocou Will e saiu disparada para o exterior, deixando os quatro com cara de parvos.

- Eu… - Will levantou-se ainda abananado com tamanha descoberta. - … não sei o que dizer!

- Parabéns Will! – Elizabeth emocionou-se e abraçou este que sorriu fracamente. – Tu e ela merecem.

- Sempre tinhas razão, love! – Jack exclamou.

- Tu já sabias? – Will arqueou uma sobrancelha.

- Desconfiava. – Lara emendou e saiu atrás de Alicia.

Encontrou esta abraçada a Grace que chorava copiosamente. Lara olhou para Barbossa que se encontrava no timão e viu que este estava exactamente com a mesma cara que a sua.

- Ai eu nunca pensei ficar tão contente! – Alicia olhou para Lara. – Onde está a Mary? Eu preciso contar-lhe que vai ter alguém com quem brincar e… porque é que estão com essas caras?

Todos lhe tinham dado os parabéns. Grace matou-se a chorar porque considerava que iria ser avó segunda vez. Elizabeth exibiu um sorriso tão grande que parecia que o filho era seu e Thomas deu o típico abraço de urso. No entanto, duas das pessoas mais importantes para si estavam com umas caras que não condiziam com a ocasião: Lara e Will.

- Eu não estou com cara nenhuma. Aliás, parabéns Alicia e eunu… Will. Vão ver o quanto é bom mudar fraldas. – Jack sorriu abertamente e Alicia sorriu com a piada deste, mas continuava fixa em Will e Lara.

- Obrigada Jack. Não dizes nada Will? – Alicia perguntou beirando o choro e Will sorriu finalmente.

- O que eu poderia dizer mais a não ser que me fizeste o homem mais feliz deste mundo? – Will abraçou Alicia e esta beijou-o este por entre lágrimas. – Tu és o amor da minha vida Alicia.

- Eu te amo. – Alicia abraçou este mas sabia que a sensação de felicidade plena não estava completa.

- Oh Alicia é claro que eu fico mais do que feliz! Aliás até já desconfiava deste cenário. – Lara abraçou Alicia, mas a última notou que esta continua tensa.

- Mas a tua cara… - Alicia fez uma cara triste e Lara sorriu.

- Eu só fiquei preocupada. Esses desmaios e depois a gravidez. Digamos que estamos numa ambiente que não é o apropriado…

- Love, tu também estiveste grávida neste navio e o resultado continua a andar por aí! – Jack exclamou desarmando Lara.

- Tens razão. – Lara abraçou de novo Alicia. – Tens a certeza que estás mesmo grávida?

- Absoluta. – Alicia piscou o olho. – Depois conto-te.

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Uma semana depois…

Lara olhava as pequenas ondas que se formavam à passagem do Black Pearl. A semana passara rápido e fora abençoada com bom tempo e ventos favoráveis. Segundo Barbossa mais uma semana e estariam na Ilha de Páscoa. Olhou para as escadas do timão e viu Mary ao colo de Alicia. Achava seriamente que se a criança que iria nascer fosse irmão da sua filha esta não estaria tão contente.

Alicia tinha-lhe contado sobre a aparição de Serena. Ao que tudo indicava, Alicia tinha sentido a presença desta e por isso tinha mandado Will para fora do quarto. Lembrava-se da conversa toda mas sabia que a tinha tido quando estava desmaiada, como se tivesse sido enviada para dentro de um sonho. No entanto, tanto Alicia como Lara tinham a certeza que Serena fora um sonho real.

Lara mirou o timão. Grace estava ao lado de Barbossa e Cotton tomava conta do leme. Jack estava ausente. Havia horas que estava concentrado naquele maldito mapa. O seu entusiasmo era tanto que a bússola havia funcionado de novo nas mãos de Jack Sparrow, mostrando o caminho para esse tesouro.

Já James Norrington revelava-se uma autêntica ajuda preciosa. Fosse por vontade própria ou por não ter alternativa, o seu conhecimento sobre as rotas dos navios da marinha inglesa e da EITC, tornaram-se úteis para fazer da viagem do Pearl algo sem sobressaltos.

No entanto, mesmo no caminho certo e com a alegria da gravidez de Alicia, Lara continuava com o mesmo desassossego dentro de si. Sabia que Alicia se arriscaria ao ir nesta aventura e por isso mesmo tinha decidido ter uma conversa séria com Will. Ele era o único que poderia convencer a amiga a não participar nesta jornada.

