Excuses escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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Grimmjow havia desaparecido há quase quinze dias e Renji havia decidido que, realmente, teria que visitá-lo no dia de seu aniversário.

Vinha sentindo-se muito esquisito sem a presença dele, ou simplesmente sem manter contato com o rapaz por um período de tempo tão longo. Era estranho, já que nos últimos anos em que se conheciam – algo em torno de nove –, eles jamais haviam ficado tanto tempo sem trocar uma palavra sequer. Era uma atitude muito esquisita da parte de Grimmjow.

Sua concentração havia decididamente caído. Estava preocupado mesmo.

Quando bateu à porta da casa de Grimmjow, ficou até um pouco nervoso ao ouvir os passos exageradamente pesados dele vindos da sala. A porta abriu e Renji deu um sorriso amarelo na direção do rapaz, que nada fez além de abrir espaço para que o ruivo entrasse.

Pensou em dar-lhe os parabéns, mas não. Tudo bem que embora soubesse que Grimmjow não gostava de comemorar seu aniversário, sempre acabava pelo menos desejando alguma felicidade ou algo assim. Entretanto, dessa vez, simplesmente não parecia ser a melhor coisa a fazer. Muito pelo contrário, na realidade.

Grimmjow fechou a porta e caminhou para a cozinha.

Estava sentindo-se mais estranho do que parecia. Havia sumido porque não conseguia parar de pensar em Renji e no quanto aquele Kuchiki retardado estava fazendo mal a ele. Naturalmente já o fazia antes, mas agora era trinta vezes pior. Por inúmeros motivos. Havia saído com eles. Vinha falando mais. Mas certamente, todas as esperanças de Renji eram vãs. Grimmjow tinha quase certeza desse fato, só faltava algum tipo de confirmação.

Então, vê-lo ali de novo era incômodo de verdade, mas seus instintos simplesmente gritavam para que voltasse à sala e fizesse Renji entender, de uma vez por todas, o que é que existia entre eles.

E talvez ajudar a si mesmo a entender também.

Pensou em tomar café, pensou em fumar um cigarro... Pensou em ir lá e tentar averiguar com suas próprias mãos o que é que estava havendo.

Renji encostou-se ao batente da porta que separava a cozinha da sala e Grimmjow virou-se para olhá-lo. Ele tinha os olhos castanhos fixados no chão.

– O que tá acontecendo?

– Onde?

– Com você.

Renji não sabia bem aonde queria chegar com aquela pergunta, mas sabia que iria levá-lo a algum lugar.

Lembrava de ter pensado constantemente no quanto seria simples se apaixonar por Grimmjow. Ele estava bem ali. Bem ao alcance das suas mãos. Simples. Bastava estendê-las e ele certamente viria. Não seria difícil, eles tinham uma química muito forte e um relacionamento de anos no qual construíram um forte envolvimento emocional.

Mas a palavra “amor” não fazia parte do dicionário de Grimmjow, e o sinônimo dela para Renji era “Kuchiki Byakuya”.

– Não tem nada. – Negou o outro com a cabeça também. Renji voltou a encará-lo e percebeu que o rapaz estava escorado ao balcão da cozinha, olhando-o seriamente com os braços cruzados. – E você, tem algo a me dizer?

– Não.

Ah, claro.

Aquele jogo de negar seria muito útil a essa altura do campeonato. Eram dois homens maduros e independentes, melhores amigos que nunca tiveram problemas em expressar-se um ao outro, mas agora não conseguiam falar abertamente.

Grimmjow, entretanto, estava começando a criar dentro de seu peito a sensação de que pensar em Renji com tanta constância só podia significar uma coisa.

– Renji.

– Hum.

– Nós sempre fomos muito honestos um com o outro—

– Até demais. – Cortou com bom humor.

– É. – Fez uma expressão calma. – Acho que eu devia ser honesto agora, de novo.

Renji franziu as sobrancelhas e olhou seriamente para Grimmjow. E deu de cara com aqueles olhos azuis faiscantes, tal como um grande felino preparando-se para abater sua presa. Sabia o que aquele olhar significava e ficou seriamente preocupado por um instante. Por outro instante, entretanto, achou que...

Achou que, independente do amor que sentia por Byakuya... A pessoa com a qual combinava não era ele.

– Eu acho que estou apaixonado por você.

Não... Aquilo não estava certo. Amor.

Amor é uma palavra forte demais. Apaixonado. Renji sabia que aquela confissão não podia ter qualquer tipo de fundamento. Como podia alguém apaixonar-se com tanta facilidade daquela maneira? Eles jamais sequer tocaram no assunto. Sequer pensaram nisso, e de repente, uma coisa como essa.

Não teve força para reagir. Não conseguiu, na realidade, nem mentalizar uma reação que fosse adequada para aquelas palavras. Mas sabia— tinha certeza absoluta que amor... O amor ainda não podia existir entre eles. Talvez estivesse maquiado em outro formato, com outro nome, com outra cara.

