- Wright, você poderia por favor permitir que Shinji depusesse sobre a condição “Trancado” que um tópico pode ter? – perguntou Edgeworth, irônico, com os braços cruzados.

- ... – eu queria ter alguma resposta, mas as palavras não saiam de minha boca.

- Eu aceitarei isso como um sim. – respondeu o promotor – Sr. Shinji, por favor, explique-nos tudo o que souber sobre tópicos trancados.

- Para entender a natureza desses tópicos, é preciso compreender a hierarquia que existe entre os usuários registrados na PokéLand. Eles se dividem em três grandes grupos: Usuários, Moderadores e Administradores. Os usuários normais podem apenas postar mensagens, editá-las e coisas do gênero. Nada demais. Os Administradores, ou Admins, podem fazer praticamente tudo o que quiserem com a comunidade. Os Moderadores, ou Mods, ficam no meio: eles têm apenas poder sobre uma ou outra seção do fórum, da qual ele é Mod.

- HOLD IT! – eu interrompi – Que tipo de poderes um Moderador tem?

- Eu já estava chegando nisso, Sr. Advogado – respondeu Shinji – Na seção em que um usuário é Mod, ele pode, entre outras coisas, trancar e destrancar tópicos. Usuários normais não têm esse poder, enquanto que Administradores podem trancar e destrancar tópicos da comunidade toda.

- Mas então como o tópico do assassinato foi trancado durante a noite, se não havia nenhum moderador na cena do crime?

- Antes que a defesa invente alguma teoria mirabolante sobre como o moderador da Oficina Web++ é o assassino – interveio Edgeworth – Eu gostaria de afirmar que a testemunha tem uma explicação perfeitamente plausível para esse estranho acontecimento.

Uma explicação plausível?! Mas Shinji havia dito ontem que esse era o grande mistério do caso. Isso não fazia o menor sentido...

- Esse tópico estava numa condição deplorável – continuou a testemunha – As câmeras de segurança não funcionavam, as mensagens lá escritas estavam quase desaparecendo... E o tópico em si tinha quase um ano de idade, mas ninguém postou nele por um bom tempo. Ou seja, ele estava apodrecendo com o tempo.

- HOLD IT! – eu interrompi – O que um tópico de um ano de idade estaria tão visível? Ele não deveria começar a desaparecer?

- Tópicos velhos vão se deslocando para as profundezas do fórum – ele respondeu – No caso, esse tópico deveria estar bem escondido na Oficina Web++. Porém, se alguém acessar o tópico, ele sobe de volta a um lugar visível. Ou seja, o tópico estava visível devido a Deagá e GBcrazy. Se você quiser saber o que havia de tão interessante lá, pergunte ao réu.

- Assim, estabelecemos o motivo do tópico estar trancado. – disse Edgeworth, triunfante.

- Eu não me lembro de ouvir a testemunha especificar algum motivo para isso! – eu retruquei.

- Basta apenas um mínimo de dedução lógica, Wright. – respondeu Edgeworth, de braços cruzados – Esse tópico era muito velho e, conforme a testemunha nos informou, estava cheio de defeitos, como as câmeras. Ele se trancar sozinho não passaria de outra falha de sistema.

- Mas as chances de isso acontecer são ridículas!

- Você tem alguma alternativa mais provável? – ele perguntou

- Sr. Wright – interveio Shinji – um tópico se trancar sozinho é improvável, mas não impossível. Mas a chance de alguém ter trancado um tópico na Oficina Web++... Nenhum Mod passou por ali naquela noite! Isso é impossível!

“Nenhum Mod passou ali naquela noite?” eu pensei “Mod... Onde eu já vi essa palavra antes? Onde?!” Eu pensei novamente sobre todo o caso. Sobre tudo que disseram. Sobre tudo que eu... Investiguei! Era isso! A imagem da única evidência que não fazia sentido algum piscou diante dos meus olhos. Era ela a explicação desse enigma!

- OBJECTION! – eu protestei, batendo minhas palmas contra minha mesa – A defesa discorda dessa teoria! Eu afirmo que, na noite do assassinato, um moderador passou pelo tópico do crime, durante ou após o assassinato! – eu anunciei, esticando meu braço e apontando para a Shinji.

- O quê?! – disse a testemunha, pasmada, enquanto cortava seus pulsos freneticamente.

- A testemunha abster-se-á de se cortar durante o julgamento! – ordenou o Juiz.

- Isso é apenas algo que eu faço ao ficar surpreso. E a afirmação do Sr. Wright é surpreendente! – ele disse, enquanto seus pulsos se cicatrizavam magicamente.

- OBJECTION! – protestou Edgeworth, batendo em sua mesa com sua palma esquerda – Não seja ridículo, Wright! Ninguém acessa a Oficina Web++. Ninguém! Se você quer clamar algo tão absurdo como um moderador ter trancado esse tópico e, portanto, ter visto a cena do crime durante ou após o assassinato, ao menos apresente alguma prova disso!

- Infelizmente, eu não posso apresentar nenhuma prova disso...

