-Vou ganhar! - Ulisses disse, uma vez que já estava bem na frente. - Ai!
Quando olhei, ele estava no chão, esfreganto o joelho. Eu corri mais rápido e cheguei lá em dois segundos.
-O que houve? - Perguntei, me abaixando e pegando ele no colo.
-Eu tropecei em alguem – Ele respondeu. Olhei um pouco mais a frente e vi um garoto de cabelos pretos da minha idade caído no chão. Ele era muito bonito, apesar de parecer ser cego.
-Ou alguem tropeçou em você – Contestei meu primo. Depois olhei o garoto – Qual é? Não presta atenção por onde anda, você podia ter machucado feio!
-Obrigado por se preocupar comigo, - Ele falou - mas estou bem.
-Não falei de você! - Eu disse baixando Ulisses do meu colo. O garoto ficou de pé e me olhou de cima a baixo.
-O que é? Além de cego, é estranho? - Eu falei, sacudindo a poeira do meu primo.
-Hum, não – Ele disse, ainda me examinando.
-Vamos embora Ulisses! Ainda te devo um sorvete – Eu disse, dando a mão a meu primo – Esse idiota não vai estragar meu dia.
O menino segurou meu pulso quando eu estava indo. Eu olhei sua mão me segurando.
-É melhor que me largue se não quiser se machucar – Eu disse baixo, tentando me acalmar.
-É melhor fazer o que ela disse – Meu primo falou pela primeira vez naquele momento.
O garoto apenas estreitou os olhos, então eu lancei minha mão em direção ao seu rosto. Ele pegou meu outro pulso antes que meu tapa atingisse seu rosto, depois soltou um pulso meu.
-É o melhor que pode fazer?
Eu grunhi.
-Me largue! - Falei com raiva.
-Não – Ele falou lentamente, os olhos azuis me desafiando.
Então eu perdi totalmente a paciencia: lancei minha mão em punho em direção a seu rosto, acertei em cheio seu olho direito. Ele me largou e deu uns passos para trás, dolorido. Eu suspirei, arrependida de te-lo socado tão forte. Caminhei até ele e peguei sua mão.
-Venha, vou te ajudar dessa vez – Eu disse guiando o garoto até um banco, ali perto – Ulises, você pode pegar uma bolsa de gelo na sorveteria? Ela já está ai em frente, apenas tome cuidado. Qualquer coisa grite – Ulisses assentiu e saiu andando em direção a sorveteria.
-Onde uma garota aprende a socar tão forte? – Ele perguntou, chegando a sorrir um pouco.
-Eu avisei a você – Respondi.
-Da proxima vez te ouço.
-Que proxima vez? – Perguntei com raiva – Não pense que por estar te ajudando eu não repetiria esse gesto ou faria algo pior. Se você tentasse alguma coisa comigo ou com Ulisses...
-Ei, calma! Foi só uma expressão!
-Ah! – Falei baixando os olhos – Desculpe.
-Tudo bem – Ele disse, passando o braço por trás de meu pescoço.
Eu olhei ele como se fosse mata-lo. Ele retirou o braço e deu de ombros.
-Me chamo Daniel – Ele falou. Eu ia lhe responder quando Ulisses chegou.
-Suh! – Ele gritou de longe.
-Suh de Suzan? – Daniel perguntou
-Suzanah – Respondi baixinho.
-Quase que eles não liberaram a bolsa de gelo... – Ulisses falou chegando perto de nós.
-Então você mencionou o nome de papai e mamãe e eles liberaram a bolsa com um enorme sorriso – Completei a frase dele.
-Não, – Ele disse – dessa vez eles deram a bolsa.
Eu suspirei.
-Aplique isso no seu olho roxo, Daniel – Eu disse entregando-lhe o gelo – e me desculpe. Nós já vamos.
-Obrigada – Ele disse.
Eu lhe sorri docemente, depois dei a mão a Ulisses e fomos em direção a sorveteria.
-Você quer comer aqui, ou quer ir pra casa? – perguntei a meu primo.
-Vamos pra casa – Ele falou sorrindo, enquanto eu pegava sua mão e caminhava em direção a sua casa.
Chegamos em casa em alguns minutos.
-Que bom que voltaram – Disse minha tia Carina, a mãe de Ulisses.
-Desculpe o atraso mamãe – Disse meu primo correndo para abraça-la.
-Tudo bem – Carina disse retribuindo o gesto, depois se virou pra mim e perguntou gentilmente – Você já quer ir para casa, Suzanah?
-Não tia, vou esperar Lizandra – Eu disse, bocejando em seguida
-Tudo bem, Suzanah. Se você quiser pode ir se deitar no quarto de seu primo.
-Obrigada – Eu disse, depois fui em direção ao quarto de Ulisses e me deitei para dormir.