Foi assim que tudo começou. Dia lindo de céu azul sem interrupções, tudo estava tão tranquilo, quando eu notei algo tapar meu belo sol. Fiquei tão brava que não tive tempo nem para pensar e fui logo xingando. Coitada. Tive tanta dó, após uns três minutos brigando com ela que eu percebi: ela me olhava fixamente e eu não tive coragem e acabei desviando o olhar. Aquele, aquele olhar me hipnotizou de um jeito sem igual. Era intenso e muito observador, confesso que me deu um aperto no peito.

Ela veio com sua voz doce e suave perguntando se podia se sentar do meu lado, então afirmei com a cabeça, para mim parecia uma eternidade ficar ali sem pronunciar uma palavra sequer mas para ela não, nada lhe incomodava. Como queria ter a sua paciência, tão graciosa, tão bela, que eu me culpo por não notar isso antes, tantos anos conhecendo ela e nada - para falar bem a verdade era burra demais para perceber. Mas também não precisava ser assim, me pegar de surpresa, porque eu ainda sou fraca com sentimentos tão profundos e ainda é o que eu mais odeio em mim, minha dificuldade tremenda de saber amar o próximo - no caso, a próxima.

Sim, foi isso sim, me apaixonei e não sei te dizer como nem por quê. Só sei que foi depois de anos, nossa amizade foi tão forte que acabou nisso. Sortuda? Acho que não, porque o que eu mais temo é o sentimento dela por mim, e isso não era demonstrado ou pelo menos ainda não.

Anelise, linda Anelise foi ela por quem me apaixonei. Depois de quatro anos de amizade que eu fui perceber isso, éramos assim: amigas inseparáveis, os segredos mais arrepiantes - pelo meu ponto de vista - compartilhados e nunca eram julgados, por mais indiferentes que fossem, ela foi a única a ganhar minha confiança. Se não fosse por ela acho que não teria amizade, foi ela quem buscou a minha amizade e eu não mostrava interesse - também não tinha nenhum -, mas depois fui cedendo aos poucos por seu encanto, e por isso estamos aqui até hoje juntas sem nada nem ninguém para nos atrapalhar. Bom, depois de quatro belos e longos anos estamos aqui nós duas sentadas observando um lindo sol. Mas só tem um problema, porém. Meu coração batia acelerado demais e eu não conseguia acalmá-lo, e o pior de tudo eu não saberia dizer se Anelise sentia o mesmo por mim, e isso me corroia de um modo bruto e um tanto obscuro.

Depois de alguns longos minutos, o silêncio foi quebrado por ela.

— Natalie... lembra como nos conhecemos? - Parecia que lia a minha mente.

— Sim Ane, lembro todos os detalhes.

— E você... acha que valeu a pena?

— Cada segundo desses anos valeu à pena! - Nesse momento nos fitávamos, e eu observava cada movimento de seus olhos verdes.

— Acho o mesmo, mas foi difícil conquistar esse seu coração duro, Nat!

— Mas mesmo assim você conseguiu, chegou até o fim e... obrigada por isso. — Achei que ia explodir depois de dizer isso, e sem perceber senti um gosto doce em minha boca, e foi tão excitante me contagiou e quando me dei conta eu estava beijando Ane, foi gratificante. Quando nos separamos, seus doces lábios encostaram-se em meus ouvidos e sussurram:

— Faz tanto tempo que quero te dizer um simples eu te amo, mas só agora tive coragem!

Confesso, queria sair correndo quando ouvi, meu coração deu pulos e eu não sabia mais o que fazer, então resolvi lhe dar mais um beijo, depois de alguns minutos nos separamos e eu te disse o que ela esperava a muito tempo "Ane eu também te amo". Foi assim que eu percebi que a sua luta pela minha confiança não foi em vão, e o meu amor não se perdeu em uma história mal contada.