Era quase final de tarde, e o sol dava já lugar para a lua enquanto uma menina por volta de seus 6 anos de idade chorava no meio das raízes de uma grande árvore, Sofia Foster estava encolhida com a cabeça entre as pernas chorando baixinho.

      Sofia era uma menina pura e sentia a presença de anjos, ela era especial como todos os outros anjos da guarda haviam me avisado, certeza que seria um grande aprendizado tanto para mim quando para ela, na verdade mais para mim... Eu fui tocado no momento em que vi Sofia Foster, ela era meiga, pequena, parecia um filhote de anjo caído do céu por engano, e talvez realmente ela tenha caído, só que infelizmente nas mãos de pais não tão bons...

Naquela mesma tarde Gabriel me contou que ela chorava por seus próprios pais terem se esquecido do aniversário dela.

Devia ser muito difícil ter apenas uma empregada que mais parecia uma avó para cuidar dela.

Dona Rosário era outro anjo, o anjo da guarda visível a Sofia.

   Logo depois do primeiro dia eu voltei mais leve para os portões do céu, Gabriel me olhou com ternura e eu não precisava falar nada ele sabia que eu já estava amando tomar conta daquele ser tão frágil, Sofia precisava de mim, e eu estaria sempre ali com ela em qualquer situação.

- Por que não me explico como era diferente,não  me contou que ela era tão frágil e precisava de alguém sempre por perto ?

- Não adiantaria explicar Miguel, você não entenderia, era preciso você ver com seus próprios olhos o pequeno anjo perdido – Disse Gabriel se virando e indo embora.

      Era verdade, era um pequeno anjo perdido, e eu não entenderia tamanha genuinidade daquele ser se não visse com meus próprios olhos.

      Desde aquele dia eu tomaria conta de Sofia Foster, eu estava em todos os momentos da vida dela, e ainda me lembro com clareza do dia em que eu “apareci” para Sofia...

  (...)

Ela devia ter uns 8 anos já, estava na rua, tinha pedido pra jogar vôlei com seus vizinhos, que na verdade nem gostavam dela.

  Eu sabia que não iria ser muito bom, aquelas crianças perversas terminariam aprontando alguma coisa para ela, na verdade não culpo as crianças, já que tudo esta concentrado nos pais, esses sim são os exemplos errados, e formam filhos errados.

   O jogo havia começado, todas aquelas crianças se olhavam, caçoavam de Sofia por ela não ser tão alta, por ela usar seus óculos redondinhos. Até ai ia tudo nos conformes, mas foi horrível quando eles jogaram a bola na cabeça dela, seus óculos pularam do rosto e ela se pos a chorar enquanto corria para seu refugio, a grande arvore na qual a vi pela primeira vez, normalmente uma criança corria para os pais, mas Sofia sabia que eles não estariam lá, talvez ela corresse para Dona Rosário, mas ela não queria preocupá-la ela era tão idosa já.

Sofia se encolheu por entre as raízes, chorava de soluçar, e eu não tive duvidas de que eu tinha que mostrar a ela que tinha alguém com ela, que alguém sempre estaria ali.

   Me aproximei um pouco mais, me sentei sobre uma grande raiz saliente, e sorri para Sofia. Ela cessou o choro, e sua face se fez um sinal de choque.

 - Quem é você ? – ela me perguntou limpando os olhos.

- Miguel, seu amigo. – sorri

- Sofia – ela sorriu – eu sei quem você é agora .

- Sabe ? – fiz ar de surpresa – Então quem sou ? e como me conhece ?

- Você é o anjo que eu vi no meu sonho noite passada, o anjo que me falou para não chorar, que alguém tem um amor muito grande por mim, não é ? Não foi você quem falou ? – ela se levantou.

- Bom, você poupa-me de apresentações, eu sou esse Miguel ai mesmo Sofia, você gosta de mim ? – analisei seu rosto vermelho claro de tanto chorar.

- Gosto, você é um anjo... – ela se calou.

- Diga, não precisa ter medo de perguntar nada.

- Onde estão suas asas ? – ela se curvou para ver alguma coisa nas minhas costas.

- Bom, digamos que elas estejam na minha mente. – respondi levantando-me e andando em direção ao horizonte.

- E como então faz pra voar ? – ela me acompanhou.

- É só eu pensar em voar, em coisas leves... – sorri pegando uma flor do chão.

- Eu conseguiria voar se quisesse?

- Qualquer um pode voar meu amor.

- Então porque não voou agora?

- Porque não esta pronta agora – eu dei a flor a Sofia que recebeu com felicidade, era um presente.

- Vou guardar no meu livro, e assim a terei sempre. – ela caminhou em direção a sua casa, feliz, mostrou a flor a dona rosário e guardou no meio de seu livro.

Desde aquele dia Sofia sempre conseguiu me ver, mesmo quando eu tentava me camuflar, ela sentia minha presença. Era uma graça de menina. Sofia foi crescendo, e eu sempre me mantive ao seu lado, mesmo nas horas difíceis para mim, como quando brincamos de boneca ....