A terça-feira chegara mais rápido do que eu realmente queria. Estava apenas sentada no banco de trás do carro de meu pai, com a mochila da escola em meu colo e os fones do meu iPod encaixados em meus ouvidos. Eu sentia um nervosismo enorme, afinal seria meu primeiro dia numa nova escola. Meu pai dirigia calmamente com Nicholas no banco do carona.

Cruzei os braços na altura do estômago, como se tivesse a esperança de eliminar o frio que percorria o mesmo. Não conseguia desviar o pensamento dos fracassos que sempre foram meu primeiro dia nas escolas. Dentro de mim eu tinha a certeza de que tudo já estava predestinado, eu não iria me enturmar e se fizesse ao menos uma amiga seria ótimo e de bom tamanho.

— Aqui estamos. — ouvi a voz de meu pai e senti o carro parar suavemente.

Já havia visto o colégio antes. Afinal Allison tinha me levado até ali, no dia anterior, para me mostrar e para que eu escolhesse as matérias que eu iria fazer. Sim, escolher, afinal eu estava no terceiro ano do ensino médio, então poderia escolher, entre algumas, as matérias que mais me agradavam. Além, é claro, das que eram obrigatórias.

Apesar de já ter visto a escola antes, nunca era demais dar mais uma olhada. Virei meu rosto para a janela e fitei toda a propriedade do colégio. O local era simplesmente enorme. Era um prédio branco, com arquitetura bem tradicional e, à frente, havia um pátio admirável, onde já se viam muitas pessoas conversando e caminhando. Um pouco acima do acesso à entrada se lia “Bayside High School”. Desliguei meu iPod e coloquei-o na mochila.

— Boa aula para vocês e tenha um ótimo primeiro dia de aula Miley. — meu pai me fez retornar a atenção a ele.

— Obrigada. — falei com um vago sorriso em meu rosto.

Observei que Nicholas abrira a porta do carro sem falar nada e logo fiz o mesmo, enquanto colocava a mochila nas costas. Saímos do carro na mesma hora e caminhamos lado a lado pelo pátio. Eu olhava maravilhada para as coisas ao meu redor. Tudo parecia tão diferente da minha antiga escola. Quando percebi que todos me encaravam, abaixei o olhar e fitei o chão.

— Nervosa? — ouvi Nicholas perguntar, o que me fez olhar de esguelha para ele.

— Um pouco. — não consegui mentir.

— Se você quiser pode andar comigo, para não ficar sozinha. — percebi que ele ficara sem jeito para falar.

— Quem é você e o que você fez com o Nicholas? — agora eu olhava diretamente para ele e demonstrava surpresa em meu rosto.

— Muito engraçado. — ele comentou com sarcasmo. — Eu só estou tentando ser legal com você, ok?

— Vindo de você essa não é uma atitude muito comum, sabe? — arqueei uma de minhas sobrancelhas.

— Está bem! Pare de reclamar. — ele fez uma pausa e pigarreou de leve. — Então, é melhor você ir logo falar com a diretora para pegar o seu horário de aulas e seus livros... Ah e saber qual é o seu armário. Acho que você sabe onde fica a diretoria, então vá até lá para resolver suas coisas.

— Ok. — falei por fim e o observei sair.

Ele deu alguns passos apressados e parou onde havia um grupo de garotos, dentre os quais eu só reconheci Liam. Depois disso nem o olhei mais e caminhei até a entrada do colégio. Subi o pequeno lance de escadas que antecedia as duas grandes portas de vidro, uma delas já estava aberta e me apressei para entrar.

Ao adentrar no prédio do colégio, comprovei, mais uma vez o quanto aquele lugar era grande. As paredes eram pintadas de uma cor meio creme e havia algumas faixas azuis e douradas nas vigas e em algumas das paredes. Os armários eram todos azuis e bem cuidados e, logo próximo à entrada, havia um grande quadro de avisos numa parede.

Deixei de prestar atenção ao meu redor e saí à procura da diretoria, como Nicholas havia me falado para fazer. Não demorei muito para encontrar, era uma sala consideravelmente grande, com metade de cima da porta em vidro, de forma que se podia ver o que e quem estava lá dentro. Na porta havia um pequeno retângulo onde se lia “diretoria”.

Bati levemente na porta e ouvi uma voz dócil avisar que eu poderia entrar. Abri a porta e assim que entrei a fechei novamente. Fitei a mulher que estava sentada atrás de uma ampla mesa retangular e senti uma pontada de nervosismo. Detrás da mesa havia, encostada na parede, uma ampla estante onde se encontravam vários livros e também alguns porta-retratos com fotos de possíveis professores com a diretora.