Mas Renji captava aquelas palavras como a única forma de explicar o que estava prestes a acontecer. O que os olhos de Grimmjow transmitiam com muito mais eficácia do que suas palavras sem sentido. Ele era mil vezes mais expressivo daquele jeito do que com as suas frases, era coisa dele, mesmo.

Ele veio se aproximando. O ruivo não queria simplesmente perder o controle e deixar que as coisas acontecessem, mas não é como se pudesse lutar contra seus instintos.

Logo, Grimmjow pegava Renji pela cintura e o apertava contra seu corpo, roubando-lhe um beijo encharcado de urgência numa troca intensa de saliva, como se estivesse morrendo de sede.

Grimmjow pensava no que havia dito, mas...

Nem sabia direito o que aquelas palavras significavam, imagina. Mas ele pensava como Renji. Diante de uma situação como a que se encontravam – onde a paixão do ruivo pelo seu chefe estava mais à flor da pele do que nunca – somente o amor era capaz de passar por cima de um outro amor. Então, se a metáfora funcionar, Grimmjow sabia que não adiantava usar um arco-e-flecha numa guerra contra um canhão.

Se as palavras pelo menos amenizassem a força do erro que estavam cometendo, estaria tudo certo. Mais do que certo.

Pelo menos havia um consenso de que aquilo estava errado, embora Grimmjow estivesse obviamente muito mais obstinado do que Renji.

O beijo se interrompeu quando faltou ar e eles já estavam na sala.

Grimmjow o explorou, lambeu, chupou, beijou, mordeu, queria devorá-lo inteiro. Queria que aquilo trouxesse uma resposta. E da mesma forma, Renji procurava sua resposta com ele porque...

Porque de alguma forma, agir como se houvesse amor entre eles talvez pudesse explicar aos dois o que um sentia pelo outro, já que nunca foi exatamente muito bem esclarecido o que havia ali. Uma tensão sexual tão forte, afinal, não podia se estender por tantos anos sem uma boa explicação.

Renji às vezes pensava em Grimmjow como um porto seguro – tipo assim, poderia voltar e ele sempre estaria ali. Porque ele nunca se interessaria por alguém, afinal, o rapaz jamais fazia isso. Ele era meio auto-suficiente, por assim dizer. Mas agora havia Ichigo. E talvez, quem sabe, estivesse com um pouquinho de ciúme.

E o outro, claro, tinha Renji como a única pessoa que jamais o havia deixado desinteressado, de forma alguma.

Grimmjow caiu sentado no sofá e trouxe o tatuado junto, sentando-o de frente para si. Renji apoiou-se no respaldo do móvel e eles se olharam por longos instantes. Talvez não tão longos no tempo do relógio, mas para eles.

– Existe a mera possibilidade de você fazer concretizar o que você disse agora?

– Minha palavra não é o bastante? – Resmungou com desprezo.

– Não. – Respondeu firmemente. – Não é o bastante.

Mas concretizar o quê? Nem Grimmjow sabia o que queria dizer com o que havia falado, como poderia fazer aquilo tornar-se—

Ah...

É. Era uma oportunidade. Talvez fosse a última.

Nada mais disse. Não achou necessário seguir com a conversa. Derrubou-o no sofá e tomou os lábios do ruivo de novo, beijando-o cheio de sofreguidão enquanto procurava cada canto do corpo com as mãos, como se estivesse o descobrindo pela primeira vez. Mas claro que não era esse o fato, muito pelo contrário, aliás.

 

Renji abriu os olhos e na primeira golfada de ar, sentiu um cheiro forte. Ou melhor, uma mistura de cheiros muito peculiares. E familiares, já que estavam no quarto de Grimmjow. Muito bons, por sinal. De certa forma, o fazia sentir-se bastante confortável, aconchegado, talvez.

Quando se mexeu um pouco, sentiu que seu braço estava imobilizado porque Grimmjow estava agarrado a ele. Virou o rosto e piscou os olhos no rosto adormecido do rapaz, que respirava devagar e pesadamente. Uma das pernas do outro passou sobre seu corpo, o impedindo totalmente de fazer movimentos bruscos. Renji normalmente iria chutá-lo, ou chamá-lo até que acordasse, mas o caso não era esse, no momento.

Até ficou com vontade de fazer aquilo, porque quando Grimmjow era acordado assim, quase sempre ficava de mau humor, o que era meio divertido. Perigoso, mas divertido.

Mas não quis acordá-lo. Somente voltou a se ajeitar no colchão e fechou os olhos.

Havia sentido falta dele. É.

 

Quando Grimmjow acordou, entretanto, ele viu-se agarrado ao braço de Renji e recuou imediatamente, sentindo-se esquisito. E com o movimento, o ruivo abriu os olhos castanhos e virou o rosto em sua direção.

De fato, ele havia pensado que quando a manhã chegasse, Renji já teria ido embora.

