Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 117
sete vidas prólogo capítulo 5




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Já tinha feito a escolha das sete realidades que tentaria alterar o destino.

A questão era: o quê precisava ser modificado em cada uma delas? Dificilmente um único evento poderia ser responsável por tudo de ruim que aconteceu depois. Nada tinha uma única causa. Talvez fossem necessários milhares de ajustes. Difícil saber se uma mudança levava na direção certa ou acelerava o caminho para o fim. Mais difícil ainda era saber se uma mudança não seria logo depois anulada por outra, imprevista, um efeito colateral indesejado da primeira.

Mas, pelo menos, tinha que tentar. Não podia ficar imobilizado pela incerteza.

Na única realidade que o Apocalipse fora abortado, isso se deu pela ação obstinada dos receptáculos destinados a abrigar as essências de Lúcifer e de Miguel: os irmãos Samuel e Dean Winchester. Os irmãos tiveram sucesso graças à forte ligação emocional que existia entre eles e à inabalável determinação de Dean de sempre fazer o que era certo. Ou de fazer o errado, o irracional, o impossível para alcançar o objetivo que acreditava ser o certo.

Como repetir aquele resultado nas demais realidades? A estratégia de Gabriel estava baseada na crença que os irmãos Winchester, unidos, eram a chave para deter o Apocalipse. Funcionaria sob outras condições?

O primeiro problema a ser enfrentado era que Samuel e Dean Winchester não existiam juntos em todas as sete realidades escolhidas. Mas estas realidades foram escolhidas exatamente por isso. Diversidade. Seria muito mais fácil se pudesse escolher apenas realidades em que Dean e Samuel, além de irmãos, fossem também caçadores, mas pressentia que não daria certo. As realidades escolhidas precisavam ser representativas das infinitas variações do multiverso. Ou não poderia salvá-las a todas.

Onde os irmãos não existiam, quem poderia substituí-los nesta missão? Onde eram diferentes, como trazê-los de volta para o roteiro original?

Gabriel sublinhou mentalmente os pontos essenciais. Na realidade 1, os vínculos entre os irmãos eram fracos. Na realidade 2, Dean existia numa versão feminina e isso desequilibrava a parceria dos irmãos como caçadores, levando Sam a assumir riscos inaceitáveis. Na realidade 3, não eram irmãos de sangue e forças externas agiam para separá-los. Na realidade 4, Sam morrera muito jovem e Dean perdera completamente o rumo. Na realidade 5, Dean nunca existira. Na realidade 6, Dean e Sam somente existiam somente como personagens de ficção. Na realidade 7, eram inimigos declarados.

O segundo problema é que o Apocalipse não seguiu o mesmo roteiro em todas as realidades. Dean e Sam desafiaram monstros, anjos e demônios com sucesso. E onde o inimigo era outro? Como ter sucesso contra um asteróide em rota de colisão com a Terra? Como impedir que bilhões morressem em desastres naturais ao redor do mundo? Como parar a carnificina trazida por um vírus que afetava o cérebro e mudava os padrões de comportamento dos infectados? Sam e Dean eram apenas homens. E contra ameaças desta magnitude, homem algum tinha qualquer chance de sucesso.

Como reproduzir um roteiro quando os personagens e as circunstâncias são outros?


Recapitulando:


Na realidade 1, os laços entre os irmãos sempre foram frágeis e se partiram. Sam tinha vergonha do irmão cross-dressing e, ao se dar conta que não conseguiria mudá-lo, desistiu definitivamente dele e seguiu em frente sozinho. Sam não fora criado por John para ser um caçador, mas a morte de Jessica o convencera de que era inútil fugir ao destino dos Winchester e que, gostando ou não, só lhe restava levar em frente o negócio da família. Mas, sem a proteção do irmão, de quem se afastara, e sem ter sido suficientemente treinado, acabou morto por Gordon Walker, que se convencera que Sam era o Anti-Cristo. Sam morreu sem saber que o irmão, numa noite em que estava especialmente deprimido, e já meio bêbado, entrou em um bar barra-pesada vestido de cowgirl e intencionalmente provocou os freqüentadores. De certa forma, foi suicídio. Dean foi espancado até a morte. O seu último pensamento coerente foi que finalmente deixaria de envergonhar Sam. Mas, embora suas mortes tenham sido violentas, pode-se dizer que tiveram sorte. Muito mais sorte que quem viveu para testemunhar as explosões. Os cogumelos de fogo atômico que engoliam cidades inteiras ao redor do mundo. Mais sorte que quem viu as cinzas que caíam como neve, cobrindo tudo, matando o verde e trazendo a fome. A radiação, a fumaça no ar, a ausência do sol. Tudo contribuia para que as pessoas caissem nas ruas, primeiro doentes e depois mortas. Os Cavaleiros do Apocalipse caminhavam pelo mundo sem encontrar resistência. O Paraíso fechou os ouvidos às súplicas dos homens e abandonou o planeta a sua própria sorte.


