Nada o que eu passei e venha a passar não chega nem perto da dor que eu senti ao ouvir Renée me dizer que o meu filho estava morto.

A fome, o frio, a miséria de viver nas ruas... Nada é maior que aquela dor... Então mais morta que viva eu fugi, fugi da casa onde ela me escondera em Phoenix e fui viver pelas vielas, atrás da morte que nunca vinha, atrás de uma coisa que pudesse diminuir aquela queimação do ódio comprimindo o meu peito.

Não sei ao certo quanto tempo passei nas ruas,eu havia perdido a noção de tudo:horas,dias,meses...Apenas sabia que doía muito lembrar, tentei de tudo pra esquecer o passado,mas não conseguia.Então como meio de fuga eu optei pelo álcool,bebia até quase desfalecer mas mesmo semi-inconsciente ainda sentia aquela dor me queimar por dentro.

Eu estava a poucos metros do fundo do poço quando fui resgatada.

“Fazia muito frio e eu estava encolhida sob os restos de uma manta velha, as pessoas passavam por mim e pareciam nem sequer notar que eu estava ali, deitada embaixo da marquise de uma loja.

Então um senhor de cabelos tão brancos como a neve e olhos azuis gentis, parou e me olhou. Ele lentamente se aproximou de mim, que já me preparava, caso ele quisesse me importunar, como os demais homens sempre faziam. Mas, contrariando todas as minhas suspeitas, ele não me atacou, apenas sentou-se ao meu lado e se pôs a falar, como se me conhecesse há muito tempo.

-Está tão frio hoje, não é mesmo?O bom pra dias assim é encolher-se sob as cobertas, com uma enorme caneca de chocolate quente!

-E o que eu tenho a ver com isso?!Por que o senhor não vai para a sua casa e me deixa em paz?!-Respondi mau humorada.

-Por que está muito frio e isso não te fará nada bem.-Ele me fitou com preocupação

-Eu não me importo!Ninguém se importa... Nem com o frio e muito menos comigo.-Dei de ombros.

-Eu me importo.

-E por que você se importaria, com uma pobre coitada que sofre alucinações, que perdeu tudo o que achou que tinha?Não tem o que fazer da vida não?

-Meu nome é James. Qual o seu?

-Pra que você quer saber?

-Ora, as pessoas quando se conhecem se apresentam!

-Eu não estou interessada em conhecer, nem sequer falar com o senhor. Quer por favor, me deixar em paz?

-Sabe uma vez a minha finada esposa, me disse: “A vida sempre irá nos derrubar, mas cabe a nós decidir se vamos levantar ou ficar no chão.”

-E o que eu tenho a ver com isso?O senhor deve estar caducando!

-O que você tem a ver moça, é que a vida te derrubou e eu estou te estendendo à mão pra te ajudar a levantar.-James me sorriu e pela primeira vez senti alguma simpatia por ele.

-Hein?!

-O que eu estou perguntando é: Você irá me dizer seu nome e me deixar te ajudar a levantar e dar a volta por cima, ou irá continuar jogada nas ruas, derrotada?

-Você só pode ser louco!Nem me conhece e quer me ajudar?

-Jesus não precisou te conhecer, ou a mim, pra morrer na cruz para que os nossos pecados fossem perdoados.

-Hum... Isabella.

-Muito prazer em conhecê-la Isabella. ”

E mesmo comigo relutando em aceitar a ajuda, James me tirou das ruas e me obrigou a voltar a viver. Ele não se importou por eu não gostar dele, me ouviu, me deu abrigo.

James era minha única ligação com os céus.

O único que realmente me notou, apesar da quase loucura que me tomava que soube que havia algo de bom em mim, que me apoiava sempre sem contestar, que levantava a cada madrugada para me consolar depois de mais um pesadelo, que me fazia rir com coisas bobas, que me obrigava a comer mesmo que eu não quisesse.

O meu sol, que não deixou o frio da solidão se apossar de mim, o meu bote salva-vidas que não permitiu que eu me afogasse em mágoa e ódio, o meu anjo salvador.

