Prelúdio escrita por CamillaVicter


Capítulo 13
Capítulo 13 - Mais Aulas!


Notas iniciais do capítulo

Gente! Taí mais um capítulo!!!
Pra quem eu tinha prometido postar ontem, I'm sorry!!
Eu achei que ia dar tempo, mas não deu. Eu tive que fazer um relatório de Bioquímica. MEGA CHATO!
Mas eu sobrevivi e aqui está ele! Aproveitem! ^^



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Capítulo XIII Mais aulas?!

 

Mais aulas?! — eu exclamei indignada.

Meu pai não me respondeu. Só lançou-me um olhar reprovador que me calou e me fez abaixar a cabeça envergonhada.

Será possível? Havia sérias chances de que minha cabeça explodisse com tanto esforço. Logo hoje — que minhas provas escolares finalmente acabaram e eu tinha a possibilidade de ter uma noite livre — meu pai resolvera aumentar a minha carga horária de aulas extraclasses.

Meu pai continuou em silêncio enquanto caminhávamos pela vila. Ele tinha feito isso a semana inteira. Todo dia, depois do almoço, ele me acompanhava até a salinha que Viktor tinha disponibilizado para que eu “testasse” meus poderes.

Hoje, em especial, minha primeira aula era justamente com ele.

Já estávamos no meio do caminho quando meu pai falou outra vez.

— Como foram suas provas, hoje?

Ihh... Tema perigoso! Ultimamente esse assunto acabava rumando para algo como: “Sem televisão esta noite, mocinha!” ou “Como você chegou a esse ponto? Está de castigo!”

Resolvi usar a técnica de notícias ruins primeiro... As boas serviriam para acalmá-lo!

— Não acho que eu fui muito bem na de Geografia... Nem na de História! As alternativas pareciam dizer a mesma... — me auto-interrompi quando meu pai lançou-me outro olhar furioso. Respirei fundo algumas vezes e parti para as notícias boas. — A de Matemática eu achei bem fácil! A de Biologia também! E a de Química eu tenho certeza que eu vou tirar um dez! — eu disse com um sorriso. Eu não precisava acrescentar que essa última parte só tinha sido possível pelo fato de que minhas habilidades de conversar mentalmente estavam razoavelmente boas: Klauss havia me ajudado a prova toda!

Meu pai coçou o queixo pensativo. Ele parecia estar cogitando qual seria a melhor resposta para me dar. Por fim, ele torceu os lábios em um sorriso cansado. Eu acho que ele optou por não brigar comigo dessa vez.

Contive o meu suspiro de alívio.

— Humm... — ele disse ainda distante. — Isso é bom... Eu acho! Que dia chega o seu boletim mesmo?

— Humm... — eu repeti avaliando suas reações. — Segunda-feira...

Ele abriu a boca pra me responder, mas algo (alguém, na verdade) o impediu de continuar.

— Baixinha! — exclamou a voz grave e animada do meu padrinho atrás de mim. Eu virei-me sorridente para encará-lo. — O Tio Vlad vai te dar aula hoje, é? Isso não é nada! Melhor do que isso é o assistente bonito, — ele fez um gesto mostrando o próprio corpo — charmoso — ele passou uma mão pelos cabelos em um movimento, sem dúvida nenhuma, encantador — e divertido que vai ajudar na aula hoje... Eu!

Como se eu não tivesse descoberto sozinha...

Eu olhei, pelo canto do olho, para o meu pai. Ele parecia ter se distraído com o Doug. Eu respirei aliviada por ele ter esquecido — mesmo que temporariamente — a história do meu boletim.

Eu olhei para frente, tentando parecer desatenta, mas não pude deixar de permitir que um sorriso escapasse em meu rosto.

Valeu, Doug! — eu acrescentei mentalmente para o meu padrinho. — Você me salvou de mais um sermão...

Eu pude ouvir sua risada trovejante ao meu lado e rezei mentalmente para que ele não me respondesse em voz alta.

Disponha, baixinha! — ele respondeu pretensiosamente.

Humpf! Metido! — eu acusei, mas fiquei sossegada por ele ter mantido o silêncio.

