O outono do norte se caracteriza por anteceder o inverno. As colheitas são consequência da produção agrícola já madura e a chuva se torna uma vigorosa aliada do tempo.

Transpasso toda a multidão que preenche a discoteca. As luzes psicodélicas acompanham o ritmo dos anos 80 que ressoa por toda a pista de dança. Me esbarro em uma Marilyn Monroe, um Marlon Brandon e miro com os olhos, ao parar, um Elvis cantando no palco. Uma mistura de épocas que me faz sentir completamente deslocada.

A meia arrastão que vestira, numa tentativa de fantasiar-me como uma underground, já se rasgava contra minhas pernas e coxas, fazendo uma pressão ardente junto com o solo do salto alto que se chocava contra meus dedos. Informação errada. Eu estava na festa errada.

─Perdida? Perguntou uma garota. Cabelos castanhos, orbes verdes. Seu rosto quadrado entrava em simetria com os lábios carnudos e os olhos escancarados. A pele pálida como a neve.

─Não sou a única. Parece que não estamos numa festa de halloween, conda-drácula. Respondi para ela no mesmo nível. No mesmo instante ela ficou calada, dando as costas enquanto se esfregava pelas multidões.

Ainda era capaz de sentir pena dela. Poderia ignorar este sentimento, mas de alguma forma ele ainda se apegava a mim, como alguns fiapos de fio que criavam um mínimo de empatia entre mim e ela. As memórias faziam isso. Tenho de permanecer firme até mesmo no mais interior que possa ser, e lembrar-me de que teria inimigos de uma forma ou de outra.

Bastou mesmo segundos para esquecer-me do pingo de compaixão. A Dracula ria junto de suas amigas, como se tivesse ensinado alguma lição para mim. Obviamente, eu não estava no lugar errado por coincidência. Elas me colocaram ali. Usurparam meu convite. Já deveria ter desconfiado.