Eu tinha um visual meio estranho, não havia um estilo impresso, pelo menos não nas minhas calças de couro e minhas botas de combate. Ou ainda na minha camisa de banda. Não era ruim, uma vez que aqui faz frio, calças de couro esquentam. Mas é couro sintético. Eu sou contra matar animais para isso. Voltando a hoje, dia 28, é um dia triste, sim, porque eu tenho que criar uma musica para cantar no ano novo, sim, tudo isso em menos de um dia, para nós ensaiarmos. Dia vinte e seis, eu mandei uma carta para os meus pais. Ela me parecia meio melodramática, mas eu sou meio melodramática.

-Você já criou a musica? – Bill perguntou, entrando no meu quarto e me dando um beijo no rosto. Há alguns dias estamos assim, não que eu ligue, é bom. Mas eu ainda não confio nele totalmente.

-Claro – sorri irônica – porque eu sou o Flash e criei uma música em menos de CINCO HORAS – berrei exasperada.

-De vagar com a dor, coração – Tom ergueu as mãos para cima. Entrando no meu quarto.

-Qual o problema de vocês? Eu não entro assim no quarto seus – informei emburrada e os gêmeos riram.

-Sem melodramas – Bill disse rindo – mas agora é sério, Gustav e Georg irão viajar. Então, ferrou-se.

-Nem tudo está perdido. – eu sorri – eu sei tocar piano e o Tom um violão, você pode cantar.

-Qual a parte de, a senhora também irá cantar que você não entendeu? – Tom resmungou.

-Eu não canto bem – informei. – panacas.

-Ah ta, se você não canta bem, eu sou gay. – Tom disse irônico.

-Sonha – Bill disse e uma luz iluminou meu cérebro. – se eu não te conhecesse diria que você é retardada, mas já que eu te conheço. Qual a idéia que você esta tendo?

-Me da o meu violão – pedi ainda olhando para o nada, meio boba. Entregaram-me meu violão e eu comecei a melodia – Sonhe com tudo o que quiser a luz na terra ou no mar. Sonhe com um mundo de esperanças, sonhe com a luz na terra, sonhe com uma estrela amiga, sonhe com a luz no seu olhar. Para cada sonho, veja a esperança, o mundo melhor vai crescer um mundo melhor para viver. Para cada criança perdida, sonhe com um lar para viver. Um mundo mais colorido, a cada ano a esperança vai nascer. Veja a luz, nos olhos do mundo, veja a luz em cada esquina, veja a luz em cada guerra. Sonhe com um mundo de esperança. Onde estiver ela vai crescer. Um ano novo, um mundo novo, novas esperanças – tornei a voz mais forte e arranquei notas explosivas – sem guerras, sem armas, sem tristezas sem fim. Apenas sonhe com um mundo feliz, sem armas, com flores, nos jardins. Um ano novo que nasce apenas não o ameace.

-Isso foi... – Tom tentou achar a palavra – sentimental.

-É eu estou meio sentimental – dei de ombros – mas o que acharam.

-Bem a cara da mamãe – Bill respondeu sorrindo – que sorte que eu gravei – ele riu.

-ANNE – Simone berrou lá de baixo. E nós descemos, eu claro ergui as mãos em sinal de inocência.

-NÃO FUI EU – gritei. E Simone sorriu apontando para o outro lado. Onde ela estava, linda, loira, uma perfeita escultura, vestindo uma das minhas coleções mais discretas. – mãe?

-Anne – ela sorriu, ouvi o Tom engasgar atrás de mim, enquanto Simone empurrava a ele e ao Bill para a cozinha. Minha mãe tirou uma câmera fotográfica, sabe se lá de onde, e bateu uma foto minha, enquanto enxugava uma lágrima – eles crescem tão rápido. – ela bebeu?

-Mãe, você bebeu? – dei voz aos meus pensamentos. Ela parecia a Senhora Weasley de Harry Potter, só que bem mais magra, e loira.

-Estou bem – ela parou de chorar. – como você está?

-Bem – respondi – eu acho. Mãe o que faz aqui?

-Ora, em suas cartas você reclama que eu não vou ver você. E quando venho você briga comigo? – ela riu e me deu um abraço, cara, minha mãe é tão magra e tão forte. Eu estava sufocando, ai ela olhou para mim. – você está muito magra.

-Mãe, você leu minhas cartas? – ela sorriu.

