Cherry escrita por tsukiharu


Capítulo 1
Cereja


Notas iniciais do capítulo

Nesta fic, usei OCS que uso em praticamente TODAS as minhas fics/mangás originais ~
Espero que gostem ♥



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Desde pequeno, me contavam a lenda de um casal apaixonado que, ao estarem provando saborosas frutas exóticas, coincidentemente, encontraram-se em meio a um campo coberto de cerejeiras recheadas de pequenos frutos avermelhados. Foi amor à primeira vista. Depois de um tempo, ao se conhecerem melhor, descobriram estar realmente apaixonados. Sempre se encontravam naquele mesmo local, mas, como eram muito ocupados e só estavam livres no inverno de seus deveres, só se encontravam durante o período que aquelas doces frutinhas apareciam.

Eles não haviam contado um ao outro que, ambos estavam em guerra, e que, dolorosamente, um dia poderiam se separar. A guerra era entre duas colônias, que acabaram por envolver outras, e, no meio destas, os apaixonados eram rivais.

O único refúgio que tinham era o pequeno campo de cerejeiras. Enquanto pudessem se encontrar, se tocar; eles estariam satisfeitos. Mas como toda história, ela possui um fim. Um dia, a guerra teria que acabar, e levando junto a ela, a vida de várias pessoas envolvidas.

O dia que temiam chegara, uma guerra fria iniciou-se, um conflito que decidiria o destino do casal. Era impossível sair sem ferimentos desta. Mas, antes que a fina linha que as ligava a vida se rompesse, foram ao local de encontro mais uma vez. Ao encontrarem o olhar da pessoa amada, envolveram um ao outro esboçando um singelo sorriso banhado em lágrimas de felicidade. Poderia ser a última vez que se encontrassem. E, como último feito, provaram o sabor da fruta que os uniram mais uma vez, em volto de um caloroso beijo. O último beijo antes de o incêndio os envolver.

 Desde esse dia, aquela fruta, o que sobrou da história de um romance fora considerado o símbolo do amor mais lindo que existiu. O nome dessa fruta? Uma fruta redonda e pequena. Frágil e lisa. Um sabor adocicado que poderia encantar e confortar qualquer alma em profunda agonia e melancolia. A doce fruta denominada Cereja.

Uma fruta que, ao ser dado para uma pessoa, poderia dizer muitas coisas sobre o que uma sente pela outra. Muitas vezes, utilizada para representar o quanto a pessoa que deu a fruta ama a pessoa que a recebeu.

Coincidentemente, essa era a minha fruta preferida.

Dentre todas as frutas que tive o luxo de saborear, ela que mais me intrigou. A fruta quase derretia na boca, logo, deixando um único rastro de que já existira, uma semente que, ao ser deixado em solo fértil, daria a oportunidade de uma nova vida para a cereja, que agora se tornaria mãe de muitos frutos.

Mas, mesmo todos sabendo o quanto eu amava aquela fruta, ninguém a dava para mim. Não importa o quanto eu pedisse, eu que a tinha que colher ou mesmo comprar.

Será porque ninguém me amava? Os sentimentos que se dão ao ser entregue uma fruta dessas, eram além do que os outros sentiam por mim?

Uma vez, quando menor, eu perguntei ao meu avô, um senhor de idade. Não faltava muito para que ele deixasse nosso mundo.

Ele me disse que, quando chegar à hora certa, a pessoa que mais me ama me entregara a fruta de um modo especial. De um jeito que só ela poderá entregar.

Eu perguntei para ele o que quis dizer. Não é só comprar a fruta e a entregar para a pessoa?

 

-“Não exatamente. Às vezes, o destino a faz te entregar o fruto.” – ele respondeu. – “Nem sempre a pessoa faz conscientemente.” – disse esboçando um fraco sorriso. –“Quando chegar a hora, você saberá, Miyake.”

 

De um modo bem irônico, eu nunca compreendi aquelas palavras. Se existia um outro modo, estava além da minha imaginação.

