Umbra - Trilogia das Fases da Sombra escrita por Nina00


Capítulo 21
Maturidade




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O tempo passou e nós entramos em uma rotina feliz.


De manhã, depois que todos saiam, Esme me passava lições e ensinava as matérias básicas que normalmente se aprendia na escola. Agora eu conseguia agüentar pelo menos cinco horas antes de formigas parecerem morder minha bunda na cadeira. Eu havia descoberto que o jogo de xadrez era a única coisa capaz de me fazer esquecer que eu estava imóvel por algumas horas.


Depois disso eu me dirigia à casa dos Lobos (Esme às vezes me acompanhava), assim que chegávamos Jacob e Brady nos recebiam animadamente e Leah, depois de nos cumprimentar com um aceno se retirava. Nós combinávamos o que iríamos fazer na plantação e dividíamos as tarefas. Normalmente todos ficavam a meu lado me ensinando a fazer a coisa certa, em um ritmo lento para que eu pudesse aprender. Eu sentia que isso às vezes exasperava Brady, mas Jacob apenas lhe lançava um olhar de censura e os suspiros de impaciência paravam.


Então normalmente eu saía para caçar com os dois enquanto Esme voltava para a casa. Ela estava estudando Biologia por conta própria e passava horas por dia com um livro na mão e identificando e fotografando animais na propriedade, seu entretenimento era sereno e agradável, como tudo nela.


Eu não precisava me alimentar tanto quanto os lobos, ia junto com eles caçar geralmente para me divertir. Ou simplesmente apostávamos corrida ou alguma outra brincadeira inofensiva.


Voltava então para o casarão e Jacob sempre me acompanhava. Normalmente Esme estava cultivando seu jardim há esta hora e me recebia com um beijo na testa. Eu então subia para o meu quarto onde estavam guardados os livros que estivesse lendo no momento.


Eu tinha criado uma espécie de método para tentar não deixar pistas sobre minhas visitas até a biblioteca: retirava um monte de livros de uma vez (a biblioteca era realmente grande e quase ninguém costumava ficar ali, além de Esme e Carlisle) e depois de lê-los deixava-os ao ar livre, em um esconderijo, onde meu cheiro poderia se desvanecer naturalmente. Sabia, no entanto, que não poderia enganar meus avós e que eles provavelmente haviam decidido tentar ignorar o que exatamente eu estava lendo.


Três meses haviam se passado e agora eu aparentava ter quase seis anos, segundo Carlisle, porém poucas mudanças aconteceram fisicamente. Eu estava um pouco mais alta e talvez com um rosto em um formato menos arredondado e mais nada. Eu ainda deixava tia Alice e tia Rosalie me vestirem, sem reclamar, todas as manhãs. E depois havia as pequenas sessões de fotos, urg!


As duas ficavam realmente empolgadas com este tipo de coisa e entravam em uma espécie de transe encantado enquanto penteavam meus cabelos e me enfeitavam como uma boneca que respirava e tinha ocasionais pensamentos irritados. Geralmente tia Rose ficava responsável pelos cabelos e Tia Alice pelas roupas... Bella normalmente apenas esperava impaciente para ter alguns momentos comigo quando elas acabassem.


Ela era como eu, percebi que não ligava muito para esse tipo de coisa. Eu tinha a cada novo dia um medo maior de perder a paciência com elas e sempre era obrigada a forçar meu pensamento para outras coisas quando elas brincavam de me enfeitar. Não vou mentir, ás vezes ficava satisfeita com o resultado, mas normalmente... Arg!


Certa manhã destas, depois que as minhas tias tinham acabado de colocar em mim um vestido particularmente enfeitado eu me sentia tomada de um pensamento enfurecido, apesar de tentar fortemente não demonstrar. Assim que Bella veio me salvar e começamos a caminhar juntas, eu involuntariamente deixei escapar num murmúrio ríspido:


– Será que não vou terminar de crescer nunca?


Bella imediatamente estancou e eu senti o arrependimento me congelar.


Vinha ficando extremamente difícil manter meus hábitos monossilábicos com a cabeça geralmente lotada de pensamentos. Isso às vezes me sufocava tanto que eu comecei – confesso – a falar sozinha durante minhas tardes solitárias no quarto (eu ainda não sabia que isso era relacionado a pessoas com “parafuso solto”), esse hábito que agora eu maldizia foi o que me levou a deixar escapar a frase que me fazia suar levemente, enquanto eu analisava minha mãe ao meu lado.