Normalmente dormiam juntos quando algo acontecia, mas depois da conversa do dia anterior, o mais natural seria que o tatuado tivesse saído fora. Talvez Grimmjow pensasse assim porque se a circunstância estivesse invertida, ele o teria feito.

 Renji bocejou, abrindo a boca e soltando um ruído de exaustão. Grimmjow ficou na defensiva por uns instantes, observando-o sentar na cama e esticar as costas, se espreguiçando. O ruivo coçou o canto da cabeça e passou a mão pelo cabelo, deu um nó nele e alguns fios escaparam porque eram mais curtos que os outros.

Renji virou-se e olhou para o outro novamente. Ajeitou-se no colchão, sentando de frente para ele e Grimmjow inclinou-se para trás, deitando com as costas na cama e a cabeça apoiada desconfortavelmente na cabeceira.

– Grimmjow Jaegerjaquez apaixonado – ele observou com uma expressão de bom humor. – Isso não é algo que eu imaginei que fosse ouvir.

– Sobre isso—

– Eu sei. – Renji o interrompeu antes que continuasse.

É. Não poderia ser, de qualquer forma. Pelo menos não assim, do além. Seria muito esquisito.

Mas provavelmente Shuuhei e Lisa diriam algo como “finalmente vocês assumiram o romance”. Eles eram óbvios, afinal. Como que feitos um para o outro. Não haveria qualquer dificuldade, qualquer obstáculo.

Pelo menos, não na teoria.

– Mas eu...

O tatuado passou a mão pela testa e soltou um riso meio sarcástico consigo mesmo. Estava se martirizando, era verdade. Ele sabia que amava Byakuya. E que esse sentimento que nutriu por ele por tanto tempo iria marcá-lo a longo prazo, do tipo que cria uma cicatriz bem visível. Mas... Mas que diabos custava tentar?

Quer dizer, ele realmente deveria continuar alimentando um sentimento que jamais seria correspondido?

– Você o quê? – Grimmjow sentou-se, já se sentindo menos estranho. Agora percebia que Renji estava na mesma posição que ele, talvez numa mais complicada.

– Eu não acho que seria ruim tentar. – Mordeu a parte de dentro do lábio inferior. – Claro que você é uma fera difícil de domar, mas acho que essa seria a graça.

– Vou tomar isso como um elogio – ele sorriu. – E o que você quer tentar?

– Hum, vejamos – ele puxou o sob-lençol e cobriu melhor a pélvis. – Que tal começar com um beijo de bom dia? – Mexeu as sobrancelhas.

Grimmjow riu. – Que viadagem.

– É – Renji riu também. – Eu sabia que ia ouvir algo assim. Mas você está pensando o mesmo que eu, não?

Grimmjow tirou um instante para pensar, enquanto encarava o rapaz. – Acho que sim.

– Então seja menos idiota e tente.

– Só tenho uma pergunta antes.

– Qual?

– E o Kuchiki-san?

– Ah. – Renji soltou um suspiro ruidoso. Grimmjow percebeu que ele já estava esperando essa pergunta, também. Demorou um instante para responder, ponderando quais seriam as melhores palavras, porque... Provavelmente elas não existiam, ou algo assim. Não sabia explicar. – Eu acho que... Acho que ele nunca vai me olhar como eu quero que olhe.

– Olhar. – Grimmjow assentiu com a cabeça, como que refletindo.

– É. – Ele fez um trejeito de conformidade. – Tipo que nem você me olhou ontem.

– E como foi que eu te olhei ontem? – Ele fez uma expressão séria, como se estivesse sendo acusado de alguma coisa.

– Ah, sei lá. – Ele revirou os olhos.

– Tá, tanto faz – abanou o ar com a mão. – Beijo de bom dia, né?

– Não, sério – Renji riu, divertindo-se. – Esquece esse lance de beijo de bom dia.

– Ótimo, ia ser bem constrangedor. – Ele levantou-se, trazendo consigo o sob-lençol, deixando o rapaz ruivo nu na cama. Renji, entretanto, não se constrangeu e ajeitou-se deitado no colchão, flexionando os joelhos e bocejando novamente.

Grimmjow olhou para ele, segurando a peça de tecido nos quadris e arqueou a sobrancelha.

– Vamos tentar, não?

– Sim.

– Então, acho que seria justo eu dar um beijo de bom dia em você.

– Ahn? – O tempo que Renji levou para erguer a cabeça e achar Grimmjow foi o tempo que este demorou a largar o sob-lençol no chão e voltar para a cama, deslizando as mãos nas pernas do tatuado e curvando-se para abraçá-lo firmemente pela cintura. Ajeitou-se entre as pernas de Renji, deitou sobre o corpo do rapaz e apoiou a cabeça na linha do peito, sentindo como se a pele dourada dele ardesse em chamas.

Renji era quente, mas Grimmjow não se lembrava de ele ser tão quente assim.

– E o beijo?

– Fica pra depois.


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