- Eu sabia. – interrompeu Edgeworth – Apenas mais um blefe maluco, Wright.

- OBJECTION! – eu novamente surrei minha mesa com minhas palmas – Eu não posso apresentar nenhuma prova porque um certo detetive não me deixou tirar essa prova da cena do crime! – eu disse, com meus braços na minha cintura – Mas eu acredito que um certo promotor terá essa evidência. O distintivo azul e sujo encontrado na cena do crime!

Finalmente, eu havia conseguido quebrar a argumentação de Edgeworth. Ele inclinou-se para trás, como que se tivesse acabado de receber um soco. Seus dentes rangiam. Seus olhos, quase lacrimejavam. Agora era minha chance!

- Você não pode estar falando... Disto?! – ele disse, mostrando o distintivo que eu encontrara no dia anterior.

- Mas é claro que estou!

- Wright, não seja tolo! – ele retrucou, com um tom de voz desesperado – Este distintivo... Ele não significa nada!

- Então por que não o limpamos para ver o que ele diz?

- Sr. Edgeworth – o juiz interveio – A defesa parece realmente acreditar que esse distintivo tem importância significativa para este caso. Por favor, retire toda essa sujeira dele imediatamente.

Todo o tribunal parou nesse momento. Todos estavam ansiosos para saber que tipo de informação estava naquele distintivo.

- Aqui está Wright. – disse Edgeworth, que finalmente recuperara sua postura triunfante – Olhe só seu distintivo. Olhe só como ele não diz nada!

- Mas é claro que ele não diz nada assim! – eu retruquei.

- O que isso significa, Sr. Wright? – perguntou o Juiz, curioso.

- O distintivo – eu estendi meu braço e apontei para a evidência com todas as minhas forças – Ele está de cabeça para baixo!

- De cabeça para cima, ele quer dizer – disse Edgeworth, rodando o pequeno objeto metálico – ARGH! NÃO PODE SER! – ele falou, desesperado, caindo sobre sua mesa.

A única palavra presente naquele metálico distintivo azul... Era MOD. Não restava dúvida; algum moderador havia passado pela cena do crime naquela noite!

- Agora, sigam meu raciocínio – eu anunciei, enquanto lia o resumo do caso – Deagá e GBcrazy conseguiram acessar o tópico aquela noite, entre 11 e 11:30, horário estimado da morte. Ou seja, o tópico estava destrancado no momento em que eles entraram lá!

- Sim, Sr. Wright. Isso faz sentido. – disse Juiz, fazendo “sim” com a cabeça – Mas e daí?

- Porém, quando esta testemunha encontrou o tópico, por volta das 10 da manhã do dia seguinte... Ele estava trancado! Isso nos dá duas possibilidades: Ou um moderador acessou o tópico após o crime, mas não o notificou à polícia...

- Isso é absurdo! – Edgeworth me interrompeu – Qualquer um ficaria no mínimo chocado ao ver uma cena como essa para apenas trancá-la e esquecer dela.

- Ou o moderador acessou o tópico durante o crime. – eu continuei – Mas é claro, por que alguém veria um crime, mas não faria nada para impedi-lo, mesmo tendo grandes poderes na região onde ele ocorreu?

- Você não vai... – disse Edgeworth, tremendo.

- Sim, eu vou! – eu retruquei, triunfante – A única explicação lógica é que esse moderador é o responsável pelo crime! – eu anunciei.

Edgeworth, novamente, caiu sobre sua mesa. Parecia que eu finalmente tinha alguma chance de ganhar esse caso. A corte se tornou uma verdadeira bagunça; todos começaram a discutir sobre o desenvolvimento do caso. Deagá, que antes era totalmente culpado, agora já parecia inocente.

- Viu, Phoenix? – disse Mia, sorrindo. – Esta era sua grande chance. Se Deagá é inocente, então obviamente havia mais alguém na cena do crime. E você acabou de provar isso.

- Ordem! Ordem no tribunal! – gritou o Juiz, martelando sua mesa – Sr. Wright, o desenvolvimento que o senhor fez neste caso, ele foi no mínimo inesperado! Mas ainda há um problema.

- Um problema? – eu perguntei, com minha mão esquerda coçando meu queixo.

- Quem é esse Moderador? Nós precisamos saber.

- Ah, sim, claro.

- Então seu cliente ainda não está completamente inocentado. Mas eu também não tenho como julgá-lo “culpado” hoje. Portanto, declaro que este julgamento será prorr...

- OBJECTION! – protestou Edgeworth, batendo em sua mesa – Nós não precisamos prorrogar o julgamento até amanhã. Nós podemos descobrir a identidade deste moderador agora mesmo. – ele disse, com seu mesmo ar de superioridade de sempre. Como ele se recuperou tão rápido?!

- Nós... Podemos? – eu perguntei.

Aquele era o Edgeworth que eu conhecia, infelizmente. Não importava como, mas ele estava prestes a virar aquele caso em seu favor. Eu senti um frio na barriga, mas não podia desistir. Eu já havia chegado tão longe... Eu não podia deixar que Edgeworth me derrubasse, não agora!