Ela me olhou de um modo meio assustado por cima de minha pequena altura. Ela era a única que não se abaixava para falar comigo, o que me levou a pensar que era a pessoa que menos conseguia aceitar minha maturidade acelerada. Bem, tio Emmett também não se abaixava, mas eu sabia que era por que ele simplesmente sentia imenso prazer em ser grande.


De qualquer forma como ela deu sinais de vida (bem não exatamente “vida”, ela se mexeu, pelo menos...) eu achei que ela tinha ignorado o meu comentário.


Me levou pelo braço para a sala e parecia meio desesperada em encontrar Edward. Eu havia ficado mais tranqüila quando ela decidiu não me responder, mas agora eu entendia seu desespero. Ela tinha percebido alguma coisa e queria respostas dele.


Droga!Droga! – Aí vinha um piti estilo Bella dos bravos!


Quando os olhos de Edward finalmente nos encontraram ele ainda estava sorrindo de alguma coisa que conversava com Esme, porém sua expressão se tornou intrigada quando visualizou a de Bella e inevitavelmente passou para a minha. Naquele momento eu estava meio relutante, conflitando internamente sobre como Bella receberia a mais simples informação sobre minha personalidade já em tão avançada formação.


Uma calma resoluta, porém, finalmente apareceu. Eu tinha confiança em Bella. Ela era a mulher mais forte que eu conhecia, achava que talvez fosse a hora de ela começar a entender certas coisas.


Para falar a verdade eu não estava mais agüentando fingir o tempo todo ainda ser uma criança (milhares de frases e gestos direcionados para mim agora mais me irritavam do que divertiam, e eu tinha que segurar minha expressão firme quando Emmett soltava uma piada que eu entendia, mas não deveria entender), deduzi que se eles não soubessem pelo menos um pouco das coisas que eu já entendia eu iria explodir em algum momento e isso não seria nem um pouco maduro. E também não era como se eu fosse culpada pela coisa toda, o que eu podia fazer se minha mente estava “crescendo” mais rápido que meu corpo? Qualquer um iria querer aparentar ser fisicamente adulto para tentar consertar isso.


Então, tentando clarear rapidamente a minha mente, deixei uma frase clara o suficiente para parecer gritada :


“Ela deve saber. Todos devem saber.”


Edward ficou compenetrado e me assentiu levemente, Bella que havia seguido nosso olhar parecia preste a ter algum tipo de ataque. De repente aquilo tudo pareceu realmente engraçado, mas eu não seria tão desrespeitosa a ponto de rir de sua expressão. Então dei de ombros, andei até Esme e gritando um Bom Dia a Todos! Com minha voz aguda, por cima do ombro (que pude sentir como surpreendente) tentei puxa-la em direção a casa de Jacob.


Ela começou a me acompanhar lentamente e já havíamos alcançado à porta quando olhei para trás. Vi Edward e Carlisle sendo cercados por Bella e tia Rosalie que estava sendo segurada por tia Alice, esta tinha uma expressão de curiosidade divertida.


Tio Emmett e tio Jasper estavam juntos atrás delas, tio Emmett tentando não rir e tio Jasper com uma expressão de dúvida que deduzi ser por tentar compreender as emoções à sua volta.


Eu e Esme andávamos vagarosamente agora.


– Você e Carlisle já sabiam, não é? – compreendi repentinamente olhando para ela, que pareceu um pouco envergonhada.


– Sim.


Eu suspirei, eu realmente achei que meu método tinha sido infalível para esconder meus rastros na biblioteca.


– Carlisle sentiu meu cheiro em livros que não deveriam ser lidos por mim.


– Não o culpe, ele apenas ficou curioso e me perguntou se você havia ficado lá por muito tempo. Eu respondi que sim...


– Eu não culpo ele, nem você. – eu disse sorrindo, um tipo novo de sentimento quase me fazendo flutuar.


– Estavam apenas preocupados. Então Carlisle foi conversar com meu pai...- deduzi.


– Nós dois fomos. – ela assentiu.


Ela não parecia nem um pouco surpresa com nosso diálogo, que estava sendo o mais comprido que havíamos tido.


Um frio tomou conta de meu estômago. Eles saberiam cada um dos livros que eu tinha pegado? Então a compreensão de meus pensamentos deveria ser mais completa por Edward, eu achava que ele teria ficado mais preocupado...


