Olhos de Sangue escrita por valeriac


Capítulo 19
Um novo começo.




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Acordei aos poucos. Á medida que eu ia abrindo meus olhos, eu podia ver que me encontrava em um quarto pouco iluminado, para falar a verdade, quase não tinha iluminação. Não consegui distinguir ao certo onde eu estava. Quanto mais eu ficava com os olhos abertos, mais a iluminação parecia ficar melhor. –Será que inventaram alguma tecnologia para não deixar as pessoas acordadas no escuro? Eu fiquei desacordada por quanto tempo? – Percebi que minha cabeça não doía e que não havia nenhum tipo de faixas ou curativos envolvendo alguma parte do meu corpo. - Não sei se isso é considerado um motivo de alivio. - Eu comecei a me sentir estranha, nãos sei dizer se era uma sensação estranha ou não, para falar a verdade não sei se existe sensação estranha boa. Minha respiração estava falhando um pouco, eu tinha que fazer um esforço considerável para manter-me respirando.

       -Não vai demorar muito a acostumar-se.

       Desviei meu olhar para que eu pudesse ver o dono daquela voz, apesar de já saber de quem se tratava. Sim. Era Mitchell. Quem mais poderia ser... Não é? Ele era o único que eu encontrava depois de acordar de algum acidente. Isso era extremamente engraçado, de certa forma. Só não havia entendido o negócio de costume. Acostumar-me com o quê?

        -Acostumar-me com... – Falei, com o intuito que ele continuasse.

        -Mai, você me salvou...

        -Sim, eu sei. – Eu respondi, interrompendo-o

        -Você sabia as conseqüências de ter feito tal ato. – Mitchell falou, aproximando-se da cama e sentando ao meu lado.

        Abaixei meu olhar, a fim de lembrar-me qual era a tal conseqüência. Sim. Eu havia me esquecido. Fechei meus olhos, e á medida que eu os mantinha assim, imagens da noite anterior passavam na minha cabeça rapidamente, como se fossem flashbacks. Abri meus olhos em um movimento rápido, a fim de fazer com que aquelas imagens parassem de aparecer.

        Olhei para Mitchell e o mesmo falou um abafado: “sim”. Sinceramente, eu não sei qual reação eu tenho no momento - Aceito opiniões – Porque, o fato de agora eu ser uma vampira, uma vampira mesmo, sem ser olho de sangue ou humana, se bem que eu nunca fui humana, mas eu acho que o fato de ter vivido na ilusão de que eu fosse, dava no mesmo. Mas um olho de sangue é necessariamente quase um humano, por assim dizer, eles respiravam, não necessitavam de sangue no lugar das refeições, podiam comer, eram confundidos com humanos por outros seres e assim, acabavam sendo atacados; seu sangue tinha propriedades semelhantes ao do ser humano, fazendo com que ele seja “consumível” por seres que necessitam de sangue, além de que, os olhos de sangue podiam engravidar. Como podem ver, é uma lista imensa. -Se bem que eu me acostumaria bem com o fato de não ser atacada toda vez que eu saía na rua. - O fato de que eu teria que conviver sem essas coisas agora, era estranho e perturbador.

       -Ela já sabe, não é?

       Meus pensamentos foram interrompidos por Derick, que havia entrado no quarto e agora olhava para mim. Eu retribuí o olhar, tentando parecer ao menos forte diante dessa situação, mas cá entre nós, era impossível.

       -Sim. – Mitchell afirmou, levantando-se da cama.

       -Bem, como você se sente? – Derick perguntou-me.

       -Normal, por quê? Era para eu sentir-me diferente? Ou pelo menos, muito diferente? – Perguntei.

       -Não quero dizer isso. – Ele fechou os olhos e suspirou, voltando a olhar para mim. – Eu quero dizer, como se sente agora, sabendo que agora é imortal.

       Essa é nova. Eu havia esquecido completamente desse pequeno detalhe sobre os vampiros. Não que eu soubesse que os olhos de sangue não eram imortais, claro que não. Foi apenas uma suposição, até porque era obvio isso, porque eu fiquei mais velha, completei anos... E essas coisinhas mais. Agora, essa foi forte. Eu vou ter dezesseis anos, por toda a... Eternidade.

       Acho que meu estado de choque foi visível, porque, Derick e Mitchell, começaram a chamar meu nome. Olha, mas isso é bem aceitável. Esse foi, sem dúvida nenhuma, o ano mais revelador de todos.

       -Sim! Sim! Eu estou bem. – Eu respondi, fazendo com que eles se calassem. – Eu não estou morta.

