Olhos de Sangue escrita por valeriac


Capítulo 5
Dolorosa verdade


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco, mas aí está =D



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      Em todo o trajeto, conversamos coisas aleatórias no carro, ás vezes coisas sem sentido, mas qual a graça da vida sem coisas inúteis? Admito que eu não me reconheci, geralmente eu não falava com uma mesma pessoa mais que algumas frases. Mas com ele, eu podia ser eu mesma.

     Após um tempo percebi que ele havia ficado meio inquieto, adquiriu uma expressão séria, seus olhos estavam fixados na estrada, parecia estar muito atento em algo. Foi quando avistamos um movimento na estrada, havia vários carros de policia e uma ambulância. Á medida que nos aproximávamos, avistávamos sangue no chão e, não era pouco. Foi aí que fiquei desesperada, eu queria sair dali, eu queria gritar, eu não acreditava no que estava vendo. Eu vi o carro dos meus pais lá no meio do acidente, eles haviam sido as vítimas. Eu tinha certeza, aqueles eram meus pais. Eu simplesmente não sabia o que fazer, olhei para Mitchell com meus olhos marejados, como se eu estivesse pedindo, implorando que aquilo não fosse verdade, que aquilo fosse apenas um pesadelo ou uma ilusão. Mas não adiantava. Eu querer fugir daquilo, não adiantava eu mentir para eu mesma, aquilo era real, havia acontecido.

      -Mai... - Mitchell falou me abraçando.

      -Por... Por quê? - A única coisa que eu consegui pronunciar naquela hora. As palavras mal saiam da minha boca.

      -Acalme-se, por favor... Fique aqui, vou ver o que aconteceu.

      Mitchell após dizer isso, saiu do carro e foi em direção ao acidente. Eu o via falando com os policiais. Mitchell parecia zangado, irritado, eu não sabia ao certo. De longe eu acompanhava as expressões e os movimentos dos policiais e de Mitchell, eu queria saber o que realmente havia acontecido. Eu já havia parado de chorar, agora eu apenas os observava e lembrava-me dos momentos que vivi com meus pais, tanto ruins quando bons. Avistei Mitchell voltando para o carro. Quando o mesmo já estava dentro o olhei.

      -Estão mortos, não é? - Eu perguntei, embora já soubesse a resposta. Ele apenas assentiu.

      -Vou levar você para casa agora. - Mitchell falou. Eu não respondi, apenas olhava fixamente para o acidente. Ele entendeu como um sim.

       Enquanto passávamos pelo local do acidente, vi os corpos de meus pais sendo colocados na ambulância e levados embora. Senti um forte aperto em meu coração. Eu simplesmente não sabia o que fazer o que seria da minha vida agora? Eu teria que arranjar um emprego para me sustentar. Como eu iria fazer? Eu não tinha nenhum parente próximo que poderia me ajudar, somente minha avó que como comentei antes, estava doente e, eu não poderia morar com ela, pois morava em um asilo pago pelo viúvo da minha tia, ou seja, eu não tinha nenhum lado sanguíneo com ele.

      -Chegamos. - Mitchell avisou, despertando-me de meus pensamentos.

     -Obrigada pela carona. - falei saindo do carro, mas fui impedida por ele, que segurou meu braço.

      -Você vai ficar bem? - ele perguntou. Eu me encontrava de costas pra ele.

      -Eu não vou morrer – Respondi friamente, continuando na mesma posição.

      -Qualquer coisa que precisar... Ligue-me - Ele demonstrava preocupação em seu tom

      -Por quê? - Eu perguntei. Eu estava com uma expressão vazia.

      -Porque o quê?

      -Porque faz isso? Porque tem me ajudado tanto?

     -Não sei. Apenas sinto que eu devo te proteger – Senti que seu ele soltou um pouco meu braço.

     -Vai chegar uma hora que você não vai conseguir – Falei, olhando para a entrada da minha casa. Como seu eu tivesse relembrando as memórias que eu tinha daquele lugar... Memórias que consegui junto de meus pais.

     -Mas eu posso tentar - Ele falou de forma convicta, por um momento senti um alivio.

     Quando ele terminou de dizer, me virei automaticamente ficando de frente para o mesmo. Nossos olhares se encontraram, senti que aqueles orbes azuis penetrantes conseguiam ver os meus sentimentos, os meus segredos, os meus desejos.

     Conseguia sentir sua respiração, a cada segundo estávamos cada vez mais próximos. Mas antes que pudesse ocorrer algo, ele esquiva, ele simplesmente virou cabeça para o lado e disse:

      -Está na hora de você ir. Precisa descansar. - Ele falou desviando seu olhar para baixo.

