Hoje era sexta feira ainda bem, eu passei a tarde inteirinha assistindo TV. Então Lippe veio até mim.

    − Mel, hoje vai ter uma festa na casa de um amigo meu muito querido. Você gostaria de ir? Eu sei que talvez seja meio cedo, mas acho que seria legal. Quer ir?

    Pensei rapidamente, seria provavelmente um saco, mas não queria atrapalhar Lippe.

    − Sim, vamos.

    Fui tomar banho e fui procurar uma roupa decente pra ir pra uma festa do estilo. Fucei meu guarda roupa e achei a roupa certa:  Calça skinny jeans escuro , blusa baby look preta escrita “It’s your moment” em roxo, blusa de frio listrada de preto e roxo, tênis da Nike completamente roxo, pulseiras de espinhos que ajudaram a diminuir o efeito “Restart”.

    Eu estava com o cabelo completamente espetado nas pontas; então aproveitando peguei a chapinha e arrepiei ele ainda mais, agora sim eu estava emo! Não que gostasse mas era uma hora bem oportuna pra ficar lokona dessa forma. Quando Lippe me viu parecia que ele tinha visto um fantasma. Ele me olhou de cima a baixo completamente confuso.

    − Que emo. − Ele disse caindo na gargalhada. − Vê se não se acostuma com essa modinha Restart/Cine/Fresno!!!

    Ri com ele, afinal eu era na verdade uma roqueira. Roqueira que é roqueira odeia emos. E agora eu estava sendo uma. Quem entende?

    Seguimos para pegar Sam. Ele estava bem engraçado arrumado pra festa, Sam era definitivamente uma comedia. Mas o mais engraçado foi a confusão que eles fizeram naquele dia... dia em que Tim ainda estava lá. Sam me disse que tinha decidido ir a festa porque provavelmente seria o que Tim quereria se estivesse lá. Pude perceber fundas olheiras no rosto de Sam.

    Senti uma pequena e incomoda dor no pescoço, vesti a blusa de frio que tinha um capuz que ajudava a esconder os curativos.

    Ao chegar a festa me dei conta do quanto terrível realmente seria. Era muita gente e só tocava musica eletrônica, eu nunca fui muito fã de musica eletrônica por isso acabei ficando boa parte do tempo sentada num canto do grande salão onde a festa rolava.

    As vezes Lippe vinha ver se eu estava de boa, mas então disse que não precisava de ficar correndo pra me ver de 5 em 5 min, disse que era pra ele curtir que ele podia, eu não porque estava odiando.

    Sam simplesmente desapareceu, depois vi ele andando por ai com uma garota loira muito bonita, provavelmente ele devia tar pegando geral.

    Me afundei mais um pouco no banco onde estava sentada.

    − Teeeeeeeedio...

    − Entediada em uma festona como essa?

    Me virei pro lado e tinha um garoto de mais ou menos dezessete anos se sentando ao meu lado.

    − Não gosto desse tipo de festa. − Disse ignorando ele.

    − É, realmente as festas do Jesse são terríveis.

    Me virei pro lado e ele também parecia entediado.

    − Não tava curtindo  festa?

    − Não, se tivesse curtindo acha mesmo que estaria aqui sentado?

    − Não sei.

    − Não te conheço, é mais uma das ficantes emos do Jesse?

    − Não sou emo só estou num dia ruim, e não sou ficante do tal Jesse. Sou amiga do Phillipe e vim com ele.

    − Amiga, aham. Desde quando o Phill mantém amigas?

    − Não sei, mas sou a amiga dele.

    − Hum... Qual seu nome?

    − Mellody.

    − Luan. Sou o irmão ovelha negra do Jesse.

    − Irmão ovelha negra?

    − Sabe né,  sou aquele idiota que não segue o que os papais pedem, que ouve musica alta e acorda toda a vizinhança. Sou o maluco que  nunca é bem vindo em nenhuma festa. Sou o revoltado da família.

    − Ah.

    − Então, eu tenho dezesseis anos. E você?

    − Qui... Peraí, porque estamos falando de idades?

    − Porque nenhum de nós tem nada de melhor pra fazer, ou temos?

    − Não, mas porque não vai curtir o funk que começou a tocar agora?

    − Porque odeio funk.

    − Gosta de que?

    − Marilyn Manson.

    − Ah, rock?

    − Heavy metal e associações.

    − Linkin Park?

    − Sim. Ouviu a nova?

    − The Catalyst?

    − Yeah.

    − God bless us everyone/We're a broken people living under loaded gun/And it can't be outfought/It can't be outdone/It can't be outmatched/It can't be outrun…− Começamos a cantar juntos.

    Cantamos a musica até o fim, e o mais engraçado é que ele realmente sabia a letra certinho. Quando chegamos ao fim acabamos caindo na gargalhada.

    − Eles são bons, mas sou mais o clássico Heavy metal.

    − Se tem uma guitarra decente no meio eu gosto.

    − Engraçado.

    Começamos a conversar sobre varias bandas de rock, o que era legal para distrair um pouco todo o tédio. Logo a festa acabou ficando muito chata, ao ponto de eu estar quase dormindo.

    − Vamos lá pra fora, eu posso passar o resto da minha vida ouvindo funk, mas não posso ficar um segundo ouvindo Cine.

    Saímos e finalmente consegui ver como Luan era. Tinha o cabelo preto meio azulado, pele não muito clara nem escura, olhos azuis muito intensos, sobrancelhas grossas e escuras, ele era bem mais alto que eu, mas mais baixo que Tim.

    − Você tem namorado Mellody?

    − Não, e não quero ter por um bom tempo.

    − E ficantes?

    − Não.

    − Uh então está eliminando todas minhas chances com você?

    − Eliminando, esquartejando e te desestimulando a tentar cantadas mais tarde.

    − Porque?

    − Porque não to afim, não tenho direito não?

    − Tem mas não me acha um cara legal? − Ele piscou varias vezes seguidas como um desenho animado.

    − Legal mas chato.

    Ele me olhou muito confuso.

    − E desde quando isso é possível?

    − Desde quando ei disser, e eu to dizendo droga!

    − Ai, TPM?

    − TPM o caralho.

    Ele me olhou mais confuso ainda.

    − Uau, você ficou tão malvada e nervosa de uma hora pra outra.

    − Foda-se.

    − Quanto ódio.

    − AFF

    Estava cansada daquele carinha chato. Porque mesmo eu tinha dado papo pra ele? Sei lá, só sei que agora percebia que isso me custaria bem caro.

    Me sentei em uma calçada do lado de fora. Queria que Tim estivesse lá comigo, quem sabe se ele tivesse eu até poderia dançar um pouco, tudo por ele.

    − Você é Mellody, a ex-namorada do Tim?

    − Sim.

    Virei o rosto pra ver a cara de Luan, ele estava pasmo como se não acreditasse.

    − Am… Me desculpe. Não sabia…

    Ele se sentou ao meu lado e ficou caladinho. Parecia que agora ele ia ficar quieto.

    − Eu também perdi uma pessoa que amava esses dias, minha tia Stéfane. Ahn, meus pais morreram quando eu tinha sete anos, então eu fui criado pela minha tia. E ela se foi. Agora eu to meio que sozinho... sei lá.

    Olhei para ele, isso devia ser ainda pior.  E eu reclamando porque perdi o namorado...