A essa altura, nós já havíamos chegado à sala. Meu pai estava em silêncio — pensativo —, mas a perspectiva parecia auspiciosa. Exceto por um assunto em particular. Um assunto envolvendo um lobisomem preocupado e receoso e uma lua cheia iminente e potencialmente perigosa. Um assunto que eu havia decidido esquecer durante a manhã para que eu pudesse me preocupar com outras coisas, mas que, como todo assunto inacabado, agora estava martelando de maneira incômoda na minha cabeça.

Foi só quando já estávamos dentro da sala e meu pai já havia guardado suas coisas e estava em posição para começar a aula que ele falou outra vez.

— Bom, Chris... Deixe-me revisar! — ele começou. — Seu irmão lhe ensinou a ler mentes e conversar entre nós mentalmente. — eu concordei com a cabeça. — Seu padrinho está lhe ensinando a apagar e forjar memórias, estou certo?

Eu afirmei novamente. Ele pareceu refletir por um segundo antes de continuar.

— Bom... Então eu vou lhe ensinar a bloquear sua mente... Seus pensamentos! — ele sorriu-me perigosamente antes de prosseguir. — Você precisa disso! Afinal... Eu ouvi tudo o que você falou com o seu padrinho lá fora...

 

**********

 

O resto da aula foi tranqüilo. Eu realmente não consegui bloquear a minha mente. Será que existe algo mais complicado? E, como se eu já não estivesse me saindo mal o suficiente, meu padrinho ficava, propositalmente, tentando desviar a minha atenção. Ele perturbou tanto que meu pai o colocou para fora quase que a pontapés.

A essa altura eu já estava exausta.

— Acho melhor a gente parar, não é mesmo? — perguntou meu pai avaliando minha expressão cansada enquanto eu jogava-me, ofegante, em uma cadeira.

— Eu concordo plenamente! — eu disse ainda ofegante.

O sorriso do meu pai se desfez na mesma hora e ele fechou a cara em uma expressão ao mesmo tempo mal-humorada e pensativa.

— Que foi? — eu perguntei preocupada. Desde que ele não voltasse para o assunto do meu boletim, eu ficaria feliz!

Ele levantou uma sobrancelha para mim.

— Humm... Eu esperava que você me dissesse que queria tentar mais uma vez, que você tinha tido uma premonição e que, por algum milagre divino, você conseguisse o que nós tentamos fazer à uma hora...

Eu dei um sorriso cansado para ele, incapaz de formular uma resposta coerente. Ele se sentou ao meu lado. Eu também queria que aquela aula sobrenatural com meu irmão se repetisse, mas... Eu não sou, nem de longe, tão poderosa — e milagrosa — quanto meu pai sonha.

Infelizmente...

— Huh... Pai? — eu hesitei. Será que voltaríamos para o assunto indesejado? Ele me olhou receosamente. Não valia a pena angustiá-lo à toa. Decidi arriscar. — Que aula nova é essa de que você me falou?

Sua expressão se suavizou levemente. Mesmo assim, uma ruga de preocupação ainda vincava sua testa.

— Ah... Isso! — ele exclamou. — Ah... Não será bem uma aula. Bom, não como as outras exatamente...

Eu franzi as sobrancelhas em uma expressão confusa. Não como as outras? Como assim?

— Hãm? — eu balbuciei.

Meu pai deixou escapar um riso baixinho.

— Humm... Eu acho que eu não me expliquei direito... — outra risada. — Essa aula, na verdade, será uma aula de... Humm... Teoria!

— Teoria? — eu exclamei fazendo uma careta. — Como as aulas do colégio? Ai, que horror!

Dessa vez quem franziu o cenho foi o meu pai.

— Ora... Mas, na verdade, essa aula teórica foi você quem pediu! — eu encarei-o confusa quando ele falou, e me assustei quando ele corou. Como se estivesse envergonhado... — Humm... Na verdade... Você não pediu a mim diretamente... Eu... Bom, eu... Eu ouvi você falando com seu irmão que...

Ele interrompeu-se quando viu a minha expressão. Meus olhos estavam quase completamente fechados e minha boca estava escancarada de indignação.

