Verdades, Arrependimento e Armaduras Renascidas:

Estamos aos pés da estátua de Atena, onde nada mais restara além de seu sangue. Seiya cai de joelhos, aos prantos, os outros estavam ao seu lado, mas eu não conseguia fazer nada além de olhar fixo para o chão.

- Droga... Não chegamos a tempo... Que espécie de Cavaleiros nós somos? Não pudemos fazer nada para impedir sua morte... Nada...

- Seiya...

- Tem razão – diz Shiryu – Nunca me senti tão impotente como agora.

- Vocês já acabaram com a choradeira?

A voz imponente e firme vinha da entrada do templo, para onde voltamos rapidamente nossos olhares.

- Atena está morta... Mas a verdadeira guerra está apenas no começo...

Era alto, devia ter quase 1,90m, magro e forte, pose ereta, cabeça erguida. Os olhos púrpuras e profundos eram como um enigma, bem desenhados, traziam, sobre eles, as mesmas marcas de Mu, como costume do povo de Lemuria. Os cabelos caiam-lhe revoltosos até abaixo dos quadris, de um verde musgo ímpar e belo.

- Quem é você?

- Essa voz... Shion! – exclama Shiryu, antes de nos explicar quem era aquele homem.

- Já que estão tão certos de que não há mais esperanças, saiam daqui!

- Como é? – exclama Seiya, ainda ressentido.

- Como pode dizer isso, se foi você quem invadiu este Santuário para matar Atena? – censura Shun.

- Vamos vingar Atena! – afirma Hyoga.

Avançamos contra ele, mas nem os cinco juntos são suficientes para tirar sua calma. Ele apenas ergue os braços, e uma grande energia nos atira longe.

- Acalmem-se, crianças! – e aproximando-se depois – Acho que já é hora de vocês saberem o verdadeiro propósito da morte de Atena, e de Shaka, assim como a verdade sobre nós, que voltamos como espectros.

Ele ajoelha-se diante da poça de sangue, pondo suas mão sobre ela. De seus olhos brotam lágrimas, que nos deixam cada vez mais confusos. Estava contra nós, ou do nosso lado?

- Então, Shion, é nosso inimigo ou aliado? Responda!

- Já não disse para se acalmarem? Vocês realmente acham que qualquer um de nós se aliaria a Hades?

- Como é? – Seiya não sabe mais o que pensar.

- Você é surdo? Nós somos Cavaleiros de Atena, jamais a mataríamos, nem em troca da vida eterna! Precisávamos chegar a Atena por causa disto...

Ele ergue as mãos, banhadas de sangue, e o lança contra a estátua. Um imenso brilho emana dela, fazendo-a desaparecer, ou é o que parece. Ela encolhera, estava aos nossos pés, uma estatueta brilhante que cabia em nossas mãos.

- Esta é a armadura sagrada de Atena, que volta à vida depois de 243 anos. Assim como seus trajes precisam de sangue para reviver, a armadura de Atena precisa do sangue dela, mas só eu sabia disso. Diante de Hades, Atena não tem como vencer sem sua armadura, temos que entregá-la para Saori.

Olhei para ele, com a voz trêmula diante das revelações, meu coração começava a doer.

- Shion... Quer dizer que... Quando vieram para cá...

- Hades sabia que teríamos facilidade para atravessar as doze casas, por isso, quando estávamos mortos, ele nos propôs levarmos a ele a cabeça de Atena e, em troca, receberíamos a vida eterna. Nós fingimos aceitar sua proposta, para que pudéssemos vir ao Santuário avisar Atena sobre sua armadura. Mas tínhamos que fazer de tudo para que acreditassem que éramos traidores. Os espectros nos vigiavam, e nos eliminariam se descobrissem nossas verdadeiras intenções. Tudo estaria perdido se isso acontecesse, por isso, Saga, Shura, Camus, eles se utilizaram até mesmo da técnica proibida por Atena. Vocês conseguem imaginar o que eles sentiram neste momento?

