Derrotando a Fera escrita por Janus


Capítulo 1
Capítulo 1




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- É sua responsabilidade, faça-o! - disse ela o olhando fixamente.

Observou sua esposa com o olhar resignado. Fechou os olhos e suspirou. Era tarefa dele fazer aquilo, uma da qual sabia que não poderia fugir. Preferia mil vezes enfrentar seu antigo bijuu do que ter de fazer aquilo, mas seu destino nunca tinha sido caridoso para com ele, muito menos tinha demonstrado qualquer sinal de misericórdia.

Pensou que tinha ocorrido uma mudança quando se apaixonou, quando conheceu aquela com quem dividia a vida agora. Devia saber que era apenas uma mera trégua para o sofrimento que viria no futuro, um sofrimento sem igual que tinha sido anunciado apenas dois anos após seu casamento.

Levantou-se da cadeira e pegou o prato no qual tinha jantado. Olhou para este com os olhos sérios e concentrados. Porque tinha que ser assim? Não podia ser mais simples? Não podia ser uma pessoa como as outras? Apenas indo efetuar o seu trabalho durante o dia e a noite relaxar no conforto e carinho de uma família?

Ele sabia a resposta, ele não era normal. Não totalmente ao menos. Ao nascer fora condenado a ser hospedeiro de um bijuu, fora condenado a ser odiado por todos, a não ter amigos, a ficar sempre sozinho, a não ter emoções. Elas machucavam, e muito.

Foi até a pia e depositou o prato nesta, sob olhar frio e sombrio de sua esposa que o observava atentamente com os braços cruzados. Ela não permitiria que ele fugisse da tarefa que devia efetuar, não daquela vez. Era sua responsabilidade, e pelo menos tinha que admitir que tinha metade da culpa.

Como kage da aldeia ele cuidava desde manter a paz com outras aldeias até mesmo ter de decidir coisas menores como as tarefas que os grupos de genins deveriam fazer. As vezes tinha até de decidir sobre a decoração para certos eventos festivos. Um trabalho burocrático, monótono, frio, repetitivo. Algo perfeito para ele.

Assim tinha sido sua vida desde a adolescência. Apesar do bijuu que carregava dentro de si então, tinha conseguido atingir um objetivo que julgava ser inalcançável. Quando o bijuu foi retirado, ficou pela primeira vez na vida livre daquilo, apesar de seus sentimentos não terem se alterado muito, ao menos externamente.

Abriu a água da torneira e com movimentos repetitivos e lentos esfregou a esponja no prato, limpando-o. Sua esposa ainda o observava com os braços cruzados e de forma fria. Ela sabia que ele estava protelando o que deveria fazer, mas também não iria apressá-lo, não ainda.

Era conhecido como Gaara do Deserto. Tinha o respeito dos habitantes da aldeia, tinha a admiração destes também, e até mesmo algumas admiradoras mais afoitas que por muitas vezes conheceram o ciúme de sua esposa. Para estas ele procurava ficar sempre distante, mais para preservar sua própria integridade do que por uma questão de clausura do casamento. Alem do mais, sua esposa tinha um murro bem dolorido e ele não queria arriscar se sua pele de areia era páreo para aquilo...

Terminou a limpeza da louça e movendo-se a direita pegou o pano de prato para enxugá-lo. Ainda ponderava sobre como agir diante de sua missão que ia executar. A missão que executava todas as noites desde que tinha obtido o primeiro êxito. As vezes acreditava que ter encontrado uma forma de conter aquela fera a noite tinha sido uma maldição e não uma benção. Mas quem mais poderia fazê-lo? O único que conhecia e que teria meios, habilidade, paciência e seria idiota o bastante para aceitar seria Naruto,  mas ele tinha seus próprios problemas, e não poderia estar ali todas as noites para isso.

Pensando bem, não devia nem mesmo cogitar isso. E se a fera pudesse ser só contida com a presença de Naruto? Ele gelou com o pensamento. Raro de ocorrer, mas ele gelou, sentiu o arrepio subir por sua espinha até atingir a nuca, obrigando-o a tremer involuntariamente apesar da noite estar mais quente que o normal.

Colocou a louça lavada dentro do armário e o fechou. Virou-se e encarou a sua esposa que o observou no mais completo silencio, como se aguardasse um ritual pré programado no qual ele se sacrificaria pelo bem estar de tudo e de todos. Ela aproximou-se dele e o enlaçou na cintura, beijando-o com um mero toque nos lábios.

- Já é hora – murmurou ela.

Ele assentiu, era hora. Fechou os punhos e moveu-se lentamente pela sala de jantar até a porta. Adentrou o corredor e o seguiu com passos lentos e controlados rumo ao seu destino, ao covil da fera que habitava a casa. Chegou mesmo a cogitar de deixá-la em outro local, mas não podia condenar outra pessoa a fazer aquilo. Sabia que ninguém poderia suportar por muito tempo. Na verdade, nem mesmo ele poderia suportar isso caso não tivesse a certeza de que um dia em um futuro relativamente próximo aquilo não seria mais necessário.

