Destinys Play escrita por Bella P


Capítulo 4
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/83235/chapter/4

Capítulo 3

 

- Olá bonitão. - Jacob viu por entre as frestas do motor o rosto jovem que possuía um largo sorriso e sorriu de volta automaticamente, acenando de leve com os dedos sujos de graxa para a garota. Em duas semanas o rapaz tinha se ajustado a sua nova vida em Chicago de maneira extremamente rápida. Havia arrumado um quarto na casa das Whitaker e um emprego na garagem do Moe no final da rua. Com uma ligação para Billy ele informara ao pai sobre os seus planos, pediu para que ele dissesse para Sam não se preocupar com o seu sumiço e que retornaria quando estivesse pronto.

Billy Black não ficou feliz, claro, mas conformou-se com a decisão do filho apenas por saber que ele estava bem, vivo, com um teto sobre a cabeça e sendo alimentado por algo que não fosse animais mortos e crus.

- Não deveria estar na loja da sua tia? - a pergunta saiu abafada com Jacob ainda sob o carro enquanto trabalhava no mesmo.

- Vim trazer para o Moe a famosa torta de framboesa da Winnie. - Black soltou uma gargalhada. O mecânico arrastava um caminhão pela hippie fora de época que morava no início da rua, praticamente todos os vizinhos sabiam disso, exceto a própria Winifred. Ou isto ou ela se fazia de sonsa apenas para bancar a difícil.

- Winifred está mal acostumando o Moe. - comentou enquanto tentava desaparafusar uma peça. - Poderia me passar a catraca? - Kaylee ergueu as sobrancelhas e desencostou da lataria do carro onde estava apoiada para mirar Jacob sob o motor. Rodou os olhos pelo chão e pelas peças que o rodeava, vendo que havia apenas umas três e essas poucas ela reconhecia.

- Essa tal de catraca está perto de você? - perguntou confusa.

- Está na caixa de ferramentas sobre a bancada. - a garota assentiu com a cabeça e foi até dita caixa, mas nada mudou. Havia centenas de ferramentas dentro da mesma e nenhuma lhe era familiar. Para ela catraca era aquela coisa pela qual passava cada vez que pegava o metrô.

- Melhor eu levar a caixa até você, porque não faço a mínima ideia do que estou procurando. - avisou, fechando a caixa de ferramentas em um estalo. Ao mesmo tempo Jacob deslizou o carrinho no qual estava deitado quando a ouviu falar e saiu de sob o automóvel.

- Espera! Esse negócio é pesa... - mas calou-se quando com um fechar de dedos em torno da alça e um puxão ela ergueu a caixa da bancada e a levou calmamente até ele, depositando ao seu lado no chão. - Você sempre fez isto? - o rapaz arqueou uma sobrancelha.

- Fiz o quê?

- Levantar caixas de ferro com cinco quilos de material com um braço como se fosse uma folha de papel? - Kaylee riu.

- Só porque pareço que vou quebrar com um sopro de vento não quer dizer que isto vá acontecer. E são só cinco quilos. Você levanta uma cômoda cheia. - acusou de volta, com os olhos estreitos e Jacob apenas sorriu de canto de boca para a garota.

O incidente da cômoda ocorreu quando em uma manhã Kaylee havia acordado atrasada para a escola e em meio a confusão de vestir o seu uniforme – ela estudava em um colégio católico – e arrumar as suas coisas, acabou espalhando todas as folhas de um trabalho de literatura pelo quarto e parte do material tinha ido parar sob a cômoda de roupas.

Irritada a garota tentou de todas as maneira alcançar as folhas perdidas, mas o seu braço não conseguia passar pelo espaço estreito entre o fundo do móvel e o chão e quando Jacob passou pela porta do quarto da menina e a viu estirada no chão praguejando, apenas soltara uma gargalhada e sem esforço algum erguera parte do móvel, surpreendendo a jovem.

- É que eu como todas as minhas verduras e legumes. - brincou e recebeu uma careta como resposta.