Mas se a sua preocupação era grande no que toca a Alicia, era ainda muito maior quando se tratava de Mary. Para piorar, o pedido de Serena fez com que Lara tivesse certeza que a sua filha corria risco de vida.

A única coisa boa era ter tido uma semana limpa de sonhos. Nunca dormira tão bem na vida e isso a deixava satisfeita e irritada ao mesmo tempo. Porque por muito que dormisse era só e apenas isso. Passava a noite a dormir e mais nada. Jack andava tão fixado nesse tesouro que passava as noites colado no mapa quando não estava ao comando do navio. E isso fazia com que Lara tivesse vontade de correr tudo à chapada por uma semana de "seca". Quando mais precisava de Jack, ele não estava lá.

- Pensando na morte da bezerra? – A voz de Thomas fez Lara sorrir.

- Não. Apenas naquilo que nos espera. – Lara disse enquanto Thomas se colocava ao seu lado fixando também as águas marítimas.

- Acho que quando queremos algo e vamos atrás, temos de estar optimistas. Não adianta dizer tudo bem e depois pregar o sermão do "não devíamos fazer isto e aquilo". – Thomas disse.

- Quer dizer que achas que eu não devia ter concordado com esta aventura? Que devia ter fincado o pé?

- Uma das alíneas do código pirata é que todos na tripulação têm voto na matéria. – Thomas explicou.

- Eu sei. E votei contra. Mas sabes como o Jack é. Leva todos com ele. – Lara voltou a fixar as águas.

- Sinceramente, na minha humilde opinião… - Thomas fez uma cara que Lara teve de rir. - … todos os tesouros têm as suas coisas boas e más. E todos eles têm o seu fundo de verdade e mentira.

- Queres dizer que devo esperar para ver? – Lara perguntou.

- Lara, Lara o teu problema sempre foi seres pessimista. – Thomas bagunçou o cabelo desta, fazendo Lara dar um murro no ombro deste divertida. – Relaxa e aproveita a vida.

- Definitivamente a Elizabeth fez-te bem. – Lara observou.

- Ah… - Thomas torceu o nariz. - … acho que tirei a sorte grande! – Exclamou depois, exibindo um grande sorriso de felicidade.

- Não te preocupa a amizade dela pelo James? – Lara perguntou. – Afinal ele sempre foi apaixonado por ela.

- Eu não vou dizer que não ligo para isso. Mas eu tenho a maior confiança nela ao contrário de outros e sei que não posso proibir a ligação que ambos têm.

- Tu és um bom homem, Thomas. – Lara deu um tapinha no ombro deste enquanto subia até à proa.

Desceu pelo parapeito colocando-se no seu local de refúgio mesmo na frente do Pearl. Adorava o bater do navio nas ondas e a brisa que naquele lugar se fazia sentir. No entanto, quando lá chegou deu com Darius sentado e distraído a esculpir algo. Não se mexeu. Não queria interromper este e daria meia volta. A ideia de este ser talvez a reencarnação do noivo de Mayara passou-lhe pela mente e não pode deixar de notar o quanto este era bonito. No entanto, na sua humilde opinião não pensaria duas vezes entre escolher Darius ou Jack em termos de beleza. Jack Sparrow era Jack Sparrow e a sua beleza exótica e misteriosa ganhava a todos os homens que já tinha visto na vida. Decidiu voltar mas o barulho de uma das traves de madeira a ser pisada traiu-a.

- Desculpe eu não a vi aí. – Darius levantou-se mas Lara fez sinal com a mão para que este se mantivesse no lugar.

- Não, eu não o quis interromper. Normalmente nunca cá está ninguém. – Lara sorriu amarelo e ficou sem saber o que fazer.

- Eu aproveitei uma folga. – Darius sorriu. – Coisa rara quando se trabalha num navio. Claro que não é o seu caso e da senhora Alicia e senhora Grace.

- Não é bem assim. – Lara sentou-se ao lado de Darius. – Todas temos grandes papéis aqui dentro. A Grace, por exemplo. Lembro-me que quando eu e Alicia caímos aqui de pára-quedas há 5 anos, a cozinha estava entregue a um dos marujos e devo dizer que não era grande coisa.

- Não tenho dúvidas. Eu sei que a comida é feita pela senhora Grace e devo dizer que é das melhores que comi. – Darius sorriu.

- É, a Grace tem o dom de improvisar na cozinha, além de saber mil e uma receitas. É também ela que faz a lista dos mantimentos alimentares do navio, ajudada pelo Gibbs claro. – Lara explicou. – Acho que todos a consideram a grande mãe daqui!

- Mas não estou a ver a Alicia nem você na cozinha.