Por muito tempo esperei pela pessoa que me desse o fruto. Mas parecia que o destino não queria permitir que essa pessoa me desse. Ou melhor, eu nem ao menos sabia se essa pessoa realmente existia. É algo bem provável. Pode ser que, eu não tenha uma pessoa destinada.

 

- Miyake, você pode me acompanhar para colher alguns frutos?

 

Eu já sou praticamente adulto. Minha família morreu há um tempo. Agora eu vivia junto com Tatsuo Nagai-sama, um amigo meu, e seu namorado, Ryou Takagi-san.

 

- Sim!

 

Ryou-san é uma pessoa gentil. Cozinha bem, é amigável, mas é meio tímido. Disseram-me que, antes de conhecer Daisuke Hirai, seu ex-namorado, ele era uma pessoa fria, anti-social e isolada. Se não fosse confirmada pelo próprio, eu podia jurar que era mentira. Se comparar o Ryou-san de antes, e o que conheço, poder-se-ia ver obviamente que Hirai mudou muito a vida dele.

Do mesmo jeito que Ryou-san mudou a de Tatsuo-sama e, inclusive a minha. Depois que se conhece ele, é meio que impossível ficar muito tempo longe dele. Foi ele quem me ajudou a sair de muitas confusões, foi ele que fez o gesto mais gentil que já recebi. Ele é uma pessoa muito importante para mim.

Estávamos caminhando por uma trilha feita de folhas secas cobertas levemente por uma camada de neve. Sim, o inverno tinha chegado.

Esta trilha é cercada por arbustos que, ao longo da trilha, vão aparecendo as frutíferas. Estamos indo em direção a elas. Elas ficam perto do grande lago que fica no fim da trilha.

 

- Qual a fruta que você mais gosta, Miyake?

 

Hesitei ao responder.

Eu não sei por que, mas de um modo bem estranho, sempre ao me referir aquela fruta, eu fico meio melancólico. Mas isso não era motivo para deixar ele com dúvidas, isso é problema meu.

 

- Eu gosto de cerejas.

- Cerejas, huh? Eu gosto de morango!

 

Ele parecia estar animado. O seu sorriso que incentivou a mim. Logo, eu me vi sorrindo para ele.

Havíamos chegado aos pés frutíferos. Aproximei-me deles. Instintivamente, cheguei perto das cerejeiras primeiro. Eu as adorava, e não as deixaria de gostar por um motivo tão banal.

Tirei uma daquelas frutinhas roliças e a toquei nos meus lábios, sentindo a maciez da fruta, logo me deliciando com o sabor ao colocar em minha língua e deixar que a fruta adentrasse a minha boca. Aquele sabor que eu tanto conhecia me deixava nostálgico. Sempre ao saborear a fruta, eu me recordava de cada palavra da história que costumavam me contar. Logo em seguida, surgia a voz de meu avô pronunciando aquelas mesmas palavras.

 

-“Quando chegar a hora, você saberá, Miyake.”

 

Quando essa hora iria chegar? Essa pergunta se alojou em minha mente durante anos. Nunca a esqueci. Mas desejava esquecer.

Mordisquei meu lábio inferior para afastar o pensamento, quando notei que uma mão estava encostada sobre meu ombro direito, olhei para o lado e lá estava Ryou-san, com uma cara aparentemente preocupada.

Eu sorri e afastei uma mecha de cabelo que me impedia de ver seu rosto.

 

- Está tudo bem – eu disse suspirando. – Só tive um leve devaneio.

 

Ele abriu a boca para falar algo, mas logo se calou. Não perguntei o motivo. Comecei a colher as frutas logo, logo estaria esfriando, e não havíamos vindo agasalhados o suficiente para agüentar o frio que estava por vir.

Pegava as cerejas com vontade e as colocava na cesta que Ryou-san carregava. Aos poucos, ela se enchia mais e mais, não só de cerejas, mas com morangos e outra frutas também. Como ele aparentava estar tendo dificuldades para carregá-la, eu me ofereci e peguei a cesta de seu braço.

Ele sorriu como agradecimento.

Um único gesto que me fez sorrir junto.

Logo, estávamos voltando para casa.

