A lua reinava plena e brilhante sob um céu de cor nanquim daquele mundo que nunca amanhecia. Algumas criaturas da floresta aproveitavam-se de sua visão noturna para caçar na calmaria da noite. No entanto, aquele local não estava nem de longe calmo.

  Pés femininos e delicados corriam desesperadamente pela densa floresta mal iluminada. O vestido branco de cetim especial, roçava pela terra molhada do local, salpicando a sua linda beleza branca com um tom amarronzado de terra.

  Hënë Maantrish estava fugindo. Mas ela não fugia sozinha.

  Um bebê enrolado em pura manta branca adormecia tranquilamente em seus braços; Sem notar a perseguição de vida ou morte que ocorria em seu encalço.

  O uivar de lobos furiosos reverberou sobre a floresta escura, encontrando os ouvidos super apurados de Hënë; Que ao ouvir o som, pôs- se a correr mais rápido.

  Sentia adrenalina correr por suas veias, a respiração explodir em seus pulmões, seus braços e pernas ficando fatigados a cada passo que dava... Apesar disso, ela não podia parar. Se o fizesse, sua vida e a de seu bebê cessariam ali; Seu reino estaria arruinado; Todos os seus súditos morreriam junto com ela.

  Hënë tinha apenas uma chance. Uma chance para garantir a vida de seu reino, de seus súditos e de seu bebê.

   Mas não a dela.

   Lágrimas ameaçavam rolar pelo rosto alvo dela; Não queria pensar de jeito nenhum no futuro que lhe aguardava. O único jeito que tinha para salvar a todos, era salvando a vida de seu bebê.

- Majestade, aqui!

 Uma voz rouca, mas firme soou a poucos metros de Hënë. Ela seguiu a voz que ainda continuava a gritar para guiá-la pela escuridão e parou ao encontrar o dono da voz.

- Graças a Maan¹, eu te encontrei. – Hënë aliviou-se.

  Ele fez uma rápida mesura.

- Tem certeza que quer continuar com o plano? – Ele perguntou aturdido.

- Não tenho outra escolha. – Ela respondeu. – Preciso garantir a sobrevivência de todos.

- E quanto a sua sobrevivência?

  Hënë calou-se.

- Você sabe que eles irão atrás de você. Majestade, eu lhe imploro que...

- Mesmo se eu for com você. Eles irão me seguir! A ordem é exterminar a mim e a meu bebê. No entanto, se eu conseguir despistá-los; Você terá chance de fugir com meu bebê. – Disse ela, colocando a criança adormecida nos braços inexperientes do rapaz. – Prometa que vai protegê-lo.

  O jovem hesitou.

- Prometa! – Pressionou Hënë.

- Eu prometo. – Disse ele por fim.

  Hënë olhou seu bebê pela última vez. Ela queria guardar na memória a última lembrança de sua criança. A pele alva e levemente corada nas bochechas gorduchas, os cabelos negros quase enrolados, a covinha em seu queixo...

  Ela se curvou na altura da bochecha do bebê, e o beijou ternamente no rosto; Enquanto lágrimas rolavam por suas bochechas.

- Adeus, meu amor. – Sussurrou ela.

  Hënë endireitou-se e tirou seu colar com pingente de lua do pescoço, para colocá-lo no bebê.

- Isso é para você sentir que estou sempre com você.

  Um novo uivo surgiu na floresta e pelo som, podia-se presumir que estava bem perto. Hënë ficou tensa.

- Vá agora! – Disse ela a seu súdito.

  O jovem olhou entristecido para sua rainha, hesitando.

- VÁ! –Ela gritou, correndo na direção oposta a que seu súdito iria pegar.

  O grito de sua majestade foi como uma injeção de adrenalina no corpo do jovem; Ele apertou a criança em seus braços e correu o mais rápido que pode; Ouvindo ao longe os uivos se afastarem para a direção em que Hënë corria naquele momento.

  Uma vontade forte de correr para ajudar sua rainha se acometeu no rapaz. Mas ele não podia fazê-lo. Ele havia prometido a rainha que salvaria a vida daquela criança e assim o fará. Não faltava muito para chegar a seu destino.

- UM FUGITIVO! – uma voz reverberou a alguns quilômetros.

  O jovem parou por alguns segundos e viu o exército dele, vir em sua direção com arco e flecha em punho.

  Eles vão me matar, pensou o jovem.

- ATIREM!

  Uma chuva de flechas voava pela floresta em busca de seu alvo. O jovem e o bebê. No entanto, ele pôs-se a correr novamente, passando pelas árvores, com a intenção de conseguir se desviar das flechas, que zuniam bem perto de seu corpo.

  Eu tenho que chegar ao portal! Eu tenho que chegar ao portal.

  A alguns passos do jovem, um portal mágico de um azul incandescente brilhava na mata ameaçando se fechar. Levando consigo, a última chance de sobrevivência de ambos.

  O garoto forçou suas pernas a correrem mais rápido e disparou até o portal quase fechado. Mas antes que ele conseguisse alcançar, uma flecha atingiu-o. Ele podia sentir a ponta do objeto rasgando-lhe a carne, o sangue escorrendo fluentemente pela ferida, os olhos se fechando indo em direção a inconsciência.

Malditos, me acertaram.

  O jovem apertou fortemente o bebê em seus braços e desmaiou; Caindo adormecido no portal que se fechara após sua queda.