Como uma pessoa podia mudar tanto assim a vida de outra em apenas cinco dias?

Esse era o enigma mais marcante que cercava a minha vida ultimamente. Jackson Johnson, vulgo astro hollywoodiano com um toque a lá britânico, de não sei quantos metros de altura com seus cabelos negros arrepiados e seus olhos claros hipnotizantes. Aquele ser só poderia ser definido como a perfeição envolta na perdição. Ele era um carma que eu não desejaria para ninguém. Não que fosse ruim ser cercada por ele, na verdade, mesmo que me doesse no fundo da minha alma e destruísse meu fígado de uma maneira absurda, eu tinha que admitir que os míseros cinco dias que passara com ele fora os mais interessantes de toda a minha curta e inútil vida.

Nesse momento eu já me encontrava sentada em uma das últimas cadeiras com meu moletom à postos e com a cabeça baixa. A sala não estava muito cheia no momento em que cheguei, mas, passados alguns minutos a mesma tornara-se imensamente cheia. Conseguia ouvir pessoas cochichando de um modo nada discreto sobre a minha possível reabilitação que agora ía para as ruínas já que Jackson deixara de andar junto do fracasso. É, era assim mesmo que eles diziam e nem se abalavam com o fato de eu estar escutando, pra falar a verdade, acredito que eles dissessem aquilo num tom audível propositalmente, apenas para ver minha reação.

Bando de tolos. Como se a existência deles e o que os mesmos pensassem de mim fosse algo a ser levado em conta.

Senti uma movimentação estranha ao meu lado e um odor facilmente reconhecido por mim. Minha cabeça encontrava-se recostada sobre meus braços que estavam em cima da mesa. Eu tinha ciencia de quem estava ao meu lado, mas não tinha coragem e muito menos vontade de levantar minha cabeça e olhar em sua direção fingindo que não me importava com sua presença, como acontecera no dia em que ele chegara.

- Eu sei que você sabe que eu estou aqui. - ele disse de modo calmo.

- Que bom para você, senhor sabe tudo. - eu continuava com a cabeça baixa. - Agora será que dá pra você me deixar em paz? Achei que você tinha entendido o recado da última vez que conversamos. - assim que terminei levantei meu rosto e olhei diretamente nos seus olhos. - Não foi você mesmo que disse que não me atormentaria mais? - a ironia era pesadamente notada em minhas palavras. Ele respirou fundo.

- Pensei que você queria que fosse assim.

- E quem disse que eu não quero? - minhas sobrancelhas estavam arqueadas. Ele respirou fundo outra vez. Eu queria que ele saísse dali imediatamente, antes que ele conseguisse me fazer desfalecer. Era incrível o poder que aquele ser conseguia exercer sobre as pessoas. Principalmente sobre mim.

- Não é o que parece. - o olhei sem entender. - Bem... Do jeito que você olhou para mim no refeitório e como voltou a se portar...

- Olha só, quem você pensa que é? Não é como se o mundo girasse em torno de você. - o interrompi falando em um tom um pouco mais alto, atraindo a atenção de curiosos presentes na sala de aula. Baixei os olhos e o tom no mesmo instante. - Será que você poderia fazer o favor de se retirar do meu lado? Eu, sinceramente, não quero me meter em problemas com sua querida Sharon. Se antes de vocês estarem juntos era já me pertubava, imagine agora. - disse sem ânimo algum e sem olhar em seus olhos, concentrada apenas em uma pulseira que, por um motivo que eu não saberia explicar, havia decidido colocar nessa manhã.

- Então... - ele começou e senti um ar extremamente debochado em seu tom de voz. - Quer dizer que agora a temida Hayley Evans tem medo da Sharon. - ele riu ironicamente. - Estou aqui a pouco tempo, mas pensei que não sobreviveria para presenciar esse momento. - respirei fundo cerrando minhas mãos em punho.

- Eu não tenho medo dela. - disse secamente. Ele olhou em minha direção com as sobrancelhas arqueadas como se não acreditasse no que acabara de ouvir. - Eu só quero que vá embora... - comecei lentamente, quase num sussuro. - Some da minha frente. - minha voz quase se perdeu na última frase. Ele olhou novamente em minha direção como se sentisse pena de mim e quis dar um soco em seu rosto perfeitamente moldado por isso. Eu odiava que me olhassem daquele modo, não era uma pobre coitada como para precisar da pena de pessoas estupidamente egocêntricas e mimadas.

- Se é isso que você quer...

- Sim, é isso que eu quero. - o interrompi decidida. Ele nada mais disse, apenas levantou-se e marchou em direção à uma cadeira mais a frente, juntamente com alguns garotos de grande porte devidamente uniformizados, provavelmente do time de futebol ou basquete do colégio. 

Claro, agora, ele era popular e andava com a Sharon. Não poderia mais cercar qualquer um.