A cesta que Ryou-san havia trazido consigo estava cheia. Estava satisfeito por, ao olhar para o rosto dele, ver a felicidade que havia estampada. Ele não havia me contado o que pretendia fazer com as frutas, disse que eu só saberia quando chegássemos em casa.

Eu, de alguma forma, estava exausto. Ao notar isso, Ryou-san me levou até o sofá e pediu para me deitar. Ele foi até o quarto e trouxe algumas cobertas. Cobriu-me e disse para descansar. Fiquei ligeiramente corado, e apenas o agradeci com um gesto, ele sorriu e se afastou.

Como eu estava cansado demais, acabei caindo no sono.

Como eu temia. Meu sonho foi sobre a cereja. Sobre ninguém entregar-me ela. Sobre todos se afastarem de mim. Sobre todos me olharem com desprezo, ou nem se quer me olhavam, apenas se iam. Se afastavam e sumiam na escuridão. Eu tentava com todas as minhas forças os seguir. Eu não queria ficar sozinho. Não. Eu não queria de jeito algum!

Eu corri mais rápido, mas não adiantava, eles eram mais rápidos. Meu pai, minha mãe, até meu avô se foram.

Eu comecei a chorar. Mas isso não era nada comparado ao que veio a seguir. Eu tentei firmemente agüentar, mas não consegui quando ele se afastou de mim. Ryou-san já não mais sorria, me olhava com desprezo e decepção. Moveu seus lábios tentando me dizer algo, mas não pude ouvir.

Mesmo estando consciente de que não o alcançaria, mesmo sabendo que seria em vão, eu corri atrás dele com tudo o que tinha, gritei seu nome com todas as forças.

Quando notei, já estava cordado.

Eu olhei ao meu redor e vi Ryou-san ao meu lado. Eu estava segurando seu braço de modo grosseiro. Desculpei-me imediatamente e o soltei.

Ryou-san sorriu para mim e disse que não tinha problema algum. De certa forma, eu tinha acordado na hora certa, ele tinha uma surpresa para mim.

 

- Uma surpresa? – indaguei franzindo o cenho.

- Sim! Feche os olhos.

 

Eu fechei meus olhos e senti a mão dele envolvendo a minha, logo, puxando-me. Eu o acompanhei hesitante. Logo, ele parou, consequentemente, eu parei também. Ele soltou a minha mão e pude ouvir um rastejar de cadeiras.

 

- Aqui, pode se sentar.

 

Ele me ajudou a sentar.

Não me permitia de jeito algum abrir os meus olhos.

Estava começando ficar nervoso. O que será que ele tinha para mim? Eu ouvia uns ruídos, copos batendo, pratos sendo postos a mesa, som de talheres e, por fim, o som de um líquido sendo despejado.

A ansiedade estava me matando.

 

- Pronto! Pode abrir os olhos.

 

Eu abri meus olhos vagarosamente, meus olhos estavam um pouco sem foco, esfreguei-os com as costas da mão e tornei a olhar para o que havia a minha frente.

Um lindo bolo com chantilly estava ao alcance dos meus olhos, acompanhado por um belíssimo líquido de cor vermelho escuro. Eu olhei para Ryou-san e ele, corado, sorriu.

 

- Eu fiz esse bolo pensando em você – disse esfregando o dedo indicador suavemente em sua face levemente corada. – Portanto, ele é só para você.

 

Eu não sabia o que fazer. Eu sorri como nunca fiz antes e agradeci do fundo do coração. Mas só isso não satisfaria ele. Pegou uma faca que estava sobre a mesa e começou a cortar uma bela fatia do pequeno bolo a minha frente, logo, com uma espátula, a pegou por baixo e pôs sobre o prato.

 

- Espero que goste – disse.

 

Eu estava feliz. Ou melhor, eu estava muito feliz. Nunca pensei que ele faria um bolo especialmente para mim.

Ah! Mas eu nem ao menos tinha visto o que me aguardava nesse bolo belíssimo, chegando até a dar dó de comer de tão bonito que estava. Parecia mais uma escultura, uma obra prima do que um bolo.