— Pára tudo! — eu falei. — Pai! Você... — eu sacudi a cabeça revoltada com minhas próprias palavras. — O senhor ouviu a nossa conversa? — eu levantei-me da cadeira sacudindo os braços vigorosamente de irritação. — Que absurdo! Não há mais privacidade! — eu parei voltando-me novamente para o meu pai, apontei um dedo ameaçadoramente para ele e falei devagar, destacando as palavras. — O que exatamente você ouviu?

Não me lembro de ter dito nada potencialmente preocupante ou possivelmente perigoso ao meu irmão — talvez ao Matthew, mas isso pode ser omitido —, porém não valia à pena arriscar. E se houvesse algo de que eu não me lembrava... Tremi só de pensar! Conhecendo o gênio do meu pai...

— Bloqueie sua mente, filha! — disse ele me sobressaltando. — Eu estou ouvindo tudo!

Eu arregalei os olhos de medo.

— C... Co... Como?

Ele fez uma careta de desgosto.

— Bloqueie, Chris! Pelo amor de Deus! — mais uma careta. — Eu realmente não quero ouvir o que você e o seu... Seu... — ele pareceu estar engasgado. Na verdade, ele estava se esforçando para dizer alguma coisa desagradável. — Seu... Namorado... Conversam! Credo!

— Ai, pai! Credo, que horror! — eu disse imitando a sua careta. — E eu também não quero que o senhor saiba o que nós conversamos! Ui!

— Então feche sua mente...

— Estou tentando!

Eu me joguei outra vez na cadeira ao lado de meu pai.

— Por que tem que ser tão difícil?

Ele deu uma risadinha.

— Por que é a sua primeira vez, Chris! Você não acreditou realmente que conseguiria na primeira tentativa, acreditou?

— Humm... Talvez... — eu disse especulando o que dizer. — Talvez se eu não tivesse tanta aula...

— Ah... Não vamos voltar a esse assunto, não é Chris? — ele perguntou com uma expressão cansada.

— Mas... Pai, você não acha que está exagerando um pouquinho?

— Eu só não quero que o que aconteceu em maio se repita... Eu quero que você esteja preparada para se defender quando for preciso!

Eu segurei-o pelos braços e encarei-o firmemente nos olhos.

— Pai... O que aconteceu daquela vez não vai se repetir nunca mais, entendeu? — eu disse. — Eu não sou mais a mesma bobinha que eu era quando eles me seqüestraram... Eu cresci!

— Eu sei, Chris! Mas... — ele respirou fundo algumas vezes lutando contra seus pensamentos. — Mas... Chris! Se... Essa noite... Por algum acaso do destino, você ficar sabendo que aconteceu alguma coisa com o Matthew...

Meu coração parou. Fui incapaz de ouvir o que quer que ele tenha dito depois. Fui incapaz de deixar que minha mente acreditasse em suas palavras. Fui incapaz de pensar racionalmente. Um medo gelado percorreu minha espinha, congelando-me por dentro.

Meu pai percebeu o que estava acontecendo comigo e pôs uma mão em meu ombro confortando-me. Obriguei-me a clarear minha mente.

— Relaxe, Chris... Foi só uma hipótese! — ele esperou que eu me acalmasse antes de continuar. — Mas... O que você faria?

Eu mantive a minha voz o mais tranqüila possível. Proibi meu cérebro de assimilar completamente a pergunta.

— Eu iria atrás dele... — eu percebi claramente a inflexão de dor em minha voz. Meu pai também.

— E se eu te trancasse?

— Eu fugiria! — agradeci mentalmente por minha voz ter saído clara e com um tom decidido, não deixando dúvidas a meu pai.

— Eu sei! — ele disse entristecido. Se ele não fosse um vampiro e não tivesse uma aparência incrivelmente jovem, eu diria que todo o estresse estava deixando marcas em seu rosto. Ele nunca me pareceu tão velho. — É por isso que eu me esforcei para que você aprendesse o máximo possível nessa semana! Eu quero que você esteja pronta!

— Eu sei, pai! Ob...

Ah! Eu percebi o que meu pai estava fazendo! Ele era bom nisso! Traidor!

Eu voltei a encará-lo furiosamente.