– Depois disso combinamos em nos afastar da biblioteca, então Carlisle têm usado seu escritório e eu tenho comprado os livros que estou usando.


Eu me virei para ela surpresa.


– Concordamos que devíamos a você um pouco de privacidade. – esclareceu ela.


– Uau. - deixei escapar.


Eu tinha tido uma visão perfeita de uma alta fogueira composta com livros devassos crepitando no fogo enquanto minha família assistia sorrindo... talvez eu tivesse mais de Bella em mim do que imaginava...


Ela sorriu para mim.


– Isso foi realmente difícil para Edward, sabe? Ele não gosta de não saber o que acontece exatamente com você, ele queria separar alguns livros para você não ter acesso...


Eu automaticamente levantei uma sobrancelha. Eu sabia que estava tudo bem demais.


– Mas Carlisle o convenceu que isso não iria adiantar muito, você aparentava ter tanta fome de conhecimento que inevitavelmente procuraria pelas coisas que tivesse curiosidade de aprender.


Eu ri e ela me seguiu com sua risada musical. Estava me sentindo terrivelmente aliviada. Sabia que talvez não fosse tão fácil para Bella e minhas tias, mas algum dia isso teria de acontecer, certo?


Senti meu coração bater mais rápido, agora eu poderia ser verdadeira com todos. Bem talvez não totalmente, deixar escapar alguns comentários mais maduros pelo menos. Teria de fazer algumas coisas aos poucos, mas agora eu não me importava.


Estava particularmente feliz por não ter que usar meu poder idiota também. Ultimamente eu apenas mostrava mentiras para todos, o que vinha fazendo me sentir miserável.


Quando alcançamos a casa dos Lobos eu estava de excelente humor.


Assim que chegamos, Leah que estava no sofá da sala se levantou.


– Por favor, não vá embora. – eu pedi.


Jacob que havia se virado para mim com seu sorriso amigável pareceu, de repente, ligeiramente ansioso.


– Você não precisa ficar no seu quarto toda vez que chegamos. Não quer nos acompanhar lá fora? – perguntei um pouco insegura.


– Não obrigada. – ela disse, imóvel.


– Ok. – respondi, enquanto ela se retirava. Jacob veio até mim e passou a mão na minha cabeça.


– Isso foi corajoso. – ele estava visivelmente surpreso, mas sorria.


– Mas nem um pouco eficaz. – eu respondi, um pouco mordaz enquanto tentava me desvencilhar do gesto que sempre me fazia sentir pequena.


Ele arregalou os olhos, a mão estendida de um jeito engraçado e eu sustentei seu olhar divertida.


– O que foi? – perguntou, me vendo afastar.


– Acho que talvez ainda esteja menor do que você por que toda vez que me vê você achata minha cabeça.


Ele levou apenas um segundo considerando aquilo.


– E se eu puxar suas orelhas pra cima?


Esme e Brady riram.


– Eu não tenho interesse em me transformar em um elfo. – respondi sorrindo.


Jacob olhou para Esme visivelmente surpreso e depois me encarou novamente. Sentia como se faíscas tivessem pinicando minha pele, era uma sensação gostosa e diferente. Eu sabia que estava sendo meio presunçosa mas estava gostando, como se tivesse alcançado um lado novo de minha personalidade e estivesse tentando fazer Jacob conhece-la também. Se ele iria gostar ou não isso eu não sabia, mas tinha certeza que as faíscas vinham dessa dúvida.


– Desde quando você tem a língua tão afiada?


– Desde quando você não consegue acompanhar? - fiz uma cara meio preocupada.


– Você tá doente?


– Caramba! Acho que é a primeira vez que eu te vejo conversar sem olhar pra baixo!


Senti um rubor involuntário.


– Talvez eu estivesse considerando se valeria à pena continuar a conversa?


Ele piscou atônito. Toma essa.


Esme e Brady permaneciam mudos ao nosso lado.


Jacob suspirou.


– Mal –educada.


– Convencido.


Então ele riu.


– Muito bem. Empate técnico.


– Ah você estava contando?


Ele fechou a cara de novo e dessa vez eu ri. Mostrei a língua de forma petulante.


– Por favor crianças, será que podemos ir lá fora? – Brady pediu em tom cansado.


– Se essa baixinha maluca conseguir acompanhar...


– Ah! Vamos logo, estou louca pra caçar umas minhocas.


Eles riram de novo e nós saímos.







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Notas finais do capítulo

Pessoal, deixem comentários!



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