- Pois não. A Alicia vive connosco porque é impossível viver com o Will. Mas nem por isso ela é menos importante. A Alicia sempre foi perita em Geografia e é bastante útil nos mapas.

- Mas você é a mulher do capitão. – Darius disse.

- E por isso é que não fico parada aqui só no papel de mãe. Viu a quantidade de livros que existem na cabine dos capitães? – Lara perguntou e vendo o sinal afirmativo de Darius continuou. – Sempre amei História e ter acontecido o que aconteceu na minha vida permitiu-me ver o passado com outros olhos. Tento ler o maior número de livros e sempre que aportamos ando atrás das novidades políticas dos reinos. Isso permite saber quais os que andam em guerra e quais as manobras que adoptam no mar.

- Boa visão. Aposto que sabe bastante de manobras de ataque. – Darius disse.

- Sou pirata e tenho de saber tudo sobre a vida no mar. Esse não é um passatempo e sim uma obrigação que todos os flibusteiros e bucaneiros devem ter. – Lara disse. – No fundo, a única pessoa que faz o que quer aqui é a Mary.

- Ela tem sorte. Mesmo no meio de piratas, ela nasceu com pais maravilhosos. – Darius afirmou e Lara baixou os olhos para a peça de madeira que este tinha feito.

- Lindo golfinho. – Lara disse quando viu a peça e Darius passou-a para as suas mãos.

- Os guardiões do mar e protectores dos pescadores.

- É o meu animal preferido. – Lara sorriu. – Eu espero que não pense que quero ser coscuvilheira, mas eu estou farta de contar a minha história. Gostava mais de saber sobre a sua vida. – Lara mordeu o lábio e amaldiçoou-se por seguir o conselho de Alicia, porém em vez de Darius fugir, exibiu um sorriso simples.

- O que quer saber de mim?

- Ah, você disse que nasceu na Grécia mas viveu desde novo na Inglaterra. – Lara começou. – Eu nunca fui ao país que consideram o berço da democracia. Como é a Grécia?

- Um país maravilhoso. Lá é como se o tempo nunca tivesse passado. Como se a magia dos tempos dourados não se tivesse desvanecido. Além de possuir paisagens fantásticas. – Darius explicou.

- Devia ter sentido falta disso quando foi para Inglaterra. – Lara observou.

- Sim e não. A Grã-Bretanha pode ser mágica em muitas coisas. Mas os meus sítios preferidos são a Escócia e principalmente a Irlanda. – Darius disse e sorriu ao mesmo tempo que Lara.

- Desculpe a pergunta que lhe vou fazer e se quiser não responda, mas… a sua mulher … - Lara engoliu em seco. - … ela morreu de quê?

- Ela não era minha mulher. Apenas quem eu amava e que me amava também. – Darius desviou o olhar e Lara teve vontade de se esbofetear por ter mexido num assunto doloroso. Mas por um lado precisava tirar informações.

- Não sabia. – Lara fixou o golfinho. – Desculpe ter referido o assunto.

- Ela também amava golfinhos. Quando morreu eu estava longe, numa viagem. – Darius explicou.

- Oh. – Lara sentiu-se ainda mais estúpida. Não deixava de sentir uma simpatia e pena enorme por aquele homem e ao mesmo tempo o seu sexto sentido dizia-lhe que algo ia muito mal. Olhou em frente e levantou o sobrolho. – Parece que o tempo vai mudar.

Ao longe, nuvens escuras começavam a formar-se. Darius levantou-se e ajudou Lara, no entanto, este teve o cuidado de sair por estibordo para que ninguém notasse que estava com Lara. A morena guardou os pensamentos e depressa se colocou ao lado de Barbossa e Grace.

- Onde está o imprestável do seu marido? – Barbossa perguntou perscrutando o horizonte com o óculo.

- Continua trancado na cabina, eu acho. – Lara disse com ar desconsolado. – Algum problema?

- Dos grandes. – Barbossa passou o óculo a Lara e o que esta viu fez com que abafasse um grito. O que se formava à frente dos seus olhos era um autêntico pesadelo e uma onda de pânico invadiu-a.

Ao mesmo tempo ouviu a porta da cabina escancarar-se e Jack sair com ar de louco.

- ELE VEM AÍ! – O capitão mais novo exclamou. – O mapa mostra um Maelstrom a formar-se mesmo na nossa frente.

Lara olhou para Barbossa e para o marido. O ar sereno do capitão mais velho deu-lhe uma certeza. Eles eram suficientes loucos para passar no meio de um Maelstrom.

Continua…