Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 146
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 15




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INFERNO

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– Finalmente nos encontramos, Adam Campbell Winchester. Sabia que acabaríamos nos encontrando. Vocês todos acabam aqui. Pode me considerar um velho conhecido da família. Conheço gerações e gerações da família da sua mãe, os Campbell. Homens e mulheres de fibra. Não foi fácil quebrá-los. Mas o tempo trabalha a meu favor. Eu tenho todo o tempo do mundo. No final, eu sempre venço. Como você vai descobrir.

– Maldito!

– Sim, eu sou. Mas não precisa me bajular. Pode me chamar simplesmente de Alastair.

– Não vai conseguir me quebrar.

– Sabe que foram justamente essas as palavras do seu pai quando nos conhecemos. Sim, eu conheço muito bem seu pai, John Winchester. Eu e seu pai nos divertimos muito, aqui mesmo, nesta sala. Eu um pouco mais que ele, não nego.

– Você não o quebrou. Ele fugiu, maldito. Não conseguiu segurá-lo aqui.

– Ele fugiu, mas você está aqui, Adam. E depois de você, sabe quem estará aqui comigo? Seu irmãozinho Samuel, o seu querido Sammy.

– Não!

– Mas, depois do Sammy, não tem mais ninguém, não é verdade? Você sempre foi tão cauteloso. Mas também quem é que quer ter um filho com uma vadia, não é mesmo? Já seu irmão, é quase celibatário. Bem, o que eu quero dizer é que, na falta de um outro Winchester, eu vou ficar bastante tempo com o Samuel. Creio que toda a eternidade.

– Não!

– Quanto ao tempo que passaremos juntos, eu e você, isso eu não sei dizer. Vai depender só de você.

– O que quer dizer com vai depender só de mim?

– Ficaremos juntos apenas o tempo que você quiser. Você pede e eu paro imediatamente. Você pede para eu parar e Samuel toma o seu lugar. Nada mais de dores para você, eu prometo. Nunca mais. Eu faço de você meu assistente. Você vai poder brincar novamente com o seu irmãozinho. Vai descobrir o quanto é divertido, acredite em mim. Mas, enquanto isso ..

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIII.

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IDAION ANTRON

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Kälï fora pega de surpresa pelo avanço da escuridão. A escuridão que logo a envolveria não era simplesmente ausência de luz. Kälï manifestava-se naquele momento como chama, mas a luz que irradiava não atravessava a fronteira escura que vinha em sua direção, da mesma forma como não atravessava as paredes de pedra da caverna.

Ao ser envolvida pela escuridão, Kälï sentiu sua vontade sendo drenada e sua energia sendo absorvida. Sua forma contraiu-se, até estar reduzida a um ponto. Um ponto que pulsava com cada vez menos intensidade.

Aquela escuridão se alimentava não apenas de luz, mas também de calor, de emoções, de pensamentos, de força vital. Como um buraco negro, ela absorvia energia em todas as suas formas.

A primeira coisa a fazer era reconhecer a natureza do ataque. Aquilo que se apresentava como escuridão tinha natureza espiritual. Era uma alma humana corrompida além de qualquer esperança de salvação. Uma alma antiga, envenenada por uma dor que o tempo só fizera aumentar. Nela se instalara um vazio que nunca poderia ser preenchido. Uma fome que não podia ser aplacada. Um mal que não conhecia limites.

A alma corrompida acreditava que sofria a dor de um amor traído. Não, aquela alma não sofria por amor. Aquela alma nunca conhecera este sentimento. Houve vertigem. Houve exacerbação dos sentidos. Houve êxtase. Houve desejo de posse. Houve obsessão. Houve e continuou havendo. A obsessão não é um círculo. É uma espiral que cresce sem limites. Que exige sempre mais. Que não se satisfaz nunca.

Foi intenso, mas nunca foi amor.

Aquela alma inexperiente chamou de amor algo que sempre foi apenas uma doença da alma.

A doença que nascera na mente daquela menina se apoderara dos seus sentidos, dos seus pensamentos e suas emoções. Estava ali, à espreita, a espera DELE. Daquele que seria para sempre o centro do seu universo.

