Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 4
Escuridão




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BELLA

Eu me sentia muito estranha há algumas semanas. Duas, pra ser mais exata.

Eu não conseguia entender essa minha súbita aversão a Edward. Eu ainda o amava com todas as minhas forças, mas algo estava verdadeiramente diferente.

Estava deitada em minha cama, no quarto que seria meu por mais seis dias. Seis dias e eu seria a Sra Isabella Cullen.

Eu não entendia porque isso não me deixava mais tão feliz quanto antes. Eu poderia explodir de tanta felicidade há algumas semanas atrás com esse pensamento. Estava ansiosa pra provar o vestido, ver as flores que Alice escolhera para a decoração. E agora tudo isso parecia tão... Tão distante.

Pousei a mão sobre meu ventre.

Nosso filho. Um pedaço meu. Um pedaço de Edward.

Essa era a única certeza que eu tinha no momento. Esse bebê.

Nossas famílias estavam radiantes. Meu pai, de quem eu tive tanto medo da reação, estava bôbo. Vivia falando com minha barriga. Minha mãe, que estava aqui em casa com o Phill há quase um mês (Phill e Charlie se tornaram bons amigos) devido aos preparativos para o casamento, me contara que papai fazia isso quando ela estava grávida de mim. Eu desconhecia esse lado carinhoso e amoroso de Charlie, mas estava muito feliz com isso.

Feliz até me lembrar que ele não participaria da criação dessa criança. Que eu arrancaria dele, de uma só vez, a filha e a neta, única família que lhe restava.

Sacudi a cabeça para afastar o pensamento.

Eu sabia das conseqüências. Tinha decidido arcar com todas elas.

Carlisle havia me examinado inúmeras vezes. Semana a semana nós fazíamos novos exames. Talvez ele estivesse preocupado com a natureza do bebê, meu pequenino vampiro. Mas por enquanto estava tudo bem. Na verdade bem demais. Eu não sentia nada, não tinha engordado, nem tinha mais aquelas vertigens e enjôos. Mas não conseguimos determinar o tempo de gestação, já que a ultrassom fora infrutífera. Sim, porque meu precioso neném vampiro estava envolto em uma grossa placenta que não permitia visualizações do feto.

Mas eu não estava preocupada com isso.

O que estava me tirando o sono era essa minha atitude surpreendentemente consciente. Eu estava evitando Edward.

Eu não vinha me sentindo à vontade com ele. Quando estávamos juntos eu me sentia... Compelida para longe dele. Era extremamente angustiante a sensação de não querê-lo, enquanto meu coração continuava ansiando por sua presença.

Me sentia ainda pior quando percebia sua dor. Era clara a consternação em seu olhar. Ele tentava disfarçá-la, provavelmente para não me ferir, mas ela estava lá, bem no fundo dos seus gloriosos olhos, eu podia ver. E isso me feria com a força de mil estacas.

O fato é que eu não conseguia evitar isso. Toda vez que ele se aproximava meu corpo sentia um tipo de... Repulsa que eu não conseguia compreender. Antes que ele percebesse isso e ficasse ainda mais magoado, eu preferi evitar um pouco a proximidade, para pensar no assunto e entender o que estava acontecendo comigo.

Então comecei a dar desculpas que eu sabia que ele não engolia, e tentei passar esse tempo com minha família para aproveitar os últimos momentos com eles.

Talvez fosse justamente por isso. Todos esses acontecimentos e decisões... Os hormônios em ebulição por causa da gravidez... Eu precisava pensar, colocar a cabeça no lugar.

Então me mantive distante o quanto pude nas últimas semanas.

Mas eu sentia falta de sentir falta dele. Eu precisava entender o que estava acontecendo.

Quando ele ligou de manhã, sua voz me pareceu amargurada. E meu coração se rachou em mil pedaços por estar causando essa dor nele.

Edward disse que precisava conversar comigo, estar comigo, que sentia minha falta.

Me senti a pior das mulheres.

Eu o amava mais que a mim mesma. Não era justo. Porque eu não conseguia mais ficar perto dele?