- Você come de tudo, isto sim. É praticamente um saco sem fundo, um buraco negro, para a alegria suprema da Winnie. - Jacob, como dizia Kaylee, era a realização culinária de Winifred que sempre gostava de fazer experimentos na cozinha e como o rapaz vivia com fome ele era a eterna cobaia da mulher. O que fazia a adolescente se perguntar para onde ia tanta comida e como ele conseguia manter aqueles músculos comendo de um tudo e não fazendo exercício algum além de erguer ferramentas de poucas gramas com os dedos.

- E você come de menos. Poderia colocar um pouco de gordura nesses ossos. - esticou um dedo borrado de graxa, pronto para cutucá-la, mas a garota afastou-se em um pulo ágil, soltando um grito agudo só de imaginar aquele dígito sequer encostando na camisa branca do seu imaculado uniforme.

- Fique sabendo que estou em meu peso ideal para a minha altura e em plena forma para a minha idade. Todas as minhas taxas estão perfeitas e tenho uma resistência física bem alta. - falou em um tom orgulhoso, fazendo Jacob rolar os olhos. Gostava de brincar com Kaylee dizendo que ela era muito magricela, mas na verdade a menina tinha as proporções certas para a idade dela, ainda mais que a garota comia tanto quanto ele e gastava todas as suas energias na quadra de vôlei por ser a titular do time da escola. - Mas e então? Virá ver o meu jogo no sábado? - a pergunta veio com um tom de incerteza e Black ficou em silêncio, como se ponderando a resposta.

- Bem...

- Não é como se você tivesse algo importante para fazer Jacob. - deu um cascudo no topo da cabeça do adolescente mais velho e ele sorriu.

Na verdade se tivesse de volta a Forks teria algo importante a fazer. Teria o casamento de Bella para ir. Rapidamente as suas expressões se fecharam ao se recordar disto. Seu pai o havia ligado dois dias atrás o lembrando deste detalhe e informando que Bella não parava de aparecer em La Push ou ligar para a casa dos Black a procura dele, com certeza sempre recebendo a mesma resposta de Billy e da alcateia de que ninguém sabia do paradeiro de Jacob.

- Algo importante que não o remeta a um certo alguém em um certo lugar. - Kaylee fechou o punho, pronta para dar outro cascudo na cabeça de Jacob, mas ele foi mais rápido, fechando os dedos no pulso da garota e desviando o ataque dela em questão de segundos, a pegando de surpresa. - Ah, uma reação! - ela não se abalou diante da investida dele e apenas fez uma careta ao ver as manchas de graxa em sua pele.

- Você parece sentir um prazer mórbido em me bater. - um sorriso matreiro surgiu no rosto da menina.

- O psicólogo da escola associa estas minhas atitudes violentas com a falta de pulso firme por parte da minha tia durante a minha infância e o fato de que tive que crescer em um bairro pouco provido financeiramente. - Jacob arqueou ambas as sobrancelhas. O bairro onde moravam não era um candidato a matéria de capa de alguma revista dedicada a imóveis e decorações, mas não era de todo ruim. A loja de Winifred Whitaker apesar de pequena era bem localizada e rendia um bom dinheiro que ajudava a pagar metade da mensalidade da escola onde Kaylee estudava. A outra metade vinha da bolsa de cinquenta por cento que a menina conseguira por ter entrado na equipe de vôlei.

- Eu digo que você precisa de um namorado. - brincou e a garota fez uma careta.

- E você precisa trabalhar. - o cortou, mudando prontamente de assunto. Jacob gargalhou. Kaylee era uma adolescente fora dos padrões. Enquanto a maioria das meninas da idade dela sonhavam com o príncipe encantado, ela preferia descontar suas frustrações em uma bola de couro, navegar na internet, ouvir suas músicas favoritas a volumes altos e ajudar a tia na loja exotérica.

- Você também. - retrucou, pegando de dentro da caixa de ferramentas a catraca que começara toda aquela discussão e voltando a se deitar no carrinho, deslizando para baixo do motor do veículo no qual trabalhava.

- O jantar é às oito! - Kaylee informou ao inclinar-se sobre o motor, divisando Jacob entre as brechas oferecidas pela máquina.