Ela o seguiria de forma obsessiva aonde quer que ele estivesse. Ela destruiria qualquer um que se pudesse entre eles. O seguiria até o Inferno. Isso era literalmente o que ela estava fazendo naquele momento. Ela seguiria Iάσων até o Inferno.

Kälï deu-se conta que o ataque não era dirigido somente contra ela. A escuridão também estava drenando calor dos corpos físicos dos argonautas. O frio intenso já queimava suas peles e acabaria por congelar-lhes o sangue nas artérias. Eles não sobreviveriam muito tempo.

Gabriel. Seu receptáculo humano seria o primeiro a morrer. Não. Isso ela não ia permitir. A bruxa não ia vencê-la. Por mais poderosa que fosse, a bruxa ainda era apenas humana.

Kälï era uma deusa, a mais poderosa de seu panteão, a própria personificação da natureza em seu eterno ciclo de vida e morte. Kälï trazia a vida através do sexo e assim como trazia a morte, mas a morte não é o fim, já que seus seguidores acreditam na reencarnação. Os seguidores de Kälï não vagam como sonâmbulos uma dimensão morta. Eles vivem novas vidas nas ruas e estradas do mundo. A morte é apenas o início de um novo ciclo, um novo começo.

Kälï é chamada de deusa da destruição, mas os ocidentais nunca traduziram adequadamente o real significado da sua figura, tida como demoníaca, e a origem do seu epíteto. Kälï não representa o Mal, representa a destruição do Mal. E, assim como destruíra o demônio Raktabija, ela também destruiria a feiticeira Μηδεια, que agora chamava a si mesma de Nathalie Helms.

A ira inflama Kälï e sua chama mais uma vez resplandece. O fogo cresce e faz recuar a escuridão. Kälï ataca, mas seu ataque devastador poderia ser interpretado facilmente como um presente. Por qualquer um que não fosse Nathalie Helms.

O vazio escuro e gelado da alma de Nathalie Helms é preenchido por uma sensação totalmente nova. O ardor do sexo quando temperado pelo amor e por tudo aquilo que ele representa: comunhão de corpos e almas, celebração da vida, promessa de geração de uma nova vida, entrega total sem medo nem hesitação e elemento reforçador de todo amor verdadeiro. Algo sublime que ela nunca conheceu e que, agora que conhece, sabe que não pode mais viver sem. Algo inestimável que lhe é subitamente negado. A bruxa grita em silêncio a sua perplexidade. Foi como ser despertada do mais belo dos sonhos por um balde de água fria e saber que a lembrança do que perdeu vai deixá-la para sempre incompleta.

À alma sombria não resta alternativa senão fugir através do portal no teto da caverna, onde Kälï não podia segui-la sem declarar guerra a Hades, o deus grego do submundo.

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SIOUX FALLS

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– Lembro desta propaganda de jeans. Pela garota e pelo cenário, claro. Mas é ele. A propaganda é de 2002. Ele não mudou quase nada.

– Ele não envelhece na mesma velocidade que nós. Segundo a tradição, nyxes podem viver centenas de anos. Deixa eu ver essa foto.

– Aqui tem uma que mostra melhor o rosto.

– É, o sujeito era mesmo boa pinta. A criatura soube escolher bem a aparência. Modelo masculino internacional. Com um senhor apartamento de frente pro mar em Santa Monica e um carrão do ano. Ele nem precisava sair à caça. As vítimas deviam fazer fila na porta dele, implorando para serem abatidas.

– Ele morava em Los Angeles há quase dez anos. Antes, morou em Paris. Eu encontrei registros de trabalhos de moda que ele fez por lá. E de alguns em Milão. Realmente a aparência dele mudou muito pouco. Mais no corte de cabelo. Nenhum sinal de envelhecimento.

– Ele não ia poder ficar sob os holofotes por muito mais tempo. Ia chamar muita atenção ele não envelhecer. Pesquisou mortes e desaparecimentos nos círculos que ele freqüentava?