-Todas elas, todos os dias, - ela sorriu – e também, eu consegui algumas fotos suas – ela sorriu e voltou a me sufocar, digo, abraçar – temos tanto para conversar. – aquilo devia ser um sonho. Eu acho que vou escrever minha vida. Afinal, esta mais para novela mexicana do que para vida mesmo.

Minha mãe havia me puxado para a cozinha, como se já soubesse chegar aqui. E aqui nós duas estamos conversando, minha mãe me trouxe bolo de chocolate. Sim o meu preferido.

-Ah, você era tão fofinha – é ela havia espalhado as minhas fotos de criança sobre a mesa. E adivinha quem entra na cozinha? Sim, os gêmeos. E sim, o Tom estava fazendo voz de criança enquanto falava isso. Ai céus. Mães nos envergonham tanto.

-É – minha mãe e Simone estão chorando, abraçadas. Eu mereço. – ela era a criança mais linda do mundo e agora ela é a mulher mais bonita. – ela soltou-se do abraço de Simone e apontou para os gêmeos. – qual de vocês está interessado no meu bebê?

-Mãe – exclamei surpresa.

-Não, Anne, eu tenho que saber – ela disse. – e então? – ai ela olhou bem para o Tom e depois para o Bill e ela esta encarando o Bill, que engoliu em seco. – quais suas ambições na vida?

-Eu.. Eu – o Bill começou a gaguejar.

-Mamãe – eu quase berrei – não responda Bill – me virei para encarar minha mãe que ainda fuzilava o Bill com os olhos – pelo amor de Deus mãe.

-Desculpe – ela pediu e olhou para o Bill – é bom que você não a machuque. Ou você vai ver a fúria de uma Shametizon.

-Pelo menos nós descobrimos para quem a Annabolica* puxou – Tom deu de ombros – estava ficando preocupado.

-Vai catar coquinho no teu narizinho – disse para ele mostrando a língua. – mãe, é sério, temos que conversar.

-Tudo bem, eu já esperava por isso – ela sorriu e eu a levei até meu quarto. – Simone mudou a cor – ela sorriu, arqueei a sobrancelha. Bizarro. – o que quer saber.

-Primeiro você me deixa lá naquela droga de internato, sem noticias, não estando nem ai para mim.

-Desculpe por isso – ela disse – mas é que quando me separei de seu pai, entramos em guerra para ficar com a sua guarda. E o juiz decidiu que teríamos, nós dois, que nos afastar de você, para que eles encolhessem. Todas as cartas que eu li que você mandou eu queria me matar, por não estar ao seu lado. – ela chorou – e ai, agora, eu consegui uma permissão especial para vir aqui te ver.

-Certo – eu murmurei confusa. – e os seus dez casamentos – ela riu.

-Eu nunca casei depois que me separei de seu pai – arqueei a sobrancelha para ela – é verdade, eu só fiz alguns favores para amigos, dizendo que havia casado. Mas era mentira. – ela sorriu e eu revirei os olhos, franzindo o nariz – oh, eu fiquei com tanta saudade de você – ela me puxou para um novo abraço e passamos à tarde assim, conversando sobre banalidades.

Era oito da noite e mamãe ia ficar hospedada aqui. Tom e Bill me intimaram a ir ensaiar com eles. Eu fui, mas só porque me ameaçaram com cócegas.

-Ganha um biscoito se adivinhar – eu disse para o Tom, depois que ele me perguntou se eu feliz de minha mãe estar aqui.

-Sim – ele disse e o Bill revirou os olhos – cadê meu biscoito?

-Você sabe que eu estava brincando sobre este negócio do biscoito, não sabe? – perguntei para ele, meio duvidosa.

-É? – ele perguntou chateado – mas eu queria o biscoito.

-TOM PELO AMOR DE DEUS – Bill berrou, atirando as mãos para cima – como você pode ser tão panaca?

-Diga-me uma coisa – pedi para o Bill – quantas vezes a Tia Simone derrubou o Tom no chão?

-Várias vezes – ele disse sorrindo.

-Oh, isso explica grandes coisas – sorri para o Bill e nós rimos da cara do Tom.

Ficamos a noite toda rindo, enquanto mamãe e Simone conversavam, Gordon ficou emburrado e disse que tínhamos que arrumar algum cara para falar com ele.

Era tão bom estar entre aqueles que eu amo. Acho que agora, eu estava realmente feliz.