Retirei meu foco do garoto sentado ao meu lado e foquei o bolo.

Fiquei surpreso ao vê-lo internamente.

Havia... Pedaços de cerejas...

As cerejas que eu havia colhido com ele hoje de manhã.

Foi aí que as palavras do meu avô vieram a mente novamente.

 

-“Quando chegar a hora, você saberá, Miyake.”

 

Era... Isso que significava? Que, para eu receber a cereja, não precisava ser a fruta em si, mas podia ser algo derivado dela? Eu sorri internamente. Eu podia chorar de felicidade naquele instante. Podia simplesmente pular em cima do Ryou-san e não o soltar. Ele era a pessoa! Ele é a pessoa que o destino escolheu para dar-me a cereja!

Raciocinei um pouco depois de alguns minutos, mas ele namorava meu amigo. Como isso poderia estar certo? Balancei minha cabeça para espantar esse pensamento.

Peguei o garfo que estava à direita do meu prato e peguei um pedaço do bolo. Um sabor indescritível. Algo doce, suave, úmido, leve e com uma belíssima textura se apoderaram da minha boca.

 

- Tem o sabor do amor – pensei comigo mesmo.

 

Pensar em amor numa hora dessas seria meio bobo da minha parte. Mas eu não conseguia deixar de fitar o garoto ao meu lado. Aquele que definitivamente era alguém muito importante para mim, aquela que me ajudou em momentos difíceis, aquela que sempre me apoiou, aquela que sempre foi gentil comigo, e, principalmente, aquela que me deu a fruta.

Sorvi uns goles do líquido, ele tinha gosto de cereja.

Não me agüentei, aproximei-me de Ryou-san e o abracei firmemente, não consegui de deixar de sentir meus olhos umedecerem. Mas me mantive forte.

Afastei-me um pouco para olhar mais uma vez o rosto dele.

Aquele rosto que pretendi memorizar cada detalhe em minha memória.

Toquei sua face com as duas mãos e a beijei.

Escorreguei minhas mãos pelo pescoço para ter mais contato com a pele dele.

Não tinha dúvidas. Eu o amava.

Ao retirar meus lábios da face corada dele, olhei-o fixamente.

Seus olhos estavam levemente cerrados, suas têmporas coradas e com a boca entre aberta. A visão de um verdadeiro anjo.

Aproximei-me um pouco e encostei a minha testa na dele.

 

- Obrigado – eu disse. – Você não faz idéia do quanto isso me deixou feliz.

 

Nossos olhares estavam próximos.

Vi um sorriso ser esboçados naqueles lábios carnudos e atraentes.

Ficamos um tempo assim, até que ele tocou-me os ombros e depositou um selinho nos meus lábios.

Eu afastei-me assustado e, provavelmente, violentamente corado. Minha face ardia de tão quente que estava, eu podia sentir.

Mas, acho que Ryou-san não estaria diferente. Sua face corada e seus olhos ainda semi cerrados, me observando com um singelo sorriso, sendo coberto pela sua mão de um canto.

Fiquei receoso com o que acontecera.

Tatsuo-sama com certeza não ficaria nada feliz.

 

- Não se preocupe – ele disse sorrindo normalmente outra vez. – Foi apenas um selinho.

 

Sim.

Ele tinha razão. Havia sido apenas um selinho. Apenas o toque de nossos lábios. Mais nada. Não tinha mais nada além disso. Nada mesmo. Foi somente um toque...

Olhei para ele mais uma vez.

Ele estava guardando o bolo na geladeira, juntamente com mais dois que, pelo que ouvi dele, um era para o Tatsuo-sama e outro para o Hirai.

Mas...

Suspirei de felicidade.

Eles não eram de cereja.

O de cereja era unicamente para mim. E eu ficava muito feliz em saber disso.

Esse selinho pode até ter sido apenas um toque. Mas, com ele, que pode ser iniciado uma verdadeira história de amor.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a tds q leram~
Espero que tenha sido do agrado de vcs X3~
Reviews pl0x? ~



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