Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 38
vida 4 capítulo 9




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O deus da luz observa os dois homens. Eles atraiam sua atenção. Não sabia bem porquê. Não sabia o porquê de ter se manifestado naquele lugar. Um cenário de destruição.

Logo o mundo inteiro estaria assim.

Um terceiro homem estava deitado no chão. Quebrado. Tão frágeis todos eles. Podia ver simultaneamente a tudo e a todos que sua luz banhava. Os seres vivos lutavam por permanecer vivos em todos os cantos do planeta. Alguns tinham sucesso, outros não. Acontecia. Não havia motivo para intervir.

Porque então se importava com o homem quebrado?   

Um novo tremor desequilibra um dos homens e o outro o ampara. É seu irmão, que se contorce de dor no núcleo do planeta. Ele sabe o quanto o irmão está sofrendo. Ele sente igual desconforto. É o deus do Sol. Mas não DAQUELE sol.

Aquele sol NUNCA teve um deus que o habitasse.

Sua essência divina reside num harmônico inexistente na estrutura da matéria daquela realidade. Ao ser trazido àquela realidade, sua energia se somou à energia do plasma solar, acelerando a taxa em que acontecem as reações de fusão nuclear que convertem continuamente hidrogênio em hélio e liberam quantidades inimagináveis energia eletromagnética e as partículas que formam o vento solar.

Sua presença estava instabilizando o Sol, reduzindo em bilhões de anos a sua existência. A crescente energia liberada logo alcançará um patamar incompatível com a existência de vida na Terra.

O mesmo aconteceu com o deus da escuridão. Ao chegar àquela realidade, sua consciência seguiu pelos veios de lava e se alojou no núcleo do planeta. Mas o planeta o rejeitou. Sua energia dispersa está aumentando progressivamente a temperatura do núcleo terrestre, causando movimentos tectônicos e produzindo um intenso vulcanismo na superfície do planeta. Sua presença acabará por redissolver a crosta planetária e transformará a Terra num inferno vulcânico sem vida.

A tecnologia não salvará o homem. O metal líquido em movimento no interior do planeta gera o campo magnético da Terra. A intensificação do campo magnético terrestre em conjunto com o aumento da atividade solar em breve impedirá o funcionamento de qualquer equipamento eletrônico. O homem está destinado a assistir impotente à destruição do planeta.  

Em breve, não haverá vida em nenhum lugar do planeta. Porque então se importava com o destino imediato do homem quebrado?

O deus da luz sabe que para ter as respostas que precisa era necessário olhar a situação de outra perspectiva. De uma perspectiva humana.

A face na cortina de luz começa a ficar indistinta.

O deus da luz condensa uma parcela infinitesimal de sua essência num simulacro holográfico de uma figura humana. Materializar não seria a palavra correta, já que a figura, embora fosse externamente indistingüivel de um ser humano, era tão sólida quanto um feixe de luz.

Inconscientemente, o deus da luz adotara não apenas a aparência de Mark Levine, mas, até mesmo, as roupas que Mark usava em sua realidade de origem. Inclusive a jaqueta com a sigla da Eastern Oregon University.  

Owen e Dean não afastaram um segundo que fosse os olhos da figura nos céus durante os muitos minutos que durou o fenômeno. Tinham esquecido momentaneamente do terremoto e de tudo mais a seu redor. Um novo tremor, que chegou a desequilibrar Dean, não foi suficiente para trazê-los à realidade. Trocavam comentários, esquecidos até mesmo da necessidade urgente de dar atendimento médico a Kyle. Pareciam hipnotizados. A sensação de bem estar que sentiam era indescritível.

Com a atenção ainda voltada para onde - até poucos instantes antes - podiam ver um gigantesco rosto, Owen e Dean não viram Mark surgir, do nada, ao lado do corpo inconsciente de Kyle. Não viram o simulacro humano do deus da luz se agachar e aproximar a mão da nuca do rapaz.

Um intenso fluxo de energia percorre as terminações nervosas de Kyle Hayden. A ligação do cérebro com os membros superiores e inferiores é reconstituída. Neurônios são regenerados. Os ferimentos cicatrizam. Um Kyle ainda mais saudável do que antes abre os olhos e se depara com o rosto sorridente do deus da luz.

— Mark? O que aconteceu comigo?

Ao escutar seu antigo nome humano ser pronunciado, o deus da luz lembra de quem foi e descobre o que precisa ser feito.

— O que importa é que você está bem, KYLE.


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