Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 151
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 20




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VANCOUVER

– Aprovado?

– Aprovadíssimo.

– Então podemos gravar o piloto?

– Claro. Começamos amanhã mesmo a escolher as locações.

– Eu tinha certeza que aprovariam, Eric. Tanto que já marquei os testes de elenco. Recebemos alguns vídeos e até currículos em papel, acredite.

– E a questão da semelhança física dos protagonistas? Afinal, vão ser dois irmãos. Pensou a respeito?

– Pensei e cheguei à conclusão que não é o mais importante. O importante é a química entre eles. Eles precisam seduzir o público.

– Alguém promissor?

– Não dá para saber ainda. A maioria dos candidatos é de atores adolescentes buscando seu primeiro papel adulto. Pra você ter uma idéia, o nome mais conhecido é o alguma-coisa-Ackles, um garoto que está no elenco fixo da atual temporada de Metrópolis.

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SANTA MONICA

– E então, Necker? Pode me explicar COMO essa faca veio parar em suas mãos?

– A faca estava com uma mulher-demônio que se identificou como Ruby. Eu a matei.

– Matou? Você MATOU a Ruby? MATOU? Como?

– Com essa faca que você tem nas mãos.

– Entende o que isso significa? Você MATOU minha única chance de tirar meu irmão do Inferno. VOCÊ CONDENOU MEU IRMÃO À ETERNIDADE NO INFERNO.

A última frase foi gritada. Sam tinha levantado da cadeira, derrubando-a. Sua face estava crispada, os músculos retesados, os dentes cerrados, os dedos apertando forte a empunhadura da faca. Sam estava fazendo um esforço sobre-humano para se controlar, mas seu controle estava por um fio. Estava rezando para que Necker desse um motivo, qualquer motivo. Aliás, ele JÁ DERA não um, mas DEZ motivos. CEM motivos.

Necker se levanta da banheira com dificuldade, tentando mostrar uma segurança que não estava sentindo. Parecia que iam saltar faíscas dos olhos de Sam. Seus olhos cintilavam de ódio. De pé, olhos nos olhos, Necker encara Sam buscando transmitir serenidade. O outro não podia vê-lo um segundo que fosse como uma ameaça ou estaria perdido.

– Eu fiz o que era necessário. Você acabaria enredado nas mentiras dela.

– Eu - E SÓ EU - sei o que é melhor para mim e para o meu irmão. Você não podia ter interferido.

– Vai me matar pelo que eu fiz?

Essa era a pergunta que Sam estava se fazendo desde que o merman confirmara seus temores. A pergunta para a qual ainda não tinha resposta. Sam permanece em silêncio.

– Eu ainda não estou recuperado. Enquanto você decide o que vai fazer eu fico aqui mesmo.

Dizendo isso, Necker volta a se deitar na banheira de hidromassagem. Somente agora se sentia tranqüilo. Samuel não percebera que estava novamente sob seu controle hipnótico. Quando fizera contato visual, usara a voz para um comando simples e inequívoco. DURMA. Se tentasse formular um comando mais complexo, teria sido morto antes que completasse a frase.

O comando fez com que a expressão de Sam suavizasse e ele fechasse os olhos. Necker respirou aliviado e só então formulou a instrução completa.

– SAMUEL, VOCÊ NÃO VAI FAZER NADA CONTRA MIM. VAI SE ACALMAR, VAI ENCONTRAR VOCÊ MESMO OS MOTIVOS PARA NÃO ME MATAR E VAI CUIDAR DE MIM ATÉ EU ESTAR RECUPERADO. EU VOU ESTALAR OS DEDOS E VOCÊ VAI ACORDAR. QUANDO ACORDAR, NÃO VAI LEMBRAR DE NADA DO QUE ACABEI DE DIZER.

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HADES

A bruxa sentiu-se revigorada após banhar-se no Cócito. O rio do pranto e do lamento lavava da alma as culpas por erros e pecados cometidos. Não que ela se arrependesse de alguma coisa, mas ainda assim ela se sentia mais leve.

Enganara os eflúvios deixados no Aqueronte por aqueles que torturara e matara. Agora, preparava-se para enfrentar as chamas do Flegetonte. O Flegetonte era difícil de enganar. Sabia que o rio sondava os recônditos da mente ignorando os pequenos desejos do dia a dia, os desejos efêmeros como os de levar para a cama uma mulher gostosa que cruzamos na rua e os falsos desejos que não enganam nem a nós mesmo, tipo desejo-a-paz-mundial-e-a-harmonia-entre-todos-os-homens.

O Flegetonte buscava momentos carregados de emoção genuína, de preferência os surgidos na infância, quando ainda não submetidos ao filtro do superego. Os desejos que vão moldar a personalidade ou que teriam esse potencial.

Nathalie adotou a postura clássica de meditação e fez o equivalente a uma viagem pelas próprias lembranças em busca de um momento específico, que vinha a ela sempre que baixava suas barreiras psíquicas. Um sorriso de menino, os olhos brilhando de felicidade e amor.