"Você nos traiu! Abandonou a gente!", "um lacaio de Hades", "não é mais meu mestre, não passa de um covarde!", "Não me dê ordens Camus!" Aquelas palavras ecoando na minha cabeça... Não fui capaz de entender, e só o fiz sofrer ainda mais com minha falta de sentimentos. Podia sentir seu rosto em meu punho, seus cabelos entre meus dedos. Apoiei-me de costas ao pilar.

- Que foi que eu fiz...? Que foi que eu disse...? Ele nunca nos traiu, e eu xinguei ele daquele jeito... Eu sou um monstro...

- Monstro? Isso só mostra o quanto você o admira... Mas não muda o quanto o arrasou. Imagino-me ouvindo tais palavras pela voz de Mu... Camus é mesmo muito forte ao controlar os próprios sentimentos.

- E agora... O que a gente faz? – pergunta Seiya, ainda perdido.

- Agora...? Como Grande Mestre eu ordeno, partam imediatamente para o castelo de Hades e matem o desgraçado!

- O que?

- Eu já disse, a verdadeira batalha começa agora. Atena e Shaka não estão fora de combate...

- Hã? Como assim?

Mas antes que ele possa tentar explicar, uma dor intensa atravessa seu corpo, e ele cai de joelhos.

- Shion! O que aconteceu?

- As doze horas de vida que Hades nos deu estão acabando... Tenho pouco tempo antes que meu corpo se torne cinzas... Mas antes, tenho algo mais a fazer. – disse, erguendo mais uma vez as mãos cheias de sangue.

O sangue de Atena é lançado em nossa direção, respingando em nossas armaduras. Um poderoso brilho toma conta delas, dando-lhes um desenho novo, completamente restauradas, eram ainda mais próximas em poder das armaduras douradas. Tínhamos agora que ir para o castelo de Hades, seguindo o rastro dos cosmos deixados por Mu, Milo e Aiolia. Shion volta a sofrer com o fim próximo, mas não aceita nossa ajuda.

- Não se preocupem comigo... – e estendendo a armadura para Seiya – levem-na para Saori. Eu a deixo em suas mãos, jovens defensores de Atena.

Antes que eu partisse, porém, ele se põe novamente de pé, olhando para mim, os outros já haviam seguido. Aproxima-se, levanta meu queixo com o indicador, como que para ver melhor meu rosto, parece preocupado.

- Uma bela e delicada criança como você... Lutando contra aqueles imundos espectros... Seu amigo parecia preocupado.

- Amigo?

- O Cisne.

- Não sou tão delicada quanto pareço, o Tigre Dentes-de-sabre representa a coragem e força de espírito. – e dando-lhe as costas, mas ainda olhando para ele, antes de partir – Além disso, tenho que me redimir dos terríveis atos e palavras que tive há pouco menos de uma hora.

- Como cobra a própria honra e força espiritual essa garota que você escolheu, Anany... – diz, pouco depois de minha partida.

Está a olhar o Santuário, que se desmoronava sem o cosmo de Atena, quando uma voz conhecida e amiga soa no silêncio da madrugada.

- Então... os Cavaleiros de bronze acabaram indo para aquele lugar.

- Eu sinto muito...

- Não há como detê-los, agora, tudo depende do Arayashiki...

Eles sabiam que deveríamos alcançar um cosmo como o deles, ou ainda além. Dohko, porém, acreditava que, depois de tantas batalhas e milagres que conseguíramos, nem mesmo o Arayashiki era impossível. Nós não sabíamos ainda de nada. O que seria, afinal, "Arayashiki"? Qual era o significado desta última palavra, deixada por Shaka?

- Ah... Dohko, eu gostaria de ter mais tempo para podermos conversar.

- Por que a pressa? Nós nos encontraremos em breve.

- Tem razão... Já esperei por 243 anos... não há pressa.

Dohko sentara-se nos escombros, de costas para o amigo e na frente dele. Sem olhar para trás, apenas baixou a cabeça ao sentir que Shion desaparecia por completo, deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto. "Até nos encontrarmos de novo... Adeus, Amigo". Levantou-se, olhando para o lado.

- Vamos, Kanon...

- Às suas ordens.

Um último brilho do cosmo de Shion paira no ar, e pousa sobre a palma da mão de Dohko, que com olhar sereno cerra o punho, guardando-o para si.