Depois da escola, eu e Rodrigo viemos pra minha casa resolver o assunto do trabalho. E sobre aquele papo de beijo, ele deixou quieto por enquanto. Ainda bem.

— Pra quê fazer o trabalho tão rápido assim,Déborah? Não é pra entregar só semana que vem?

— Você me conhece Rodrigo. Sabe muito bem que não gosto de deixar essas coisas pra depois... E a gente nem tem tanta coisa pra fazer por enquanto...

— Hhhmmm, e já sabe o esquema?

— Sei sim... Bom, a gente faz assim: procura o conteúdo na net, imprime uma imagem bacana, cola numa cartolina que depois você compra e escrevemos as melhores ideias nela, simples. Sacou? Nem precisa de muito esforço.

Ele me observava diferente e parecia que tava no mundo da lua. Ou em outro mundo totalmente diferente do nosso. Parece que é louco esse garoto!

— RODRIGO? - estalei os dedos em sua frente, bem próximo de seu rosto.

— Hãm?

— Você prestou atenção em alguma coisa que eu disse?

— Aah, desculpa aí. Eu tava meio... desligado!

— Desligado, desconectado, desconfigurado. Tudo né? Se liga, meu.

— É, acho que sim.

— Vai, me conta porque você tava tão pensativo assim! - levantei-me da cadeira do computador e sentei-me ao lado dele na cama.

— É besteira, é melhor eu não te contar.

— E desde quando eu não ligo pras besteiras que você pensa?

— Você vai ficar brava comigo...

— Fala. - ordenei.

— Ai, tá bom. - suspirou - De você não consigo esconder nada mesmo... - pausou. - É que eu tava pensando sobre aquele papo que a gente teve antes da aula...

— Ahh, sobre essa sua invenção de falso namoro?

— Éerrr. É... é que...

Começou a gaguejar. E quando ele começa a gaguejar assim, é porque ele aprontou alguma. E comigo!

— O quê que tem? - o encarei.

— É que nem tudo o que eu te disse, era verdade... - falou cabisbaixo.

— Tipo em que parte?

— Tudo que bem que conversei com o Bruno no msn, que o ele tá bastante à fim de tu, mas ele não queria te beijar coisa nenhuma. A verdade é que... - pausou por um instante - sou eu quem queria te beijar mesmo!

— Mas... como assim Rodr...

De repente, ele aproximou-se tão rápido de mim, e me BEIJOU. É sério, me beijou!

Um gemido de susto escapou de meus lábios, mas não foi além disso. Embora não desse pra mim entender, a intensidade daquele beijo me despertou uma vontade louca de continuar ali, beijando Rodrigo e não tentar fugir. O modo como ele segurou-me pelos quadris e pressionou-me firmemente ao encontro de seu próprio corpo, fez-me incendiar por dentro...

Ei, mas pera aí. Pára tudo!

Eu tô beijando o meu melhor amigo, ele é como se fosse um irmão pra mim - eu acho. Mas é assim que tenho que pensar... Mesmo tendo uma desafiadora quedinha por ele, enfim provar como ele beija bem... tem que ser assim.

— Pára, pára, pára, pára Rodrigo... Não posso fazer isso.

— Por quê não?

— Não quero que nossa amizade mude... Eu te considero pra caramba. Você é como se fosse um... um irmão pra mim... seu idiota!

— Irmão? - ele pareceu decepcionado ao me ouvir dizendo isso.

Mas na real, que garoto gostaria de ouvir de uma garota que ele é como se fosse um irmão pra ela. Agora levei à mal.

— É melhor você ir embora. Preciso ficar sozinha pra pensar em tudo isso que aconteceu... Ai, como você é um idiota! Vai embora, por favor.

— Então tá. - sua voz foi quase sumindo, e ele levantou-se da cama e antes de fechar a porta para ir embora, fitou-me e se foi.

Mas como ele pôde ser tão idiota assim de me beijar? Eu também sou uma idiota, eu sei. Mas não entendo porque ele faz isso comigo. Ou melhor, porquê os garotos fazem isso. Eu sempre quis um beijo dele, claro, mas disfarço isso muito bem. Eu gosto muito, muito dele. Mas ainda penso que ele é o meu melhor amigo e tem que ser assim.

Devo ter o deixado muito magoado mesmo.

Mas só de pensar que ele é um dos garotos mais cats da escola, e que ele tá sempre comigo e quis me beijar! Uau!

Déborah Gomes. Pára de pensar nessas coisas!

Melhores amigos. Certo? Só isso. Pensei comigo!

Resolvi deitar-me na cama depois de ter ficado andando de um lado pro outro o tempo todo e... dormi.

...

Acordei só no dia seguinte, quinta-feira, - nossa, como dormi tanto? - com alguém me ligando. E esse alguém simplesmente era o Rodrigo. Nem atendi, e antes de desligar o celular, percebi que era 9h35 da manhã.

Pronto. Bye, bye escola! Mas que se foda.

...

Fui pro treino de Jiu-Jitsu, de tarde, e assim que minha mãe voltou do hospital de noite - ela é enfermeira, tá?! -, bateu na porta do meu quarto - e já foi entrando - avisando que o Rodrigo tava na sala me esperando, querendo falar comigo.

— Fala pra ele que eu tô doente. Com febre, TPM, conjuntivite, sei lá. Inventa qualquer coisa pra ele mas não deixa ele subir aqui e eu não vou descer lá em baixo. Não tô a fim de falar com ele!

— Pra quê isso agora, Déborah? Brigaram mais uma vez?

— A gente não briga sempre.

— Mas o que aconteceu, hein?

— Não foi nada, mãe... nada.

— E por quê a senhorita não foi pra escola hoje?

— Perdi a hora...

— Ah, é? Amanhã você vai encontrar, viu?!...

— Ai, tá. Agora vai lá inventar alguma coisa pro Rodrigo ir embora, senão ele vai começar a desconfiar.

— Olha lá o que você anda aprontando, viu Déborah Gomes?...

— Se fosse eu que aprontei... - falei para mim mesma.

— Hã?

— Nada mãe... - pausei - E fala pra ele não se preocupar com o trabalho que eu coloco o nome dele, ok?

— Tá.

Minha mãe fechou a porta e rapidinho entrei no msn pra conversar com minhas outras amigas, melhores. Rafa e Bia. Abrimos um grupo de conversa, só nós 3, pra eu explicar tudo o que rolou entre eu e o Rodrigo!

(...)