Kumo e Tsureteitte escrita por Shironeko-sama


Capítulo 1
Capítulo 1




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A fumaça libertada de seus lábios cor-de-carmim voou até onde conseguiu antes de sumir da visão do guitarrista. O cigarro entre os dedos da mão direita pousada em seu peito exalava um odor confortante, como se tentasse apagar todas as frustações das semanas anteriores. A cabeça coberta de fios vermelhos artificialmente coloridos pousava em seu braço esquerdo; estava completamente relaxado no chão da cobertura do prédio da gravadora, em seus poucos minutos de descanso.

Apertou os olhos negros orientais para o céu azul límpido, dando mais uma tragada em seu cigarro. Pensava em coisas banais do seu trabalho, como o que pretendiam gravar na próxima semana para o novo álbum. Sua parte estava quase concluída faltando alguns ajustes com o instrumento do amigo baterista.
Sentia um misto de satisfação e cansaço; estava esgotado. A semana não havia sido exatamente boa nem para ele, nem para os outros da banda. De alguma forma, tudo o que se propunham a fazer possuia algum motivo para dar errado, e sempre acontecia da pior forma possível.

Da última vez o carro do Líder teimou em quebrar no meio do trânsito, debaixo de uma chuva nada amigável, obrigando-os a adiar mais uma vez o início definitivo das novas gravações. E por algum motivo desconhecido, já que ninguém descobrira qual o problema do veículo e este resolveu voltar a funcionar dois dias depois.

Suspirou profundamente, deixando mais fumaça escapar dos lábios, fechando os olhos por alguns segundos e desenhando um sorriso decepcionado na bonita face. Pela primeira vez na vida, estava pensando que tudo isso não valia a pena. Estava pensando que todo seu esforço iria ser em vão quando o maldito "novo álbum do Dir en grey" finalmente chegasse às lojas e recebesse comentários em fóruns e sites pessoais recheados de frases como "não é mais como antes", "definitivamente degradante" ou a pior de todas, a que mais detestava: "Diru está uma merda".

Estava pronto para gritar um palavrão em alto e bom som para si mesmo e para quem quisesse ouvir, quando o barulho de passos lentos e firmes tornava-se mais alto, impedindo sua mente de continuar a amaldiçoar as pessoas que não reconheciam tanto o seu esforço como o dos amigos. Observou indiferente quando um Kaoru tranqüilo e aparentemente inabalável sentou próximo a ele, relaxando as costas na pequena mureta de proteção.

–Yo, Daisuke.

O ruivo fez apenas um movimento com a cabeça, sem encarar o guitarrista, parecendo mais interessado na fumaça que mais uma vez deixava seus pulmões do que no colega.

–Desde quando você fuma?

–Desde quando você é tão chato. -respondeu em tom áspero, ainda mirando o azul celeste acima de suas cabeças.

–Xii, já vi que tem alguém de mal humor hoje... -disse Kaoru num tom divertido, tentando arrancar algum sorriso daquela face carrancuda do amigo, mas sem sucesso.

–Você também não parece muito bem hoje... 'Cowru'. -riu da própria piada de mal gosto que a língua inglesa impunha a Niikura sem que ele pudesse fazer nada a respeito, limitando-se apenas a deixar um sorriso escárnio nascer em sua face.

–Se está assim por causa das notícias de ontem, melhor desencanar.

–Que notícias? -espantou-se um pouco por um segundo, levantando sutilmente a cabeça do apoio que criara com o braço, mirando um Kaoru com um sorriso sarcástico e um olhar mais ainda a observá-lo. –Ah, já sei. -retornara a sua posição inicial quando vira aquele brilhinho irritante nas íris castanhas do colega, que denunciava quando ele estava gostando de torturá-lo mesmo que por um segundo. –É nessa parte que você tira uma revista de algum lugar que eu não quero imaginar qual e me mostra uma reportagem provavelmente sensacionalista, certo?

–Quase. -seu sorriso praticamente desapareceu sob a curta cascata de fios castanhos que envolveu sua face quando apoiou a cabeça na quina da mureta.

–Acharam uma foto antiga sua... com o Shinya. E agora andam espalhando nessas revistas de fofoca musicais que vocês tiveram ou estão tendo um caso.

–Pff. -o guitarrista abafou uma risada, depositando as cinzas do cigarro quase esgotado no cinzeiro que permaneceu esquecido ao seu lado por um bom tempo. –Como se eu me importasse com isso, Kaoru. Deixe que falem o que quiserem. Desde que não interfiram no meu trabalho, quero que se danem.

–Você pode achar o que quiser -baixou a cabeça e mirou um Die já sentado, tragando o pouco que sobrara do cigarro, observando o cinzeiro desinteressado. –Mas eu não gosto disso.

O ruivo parou de fumar. Deixou o pequeno toco cair dentro das cinzas, sem se importar. Não sabia exatamente que expressão estava em sua face, temendo estar com uma tremenda cara de idiota. Mas que sentimento ele mesmo esperava ter agora diante de um Kaoru que mudara de humor de um segundo para outro, e aparentemente por causa de uma notícia sem fundamento dessas? Esboçou uma risada rápida, mais parecendo um suspiro, olhando para a face séria do amigo.

–O que?

–É, eu não gosto disso. -Kaoru soprou os próprios cabelos, fazendo-os flutuar por um momento, olhando distraído para os finos fios castanhos, rapidamente mudando de humor de novo, deixando Die completamente confuso. –Quero dizer, não quero mais escândalos de fãs na porta da gravadora ou dos shows, como aconteceu aquela vez com o Totchi.

–Uhum... Acho que entendi. -já retirava a pequena caixinha de prata que continha mais um maço de cigarro, e selecionou um deles, o encaixando perfeitamente nos lábios.

–E vê se pára de usar essas porcarias. Tá todo mundo almoçando lá embaixo, e se você me aparecer com esse cheiro insuportável por lá, juro que não respondo por mim.

Die observou um Kaoru parecendo extremamente irritado levantar-se e mencionar a porta que dava para as escadas, evitando nitidamente o olhar do amigo guitarrista.

–Do que 'cê tá falando? Você e o Kyo também fumam e nunca...

–Você vai almoçar ou não?

O guitarrista ruivo não teve tempo de responder. Quando se deu conta, o amigo já havia descido as escadas, batendo a porta em suas costas. Demorou mais alguns segundos para que Daisuke se levantasse com um suspiro, apanhando o cinzeiro ao seu lado e a caixinha de prata. Ouviu um barulho apapelado vindo do bolso de suas calças jeans, e lembrou-se o que ele representava. O retirou dos bolsos, o observando mais detalhadamente.

Sorriu, guardando-o no mesmo bolso e dirigindo-se para o almoço. Sabia que teria de tomar uma grande decisão.

E logo.


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