Na realidade 2, Sam via Diana como sua irmãzinha eternamente indefesa, a quem precisava proteger. Era superprotetor e isso foi a sua ruína. Temendo que a irmã não conseguisse dominar seu adversário e se pôr a salvo a tempo, deliberadamente atraiu para si a artilharia dos moradores de Cedar City, uma cidadezinha do Utah assustada por pavorosos assassinatos em série. Ao ver o que a turba enfurecida fez com o corpo do irmão, Diana desistiu da cruzada inglória de defender quem não faz por merecer o sacrifício. Mas Diana iludiu a si mesma quando imaginou que poderia retomar uma vida normal ao lado do ex-marido e do filho. Ela e Luke Braeden acabaram por se reconciliar, mas o Inferno tinha outros planos para Benjamin, o filho dos dois. Lilith se apossa do corpo de uma jovem babá, seqüestra o garoto no dia do seu aniversário de 5 anos e desaparece com ele. Luke abandona a advocacia e torna-se parceiro de Diana na longa busca por Lilith. Foram anos de luta contra os demônios que a protegiam. Ao reencontrarem Lilith, Benjamin, agora com 14 anos, estava irremediavelmente corrompido pelo sangue de demônio e manifestava imenso poder. Luke fora assassinado anos antes, mas retornara como receptáculo de Castiel. Sem vínculos fortes com o filho, com quem conviveu por muito pouco tempo, Diana não conseguiu convencer Benjamin a renegar Lúcifer. Castiel tentou um ataque direto, mas foi morto por Lúcifer com sua própria espada. Após terríveis batalhas, Lúcifer, ainda vestindo Benjamin, passou a reinar soberano sobre a Terra por toda a eternidade.


Na realidade 3, Dean cedeu à paranóia de John e se voltou contra Sam Harvelle. Com todos os laços familiares e afetivos quebrados, Sam foi manipulado por Robert Singer e abriu o portal do Inferno, dando início ao Apocalipse. Ao se dar conta do que fizera, Sam matou Robert Singer e tentou fechar novamente o portal, mas foi mortalmente ferido por Crowley. Ele e muitos outros demônios já estavam em frenética atividade na Terra muito antes do portal ser aberto. Tyson Brady, ex-colega de quarto de Sam Havelle dos tempos de Stanford e presidente da multinacional Niveus Pharmaceuticals, dissemina o vírus Croatoan nos cinco continente, levando o mundo ao caos. Demônios possuem os corpos de agentes da lei, altas patentes do exército, políticos e até médicos e enfermeiras. E atacam das mais diversas maneiras. Caçadores, médiuns, sacerdotes e qualquer um que possa representar uma ameaça são caçados e mortos. Mas, o ataque é direcionado principalmente aos receptáculos, para impedir que anjos possam se manifestar no plano material. Jimmy Novak e a família são massacrados. Cercados por criaturas infernais, Dean e John lutam com todas as suas forças e até a última bala, mas tombam frente a inimigos em superioridade numérica esmagadora. Os anjos tardam a agir e quando finalmente o fazem, a Terra inteira se torna um campo de batalha. Mais organizados, os demônios vencem e o Inferno se implanta na Terra.