— Não mude de assunto, pai! — eu disse entredentes. — O que você ouviu?

— Relaxe, filha! Eu não ouvi nada potencialmente preocupante, nem possivelmente perigoso... — disse ele repetindo minhas palavras (meus pensamentos, na verdade!) — Você disse ao Dimitri que você estava em uma guerra e nem sabia pelo que lutava! Bom, eu ouvi e resolvi que já está na hora de você conhecer a nossa história! Toda! Desde o começo!

Ele fez uma pausa. Essa era minha nova aula? Ele ia me contar o motivo de toda essa briga?

— Essa é a sua nova aula! Digamos que seja uma aula de História dos Klazanks!

Eu sorri agradecida para ele.

— Adorei! Você é que vai me ensinar?

— Não! — ele riu quando eu fingi uma expressão de tristeza. — Anime-se! Você gosta bastante do seu novo professor! E ele veio da Austrália especialmente para te ensinar!

— Pai... Você não está falando do...

— Seu tio Adolpho, é claro! — falou uma voz grave e divertida atrás de mim. Eu virei-me assustada para encará-lo. — Eu mesmo! Em carne e osso!

Eu reconheci o vampiro irmão da minha mãe na mesma hora. Obviamente, ele não tinha mudado um fio de cabelo desde a última vez que eu o tinha visto. Os cabelos incrivelmente loiros eram os mesmos. Os grandes e expressivos olhos azuis também. O rosto pálido, característico dos vampiros, o diferia completamente de uma pessoa recém-chegada da Austrália. Mas sua aparência jovial — não mais que vinte e cinco anos — e os cabelos compridos lhe faziam parecer muito com um daqueles surfistas viciados em adrenalina.

— Nossa, tio! Quanto tempo! Que saudade! — eu disse levantando-me para abraçá-lo.

— Que é isso, Chris? Nem tem tanto tempo! — ele disse. — Faz o quê? Dois anos que eu estive aqui?

— Mais ou menos isso... — respondeu meu pai.

— Espere aí! — eu disse. — Tio! Você não estava ali fora coincidentemente na hora em que meu pai falou de você, não é mesmo?

A expressão divertida voltou ao seu rosto juvenil.

— Humm... Na verdade, eu já estava vindo para cá! Eu vou te dar uma aula, não é mesmo? — eu continuei encarando-o desconfiada. — Ok, ok! Eu ouvi seu pai falando de mim e esperei um pouquinho pra fazer uma entrada triunfal!

— Triunfal? — eu disse rindo.

— Pois é! Era para ser uma entrada emocionante... Teatral!

— Ok, ok! Chega de conversa, não é? — interrompeu meu pai antes que eu pudesse responder. — Já está na hora da sua aula! — disse-me ele batendo com um dedo no relógio em seu pulso.

 

**********

 

— Humm... Por onde eu começo, Chris?

— E eu é que sei? — eu disse ao Adolpho. — Você que é o historiador, não é?

— É! Tem razão! Humm... Vou começar do começo, então!

Eu ri.

— É uma boa idéia!

— Ok! Eu vou tentar resumir pra você, Chris. Seu pai quer que eu termine tudo em uma hora! — ele começou concentrado, coçando o queixo — Humm... Vejamos, você sabe como tudo começou?

Eu sacudi a cabeça negativamente. Adolpho deixou escapar um som lamuriante.

— Ihh... Já vi que isso vai ser difícil! Bom... Tudo começou por volta do décimo século depois de Cristo em um vilarejo no interior da Grã-Bretanha. O país ainda não era desenvolvido. Não era nem mesmo um país. Vivia-se a era medieval. E, como tudo naquela época, prevaleciam a fome e as doenças. Principalmente em um povoado sem importância como aquele. Seu nome era Klazen.

“Por volta do ano de novecentos e quarenta, aproximadamente, uma epidemia assolou o vilarejo. Não se descobriu até hoje que doença foi aquela, mas causou um estrago terrível e irreparável. Os idosos e as crianças foram os primeiros a sucumbir. E depois, irremediavelmente, os adultos. Eles foram morrendo todos até só restar uma pobre família de sapateiros. O pai, um homem já idoso, foi o primeiro. Seus cinco filhos homens e duas de suas moças foram em seguida. Por fim, só restou a infeliz mãe e sua filha mais velha.”