— Com licença... — fiz uma pequena pausa e tentei buscar na minha memória o nome da diretora. — Diretora Franklin. Sou eu, Miley Cyrus. Ahm... A nova a aluna daqui. Estive aqui ontem com a minha... A Allison.

— Ah sim, Srta. Cyrus. — ela me olhou com um sorriso, pôs-se de pé e estendeu a mão, para me cumprimentar. — Como vai?

Fiquei numa distância possível para poder apertar-lhe a mão e cumprimentá-la devidamente. E, vendo-a de pé, que consegui observar suas feições claramente. Não era uma mulher alta, porém era esbelta. Tinha cabelos na altura do ombro, lisos e castanhos claros, olhos amendoados e um rosto que já aparentava certa idade.

— Bem. — falei com um leve tremor na voz.

— Nervosa pelo seu primeiro dia de aula? — perguntou ela, com um sorriso muito simpático nos lábios.

— É. Um pouco. — tentei passar o máximo de calma que pude na minha voz.

— Ah, mas é normal ficar nervosa. Porém, tente relaxar Srta. Cyrus. Tudo irá sair bem.

— Espero que sim. — murmurei para mim mesma.

— Sente-se, por favor. — ela indicou uma das cadeiras à frente de sua mesa e eu apenas sentei-me em uma delas, com as pernas cruzadas.

Ficamos certo tempo em silêncio, enquanto ela abria uma pasta e tirava de lá um papel, calmamente.

— Este aqui é seu horário de aulas. — disse me entregando a folha.

— Obrigada. — tomei a folha das mãos dela e dei uma breve olhada.

— Bem, agora me deixe pegar seus livros. — ela se levantou novamente e eu segui-a com o olhar. Ela deu alguns passos até uma porta que ficava no fim da sala. Abriu-a e adentrou no que parecia um grande armário.

Ela ficou lá dentro por certo tempo e, assim que saiu, carregava uma pilha de livros com certa de dificuldade. Logo ela voltara para sua mesa e colocara todos os livros em cima da mesma.

— Aqui estão. — ela sorriu novamente. — Matemática e Geometria, Biologia, Química, Física, Inglês, História e Geografia. Está tudo aqui. E seu armário é o número 96, vamos que eu irei te ajudar a levar todos esses livros para lá.

Levantei-me e peguei metade da pilha de livros e os carreguei para fora da sala. Deixei que a diretora fosse à minha frente, para me mostrar o caminho até meu armário. Não demorou muito, até que ela parou em frente a um armário e colocou o segredo, logo o abrindo. Coloquei logo os livros no armário, de forma organizada e fiz o mesmo com os que a diretora carregava.

— A propósito, a senha do seu armário está no verso da folha do seu horário. — ela me informou.

Apressei-me em colocar os livros que precisaria para as duas próximas aulas na mochila e logo fechei o armário.

— Obrigada mais uma vez diretora Franklin. — abri um sorriso tênue.

— Não tem de quê. E seja muito bem-vinda à Bayside High School, espero que você goste daqui. É sempre um prazer ter alunos novos. Venha eu irei te mostrar em qual sala será a sua primeira aula.

Bem, pelo menos a diretora era simpática, pensei comigo mesma. Logo saímos andando e eu dei uma breve olhada pelos corredores. A atmosfera parecia muito animada ali.

Dobramos dois corredores e eu já estava me perguntando o quão longe seria a tal sala, quando paramos em frente a uma porta, aberta. A qual dava para uma grande e bem arejada sala de aula. Inclinei-me um pouco para poder ver lá dentro. Estava completamente vazia e as fileiras de carteiras organizadas.

— Bem, aqui estamos. — a diretora tomou a palavra novamente. — Tenha uma boa aula e um bom dia Srta. Cyrus. Qualquer coisa você sabe onde me achar.

— Obrigada. — apenas proferi.

Depois disso, vi a diretora dar meia volta e tomar seu caminho em direção à diretoria. Assim que ela sumiu de vista, entrei na sala e admirei nitidamente aquele local. Havia vários mapas históricos pendurados nas paredes e um grande esquema, em uma delas, com todos os presidentes dos Estados Unidos, até então. Tudo muito adequado para a aula que se seguiria ali: História Americana.

Coloquei minhas coisas numa das carteiras no meio da sala e apenas esperei para que o sinal tocasse e a aula começasse. O que demorou, razoavelmente.

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— Bom dia turma. — um homem alto e levemente rechonchudo entrou na sala. Possuía alguns cabelos grisalhos e um grande sorriso no rosto, que irradiava seus olhos castanhos.

