Muito bem .

Eu estou sentada em meu quarto escrevendo em um caderno de capa rasgada e paginas amarelas que chamo de diário , apesar do nome não fazer sentido , porque eu nunca mais quero escrever nele . A meu lado está meu gato gordo , que não tem o que fazer da vida a não ser comer , ronronado feliz por ter comido o suficiente para um exército.  Só o que quero é  quebrar tudo que entrar no meu campo de visão , mas se eu fizer isso com certeza meus pais ou vizinhos iram brigar . O motivo por eu estar tão amargurada , violenta e irônica ?

Caio .

Um infeliz . Um cão . Um ser bestial e irracional .

Meu ex-namorado .

Eu nunca achei que o que as garotas diziam era verdade . E estava certa . Elas sempre diziam que quando um namorado termina com você , talvez você chore , talvez você fique sem comer ... Bah . Talvez . Elas nunca tinham certeza . Eu não sou assim . Um desejo de vingança corre por minhas veias . Meus olhos não irão derramar uma lágrima para alguém tão sujo . Talvez eu seja louca . Maluca . Seja como for , eu não me importo .

Eu não estou desejando morrer . Longe disso . Eu não estou arrependida do que fiz , nem nada. Talvez seja só o stress do momento . Talvez depois eu volte a viver minha vida como se nada tivesse acontecido .

Bah . Talvezes .

Eu não gosto de não ter certeza .

Como tudo aconteceu , você deve estar se perguntando ? Mas diários são só montes e montes de páginas em branco . Não falam . Então você não está se perguntando ou me perguntando nada , mas do mesmo jeito eu vou responder .

Aconteceu em frente a um bar . Eu tinha combinado de encontrá-lo  ali para tomarmos alguma coisa . Canso de esperar no meio da chuva . Entro . E o que vejo ? O cafajeste se esfregando em algumas abusadas . E sem um único copo de cerveja visível .

Traidor .

Eu estava com um copo na mão . O arremesso na direção dele , mas dou azar . O copo é de plástico . E não chega sequer a encostar em seu rosto , pois uma daquelas menininhas mimadas resolve se colocar na frente dele para protegê-lo do perigo inexistente . Bom , tecnicamente . O perigo não é um copo . O perigo sou eu .

Ando na sua direção lentamente . Meu olhar cospe fogo . Mas ele está ocupado demais olhando para suas “ ficantes” para me notar .

- Olá Caio . – falo lentamente . Ele congela . Me olha de olhos arregalados como se estivesse vendo um fantasma .

Minha mão desfere um tapa muito bem dado em seu rosto . Fico contente em ver o resultado . A boca dele sangra .

Não tenho mais o que fazer ali . Frustrada , viro as costas para ele e saio do bar . Vou para casa.

É isso . Com certeza não é a melhor das histórias que tenho , mas meu ódio continua igual .

Mas talvez eu não me vingue . Talvez eu relaxe . Talvez eu fique quieta e finja que nada aconteceu .

Ah . Eu detesto talvezes .

Até nunca , querido diário .