Decidi que contaria a ele o que estava acontecendo, seria franca. Ele me ajudaria a consertar o que estivesse errado em meu cérebro. Ou talvez me contasse a explicação pra essa insanidade.

Aceitei que ele me levasse à nossa campina depois do trabalho. Sem mais desculpas esfarrapadas. Ele iria me buscar na Newton´s no final da tarde.

Quando o vi encostado no carro a minha espera, um medo avassalador tomou conta de mim. O que ele pensaria quando eu dissesse a ele o que vinha sentindo? E se ele entendesse tudo errado? Se entendesse que me sentia assim porque não o amava mais? Um frio desagradável percorreu minha espinha me arrepiando a nuca. Eu não podia, não queria me afastar de Edward. Não queria perdê-lo mais uma vez.

Me senti desanimada. Caminhei cabisbaixa até ele.

– Oi... – Sua voz me pareceu atormentada.

Não consegui encará-lo.

– Oi. – Respondi sem vontade.

– Vamos? Temos poucas horas antes de anoitecer... –Falou com a voz contida.

– Umhum... – Foi tudo que consegui dizer.

Não consegui falar uma palavra sequer. Durante todo o caminho, percebi Edward se virando para me olhar e se demorar em meu rosto. Tentei me manter impassível. A agonia que sentia era grande, mas a ansiedade tomava cada vez mais espaço.

Ele estacionou o carro próximo à trilha, e eu saí do carro com a cabeça baixa, sem olhá-lo, me encaminhando em direção às árvores.

Não o senti próximo a mim, mas sabia que ele logo me alcançaria.

– Bella... – O ouvi me chamar. Sua voz era impaciente.

Eu parei, com medo do que ele iria falar. Talvez ele precipitasse a conversa. Eu não me sentia preparada. Me virei devagar.

Olhei e esperei.

Seus olhos tinham um brilho questionador, como se milhares de perguntas estivessem sendo feitas em seu íntimo. Mas havia também a dor mal disfarçada, a angústia que eu ainda via no fundo daqueles olhos que há tão pouco tempo me fitavam com felicidade e amor.

Me senti triste e perdida.

– O que eu fiz de errado, Bella? - Era só um sussurro e eu me surpreendi com a agonia que tangia sua voz. Me feriu ainda mais.

Suspendi o rosto para o céu fechando meus olhos e apertando meus lábios, me segurando para não chorar. Era ainda pior. Eu o feria, magoava e Edward acreditava que ele estava fazendo algo errado.

Depois de um suspiro profundo, eu o fitei, criando coragem e caminhando decidida até ele. Quando estava bem próxima, acariciei sua face ignorando o impulso contrário do meu corpo.

– Me desculpe, Edward... Eu... Eu não sei o que tá acontecendo... Sei que não tenho sido boa com você... – Minha voz soou sentida – Mas eu prometo que as coisas vão voltar a ser o que eram... Eu acho que... Essa gravidez... Talvez os hormônios... Sei lá, acho que isso tudo, além do casamento, a transformação, me despedir de Charlie... Isso tudo tá mexendo muito comigo.

– Bella... – Ele falou me abraçando e eu contive a leve resistência de meu corpo – Você não precisa se tornar uma de nós. Já falamos sobre isso... Você pode permanecer humana se quiser... Talvez essa seja a opção mais correta...

– NÃO! – Gritei o interrompendo e me separando dele bruscamente – Eu já tomei minha decisão, Edward, não me venha com essa conversa de novo!

– Desculpe, não quis irritá-la. –Ele falou claramente ressentido.

Respirei fundo e toquei seu rosto novamente.

– Me desculpe... Mais uma vez fui estúpida e insensível. Eu não sei o que está acontecendo comigo. – Disse constrangida com minha grosseria.

Edward afagou meu rosto com delicadeza.

– Bella, tudo bem... Eu sei que são muitas coisas pra se passar em tão pouco tempo, só... Só me diga o que eu posso fazer para ajudar.

– Nada... Eu tenho que superar isso tudo sozinha... Só tenha um pouco mais de paciência, sei que to pedindo demais, mas... Por favor, tente me entender.