“A moça, Alice, estava grávida. A barriga avantajada dava-lhes a suspeita de que eram mais de um. O pai das crianças já há muito falecera por causa da doença. Não havia mais esperança para a moça.”

“Não existia nenhuma maneira de fugir da cidade. O rei, com medo de que a praga se espalhasse, fechou os portões do vilarejo de Klazen, impedindo a proliferação da doença.”

“Numa noite sombria de agosto, Alice deu a luz a quadrigêmeos. E morreu em seguida. Dando início a sina de todas as mães de criaturas mágicas seguintes a ela.”

“Elizabeth, mãe de Alice, mesmo triste com a morte de sua filha, e mesmo enfraquecida com a doença, cuidou dos bebês e deu a eles os nomes que a filha lhe pedira.”

“Eram quatro. Dois meninos e duas meninas. Alice chamou-os de Raphael, Lohainne, Maia e Viktor.”

— Pára tudo! — eu pedi com a cabeça rodando. — Você disse Viktor? Quer dizer... Viktor, o nosso Viktor? — ele concordou. — Quer dizer que os quatro líderes são, na verdade, os primeiros de nossa espécie?

— Exatamente, Chris... — respondeu-me Adolpho. — Vários fatores podem ser explicados com essa história inicial, não acha? As mulheres mágicas são inférteis porque, tecnicamente, somos todos parentes. É uma proteção genética. Você já deve ter ouvido falar que irmãos, primos, e etc. não podem ter filhos entre eles. Isso porque a criança nasceria com problemas genéticos, defeitos...

— Humm... Entendi! Mas... Eu não tenho nenhum problema, tenho?

— Não que a gente conheça! — ele disse. — Mas você pode ter algum problema desconhecido. Humm... Uma falha genética, talvez.

Eu fiquei em silêncio absorvendo suas palavras. Era coisa demais para a minha cabeça. Minha mente fervilhava com os novos conhecimentos. E minha língua coçava com a vontade de fazer outras perguntas.

— Te assustei? — ele me perguntou ansioso.

Eu sacudi a cabeça — mais para espantar os meus pensamentos do que para respondê-lo, na verdade.

— Não, não! Pode continuar...

— Humm... Deixe-me ver... Outro fator é o fato de que só mães humanas podem gerar filhos mágicos, com exceções é claro, e todas elas morrem no parto, assim como a precursora de nossa raça, Alice. O motivo de um pai vampiro, por exemplo, conceber uma criança... lobisomem, digamos, é porque, como descendemos do mesmo ancestral, carregamos o mesmo gene.

“Continuando... As crianças, inicialmente, pareceram normais. Elas conviveram pouco tempo com a avó, pois, quando elas tinham somente dez anos, a doença matou-a.”

“Naquela época, órfãos sofriam de sérios preconceitos e eram obrigados a trabalhar para sobreviver. Mas não levou muito tempo e os quatro completaram dezoito anos. E, bom, você já deve imaginar o que aconteceu.”

— Eles se transformaram... — eu concluí.

— Exatamente! Você já sabe, é claro, em que cada um deles se transformou, uma vez que eles mantêm a mesma forma até hoje. É claro que o espanto deles foi imediato, mas não demorou para que eles se acostumarem.”

“Depois de alguns anos vagando juntos, os irmãos começaram a se perguntar se eles estavam sozinhos no mundo. Foi aí que eles resolveram viajar pelo planeta em busca de alguém igual a eles. Nesse ponto, eles já tinham percebido que não envelheciam e que não poderiam permanecer em um mesmo lugar por muito tempo sem causar desconfiança.”

“Então os quatro se separaram e viajaram cada um para um lugar do mundo. Foi aí que começaram os problemas. Com a distância, cada um começou a criar raízes em determinados lugares. Eles perceberam que podiam ter filhos com humanos e começaram a criar suas próprias famílias.”

