Dizem que quando você morre sua vida passa por você. Eu tenho que discordar. Você não vê nada, mas ouve. Você não sente nada, mas sabe que algo está acontecendo. No meu caso foi lento, mas indolor. Me vi sentada no tempo de minha tia, Atena brincando com um pedaço de louro. Vi Apolo sentado ao meu lado, com os braços ao meu redor. Vi também Posseidon, sentado do meu lado, brincando com um pedaço do meu cabelo. Foi estranho, todos sorriam e nem brigavam. Afrodite, minha mãe estava conversando com Hera, as duas jogando cartas. Epa, alguma coisa estava errada. Zeus estava conversando com Ártemis, os dois rindo e Atena estava sentada do lado de Posseidon, um sorriso estranho. Isso estava errado. “Ela está morrendo, não tem nada que possa fazer por ela?” uma voz abafada falou de algum lugar.

Abri os olhos, me senti tonta, e levantei a cabeça. Ainda estava lá, o chão de gelo ao meu redor, Perséfone ajoelhada, mas solta dos galhos secos e Percy estava ali, encostado na parede, conversando fúnebre com Annabeth. Levantei com um pouco de força de mais, mas notei que não tinha visto Nico. Foi aí que eu o vi. Ele estava deitado, a metros de mim, com um corte na mão, pálido. “Não” solucei e me ajoelhei perto dele, colocando os lábios em sua bochecha “Não, não, não” Solucei em um choro diferente. Algo ardia dentro de mim, como se o amor estivesse ali, mas eu não pudesse ver. Bati as mãos no peito dele, ele não reagiu. Estava vivo, mas tão ferido que ia morrer em instantes. “Sh, Ellie, eu te amo” ele conseguiu dizer sufocado, e ergueu uma das mãos para me dar algo: um pingente de uma rosa negra. “Não, por favor, não vá” sussurrei em seus lábios e dei um beijo delicado. Ele se fora.

Entrei em desespero profundo. Minha primeira reação foi dar um tapa na cara de Percy, por ter deixado ele fazer isso. “COMO VOCÊ PÔDE, SEU TRAIDOR!” dei um tapa nele e caí sentada, chorando mais ainda, quando ele me puxou em um abraço. Tive que o abraçar ali mesmo, esconder minha cara, inchada de tanto chorar, em seu ombro, encharcando a roupa dele. Fiquei ali sentada, nesse abraço dele até que algo aconteceu. Ele me envolveu em seus braços com mais força e me deu outro beijo, mais delicado que o nosso primeiro. Não foi feroz, foi simplesmente acolhedor. Expressava o que ele sentia, o amor, dedicação, cuidado, zelo, tudo que nenhuma palavra foi capaz de dizer. Depois de ter me soltado, Perséfone seguiu em minha direção e perguntou se eu queria que eu o transformasse em alguma planta. Olhei para meu pingente e ela entendeu. Ela se ajoelhou ao lado dele, passando as mãos em seu rosto e depois de um brilho dourado, um jardim de rosas negras o substituiu. O cômodo todo no alto da torre se infestou de rosas negras, sem espinhos. Annabeth olhou para mim e girou a boca em um sorriso desculpas. Saí de mãos dadas com Percy em direção ao corredor.