– Tudo que você quiser Bella, eu farei. Tudo. Qualquer coisa. Basta você me pedir.

Ele estendeu a mão para mim, e eu a peguei receosa. Entrelaçou nossos dedos e caminhou comigo a passos humanamente lentos, acompanhando meu ritmo ao meu lado até uma parte do caminho. Depois me colocou em suas costas e correu.

A sensação do vento batendo no meu rosto era relaxante, me fez esquecer os problemas por alguns poucos minutos.

Na campina, enquanto estávamos sentados na grama, eu com a cabeça recostada em seu peito, me sentia cada vez mais tensa, buscando coragem e procurando as palavras certas para começar aquela conversa. Já haviam se passado algumas horas desde que tínhamos chegado lá.

Senti Edward tenso de repente, seu corpo retesado em baixo de mim.

Ele me afastou e eu me virei de frente para ele confusa com sua atitude.

– Eu... Eu preciso te perguntar uma coisa. – Falou tenso.

Tentei não demonstrar minha tensão.

Ele se colocou totalmente de frente pra mim e pegou minha mão.

– Pode perguntar. – Falei tentando parecer tranqüila.

– Bella... Esse bebê... O nosso bebê... Ele... Ele é... Meu?

Rapidamente meu corpo reagiu às emoções que o percorreram em alguns segundos. Primeiro eu fiquei tonta, confusa, e me perguntei se tinha mesmo ouvido aquilo da boca de Edward ou se eu estava ficando louca. Depois, me lembrei da conversa que tive com Alice na noite em que descobri que estava grávida, sua certeza de que eu não poderia estar esperando um bebê de Edward devido a sua natureza. Depois veio a mágoa profunda que me atravessou o coração feito uma lança, quando percebi que ele acreditava que nosso filho poderia não ser dele e que ele poderia estar pensando ser de Jacob. Raiva me inundou. Eu enxerguei vermelho. Como ele podia acreditar que, se essa fosse a situação, eu esconderia dele? Eu era tão verdadeira em tudo em nosso relacionamento! Um ódio, uma fúria me cegou e irracionalmente eu levantei a mão para deferir-lhe um tapa.

Me refreei a poucos centímetros de seu rosto, quando percebi que tudo que conseguiria com aquilo seria uma fratura na mão.

Eu me levantei e virei para a floresta, tentando ser racional e pensar com lógica.

Mas o ódio vinha quente em minha garganta, me consumia como as chamas de uma fogueira consomem a lenha. Respirei fundo algumas vezes tentando me controlar. Minhas mãos se fecharam em punhos, e eu senti a dor da resistência da pele sobre as falanges.

– Quero ir embora – Falei raivosa – Agora.

– Bella, eu gostaria de explicar porque fiz esta pergunta.

– Eu quero que me leve daqui agora, Edward. – Sibilei sem me virar.

De repente senti sua mão fria em meu ombro com o mais delicado dos toques. Mas minha reação foi imediata, irracional e agressiva.

– NÃO ME TOQUE! – Gritei empurrando sua mão para longe de mim.

Respirei fundo e contive com esforço a irritação. Me virei para ele e aproximei meu rosto do seu até sentir sua respiração dentro de minha boca. A raiva era tão grande que não me deixei distrair pelo seu perfume.

– Eu quero ir para minha casa... – O ódio que eu sentia era palpável em minha voz – AGORA!

Edward me olhava como se eu falasse outro idioma e eu enxerguei em seus olhos a destruição que causei nele internamente. Deveria me sentir culpada, mas naquele momento, confesso que senti uma mórbida satisfação.

Ele me colocou nas costas e voou até o carro.

Não conseguia pensar em nada. Só sentia a raiva esvaindo e deixando uma profunda mágoa em seu lugar. Quando entramos no carro as estúpidas lágrimas já rolavam de meus olhos mesmo sem minha permissão, e tudo que eu conseguia compreender era a agonia que me dilacerava o peito, arrancando de mim o que me era tão essencial.

Naquele momento eu senti meu amor por Edward se apagar, como se fosse a chama de uma vela que queimou até o seu fim, deixando para trás apenas a escuridão.


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