       -Tecnicamente, você está sim. – Derick completou.

       -Vocês entenderam o que eu quis dizer. – Falei, levantando-me da cama. – O importante é o entendimento da mensagem. – Completei. Mitchell e Derick se entreolharam e sorriram.

       Eu me dirigi ao espelho, a fim de ver se havia acontecido alguma mudança física em mim. Claro que havia. Mas eu queria confirmar com meus próprios olhos.

        Percebi que quanto mais eu aproximava-me do espelho, Mitchell e Derick acompanhavam-me com os olhos, apreensivos para ver minha reação. Cheguei perto do objeto, e com calma aproximei-me mais e mais, até que pude ver meu reflexo no espelho. Não tive a melhor visão do mundo de imediato, primeiro veio o choque e depois a aceitação. Não. Eu não havia ficado feia. Meus cabelos haviam ficado mais longos e sua cor mais escura, semelhante a um preto. Como esperado, minha pele havia ficado pálida, não tanto quanto a pele de Mitchell e do irmão, mais um nível de palidez, aceitável... Digamos assim. Meus olhos estavam mais claros, não fez tanta diferença assim, eu não conseguia distinguir a cor dos meus olhos antes e nem agora, dava no mesmo. O espelho estava um pouco embaçado, então me aproximei e passei minha mão no mesmo, a fim de limpá-lo. Acho que fiz isso, para ter uma certeza de que aquilo era mesmo real.

         -Você ficou mais bonita. – Mitchell pronunciou-se, e eu desviei meu olhar do espelho para ele, e automaticamente lancei-lhe um pequeno sorriso de lado. Ele retribuiu.

         -Mereço isso. – Derick bufou, revirando os olhos.

         -Derick, você está aqui porque mesmo?! – Mitchell perguntou, rindo.

         -Maninho... Você é muito apressado. – Derick olhou pro irmão e depois pra mim. – A menina mal acordou e você já quer ficar a sós com a moça? Eu não te conheci assim, Mitchell. – Derick falou, tentando parecer surpreso.

         -Derick, não me faça bater em você agora, por favor. – Mitchell respondeu.

         -Ah, Mitchell, pequeno iludido... Você acha que...

         -Podem parar. – Falei, com o tom de voz elevado.

         -Sim, senhora! – Os dois responderam.

         -O que eu fiz senhor?! – Falei, revirando os olhos.

         -Muita coisa. – Derick respondeu, rindo.

         - Foi uma pergunta retórica. – Falei, colocando a mão em meu rosto.

         -Ah, foi...? – Derick argumentou. – Bem, sem mais delongas, vou dizer o porquê da minha presença aqui. – Ele olhou para mim e sorriu. – Tirando o fato da minha imensa preocupação com minha prezada cunhada.

         -Agradeço. – Respondi, tentando dar um sorriso.

         -Ah, e então você já se considera minha cunhada?! – Derick olhou de mim para Mitchell. Senti minha face ficar avermelhada. Eu realmente não merecia isso.

         -Vamos, Derick. – Mitchell falou. – Ande logo com isso.

         -Tudo bem. – Ele olhou para mim. – Eu vim trazer o resultado dos seus exames.

         -Que exames? – Perguntei.

         -Nós fizemos uns exames em você enquanto estava desacordada, para sabermos qual característica dos olhos de sangue permaneceu em você. – Ele respondeu, abrindo a pasta que tinha em mãos e tirando alguns papéis.

         -Ah, entendo. – Murmurei meio apreensiva com o resultado. – E então? Qual?

         -Eu ainda não abri o envelope dos exames. – Ele entregou-me o envelope. – Achei mais correto você abri-lo.

         Eu assenti e peguei o envelope, passando delicadamente meus dedos por cima do branco papel. Por alguns segundos, fiquei encarando-o. Admito, eu estava lutando contra mim mesma antes de abrir o tal envelope. Você deve estar se perguntando: Por quê? Já que eu deveria estar acostumada com revelações fortes que mudam minha vida completamente de uma hora para outra. Mas não é tão simples assim, apesar de acontecer com freqüência, é difícil de acostumar com isso, é perturbador o fato de que um texto pode determinar o seu futuro daqui por diante.

         Resolvi acabar logo com aquela apreensão toda. Abri o envelope calmamente e retirei a pequena folha dobrada que havia dentro. Coloquei o envelope encima da cama, e fixei minha atenção no papel em minhas mãos. Eu o desdobrei, sem retirar por nenhum segundo minha atenção.