“Eles foram perdendo contato entre eles e, por fim, não havia mais nada que os ligassem uns aos outros. Viktor estabeleceu-se onde hoje é o Alaska e, assim como os outros criou sua própria família. Lohainne, no oeste da África. Ela e seus filhos podiam ser facilmente confundidos com os animais selvagens daquela região. Raphael fixou residência na Ásia, mais especificamente onde hoje é o Vietnã. Já as ninfas foram as mais isoladas. Isso porque Maia decidiu voltar à suas origens e permaneceu na solitária cidade de Klazen. Elas ficaram tão isoladas do resto do mundo que criaram a própria língua, o ninfês ou klazen. Hoje a cidade de Klazen é a única no mundo inabitada por humanos. Só ninfas e vampiros vivem lá.”

— Mas... Maia e Lohainne podiam engravidar?

— Não só podiam como ainda podem! A diferença é que elas só podem engravidar de humanos...

— Ah...

— Inicialmente eles não tiveram nenhum problema, já que só os quatro irmãos é que tinham filhos e eles só tinham filhos da sua própria espécie. Mas, seus filhos cresceram e eles começaram a ter filhos também. Acontece que seus netos transformavam-se em tipos diferentes de criaturas.

“Viktor ficou extremamente intrigado e... Um pouco preocupado também. Então ele resolveu procurar seus irmãos e descobrir se o mesmo tinha acontecido com eles. Ele tinha escutado lendas sobre lobisomens na África e foi até lá procurar por sua irmã.”

“Mas nada o preparou para o que ele iria encontrar lá.”

“Lohainne foi muito atenciosa. Ela também sentia muito a sua falta. E a lobisomem apresentou-o a seus filhos e netos. Foi aí que Viktor fraquejou. Naquela grande floresta esquecida da África, Viktor encontrou a moça mais linda que seus olhos já tinham visto. Hanna, filha de Lohainne.”

“Naquela época, certos valores ainda eram seguidos à risca. E enamorar-se por sua sobrinha era um ato imperdoável. Digno de uma passagem só de ida ao inferno.”

“Mas Hanna correspondeu o amor de seu tio e, cientes do erro que cometiam, começaram a namorar escondidos.”

“É claro que, como você já deve imaginar, nada saiu como o planejado. Tudo saiu tremendamente errado. Lohainne descobriu o namoro e lívida de fúria ordenou que Viktor nunca mais voltasse a chegar perto de sua filha. Mas Hanna, é claro, intercedeu declarando à mãe o amor pelo seu tio.”

“Aí é que surgiu o motivo para toda a guerra. Lohainne, cega de raiva, matou sua própria filha, como castigo aos dois.”

— Oh! — eu exclamei com as mãos na boca de espanto. — Ela matou a própria filha? Que horror!

— É! — concordou Adolpho com um olhar perdido. — Bom... Acho que você já deve imaginar o que aconteceu depois. Viktor ficou, é claro, incrivelmente irritado e jurou matar a própria irmã para vingar Hanna. Mas Lohainne tinha o apoio de seus filhos e, mesmo com os seus próprios, Viktor jamais conseguiria chegar até ela.

“Ele partiu, então, em busca de ajuda. Maia concordou, imediatamente, em ajudá-lo, considerando um completo absurdo o ato da irmã. Mas quando os dois chegaram até Raphael, já era tarde. Lohainne já o tinha convencido a ajudá-la.”

“Bom... Acho que é só! Você já sabe o que aconteceu em seguida. Uma guerra que se desenrola a centenas de anos.”

— Nossa! — eu exclamei boquiaberta.

Eu continuei paralisada onde eu estava mesmo depois que meu tio despediu-se e saiu da sala. Eu olhei pela janela pensativa e meus olhos encontraram os de Viktor. Ele sorriu-me daquele jeito tranqüilo dele e ficou claro que ele sabia por que eu o olhava.

Mas olhando-o agora, que eu já sabia de sua história, e colocando-me em seu lugar, eu não podia deixar de concordar que ele tinha motivos suficientes para ser o homem atormentado que ele era.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, mas eu qro dizer que estou profundamente abalada. Depois de extravasarem as minhas espectativas quando eu implorei por reviews, vocês simplesmente me esqueceram. O último capítulo só teve quatro reviews! Como assim?
Espero mais dessa vez!
Bjuxx



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