     Eu apenas o olhei. Porque ele não quis me beijar? Eu me perguntava, talvez ele me considerasse apenas uma amiga, ou até mesmo uma colega.

     -Como quiser - Eu disse me soltando dele e saindo do carro - Ah, e não se preocupe, eu não preciso de sua ajuda- Falei. Bati a porta do carro com força antes que ele pudesse se pronunciar e entrei em minha casa. Pus-me a ir para o meu quarto, eu estava péssima por tudo o que vinha acontecendo. Deitei-me em minha cama e desabei a chorar, então adormeci em prantos.

      No outro dia, acordei com uma forte dor de cabeça. Pensei em faltar aula, eu teria bons motivos, mas não queria me entregar assim tão fácil, de um jeito ou de outro a vida continua. Arrumei-me e me dirigi á escola. No caminho resolvi ir até o parque, o jeito como o vento balança as folhas e flores das árvores, espalhando seus aromas me deixa relaxada. Passei um bom tempo ali, refleti e, várias coisas que aconteceram recentemente rondavam na minha cabeça. Vi o relógio, já estava um pouco atrasada, então tratei logo de seguir para a escola. Não demorei muito a chegar. Logo que passei pela entrada, vi Mitchell sentado no alto de uma árvore, eu ia passar direto o ignorando, mas antes que eu pudesse, ele desceu da árvore numa velocidade quase desumana. Assustei-me.

      -Aconteceu algo? – Ele perguntou como se nada tivesse acontecido no dia anterior. Sua cara de pau me impressionava.

      -Porque a pergunta? - Tentei ignorá-lo ao máximo.

      -Você demorou a chegar hoje - Ele pareceu ter ficado meio irritado.

      -Isso é problema meu - falei e tentei seguir meu caminho, mas ele impediu minha passagem.

     -Porque está tão irritada? - O modo como ele ignorava tudo me irritava.

     -Você ainda pergunta? – Respondi, tentando fugir de seu olhar.

     -Mas me diz, você está irritada especificamente com qual dos acontecimentos?

     -O que?! – Perguntei irritada. Como ele ousa?

     -Porque você está irritada comigo, e eu não tenho nada a ver com o primeiro acontecimento, então o que falta é... - Eu o interrompi.

     -Não importa agora, e mesmo que importasse isso é passado.

     -Você tem certeza? - Ele falou olhando bem fundo em meus olhos.

    -Para de fazer isso! - Falei quase gritando.

    -Isso o quê?

    -Isso que você está fazendo. Ficar me usando e me enganando desse jeito. - Falei ainda com o meu tom de voz alterado.

    -Mai, não é isso. - Ele falou se aproximando mais de mim

    -Então é o que? - Eu perguntei. Meus olhos já estavam ficando marejados.

    -É muito complexo, você não entenderia. - Ele pareceu ter ficado culpado consigo mesmo. O motivo? Eu não sabia.

    -Já que é assim, me faz um favor? - antes que ele pudesse responder eu continuo - ME DEIXA! - Falei aumento o tom da minha voz e saí correndo dali. As lágrimas já escorriam por toda a extensão de meu rosto.

     Entrei em minha sala, a aula já havia começado. Pedi desculpas pelo atraso e por interromper e me dirigi ao meu lugar, foi quando me lembrei de que Mitchell sentava junto comigo. Só faltava essa - eu pensei. Acabou a última aula do dia e nada dele. Sim. Ele não havia aparecido para as aulas. Mesmo não querendo, fiquei preocupada. Amaldiçoei-me mentalmente por ainda me importar com ele. Droga!Eu simplesmente não conseguia tirá-lo da cabeça. Enquanto estava perdida em meus pensamentos, senti uma corrente fria, me encolhi automaticamente. Foi aí que me lembrei de que não havia devolvido o casaco de Mitchell, o procurei dentro da bolsa e lá estava ele. Pensei em usá-lo, mas mudei de ideia, isso seria muita audácia de minha parte, então o guardei de volta. Ainda tinha que devolvê-lo, mas não sei como faria isso, não sei se aguentaria olhá-lo nos olhos novamente. Resolvi ir logo para casa, e mais uma vez me dirigia ao ponto de ônibus. Enquanto eu andava, lembrava-me de tudo, minha cabeça estava um turbilhão de emoções.


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo: Novas descobertas

Qual a nova situação que Mai irá viver?
Leiam

Bom... espero reviews de todos.

Até a próxima õ/
By: Váh