 Ele se sentou à mesa à frente da classe. Olhou todos com certa atenção. Fiquei um tanto envergonhada quando seu olhar pousou em mim e, com um sorriso ainda maior, ele anunciou:

— Parece que temos uma aluna nova hoje.

Todos fizeram um excepcional silêncio e eu podia notar que muitos olhares fixos em mim. Novamente o professor tomou a palavra:

— Diga-nos, qual o seu nome.

— Me chamo Miley Cyrus.

— Bem Srta. Cyrus seja bem vinda à nossa escola. Eu sou o professor Andrew Spelling e leciono História Americana aqui nessa escola. — o homem deu uma breve olhada ao redor da classe.

— Obrigada Sr. Spelling. — sorri timidamente.

— Bem, sem mais delongas, vamos começar nossa aula de hoje. — o homem continuou.

Abri meu caderno de História e dei uma breve olhada nas folhas já usadas, na outra escola. Senti uma saudade enorme e, tentando me concentrar na aula, procurei uma folha em branco. Ao encontrar escrevi na primeira linha o nome da escola e a data.

— Ei. — ouvi uma voz sussurrar a um dos meus lados.

Olhei para a minha direita, procurando saber se era comigo. E era. Logo vi um grupo de garotas me olhando, com um sorriso estampado nos rostos. Reconheci-as imediatamente. Eram as garotas que estavam no Starbucks no sábado. Meus olhos não demoraram muito para encontrar Selena que, naquele dia, estava com os cabelos completamente lisos.

— Miley não é? — questionou uma delas, até então desconhecida para mim.

— Sim. — respondi, olhando-as sem entender.

— Oi Miley, eu sou a Samantha. Mas pode me chamar de Sam. — ela mostrou um amplo sorriso.

Sam realmente era a que mais se destacava naquele grupo. Possuía cabelos ruivos faiscantes, lisos e que passavam da altura dos ombros. Olhos azuis claros e intensos e pele bem branca. Dava para notar que ela também tinha algumas sardas na região do nariz, mas eram tão leves que não faziam diferença.

— Essa aqui é a Demi. — Sam apontou para a garota à sua direita e eu observei-a, com um sorriso. — E essa é a Nicole.

Nicole, a que estava do outro lado de Sam, possuía longos cabelos loiros escuros, levemente ondulados nas pontas. Tinha um rosto bem infantil, enfeitado por algumas sardas, e grandes olhos azuis piscina.

Desviei, então, o olhar para Demi. Era a mais sorridente dentre elas. Com cabelos castanhos escuros de comprimento médio e também um tanto ondulados quando chegavam ao fim. Olhos castanhos e expressivos.

— E eu sou a Selena. — sorriu a morena.

— Já que você é nova aqui, pensamos em chamar você pra sentar com a gente no almoço... O que acha? — Nicole se curvou um pouco para frente, de modo que ficou mais próxima de mim, para sussurrar.

— Claro, eu adoraria. — não consegui conter minha felicidade.

— Ótimo, nos falaremos no almoço, então. — a ruiva novamente se pronunciou.

Depois disso, tornei a me virar para frente e prestar atenção na aula, torcendo para que o horário de almoço chegasse logo. 

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Finalmente, após muito tempo de espera, o sinal tocou e indicou o fim daquela aula. O professor reforçava, enquanto arrumávamos nossas coisas, para não nos esquecermos do dever de casa que ele passara. Terminei de guardar meu material e saí de sala, dando mais uma olhada no meu horário. A próxima aula seria de Espanhol e senti um desespero um tanto grande tocar meu interior, por não saber onde ficava a sala.

Caminhei por certo tempo pelos corredores, até que notei um rosto já reconhecível aos meus olhos, cruzar meu caminho.

— Ah, Demi. — chamei-a e ela virou-se na direção da minha voz. Assim que me viu sorriu docemente.

— Oi Miley. Que aula você vai ter que aula agora? — ela questionou.

— Espanhol. — falei com um tom de desânimo. — E você?

— Eu também. Vem, vamos juntas até a sala. — novamente seus lábios foram tomados por um sorriso.

Nós começamos a caminhar, lado a lado, pelos corredores. Trocando algumas palavras, até que chegamos à sala que precisávamos. Encontramos a sala praticamente cheia. Porém ainda se viam lugares vagos em alguns cantos. Apressamo-nos em sentar, lado a lado, um pouco mais no meio da sala.

— Então... Você já escolheu uma eletiva? — perguntou a morena, logo após termos sentado.

— Ainda não. Não sei bem o que escolher. — suspirei.

— Você se interessa por música? Sabe... Sabe tocar algum instrumento? — questionou ela novamente.