         Finalmente pude ver o que estava escrito. Se eu entendi? Nada. Absolutamente, nada! Aquele era o texto mais complexo que eu já tinha visto em toda a minha vida. Não parecia nem ser meu idioma. Fiz uma cara de desentendimento completo e olhei para Mitchell e Derick.

         -Vocês poderiam traduzir? – Eu falei, estendendo o envelope para que algum deles pegasse.

         Mitchell fez um movimento para pegá-lo, mas antes que o mesmo pudesse completar a ação, Derick pega o papel primeiro.

         -Com licença? – Mitchell perguntou sarcasticamente.

         -O que foi? – Derick respondeu, fazendo-se de desentendido.

         Derick fixou sua atenção no papel, e eu e Mitchell fixamos nossa atenção nas expressões que Derick fazia á medida que lia. No dia que eu quero que Derick mostre suas reações, ele não mostra. Ele acabou de ler e olhou para mim e para Mitchell, suspirou e surpreendentemente ele soltou um grande sorriso.

         -Mai, parabéns! – Derick levantou os braços para mostrar animação – Você poderá ser mamãe!

         De todas as características que passaram na minha cabeça, essa era a que eu menos esperava. Não que eu não tenha ficado “feliz”, não, eu estou. Mas é que sei lá, tenho 16 anos, isso significa alguma coisa?!

         -Derick, você com essa animação toda, até parece que eu estou grávida. – Respondi.

         -Ah, me desculpe, Mai. – Ele cruzou os braços e colocou a mão no queixo, de forma pensativa. – É que eu sempre quis ser tio!

         Não posso esconder que tive uma crise de tosse bem ali. Bendita hora para isso! Parabéns, Mai! Você ganhou o titulo de discrição do ano. Eu estava tão preocupada com a minha crise de tosse que nem percebi que Mitchell também estava passando pelo mesmo. Eu sorri da reação dele, ele estava apoiado na cadeira tossindo “desesperadamente”. Foi engraçado, parecia que ele havia se engasgado com alguma coisa. Eu acho que tal situação fez com que minha crise de tosse cessasse e que eu não ficasse vermelha.

         Derick pegou um copo d’água para o irmão, ele aceitou a “bondade” de Derick e sua crise de tosse cessou. Após se “recuperar”, Mitchell começou a reclamar com o irmão coisas como: ele ser muito indiscreto e inconveniente. Eu só assistia aquela “cena”, era realmente uma ótima forma de passar o tempo. Não que eu goste de brigas, mas é que apesar deles estarem quase se matando e se xingando mortalmente, eu consigo ver o afeto fraternal que os dois têm. Claro que eu não comentei nada sobre isso com eles, porque eles iam negar até a morte! E olha que mortos eles já estão... E agora, eu também.

         Enquanto os dois discutiam, digo, Mitchell atacava Derick com palavras. Eu comecei a olhar os pequenos traços do quarto onde nós nos encontrávamos. Eu nunca havia estado ali antes, isso eu tinha certeza. O cômodo parecia antigo, parecido com aqueles quartos de novelas antigas, se eu fosse datar uma época para os móveis e a decoração que ali se encontravam, eu poderia dizer que são ou do século XIX ou do século XX. As paredes tinham cor rosada, no centro do quarto havia uma cama de casal, a qual eu tinha acordado a pouco. Uma janela encontrava-se ao lado da cama, não muito distante, uma cortina era usada para impedir a entrada de raios solares. Percebi que acima da cama, havia a pintura de uma linda moça. Não. Eu não sabia quem era.   

         -Mai, você sente-se disposta? – Derick perguntou, tirando minha atenção do quadro com a pintura.

         -Ah... Sim. – Eu dei uma breve pausa. – Bem, não muito. – Completei fazendo uma careta o que resultou no riso dos dois.

         -Deve ser as transformações. – Mitchell comentou.

         -Como assim? – Andei até os dois – Pensei que eu já fosse uma vampira “completa” ou sei lá.

         -Você recebeu o DNA de vampiro a pouco tempo. Sim. Hoje é dia 26. – Derick falou, olhando para mim. – Então, as transformações ainda não foram concluídas.

         -Quais são essas transformações? – Perguntei.

         -Sua respiração está fraca, não é? – Derick perguntou e eu assenti. – Isso porque o DNA ainda não atingiu o seu coração, ele ainda não parou...

         -Ele ficará fraco á medida que o tempo passa... – Mitchell completou vindo até mim. – Ele deverá parar totalmente, ao anoitecer.