Depois de uma volta para casa nada emocionante, fomos entregar Perséfone no Olimpo. Nada parecia ter mudado. Subimos o elevador em silêncio, e adentramos no tempo, onde todos os olimpianos nos esperavam “Ora, Ellie, vejo que retornou para casa, afinal.” Zeus olhou para mim e abriu um tipo de sorriso, uma devoção disfarçada. “Zeus” balancei a cabeça e cumprimentei aos outros olimpianos. Nada parecia ter mudado muito. Todos eles vestidos em seus trajes de sempre: Zeus com seu terno tamanho Olimpiano máster, Posseidon com sua roupa de surfista, Hera com um vestido vermelho, Atena com uma calça jeans e uma blusa comum, Ártemis com uma roupa de caminhada, Ares com a roupa de motociclista de sempre, Apolo com um uma camiseta e uma bermuda cáqui, Afrodite com um vestido azul turquesa, Deméter com uma roupa de jardinagem, Hermes com roupa de maratonista, Dionísio e sua camisa estampada, Hefesto e a roupa de mecânico e Héstia com uma das suas roupas de mãe favoritas: um jeans com uma camiseta sem mangas. “Acho que nós temos que te elogiar pela sua maravilhosa participação na missão de resgate” Zeus falou por todos ali “E nós sentimos muito pela sua, erm, perda” Perséfone se transformou em adolescente novamente e seguiu para sentar ao lado da mãe. “Percy também teve uma ótima atuação, sendo o ‘garoto mais problemático da América’” Posseidon riu e foi forçada a rir também. Atena me olhou com o orgulho de quando eu fazia algo certo na hora certa e minha mãe sorriu para mim. Ares também se sentiu orgulhoso, embora não pudesse demonstrar isso do mesmo modo que os outros. Ele só revirou os olhos. Isso é bom. “Bem, obrigada por me salvarem e deixarem Despina viva. Ela realmente merece uma segunda chance.” Perséfone abriu um sorriso e apertou a mão de Deméter, que sorriu para nós. “Acho que é isso, eu estou morto de fome, acho bom nós começarmos a festa logo” Ares cochichou para Hermes, mas foi interrompido por Zeus com um pigarro. “Antes, existe algum anúncio a ser feito, senhor Jackson?” Zeus piscou para Percy, que ainda tinha os dedos entrelaçados nos meus. Todos abriram sorrisos estranhos e ele corou. Ele soltou da minha mão e se ajoelhou ali mesmo. “Ah, erm. Ellie Waldorf, você aceita ser minha namorada? Eu prometo que vou te amar e cuidar de você e...” ele começou a falar mas foi interrompido por Posseidon “Calma filho, isso não é pedido de casamento.” Ele abriu um sorriso e todos riram. Não sabia se sentia aquilo ou era um tipo de mentira. Meu rosto se abriu em um sorriso enorme, lágrimas saltaram febris de meus olhos “Eu... eu aceito” disse embargada e ele colocou um anel em meu dedo anelar na mão direita. Depois disso ele se levantou e minha alegria se consumiu em um beijo forte e ansioso “Ei, olhe os modos hein herói, meu templo não é lugar de agarração” Zeus deu uma bronca nele e nos limitamos ao braço dele na minha cintura. “Vamos pular para a parte das bênçãos.” Os olhos de Posseidon brilhavam perigosamente. Todos nos deram bênçãos, até mesmo Annabeth, que corou depois do meu pedido de namoro.

Eu ia sentir falta das festas olimpianas mais do que tudo. As maiores e melhores festas eram sempre as olimpianas, balões, centauros, náiades, deuses, todos juntos dançando e comendo num clima de animação eterna. Eu dançava com Posseidon, porque Percy queria falar com Annabeth “Ah, minha quase nora. Nunca pensei em te ver com meu filho” ele piscou para mim e eu ri “Aposto que caiu no truque dos olhos” assenti e ri de novo “Ai, você pisou no meu pé” disse e dei um tapinha nele “Não, eu não pisei, você que não sabe dançar” ele me deu língua e eu ri. Parecia de certo modo um pai que eu nunca teria. Depois de ter dançado com ele fui conversar com minha mãe “Ah querida, eu estou tão feliz por você. Você é perfeita para ele” ela sempre me dizia isso. Dancei com Ares e com Apolo que insistia no “Você tem certeza que quer ficar com ele?” e eu só assentia. Finalmente pude dançar com Percy, depois que ele tinha dançado com todas as deusas possíveis. “Finalmente, dançando com o meu heroizinho” ri e recostei a cabeça no ombro dele, a música passando de um remix agitado para Frank Sinatra, lento e macio. Ele meu puxou mais para perto com as mãos na minha cintura, pegando meu queixo com a mão “Eu te amo sabia?” ele sussurrou e me puxou para um beijo menos desafiador, só doce. Eu podia ficar ali a minha vida toda, só viva pelo fato de que ele me amava, sabendo que cada minuto, cada beijo, cada toque, iam ser os primeiro e que cada minuto que passava, ia ser meu único. A festa continuou pela tarde e pela noite, seguindo lentamente para o seu fim.