— Sim, eu adoro música e sei tocar violão. — respondi um pouco sem jeito. Eu não falava muito disso com as pessoas.

— Sério? Que ótimo. Com quantos anos você aprendeu a tocar? — ela pareceu muito interessada.

— Com 10 anos. — eu sorri e percebi que a garota estava interessada em saber mais. — Meu tio, Luke, que me ensinou. E com 13 anos eu já tocava quase perfeitamente.

— Nossa. — ela fez uma pausa. — Eu aprendi a tocar violão com doze anos de idade. Mas antes, com sete, eu já estava aprendendo a tocar piano.

— Uau. — surpreendi-me.

— E você canta? — Demi tornou a perguntar.

— Bem... Eu não sou cantora profissional, mas eu canto às vezes.

— Isso é perfeito! Por que você não entra para o clube de música? Eu faço parte e seria ótimo ter mais um membro e acredito que você seja muito talentosa. — ela sorriu de uma maneira animadora.

— Obrigada. Seria muito legal. As outras meninas fazem parte do clube também? — fitei-a ao perguntar.

— Não. — vi a expressão no rosto de Demi mudar, dando espaço para uma que misturava amargura e tristeza. — Sam, Nicole e Selena são do clube das líderes de torcida.

— Líderes de torcida?! — pareci não acreditar naquilo.

Se elas eram líderes de torcida, quais interesses elas teriam numa garota como eu?

— Sim. Eu fazia parte também. Até que no ano passado resolvi sair. Não era o que me agradava sabe? E, além do mais, eu não sou muito flexível. E me dediquei inteiramente à música, que é minha paixão.

— Que bom que você encontrou algo que te agrade, Demi.

Vi o sorriso no rosto de Demi voltar, só que seus olhos pareceram ainda um tanto abatidos. Foi nesse instante que a professora entrou na sala. Era uma mulher com cabelos castanhos avermelhados, de comprimento médio, que estavam presos num rabo de cavalo. Usava um longo vestido verde e vários colares e anéis. Aparentava ter certa idade, mas havia um sorriso muito jovial em seus lábios.

— Buenos dias, classe! — ela falou, assim que se sentou à sua mesa.

Naquele momento, todos se voltaram à frente da sala, para prestar atenção na professora. Ela sorriu para todos e pareceu me notar sem muita dificuldade.

— Aluna nova? — perguntou para mim, notei que ela falava um inglês carregado de sotaque.

— Sim. — falei ao mesmo tempo em que balancei a cabeça afirmativamente.

— Como se chama? — questionou novamente.

— Miley Cyrus. — sorri um tanto envergonhada.

— Seja bem-vinda Srta. Cyrus. Sou a professora Sônia González. — ela sorriu. — Bem, parece que você já simpatizou com a Srta. Lovato, não?

Troquei olhares com Demi e não respondi a pergunta da professora. Mas a mulher pareceu perceber que a resposta era afirmativa.

— Vejo que já. Isso é ótimo. A Srta. Lovato é uma das melhores dessa classe. — ela respirou fundo e se voltou para toda a turma. — Bem, vamos começar a aula de hoje.

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A aula de espanhol foi de certa forma bem divertida. A professora era muito dócil e o tempo passou bem rápido. As aulas que se seguiram naquela manhã foram demasiado cansativas. Química, que era dada pelo professor Mike Covert, fora a que mais me deixara sonolenta. Nicole tinha ficado na classe nessa aula e ela claramente dormira praticamente a aula inteira. E, nas outras duas, Literatura Inglesa, dada pela professora, de aparência amável, Cynthia Linger. E Geometria pelo autêntico Scott Stayner, foram normais.

Finalmente às 12h30min o sinal tocou, informando o que eu esperava a manhã inteira: o horário do almoço. Saí apressada da sala do Sr. Stayner e andei até meu armário, na intenção de deixar minhas coisas no mesmo. Assim que parei diante do armário 96 coloquei a senha e deixei minha mochila lá dentro. Fechei o armário e caminhei em direção ao refeitório, que não ficava muito longe dali.

Havia um grande movimento de estudantes nos corredores, todos alvoroçados para irem até o refeitório. Apenas os acompanhei e entrei no local logo. Olhei ao meu redor e encontrei, sentadas numa mesa no centro da cafeteria, o grupo das meninas. Hesitei por um momento se deveria sentar com elas ou não. Até que Demi pareceu notar que eu estava ali e me chamou, com um gesto, para sentar com elas. Caminhei até a mesa e olhei para todas ali.

— Oi meninas. — falei ao me sentar.

— Oi. — elas falaram em uníssono.

