Harry observou em silêncio Al servir-se de chá e sentar-se no sofá. Era difícil ver o filho num estado tão lastimável. Cabelos desgrenhados, roupas desalinhadas, barba por fazer. As mãos, pequenas e delicadas como a de nenhum garoto deveria ser, tremiam levemente segurando o copinho descartável.

Harry quis esticar os braços e abraçá-lo. Fazer um carinho, tentar apagar as olheiras do rosto jovem, talvez pintar um sorriso com os dedos. Mas ainda que o tomasse nos braços, como fazia quando Albus tinha cinco anos depois de um pesadelo, sua dor não iria mudar. Aquilo não era medo causado por sonhos ruins; era desespero imposto pela realidade.

Um medi-bruxo passou, os sapatos fazendo um contínuo toc-toc enquanto se aproximava. Al fechou os olhos com força. O coração de Harry se apertou como só o coração de um pai pode se contrair ao ver alguém amado sofrer tanto.

- Sr. Potter?

Albus abriu a boca para responder e fechou. Harry podia ver como ele estava lutando contra as lágrimas, como batalhava para ser forte. O auror se aproximou um pouco mais do filho, oferecendo um conforto mudo que não significava nada. Al finalmente reuniu forças suficientes para encarar o medi-bruxo.

- Eu sinto muito. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas... - o homem inspirou, parecendo abalado. - Ele não resistiu. Os danos eram extensos demais... Sinto muito.

Albus explodiu um choro agoniado, sufocado, doloroso. O copo escorregou pelos dedos e rolou pelo chão, deixando um rastro esverdeado pelo chão branco. Harry virou o rosto, incapaz de continuar assistindo. Doía demais.

- Já é o suficiente, não?

Harry assentiu lentamente e se levantou. James Potter sorriu amável, enquanto Lily esticou os braços para abraçar sua eterna criança.

- Eu queria que eles não sofressem tanto.

- Todos nós queremos isso, amor. - murmurou Lily - Todos nós...