Alem do mais, quando conversava com os seus conselheiros alguns chegaram a comentar que o que ele fazia a cada noite mais se parecia com uma missão de Rank S. Quantos na aldeia se disporiam a executar tal missão noite após noite?

Rank S... chegou a gargalhar com o comentário. Era tão difícil ele extravasar as emoções que quem estava próximo ficou com medo. Mas tinha que admitir. Era uma missão de rank S. Talvez a primeira vista não o fosse, mas repetir o feito noite após noite a tornava assim.

Ao chegar ao seu destino ele respirou fundo e se concentrou em seus sentidos. Iria precisar deles no máximo para o que viria. Abriu a porta e após entrar a fechou devagar. Olhou para o quarto e tentou perceber onde a fera estaria daquela vez.

A cama a direita não estava desfeita, portanto não tinha sido tocada. A janela do lado desta estava fechada por dentro – um bom sinal, uma vez a fera tinha escapado de seu covil e foi preciso algumas horas para conseguir trazê-la de volta. Ao virar-se para a esquerda para poder ver a pequena mesa, pulou para o lado para escapar de duas pernas que miravam o seu peito.

Precisou pular e pular de novo para continuar escapando. A fera sorriu para ele, aquele sorriso ferino e ameaçador. Pelo jeito, não ia conseguir domá-la facilmente daquela vez. Ficou em guarda e a olhou com seu olhar mais frio e ameaçador.

Não teve efeito.

A fera pulou o agarrando na cintura e Gaara caiu no chão. Virou-se para tentar se levantar e sentiu os braços se enrolarem em seu pescoço. Ele moveu o corpo de um lado para o outro, mas a fera estava mostrando ficar mais forte a cada dia. Desta vez não perdeu o equilíbrio e ele até mesmo sentiu a pressão de seus braços na garganta.

Ficou apoiado nas mãos e nos pés tentando tirar a criatura de cima dele, mas esta apenas gritava e pulava em suas costas, até que por fim ele agarrou o seu cotovelo em um momento de distração e moveu-se em direção a cama.

A fera ficou com os olhos arregalados, mas não havia o que fazer. Tinha-o subestimado novamente, e por mais que tentasse, não conseguia livrar o braço. Ao chegar nesta ele dobrou o corpo e puxou o braço com força, fazendo a criatura passar por sua cabeça e pousar na cama. Ela ainda tentou uma reação mas ele foi mais rápido, pegou o travesseiro que estava ali a disposição e o acertou em cheio no seu rosto.

Ela caiu para trás cansada. A parte fácil em domar a fera noturna tinha terminado. Ele se afastou ofegando levemente e pegou o pequeno banco para colocá-lo ao lado da cama onde a fera estava momentaneamente desfalecida. Sentou-se sobre esse e cruzou os braços. Logo em seguida observou a fera ali.

- É chegada a hora, rapazinho – disse ele lentamente e de forma seria.

- Ainda é cedo – bufou ele cruzando os braços – não sou mais bebê.

- Mas ainda é pequeno – ele estava inflexível, e tinha de ser, do contrário ele é quem teria de ouvir da esposa – e já é quase dez horas.

Ele fez um bico com os lábios. Era assim todas as noites desde que tinha começado a falar e a andar. Mas o pior estava por vir agora.

- Me conta uma história, papai?

Gaara o olhou e sorriu levemente. Adorava a fera da casa, seu filho. Apenas ele conseguia se munir de paciência e perseverança para tentar colocá-lo para dormir. Mas inventar uma historia toda noite para fazê-lo dormir era... cansativo.

- Eu sempre conto uma. Mas hoje não vou inventar muito.

A pequena criança – ou terrível fera dependendo do ponto de vista – enrolou-se no cobertor e deitou-se na cama, aguardando por aquilo que adorava ouvir. Não seria para sempre, um dia ele não mais iria querer aquilo, um dia sua imaginação iria falhar, e talvez começasse a repetir tudo. Mas pelo menos até ele aprender a ler para poder ler historias sozinho, teria de ser assim.

- Era uma vez, em um oásis do deserto...

E por mais uma noite ele inventou algo misturando aventuras reais e coisas de fabulas. Ainda achava um exagero seus conselheiros considerarem que por seu filho para dormir era uma missão de rank S, mas tinha que admitir que as vezes o era. Mas não reclamava.

Afinal, depois seria a vez de por sua esposa para dormir. Isso sim era uma missão de alto nível.


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Notas finais do capítulo

Minhas outras fics de Naruto
—Hinata-mama— Oneshot
—Sonho Morto— Oneshot
—Desabafo— Oneshot
—Sonho Renascido
—Os Elos da Corrente



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