Após um pequeno, ah. Para. Após um terrível acidente em minha escola, minha mãe anda frenética.

Não para de se preocupar comigo, mesmo eu dizendo a ela que nem todos são como os alunos de minha escola.

Após aquele episódio, minha mãe decidiu voltar para São Paulo, nossa cidade natal. Já providenciou até as coisas para a mudança. Ligou para a vovó, avisou o papai e “lá vamos nós”.

Para o meu pai, voltar para lá será bem mais legal. Assim, poderemos morar todos juntos, afinal, papai mora lá durante a semana, por causa do trabalho, e aqui comigo e com a mamãe, nos fins de semana.

Mas, pra mim é que vai ser uma surpresa. O fato de eu ser tímida faz com que as pessoas se afastem de mim. Como já não tenho amigas, estou esperando chegar lá e ter de ficar sozinha.

Porém, seria bem legal se nessa nova escola, onde mamãe me matriculou, eu tivesse mais amigas.

- Alex, vem almoçar! – o grito veio do andar de baixo.

- Já vou mãe! – gritei.

Pulei umas pilhas de caixas já fechadas, e passei pela última caixa ainda aberta. Era onde estavam meus objetos favoritos. Entre eles, meu caderno de desenho, que eu tanto amava.

Peguei-o com a mão esquerda enquanto pegava uma lapiseira com a mão direita. Pulei mais algumas caixas, e desci as escadas.

Mal entrei na cozinha e senti o cheiro da comida da mamãe.

-Peru? Está se preparando pro Natal? Pensei que o próximo feriado fosse a Páscoa! – eu disse rindo.

-Pois é, nem eu acreditei quando vi. – disse mamãe com um sorriso. – Estava no congelador... Mas não se preocupe. – ela disse ao ver meu olhar reprovador. – Eu verifiquei a data de validade!

Eu ri. Minha mãe nunca fora boa cozinheira, e com certeza os congelados eram seus favoritos.

-Seu pai vai chegar por volta das três horas... O que pretende fazer até lá? – mamãe perguntou.

Nem precisei responder, eu já estava sentada na mesa rabiscando um desenho em meu caderno.

-Ok. Você desenha, eu lavo a louça e embrulho as coisas da cozinha. Quando seu pai chegar nós colocamos tudo no caminhão e vamos voltar para São Paulo. Feliz? – mamãe deu um sorriso.

Eu sabia que ela estava adorando voltar para São Paulo. Era muito óbvio que ela sentia falta de meu pai e, provavelmente, da vovó também!

Mas pra mim, não fazia a menor diferença.

-Pior que aqui não pode ser... – eu disse. – E lá não tem concursos de pintura? Pelo menos nos concursos eu vou me sentir bem!

-Ah, é claro. Fiquei sabendo que um grupo de garotos, que moram na rua da vovó, se reúne todo sábado para re-pintar um muro artístico na cidade. Você pode ir com eles, e fazer novos amigos. – mamãe disse feliz.

-Ah, sim. Se não se dá bem com as garotas, junte-se aos garotos. – eu disse piscando.

Mamãe pegou o peru assado e colocou-o na mesa. Pois é, acho que dessa vez, vai ficar gostoso.