– Pesquisei e não encontrei nada. Mas isso pode significar apenas que ele foi cuidadoso. Los Angeles é uma metrópole. Some e morre gente todos os dias. Ele é um transmorfo. Bastaria que escondesse bem os rastros. Se bem que ..

– Se bem que .. o quê?

– Minha intuição. Pode ser que ele tenha matado pessoas um dia, mas não acho que ele ainda seja uma ameaça.

– Sam, você quase morreu afogado. E foi o senhor boa-pinta aqui quem atraiu você para o mar. E você vem me dizer que ele não representa uma ameaça?

– Apesar do lance estranho comigo, acho que ele estava conseguindo viver a vida dele sem prejudicar ninguém.

– Sam, não se iluda. Ele não era humano. Alguns nyxes devoram humanos. Não podemos cometer o erro de atribuir valores morais e formas de pensamento humanas, a quem não é. Ser um bom nyx não é a mesma coisa que ser um bom ser humano. Entende onde quero chegar?

– Entendo. Você está certo, Bobby. Como sempre, aliás.

– E quem é esse?

– Chad Murray. É ator. Não é de primeira linha, mas não é desconhecido. Ele aparece com destaque em mais de um porta-retratos no apartamento do Necker. As fotos mostram uma certa intimidade entre eles. Bons amigos ou algo mais. Tentei fazer contato com ele em Washington, mas parece que tirou uns dias e viajou. Ele talvez saiba de algo.

– Talvez seja por aí. Se esse amigo for humano, essa amizade pode esclarecer muita coisa.

– Você acha que Chad Murray pode não ser humano?

– Seu amigo Necker é a prova de que também monstros podem assinar contratos de trabalho e pagar impostos.

– Eu vou voltar ao apartamento e procurar pistas. E vou pesquisar mais sobre esse Chad Murray.

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ANACAPA MIDDLE ISLAND

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– Eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui pajeando você, sabia? Já era mais do que tempo de você abrir os olhos.

– Você é a última pessoa que eu imaginaria que pudesse vir em meu socorro. Sempre me detestou.

– Não fiz por você. Fiz pelo meu irmão. Ele não ia me perdoar se eu te deixasse morrer.

– Ele nem ia ficar sabendo. Não havia nenhum motivo para justamente você estar lá naquele momento.

– Ele podia nunca ficar sabendo, mas EU saberia. Eu nunca mais teria coragem de voltar a olhá-lo nos olhos.

– Bem, não importa o motivo. Obrigado assim mesmo. Mais ainda sabendo o quanto deve ter sido difícil para você. Eu talvez tivesse sobrevivido, mas se você não me trouxesse para cá minha recuperação levaria muito tempo.

– Ainda não cicatrizou completamente.

– Está sendo mais rápido que da outra vez. Uma grande ironia, não acha?

– É. Pelo menos agora eu sabia o que tinha que fazer. Daquela vez, .. Eu não queria ter feito aquilo. Não de verdade. Eu fui um cretino.

– Porque não diz isso para ele. Ele disfarça, mas sei que sente a sua falta.

– Eu tentei. Mais de uma vez. Ele não quis me ouvir. Ele não acreditou quando eu disse que foi um acidente. Mesmo você tendo se recuperado, ele não voltou a me procurar. Nem mesmo depois que vocês se separaram.

– Nós não nos separamos.

– Não?

– Não! Nós nunca estivemos juntos.

– O quê?

– Nunca estivemos juntos. Não de verdade. Nas vezes que aconteceu, foi meio na brincadeira. Entre nós sempre foi só amizade. Porque é tão difícil acreditar nisso?

– Puxa, nem sei o que dizer. A forma como ele sempre reagiu .. eu .. Eu fui realmente um idiota. Posso pedir uma coisa?

– Claro.

– Me ajuda a acertar as coisas com ele?

– Claro. Já era tempo de vocês fazerem as pazes.

– E cadê ele que não apareceu até agora?

– É uma longa história. Mas, a resposta para sua pergunta é: ele está no Inferno.


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Notas finais do capítulo

28.03.2012