O Jardim escrita por Tynn


Capítulo 1
Capítulo Único




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A tarde estava tranqüila e ensolarada quando eu passei pelos portões que dava para a o maravilhoso jardim da minha avó. Caminhei até a porta principal da casa e depois de alguns minutos a chamando percebi que não havia ninguém lá. Quando ela viajou? Talvez tenha resolvido passar o fim de semana na casa dos meus tios.

 

Olhei ao redor e vi algumas plantas que ela cuidava há anos. O seu jardim era enorme e de dar inveja para aquelas pessoas que gostavam do verde. Acenei ao jardineiro que aguava uma samambaia muito tímida, ela deveria ter nascido há poucos dias.

 

Logo notei uma roseira exuberante, com rosas vermelhas e lindas que pareciam se harmonizar perfeitamente com o verde intenso de suas folhas. A última vez que eu tinha vindo para essa casa foi no mês passado e eu, na época, não tinha notado aquela roseira. Inalei o cheiro doce e agradável que saia de suas rosas após dar alguns passos e ficar mais perto da planta.

 

Comecei a aproximar a minha mão direita de uma de suas rosas quando vi alguma coisa se mexendo dentro daquele emaranhado de folhas e flores. De início me assustei, mas deduzi que seria algum passarinho perdido, me acalmando logo em seguida. Contudo aquela agitação ficava cada vez mais intensa e aquilo se aproximou de mim repentinamente. No susto eu tentei puxar a minha mão, entretanto não fui rápido o suficiente. Um galho repleto de espinhos afiadíssimos se enrolou em meu braço. A cada segundo que se passava o galho ia se apoderando mais e mais de meu braço, cortando-o várias vezes. Aqueles espinhos rasgavam a minha pele como se ela fosse tão frágil quando um pedaço de papel.

 

Meus olhos não conseguiram conter as lágrimas de dor que saíam deles. O sangue esborrado pelo braço manchava a minha camisa branca, deixando-a em um tom avermelhado. Aquele galho estava me puxando para dentro da roseira e o lado direito do meu rosto já se encontrava molhado do sangue proveniente do meu próprio rosto cortado pelos espinhos.

 

Nesse momento eu tive a sensação de que esse seria o meu fim.

 

Olhei na direção do jardineiro, na esperança de que ele pudesse me ajudar de alguma forma. O cheiro exalado pela rosa era uma espécie de sonífero que estava me deixando sonolento a cada instante. Não tive forças para gritar.

 

Já acreditava que a morte viria me visita em breve quando eu percebi aquele homem atrás de mim. O jardineiro segurava uma tesoura de jardinagem, grande o suficiente para cortar o meu braço em apenas um movimento. Meu coração bateu acelerado quando eu vi o metal gelado da tesoura passar ao lado do meu rosto, a apenas alguns centímetros de distância. Uma parte da minha face já estava deformada por causa dos espinhos e a outra se apavorava com a idéia de poder ser a próxima a ficar daquele jeito.

 

Fechei os olhos ao escutar a tesoura se fechando ao meu lado e então parei de sentir aquela dor que me consumia por dentro. Abri os olhos com receio e vi que o jardineiro tinha cortado o galho que me puxara e agora me levava até uma grande e robusta mangueira. Ele me deixou lá depois de me carrega nos braços, embaixo das folhas da árvore de manga. Eu estava descansando encostado no tronco da árvore quando ele iniciou a conversa.

 

- Você está bem? – Perguntou. Os seus olhos aflitos fitaram o meu braço direito coberto de sangue. Os ferimentos já não podiam ser mais vistos por causa do sangue.

 

- Pelo menos eu acho que ainda estou vivo – avaliei, satisfeito, mas ao mesmo tempo surpreso, por conseguir respirar depois de tanta dor.

 

- Ainda bem... A roseira já se alimentou ontem e seria um desperdício você ser servido como sobremesa. – Ele falou em tom irônico e se afastou de mim, mudando o seu olhar de preocupação para alívio – Mas ela te deixou vivo, isso que importa. Sabe, a mangueira odeia cadáveres em putrefação.

 

Ele sorriu maliciosamente para mim e então senti uma pontada na minha coluna. Cuspi uma grande poça de sangue assim que vi aquela raiz seca ultrapassar o meu peito. A mangueira estava se alimentando de mim. Eu pude senti cada músculo, cada nervo e célula que formava o meu corpo ser sugada pela raiz da planta que se fortalecia cada vez mais. O jardineiro via tudo pacientemente. Ele parecia admirar o meu sofrimento. Em poucos segundos eu senti o meu corpo ser perfurado por outras raízes da mangueira. Percebi então que não havia mais por que tentar lutar contra a única coisa inevitável da vida – a morte.

 

Nesse momento eu tive a certeza de que esse era o meu fim.


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