Cair é muito fácil, sempre há alguém disposto a te derrubar, mas levantar-se é quase impossível... As forças se esvaem rapidamente e todos os seus erros pesam em suas costas, te empurrando ainda mais pra baixo.

James foi o meu apoio e guia, para voltar a ser uma pessoa normal e acho que nunca irei me esquecer do tempo tão feliz que passei ao seu lado.

{...}

Depois de algum tempo, nós nos mudamos para a Inglaterra e James me conseguiu um emprego na empresa de Aro Volturi, um conhecido seu. O senhor Volturi sempre demonstrou um grande interesse em mim e apesar de já ter mais de quarenta e cinco anos, ser viúvo e pai de dois filhos, Aro era um homem charmoso e muito sedutor, mas eu estava com o meu coração ocupado pelo ódio e cega pelo desejo de vingança, para ser capaz de retribuir os seus sentimentos e mesmo comigo fingindo não perceber,Aro nunca desistiu de me ter ao seu lado.

Essa se pode dizer que foi a fase mais calma da minha vida, eu tinha um bom emprego, um amigo leal e não precisava me preocupar com nada, mas mesmo assim eu não era feliz. Acho que nunca fui feliz realmente, apenas tinha uma boa vida,que me distraia dos meus fantasmas do passado

{...}

E então três anos depois o meu amigo morreu.

Não posso descrever o que senti ao perder também James. A dor era tão grande que eu pensei que estava morrendo. Acho que se não fosse pelo apoio que Aro me deu,eu teria me despedaçado,como um cristal;eu era dependente do carinho de James e perde-lo foi o como ter perdido tudo novamente.

Apesar de ele me dizer que tudo iria ficar bem e que ele iria para um lugar melhor, eu não aceitava que estava sendo deixada. Senti-me traída, injustiçada por Deus que tirou todos os que eu amava.

Foi nessa fase que o velho ódio por Renée e Edward voltou com força total,de certa forma eles eram culpados por eu perder também James,fraca como eu estava foi fácil pra mágoa se apossar de mim e me dominar completamente.Deus também estava incluído na lista dos culpados,eu passei a não mais crer,perdi totalmente a fé.Foi nessa época que o plano de vingança surgiu,uma idéia tão apetitosa de fazer justiça com as minhas próprias mãos.

“Já passava da meia noite, eu estava sentada no chão do quarto e chorava muito. Perguntava-me o porquê de Deus me castigar tanto, o porquê de tanto sofrimento.

-Isa?Você está bem querida?

-Me deixe Aro. Eu quero ficar sozinha.-Nessa época eu estava sempre sozinha,me irritava o fato de todos sentirem pena de mim.

-Não, eu não vou deixar você. Por mais que você me expulse, como sempre faz.

Aro sentou-se ao meu lado e me puxou para o seu colo, apoiando a minha cabeça em seu ombro.

-Por que ele tinha que ir?-Eu soluçava em seu pescoço. -Ele prometeu que não ia me deixar!E como todos os outros ele me traiu. Traiu e me abandonou sozinha!

-Calma meu anjo...

-James me prometeu que ia ficar comigo. E o que eu vou fazer agora? Sem ele eu não vou conseguir... Vou cair de novo naquela escuridão...

-Shh....Calma....Eu estou aqui.Nada de mal vai te acontecer.Eu vou cuidar de você.

-Mas... Eu... Você sabe que eu nunca vou estar completa... Nunca vou poder te amar...

-Não tem problema. Eu tenho amor por nós dois, e também sou paciente. ”

E foi se contentando em ter uma mulher incompleta que Aro me convenceu a casar com ele... Não posso reclamar de nada, afinal ele era o homem perfeito: paciente, amoroso, cuidadoso, me mimava tanto... E nunca me cobrou nada. Contentava-se em apenas me ter ao seu lado,em cuidar de mim.  

Acho que me deixei conduzir por Aro porque estava fragilizada demais e precisa de apoio,ele me ofereceu isso e então eu me agarrei ao amor que me era oferecido.