Ela encontra essa memória perturbadora num ponto distante de sua psique. A memória que a enfraquecia e a fazia duvidar do acerto de todos os passos seguintes que dera em sua longa vida. Ela se vê novamente uma menina de dez anos pedindo ao pai que a levasse com ele para ver as grandes montanhas nevadas.

Seu irmão Absirto, dois anos mais novo, corre até eles dizendo que queria ir também. Era dele aquele sorriso e aquele olhar. Do irmão que, poucos anos depois, ela esquartejaria e lançaria os pedaços no mar. Mas, isso foi depois. Naquele momento, ela ainda era uma menina. Estava vivendo seus anos de inocência. O pai sorri e ela faz um olhar pidão, cheio de expectativas. Naquele momento, nada era mais importante para ela. Fazer a viagem dos sonhos na companhia do pai e do irmão. Era olha para o irmão e sorri feliz para ele.

Nathalie recitou um encantamento e fixou aquele momento em sua mente e em seu coração. E avançou na direção das chamas. O Flegetonte incendiou aquele desejo e a Μηδεια vivenciou mais uma vez o deslumbramento da menina ao ver a neve do Cáucaso brilhando ao sol sob um céu de intenso azul, envolvida pelo sentimento de segurança que o pai lhe transmitia e pelo amor incondicional de seu pequeno irmão.

Ao chegar na outra margem, não existia mais dentro dela qualquer resquício daquele momento único de inocência e amor. Dentro dela, agora só existia escuridão. O mal absoluto.

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SIOUX FALLS

– Ah! Oi, Bobby.

– Isso é tudo que tem a me dizer: oi, Bobby?

– Desculpe, Bobby. Sei que deveria ter .. ligado .. Desligou na minha cara.

Bobby Singer carrega seu velho revólver calibre 38 e entra mini-van. Sam estava mais uma vez sob controle hipnótico do nyx. Sam normalmente não tinha aquele tom de voz de quem está de bem com a vida, tão diferente do tom que usara dois dias antes para contar-lhe da volta de Necker

Sabia que Sam pretendia interpelar o nyx a respeito da faca de Ruby. A criatura, ao ver-se ameaçada, usara novamente suas habilidades de controle mental. Menos mal que não fizera mal a Sam. Mas agora não era um bobo sentimental como Sam que teria que enfrentar. Não ia dar à criatura a chance de engambelá-lo.

Se Sam estiver sob controle da criatura melhor. Uma gota de seu sangue numa adaga de bronze e o mercado publicitário ia ter que procurar um novo rosto.

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INFERNO

Adam estava amarrado a uma mesa cirúrgica e tinha a caixa craniana cortada e o cérebro exposto. Havia sido esfolado e sua carne fora aberta para revelar suas terminações nervosas. O local mais parecia um açougue que um hospital. Não havia assepsia, nem era necessário que houvesse. Moscas pousavam na sua carne sangrenta. Sempre que era deixado sozinho no escuro, pequenas criaturas parecidas com salamandras subiam no seu corpo e lambiam seus cortes.

Alastair se divertia em enfiar longas agulhas em pontos específicos do seu cérebro e ver a reações que provocava. Na verdade, havia pouco a descobrir. Embora os pontos de estimulação não fossem exatamente os mesmos para todos os indivíduos, Alastair já tinha dissecado vivos tantos homens que já tinha o cérebro humano mapeado. Gostava particularmente do ponto que fazia sua vítima ter uma forte ereção.

O íncubo que personificava Sam costumava participar das sessões de tortura, embora não diretamente. Ele não fazia nada que causasse dor nem dizia nada que humilhasse ou ofendesse Adam. Geralmente, ele só ficava por ali, indiferente, observando Adam ser retalhado. Às vezes, sorria para ele. Um sorriso inocente que fazia Adam recordar o Sam criança. Adam não sabia ao certo se isso o enfraquecia psicologicamente ou lhe dava forças. Ver Sam sempre estaria na lista das coisas boas para Adam.

Outras vezes, o íncubo esperava um momento de dor insuportável de Adam para aproximar-se de Alastair e fazer nele um carinho ousado ou dar-lhe um beijo terno. As vezes, as coisas evoluíam e Alastair possuía o íncubo ali mesmo e os gemidos de prazer de ‘Sam’ se misturavam aos gritos de dor de Adam. Nestes momentos, Adam seria capaz de jurar que seu amor pelo irmão se transformara em ódio.

Mas seus verdadeiros sentimentos vinham à tona quando em seguida Alastair perguntava com a voz ofegante:

– Não quer mesmo que o Sammy ocupe seu lugar nesta mesa?

Uma lágrima escapava dos olhos de Adam e ele balançava a cabeça em negativa, cheio de culpa por ter cogitado num momento de raiva e de dor essa possibilidade.

Ele não conhecia o verso da música que dizia : Às vezes, te odeio por quase um segundo. Depois, te amo mais.

Mas era exatamente assim que ele sentia.


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Notas finais do capítulo

07.05.2012