- Como sempre. - o rapaz fez um gesto de dispensa para ela e a menina sorriu diante da familiaridade da resposta e como a mesma tornou-se uma rotina entre eles. Duas semanas adaptaram o jovem Black a vida das Whitaker e ambas sentiam que poderiam transformar essas semanas em outras mais.

 

oOo

 

O sino sobre a porta de entrada da loja soou, fazendo Kaylee soltar a frase automaticamente sem nem ao menos erguer os olhos para saber quem era o novo visitante.

- Já fechamos. - informou a garota enquanto apertava com a ponta do lápis alguns números na máquina de calcular e depois anotava as respostas em um bloco de papel sobre o balcão.

- Quantas vezes eu precisarei repetir para trancar esta porta quando encerrar o expediente? - a voz de Jacob soou contrariada pela loja e a garota apenas ergueu os olhos castanho claros, mirando através de algumas mechas soltas de seu cabelo o adolescente parado entre duas estantes de cristais e velas aromáticas. Não que uma porta trancada fosse parar um vampiro, ponderou o transmorfo, mas pararia outras criaturas menos sobrenaturais.

- Eu esqueci. - a jovem deu de ombros. - O que faz aqui?

- Onde está Winifred?

- Teve que sair mais cedo. - Jacob franziu o cenho. A situação parecia se repetir, como há um mês, quando conheceu Kaylee. Winifred saíra mais cedo, deixando a menina sozinha para fechar o caixa e a loja e a mesma fora atacada por um vampiro e sobrevivera milagrosamente. - Ainda não me disse o que faz aqui.

- Vim te escoltar para casa. - respondeu displicente, ganhando um longo olhar descrente da garota.

- Se despencou até aqui apenas para bancar o meu segurança? - a morena riu. - Olha só Jacob, se fosse uma das meninas frescas da minha escola eu até que ficaria lisonjeada com a oferta e o cavalheirismo e tudo mais, mas dispenso. Sei me cuidar.

- Claro que sabe. Creio que não se lembra então como nos conhecemos, não é mesmo? Tarde da noite, você ficou até tarde fechando o caixa e Winifred a deixou sozinha e quando estava indo para casa foi subitamente atacada.

- Estamos em Chicago. Coisas estranhas acontecem nas horas mais estranhas.

- A polícia não descobriu o que aconteceu Kaylee. Não encontraram o seu agressor e ele ainda pode estar solto por aí! - Jacob protestou apenas por protestar. A polícia bateu na casa das Whitaker depois da fuga de Kaylee do hospital, fizeram mais perguntas, obrigaram a garota a se compromissar a retornar ao hospital para uma revisão e garantir que tudo estava bem, mas nada mais descobriram sobre o incidente. E não descobririam, já que não sobrou cinzas do vampiro para contar história. Black havia garantido isto.

- Mas nada vai me acontecer, não é mesmo? Porque você está aqui para me proteger do mundo grande e malvado. - o nativo rolou os olhos diante da piadinha cretina.

- Não estarei aqui para sempre. - retrucou, aproximando-se do balcão e apoiando-se no mesmo. Kaylee parou o lápis a poucos milímetros acima do botão da calculadora, congelando os seus movimentos.

- Pretende voltar para Forks? - perguntou indiferente mas Jacob pôde perceber um leve tremular na voz dela.

- Se eu disser que sim? - o lápis desceu com mais força que o necessário sobre o botão, causando um som estalado.

- Boa viagem. - foi a resposta seca.

- Vou ter que voltar um dia, Kaylee. Não posso fugir para sempre. - a menina ergueu os olhos para encará-lo.

- Por quê?

- Tenho responsabilidades em Forks. Tenho uma família lá.

- Pelo que sei só há seu pai em Forks.

- E minha tribo. Meus... - iria completar com irmãos, mas seria complicado explicar para a garota todo o conceito de laços fraternos que a alcateia trazia ao integrar-se na mesma. Afinal, ela não sabia que ele se transformava em um lobo gigante.

