ANTES

Matthew Logan era um idealista que ficou bilionário.

Na juventude fora militante ecológico. Mas sempre soube que fazer é mais importante que apenas falar. A cabeça de Logan era uma usina de idéias.

E ele começou a colocá-las em prática.

Coleta Seletiva. Reciclagem. Agricultura orgânica. Apicultura. Geração elétrica usando moinhos de vento. Reaproveitamento de água da chuva. Negócios que começaram pequenos, sem grandes investimentos, e que cresceram e deram muito lucro.

Lucro que foi investido em tecnologia e gerou ainda mais lucro. Indústrias de reprocessamento de plástico. Recuperação de metais nobres de lixo tecnológico. Aquecedores solares. Usinas de tratamento de água. Incineradores de produtos tóxicos. Ao invés de concentrar, Logan replicava suas pequenas indústrias em outras cidades.

Logo, tinha empresas espalhadas pelo país inteiro.

Na contra-mão da maioria dos empresários, não investia para substituir pessoas por máquinas. Tinha milhares de funcionários. Buscava dar boas condições de trabalho e pagar acima do mercado. Seu modelo de gestão buscava manter os empregados motivados. Havia sido eleito Empresário do Ano. Incentivava a criatividade. Premiava os melhores.

E foi assim que Logan conheceu Lisa Braeden Winchester.

Lisa trabalhava na filial de San Antonio da empresa que era a atual menina-dos-olhos de Logan. A WINDX que atuava em energia eólica. Não era a pioneira, mas aperfeiçoara o processo. Maior rendimento e menores custos.

Lisa era especialista em materiais. Apresentara sugestões valiosas para o projeto das pás das turbinas. E isso chamou a atenção de Logan. Pelo trabalho que desenvolvera, sabia que era inteligente.

Mas ele não esperava encontrar uma mulher tão bonita e tão .. cativante.

O casamento de Lisa há muito que não ia bem. A fase do romantismo acabara. O sexo já não era tão satisfatório. Dean não tinha mais a imagem que esquentara seus sonhos de adolescente. As brigas pelo pouco caso de Dean para com o filho eram freqüentes. Lisa achou que tinha o direito de ser mais uma vez feliz. E os olhos de Logan brilhavam por ela, como os de Dean brilharam um dia.

Brilho esse que há muito se apagara.

Dean detestava seu trabalho. Se fosse solteiro e desimpedido, já teria largado o emprego. Mas ele tinha esposa e filho. Tinha responsabilidades. Não podia agir de forma impulsiva. Dean estava fazendo o que achava que era o certo. Mas inconscientemente culpava a esposa e o filho, pela sua atual infelicidade. E, também inconscientemente, os punia se mostrando distante e indiferente.

O pedido de divórcio caiu como uma bomba sobre Dean.

Ele sabia que vinha pisando na bola, mas confiava exageradamente no efeito que o poder de sedução do jovem de 18 anos que ele já não era ainda exercia sobre uma Lisa 18 anos mais madura.

O divórcio fez com que Dean se entregasse mais ainda.

Nunca fora de cozinhar e nunca conseguira resistir à fast food. Mas do que nunca, ficava sentado na frente da TV, sem realmente estar prestando atenção, levantando apenas para pegar mais uma cerveja ou receber a pizza encomendada.

Dois anos depois, sua forma física e sua saúde estavam arruinados.

Ben resistiu ao casamento e ao padrasto por um tempo.

Mais por uma questão de lealdade ao pai do que a uma restrição à pessoa de Logan. Logan era empolgado por tudo o que fazia e parecia sempre valorizar seus interlocutores.

Era difícil não gostar dele.

Logan enchia Ben de presentes não porque quisesse comprá-lo, como o pai acusava. Simplesmente, gostava de ver as pessoas felizes.

Estava feliz com Lisa e queria ver o mundo feliz.

AGORA

Logan e Lisa viviam uma nova lua de mel em Barcelona.

São 05:03, hora de Barcelona.

Logan dorme tranqüilo, ao lado de Lisa.

Ele se vê na margem de um grande lago, que refletia magnificamente todo o azul de um céu imaculado. O lago era cercado por florestas de diferentes tons de intenso verde e magníficos picos nevados.

Um lugar tão bonito que só poderia existir num sonho.

No sonho, ele vê um anjo vindo em sua direção, caminhando sobre a superfície do lago. Enquanto caminha, abre e fecha asas. De forma lenta e ritmada, como um cisne celestial. O anjo, todo de branco, resplandecia. Logan observa, fascinado, o anjo, cada vez mais próximo. Em sua mente, ecoa uma voz masculina, sublime de tão bela e imperativa. A lingua é desconhecida, mas seu significado é claro.

– ACEITA QUE SEJAMOS UM SÓ?

Não havia COMO negar o que quer que fosse àquela voz. Não havia PORQUE negar. E Logan disse apenas:

– SIM