Entrei.Ela me disse que sentasse e me sentisse em casa.Era uma salinha tão bonitinha.Do mesmo tamanho que a minha,mas aconchegantemente maior.Não havia televisão ,mas um notebook na mesinha de centro (seria dela?!) , dois sofás de dois e três lugares,dispostos em quina e um espelho enorme nas paredes de trás.Ao lado da porta,retratos e mais retratos.Retratos de jovens,de família,de atores e atrizes famosos no último século,fotos e mais fotos: cidades,lugares,o campo...

-Oh!Não é a primeira pessoa a fazer isso!-dei um salto de susto.Estava de costas para o corredor observando as fotos na parede.

-Puft!Ai!A senhora me assustou!

-Desculpe-me.-ela sorriu-Bolinhos?

Como mágica,senti um cheirinho delicioso de brownies de chocolate.Mais uma vez aquela simpática senhorinha...oops!Velhinha!...Me lembrava vovó Grace.

-Vejo que já começou a observar as minhas fotos.Todos que aqui vêm fazem isso!Não importa quantas mil vezes já o tenham feito!

-São fotos...interessantes.-de novo aquele agradável sorriso.

-Eu era um pitelzinho na sua idade.Aliás...Quantos anos você tem?

Não me senti desconfortável com a pergunta.Fora direta,mas não desrespeitosa.

-Tenho vinte e um.

-Oh!Sim!Sim,eu era muito bonita na sua idade,mas,é claro,como todas nés,tolas mulheres,não me achava.Incomodava-me com as minhas sardas na pele branca e com meu cabelo alaranjado.Mas,depois que os anos foram passando,eu fui me tornando uma mulher madura e segura,tomei conciência dessa beleza incomum.-Enquanto falava ela servia o chá.Com delicadeza pousou a chaleirinha mimosa na bandeija.Entregou-me uma xícara vermelha e decorada de florzinhas azuis em um pires azul com flores vermelhas.

-Adoro trocar as cores dos pires e das xícaras!-vovó Sarah dizia a mesma coisa,e no mesmo tom.Já vovó Grace era metódica no que dizia às cores.

-Você tem namorado,Emma?

-Huh...sim.

-Mas que desperdício,menina!Me diga...ele é daqui?

Comecei a rir.Definitivamente ela era um misto de vovó Grace e vovó Sarah.

-Não,não.Connor é de Hunsford.

-Ah!Então é um namorado de colegial?

-Sim.Estamos juntos há cinco anos.

-Nossa!Então é uma relação muito sólida.

-Sim...eu acho.

-É uma pena...

-Por quê?-espantei-me.

-Bem...eu conheço um rapaz tão interessante...E está solteiro!Bom,vejo que terei de arranjar outra namorada para meu amigo!Sabe,Elliot é bem especial.Estudou na London School...na Oxford...é um engenheiro agora!Mora no 102...O que você veio fazer em Londres?

-Estudar.Em Hunsford não havia muito futuro para mim.

-E Connor,o seu namorado?-achei estranho ela não errar o nome de Connor.Pensando melhor,percebi que nem mesmo o meu ela esquecera,e eu só o dissera uma vez!

-Connor está na França.

-França?!E você aqui?Ele não deve ser muito esperto,não?

-Por quê?

-Bem...não que você seja infiel,mas ele é muito bobo de não tê-la levado para a cidade mais romântica do mundo!

-Ele não está em Paris,mas Marselha,Provença.

-Ainda assim.Não deixa de ser tolo.A França,depois do Reino Unido é,para mim,o país mais belo de todos.Estive lá na infância e depois,dos vinte e cinco aos vinte e sete anos.Ah!Que saudade de meu Henry!

Não pude deixar de sorrir.Ela não parecia chata ao demonstrar o seu saudosismo.Parecia-me que contaria uma história de amor como aquelas que se vê em livros.

-Conheci Henry no "Café avec la littérature"(N.A.: do Francês para o português:"Café com Literatura"),bem no centro de Paris.Ele era um escritor...Não!Não é o mesmo que foi amante de Anaïs Nin.Não.Ele seria velho demais para mim quando eu estava na França!Este Henry era outro...Nem fez tanto sucesso,mas se escrevesse tão bem quanto sussurrava poemas aos pés do ouvido das moças e fazia outras coisa...-ela sorriu maliciosa-Há!Ele era apaixonante com seus olhos castanho claros e seu cabelinho loiro.

-A senhora viveu uma paixão muito intensa à seu lado?

-Oh!Senhora não!Até parece que a velha é você!Esquecendo toda hora que eu sou uma senhorita!

Começamos a gargalhar.Ela me contou sobre seus inúmero casos amorosos até tarde,umas 21:30h,quando fui para meu apartamento dormir.Achou graça quando perguntei se,alguma vez,havia tido um amor único.E respondeu:

-Todos!Todos foram únicos.Cada um a seu modo,me trouxe a graça da vida e arrebatou-me a monotonia.-Mas pôs-se a pensar e depois de alguns momentos completou:

-Mas acho que o único que nunca saiu da minha memória foi meu primo Jonny.Mas eu era novinha e ele já estava em seus vinte e três anos quando se casou com Marianne,minha irmã mais velha.Sabe aquela paixonitezinha de criança?Ah!Como eu chorei ao "flagrá-lo" beijando minha irmã!Foi como a pior traição de todas!-ela sorriu com doçura e continuou.

-Corri para contar à minha mãe,Mary ficou uma semana de castigo no quarto,mas no final do mês,Jonny,veio pedir sua mão em casamento.Chorei e esperneei por cinco meses seguidos,mas um dia,minha mãe sentou-se e conversou comigo,dizendo que aos oito anos eu era muito nova para ter um noivo de vinte e três,já Mary tinha dezoito,então podia.Entrei na igreja segurando o porta alianças feliz da vida.