- Não pensou nisto quando deu as costas a tudo e foi embora só com a roupa do corpo.

- Verdade, não pensei. Mas no último mês, com a cabeça mais fria, tive tempo para pensar e chegar a conclusão que mais cedo ou mais tarde precisarei voltar.

- Pensei que estivesse bem aqui. - ela desviou o olhar, voltando para o bloco e anotando algo qualquer no mesmo. Jacob suspirou.

- Estou.

- Então?

- É...

- Complicado?

- Tirou as palavras da minha boca. - sorriu marotamente, algo que não foi retribuído com outro sorriso, mas sim com um abrir de gaveta e com Kaylee atirando o bloco e a calculadora dentro da mesma com violência e a fechando com um estalo.

- Você quer é voltar correndo como um cãozinho fiel para ver aquela garota, isso sim! - resmungou, indo até a cadeira onde largara a sua mochila assim que chegou na loja mais cedo, recolhendo o casaco que estava sobre ela e o vestindo bruscamente.

- Aquela garota se chama Bella, se você quer saber, e há esta altura ela está muito bem casada e provavelmente feliz em sua lua-de-mel. - respondeu em um tom azedo, não querendo imaginar como andava o casalzinho feliz. No último mês havia vivido bem sem ter tido um único pensamento sobre o sangue-suga e Bella que neste momento deveria estar entrando para o clube dos mortos vivos. - E se quer saber, não creio que irei encontrá-la em Forks quando voltar. Acho que eles iam se mudar logo depois do casamento.

- Tanto faz. - Kaylee deu de ombros, jogando a mochila nas costas e pegando as chaves da loja, apagando as luzes atrás do balcão de atendimento e abandonando o mesmo, passando por Jacob e seguindo em direção a saída.

- Você pode me visitar em La Push.

- Claro! Porque nós simplesmente viveremos em bairros vizinhos. Olha só que prático. Se eu tiver a fim de te ver pego um ônibus e em dez minutos estou na sua reserva.

- Está sendo infantil.

- Sou adolescente, estou no meu direito. - abriu a porta bruscamente e foi prontamente recebida pelo vento gelado da noite de Chicago.

- No seu direito de ser irritante? Com certeza. - a porta da loja bateu atrás de Jacob assim que ele saiu e Kaylee virou-se para trancá-la, enrolando-se com o molho de chaves por causa de sua irritação que fazia as suas mãos tremerem de raiva.

- Vá se ferrar vira-lata. - murmurou atravessada e Black soltou uma risada seca. Vira-lata era um modo que Kaylee costumava chamá-lo pois dizia que a tia e ela haviam o abrigado como se tivessem recolhido um cachorro abandonado na rua. O problema era que ela tinha chegado bem perto da verdade. Só que ele era um lobo perdido, não um cachorro.

- Ei... - Jacob passou um braço pelos ombros dela assim que Kaylee conseguiu, depois da terceira tentativa, finalmente trancar a porta da loja. - Eu disse que voltaria para Forks, mas não disse que faria isto amanhã. - a puxou para junto do seu corpo, dividindo o seu calor acima do normal com a menina.

- Eu sei... - a jovem abaixou a cabeça e soltou um longo suspiro. - Mas eu vou sentir a sua falta Jake. - Black sorriu, deslizando os dedos por entre uma mecha cacheada do cabelo dela em um gesto afetuoso. - Você se tornou parte da minha família no último mês. - continuou em um tom melancólico. Jacob não sabia ao certo o que havia acontecido com os pais de Kaylee, Winifred comentara uma vez que os mesmos haviam desaparecido quando a menina tinha quatro anos, a deixando sob os cuidados da mulher. Se estavam mortos ou vivos Winnie não sabia dizer ou preferia não dizer e Jacob não tocava no assunto com Kaylee pois sentia que era algo delicado e do qual ela não gostava de mencionar.

- E você parte da minha. - respondeu, a apertando mais contra o seu corpo em uma abraço fraterno. Talvez deixar Chicago fosse lhe doer mais do que foi deixar Forks.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinys Play" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.