         Eu sei que eu já sabia que isso ia acontecer. Era inevitável. Mas mesmo assim, essa história me traz arrepios. Ao anoitecer meu coração parará de bater, e eu serei considerada um... Deles. Uma aventura e tanto! Ás vezes eu me pergunto o que aconteceria se eu não tivesse conhecido Mitchell. Será que eu não descobriria minha identidade? Eu não sei e nunca vou saber. O destino me pregou uma bela peça... Uma boa peça. Acredito que, se eu não tivesse conhecido Mitchell, com certeza eu estaria morta. Sim. Morta. Eu não posso deixar de lembrar que foi ele que me salvou de situações bem mortais. Admito que, cheguei a pensar que era ele que chamava todas essas “coisas”. Sim. Como podem ver ainda não me acostumei com essa parte “oculta” da minha vida. Mas de qualquer modo, eu estou aqui agora, com meu coração prestes a parar.

         -Eu vou sentir algo quando isso acontecer. – Perguntei.

        -Você perceberá que não será necessário respirar, mas mesmo assim continuará fazendo o movimento, porque não é tão fácil perder hábitos... – Derick respondeu.

        -Ah sei. – Murmurei, abaixando o olhar, mas logo me lembrei de uma pessoa que eu ainda não havia visto desde minha transformação, para falar a verdade, a pessoa que eu ainda não tinha conversado decentemente, desde o dia em que conheci Mitchell. – Minha mãe! Onde ela está? – Perguntei, mostrando apreensão.

        -Não se preocupe... Mai. – Mitchell falou. – Ela está lá fora, esperando o momento de falar com você.

        -Porque ela não entrou com vocês? – Perguntei aliviada.

        -Acho que ela temia a sua reação ao vê-la depois de descobrir a sua identidade, depois que passou anos escondendo-a de você. – Derick murmurou. – E também não sabe como será ver sua filha... Uma vampira.

        Ela passou anos escondendo-me a minha identidade, e só agora se preocupa com minha reação?! Com meu bem-estar?! Eu não sou desse jeito, até porque todos erram, sendo humanos, vampiros ou... Olhos de sangue. Mas isso basta para deixar uma adolescente – vampira – bem revoltada, mas eu não tenho condições e nem estabilidade emocional para ter uma briga com mamãe agora. Se eu não vou pedir explicações?! Não, eu vou pedir sim e quero uma que seja bem convincente. Tomara que minha mãe saiba mentir, porque é quase certo de que ela não me contará toda a verdade.

        -Eu e Mitchell vamos sair agora. – Derick olhou para o irmão. – Temos que resolver umas coisas. – Ele voltou o olhar para mim e lançou-me um reconfortante sorriso. - Quando sairmos, sua mãe entrará.

        Percebi que Mitchell não gostou da ideia de sair agora, porque o mesmo adquiriu uma expressão emburrada. Admito que, vontade de rir não me faltou naquela hora, mas não era momento e nem tinha clima para isso. Tudo bem que eu estou bem, eu estou viva... Bem... Não necessariamente. Mas eu vou ter uma conversa “daquelas” com minha mãe, e ao contrário das outras famílias normais, não é a mãe que deseja explicações do porque da filha ter voltado vampira para casa – Ou no caso, dela ter descoberto que a filha no auge de seus 16 anos era uma vampira.

        -Vamos, Mitchell! – Derick segurou na gola da camisa do irmão e o levou arrastado para a porta. – Depois vocês namoram... Têm a eternidade agora.

        Eu sabia que tal ato de Derick não era necessário, até porque eu conheço Mitchell. Mas eu acho que ele- Derick – sabia que eu estava apreensiva com a conversa que eu ia ter.

        Vi os dois saindo, e Mitchell acenando para mim enquanto tentava se soltar do irmão, por fim a porta fechou-se logo que eles saíram. Dei um breve sorriso devido a cena hilária dos dois, e dirigi-me mais uma vez ao espelho. Mesmo que eu saiba, mesmo que eu ponha na minha cabeça que eu agora sou assim... Eu ainda tenho receio de que algum dia minha imagem, minha identidade mude novamente. É... Eu sei, é meio difícil e com certeza não há mais nada a ser revelado, pelo menos é o que eu espero. Toquei cuidadosamente no espelho ao mesmo tempo em que eu via meu reflexo no mesmo e começava a ver cada detalhe, cada mudança que havia ocorrido em mim. Tanto físicas quanto psicológicas. Sim. Psicológicas, eu acho que todas essas situações, todos esses sentimentos me fizeram crescer de certo modo. Meu pensamento foi interrompido pelo rangido da porta ao abrir-se, não precisei virar-me para ver quem havia entrado, eu sabia, era ela, minha mãe.


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Notas finais do capítulo

Reviews?!

Próximo capitulo: Reencontro.



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