— Então... O que você está achando da escola até agora? — perguntou Selena.

— Ótima. Realmente é bem legal por aqui. — respondi dando uma breve olhada ao meu redor.

— Que bom. — comentou Sam.

— Sabe, Miley, eu quero lhe perguntar uma coisa. — começou novamente Selena. — Vi bastante você e Nick juntos.

— Nick? Está falando do Nicholas Jonas? — demonstrei certa ignorância ao falar sobre ele.

— Sim. Vocês se conhecem certo? — ela questionou.

— Ah. É... Moramos na mesma casa. — assim que falei isso, notei a expressão de surpresa no rosto de todas. — Quero dizer, ele é meu irmão postiço.

— Irmão postiço? Então ele é seu irmão? — Selena mostrou um sorriso vitorioso. — Bem, eu vi vocês chegando juntos hoje e estavam juntos naquele dia no Starbucks. Pensei que vocês fossem...

— O que?! — nem a deixei terminar a frase. — Você pensou que eu ele fossemos namorados? Não! Não! Ele nunca irá ser meu namorado. Eu nem sequer sinto atração por ele. Mas... Por que essas perguntas?

— Bem, Nicholas é muito popular aqui na escola. — Sam respondeu. — E muitas garotas têm uma queda por ele, sabe?

Ao ouvir aquilo não agüentei e comecei a rir. Ri de um jeito muito sarcástico e provocativo, mas todas continuaram sérias. Exceto por Demi, que sorria ao me ver agir daquele jeito.

— Ah, vocês estão falando sério... Desculpem. É que eu nunca imaginei que um garoto como o Nicholas seria o tipo de garoto que faz as garotas suspirarem. — falei, tentando ao máximo manter o tom sério.

— Bem, mas ele é um gato. — comentou Nicole em meio à um suspiro.

Bem, eu não sabia que mundo estranho era aquele no qual eu me enfiara. Talvez fosse um universo paralelo onde nada faz sentido. Afinal, o Nicholas um gato? E qual era o padrão de beleza? Um babuíno?

— Desculpem perguntar, mas o que o faz ser tão popular? — arqueei uma de minhas sobrancelhas.

— Ele tem o jeito dele sabe? Ele sabe tocar e cantar muito bem. Ele tem uma voz realmente linda. — Selena piscou os olhos de maneira sonhadora.

Depois daquela resposta, percebi que não conseguiria suportar o riso muito tempo. Resolvi então me levantar e falar, tentando não demonstrar meu desespero:

— Com licença, eu irei comprar meu lanche. Estou com muita fome.

Todas me olharam e assim que me afastei, comecei a rir baixinho. O que tinha dado nessas garotas? Entrei na fila ainda não acreditando nas coisas que acabara de ouvir. Peguei uma bandeja e um prato. Comecei a olhar o que tinha para comer. Fui passando com a bandeja, até que escolhi um sanduíche natural, um muffin e pedi um suco de laranja. Paguei meu lanche pouco tempo depois que uma mulher me entregou meu suco, que viera numa garrafinha.

Dei alguns passos, carregando minha bandeja, até que um som agradável e inconfundível de um violão atingiu meus ouvidos. Olhei para os lados e tentei descobrir de onde vinha, até que fitei uma mesa, onde estava uma orla de pessoas que me impediam de ver quem estava tocando. Logo uma voz incrivelmente melodiosa começou a cantar as palavras de uma música que eu conhecia muito bem.

— Would you give me one more minute? The story's far from finished, we could fill in all the pages. I'm feeling sick, girl, you're so contagious.

Corri para deixar a bandeja com meu lanche na mesa em que estavam as meninas. Agora elas prestavam completa atenção, assim como todo o resto do refeitório, na música que irradiava o local. Aproximei-me da orla de pessoas e tentei espiar quem era a pessoa que cantava aquela música, sem muito sucesso.

Ninguém se atreveu a falar nada. Parecia que todos prendiam a respiração, para tentar fazer o mínimo de ruído possível. Quando a pessoa que estava cantando, pronunciou as últimas palavras da música e seus dedos tocaram a última nota, o refeitório irrompeu em aplausos calorosos. Consegui, finalmente, abrir espaço entre as pessoas e vi quem estava tocando. Era Nicholas. E eu fiquei completamente surpresa por aquela descoberta.

Notei o olhar do garoto se fixar em mim e me afastei daquele mar de gente. Após conseguir voltar à mesa com as meninas, olhei todas aquelas pessoas que estavam dando atenção total ao rapaz e percebi finalmente que ele era o tipo clássico de garoto popular. O tipo que eu tanto odiava.