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O passado o afligia tanto... Por que Keiko era tão parecida com Aya? Yakusoku tentou parar de pensar nisso e levantou-se do chão, imaginando o que fazer para distrair as idéias.

Entrou no quarto de novo e deu uma olhada em volta. Enxergou sua capa pendurada na maçaneta da porta que ia para o corredor. Resolveu sair. Atravessou o quarto com poucos passos, puxou a capa, vestindo-a em seguida, e saiu. Agradeceu aos céus por Keiko não estar vigiando e desceu.

Sentiu outra vez o ar frio da noite em seu corpo, a capa esvoaçando levemente. Caminhava a passos largos e firmes pelas ruas, sem certeza de aonde queria ir.

Tóquio era iluminada e colorida à noite, movimentada. Via-se gente por todos os lados. Mas Yakusoku não se sentia muito sociável naquele momento, então resolveu seguir por uma rua mais calma, pensando em não encontrar alguém conhecido.

Só que nem sempre as coisas acontecem como queremos (Yakusoku-san só sabe controlar o clima XD) e alguém conhecido acabou aparecendo de repente; alguém que não aparecia havia muito tempo, mas que cuja falta não costumava ser sentida freqüentemente.

Yakusoku viu alguns homens cercá-lo, talvez cinco ou seis. Todos rostos familiares a seus olhos. Das sombras surgiu um outro, alto e magro; os cabelos claros puxados para trás em uma trança longa; os olhos, grandes e verdes, rajados de castanho, brilhavam sob a franja caída no rosto.

A voz levemente melodiosa que saiu dos lábios finos do homem trouxe à mente de Yaksoku memórias muito antigas.

– Demorei bastante, mas achei você, irmãozinho. Devo admitir que é bom em esconder-se, mas nunca imaginei que acabaria aparecendo assim tão facilmente.

– Que coincidência, não acha? Eu estive mesmo procurando você, Shino. – era uma mentira, mas Yakusoku gostava de fingir estar sempre à frente do irmão.

– De qualquer forma... nos encontramos. Como é a vida aqui, Yakusoku? Está gostando?

– Oh, sim, eu estava gostando até você chegar. Estou pensando em ir embora logo.

– Não parta assim tão cedo! Nós temos tanto para conversar...

– Eu lembro de nossa última conversa. Você não? – Yakusoku sorriu levemente. – Você se ajoelhou e implorou por misericórdia. Concedi-lhe seu pedido em respeito à memória de nossos pais, você sabe.

Shino fez silêncio por um tempo. Antes que se tornasse constrangedor voltou a falar:

– Ora, falemos sério. Não vim aqui para brigar com você, meu querido irmão. Lembro-me perfeitamente da última vez que estivemos juntos. Não foi uma noite agradável, eu admito, por isso mesmo não pretendo repeti-la. – ele se aproximou de um de seus comparsas e disse algo inaudível, ao que o outro homem fez um sinal para o resto do grupo e todos se afastaram deixando os dois irmãos sozinhos.

– Então, diga-me, Shino: tem sido bom para estar aqui? – disse Yakusoku.

O homem mais velho riu com vontade, jogando a cabeça para trás. Quando voltou a olhar para o irmão, Shino tinha no rosto uma expressão de puro desprezo.

– Ora, suponho que seja óbvio que não. Como você conseguiu gostar de morar em um lugar tão decaído? Tem gostos estranhos. Bem, eu deveria ter imaginado isso quando você começou a se envolver com aquela humana, Aya...

– Você não percebe, não entende, Shino, porque continua o mesmo. Você ainda é igual ao que era antes de vir para cá.

– Tem razão, irmãozinho. Você se modificou para vir à Terra, não foi? Ficou mais fraco, contentou-se com menos. Olhe só para você: que lindo rosto tem agora! Tão delicado... – Shino aproximou-se mais e tocou o rosto de Yakusoku, como se acariciasse uma mulher.

– Não preciso que você me conte o que fiz. Contentei-me, sim, com menos do que tinha antes, mas não sinto remorso, por isso pare de se importar. – Yakusoku segurou o pulso do irmão, forçando-o a afastar o toque. – A propósito, o que você veio fazer aqui, vindo atrás de mim tanto tempo depois de nos separarmos, meu querido irmão? Sentiu minha falta? – ele sorriu.

O outro apenas ficou em silêncio, cada vez mais sério. Parecia não gostar de ver as perguntas serem dirigidas a si.

– Vou confessar que sim, Yakusoku, senti sua falta, mas esse não é meu principal motivo para estar aqui. Eu vim procurar você porque... Aya já não está mais sob meus cuidados. Ela fugiu.


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