Na realidade 4, Dean não conseguiu superar a perda do irmão na juventude e isso acabou por comprometer seu casamento e sua relação com o filho. Dean foi lentamente perdendo o gosto pela vida à medida que se deixou enredar por uma rotina frustrante. Deixara de ser o protagonista de sua própria vida. Sua amargura era como um veneno, afastando quem poderia ajudá-lo. Era infeliz e parecia querer a infelicidade de todos a sua volta. Sua determinação só reapareceu quando era tarde demais, não só para ele, mas para o mundo inteiro. Um asteróide rumava em rota de colisão com a Terra. A histeria que tomou conta do mundo e fez com que muitos se entregassem ao desespero, teve em Dean o efeito contrário. Sentiu que precisava recuperar o tempo perdido. Corrigir seus erros. Derrubar o muro que ele próprio erguera entre ele e o filho. Finalmente aceitou que Sam estava morto e que sua responsabilidade agora era com seu filho, um adolescente confuso que, como o irmão, tampouco merecia não viver o suficiente para conhecer e desfrutar do amor. Atravessou um país tumultuado, que o pânico coletivo fizera entrar em colapso. Em duas ocasiões por pouco não perdeu a vida. Precisou sacrificar o Impala, mas chegou a seu destino com dois dias de vantagem. Um tempo curto, em condições normais, para reconstruir uma relação tão desgastada. Tempo suficiente quando a proximidade da morte faz com que nada mais seja realmente importante. Dean abraçava forte o filho Benjamim e ambos estavam reconciliados e serenos no momento em que o asteróide Anúbis atingiu a costa da Índia e o mundo acabou.


Na realidade 5, Adam passou seis meses no Inferno, de onde foi resgatado pelo anjo Balthazar. Na ausência do irmão, Sam cai sob a influência de Ruby, e se deixou viciar por sangue de demônio, ficando susceptível à influência de Lúcifer, que, do Inferno, passou a controlar seus atos. Acreditando ser a única forma de salvar Sam, Adam aceitou tornar-se receptáculo de Miguel. Com seus corpos controlados pelos dois poderosos arcanjos, Adam e Sam enfrentam-se no que devia ser a batalha decisiva entre o Bem e o Mal. Mas, os laços entre os irmãos se mostram insuspeitadamente fortes. Os receptáculos resistem e o golpe mortal decisivo não é desferido. O empate transfere a responsabilidade pela vitória para outros atores. Os Cavaleiros do Apocalipse trazem guerra, fome, morte e peste, esta na forma do vírus Croatoan. Balthazar ataca humanos possuídos com o bastão transmutador que converte os adversários em sal. Gabriel usa o bastão de Moisés para afundar a Austrália, cuja população fora dominada e enlouquecida pela Prostituta da Babilônia. Rafael usa a trombeta que derrubou as muralhas de Jericó para destruir cidades inteiras. Nova York foi apenas a primeira. As baixas já eram gigantescas quando Uriel ativou simultaneamente em Los Angeles, em Xangai e em Bombaim uma versão ainda mais poderosa da arma que, no passado, vaporizou Sodoma e Gomorra. Entrincheirados no Paraíso e no Inferno, Miguel e Lúcifer, após silenciarem as indesejadas vozes de seus receptáculos, reúnem almas e armas para a batalha final. Na Terra, o cenário é de destruição.


Na realidade 6, onde não existiam caçadores treinados para enfrentar monstros, a humanidade foi rapidamente dizimada pelo vírus Z. A velocidade de contágio foi espantosa. Exponencial. Vinte e quatro horas após a morte do paciente zero em Nova York, já havia focos de infecção em todas as grandes cidades do mundo. Os fluxos de turismo e de negócios espalharam a doença pelos cinco continentes antes que o mundo tomasse conhecimento da existência e da gravidade desta nova e terrível pandemia. A taxa de letalidade era de 98%, a maior dentre todas as doenças conhecidas. Infelizmente, a incapacitação e a morte não eram imediatas. Os infectados não transmitiam a doença de forma passiva. Eles o faziam de forma deliberada. Eles matavam. Com as funções cerebrais irremediavelmente comprometidas, atacavam os saudáveis para aplacar uma fome insaciável induzida pela própria doença. Qualquer ferimento, por menor que fosse, levava à infecção. O exército de zumbis só crescia. Em Vancouver, Necker poderia ter fugido para o mar e escapado. Mas, ainda personificando Jared Padalecki, ele voltou e morreu defendendo Jensen Ackles dos zumbis que invadiram a casa em que moravam. Cercado, Jensen investiu armado contra os zumbis com uma bravura que deixaria orgulhoso seu personagem mais famoso. Mas, não era um filme e não teve final feliz. Ele, a cidade e o mundo estavam condenados.


Na realidade 7, Sam foi sendo lenta e irremediavelmente corrompido pelo mal após o pacto demoníaco que fez para trazer Jessica de volta da morte. Dean tornou-se seu ferrenho inimigo, mas caiu numa armadilha preparada pelo irmão e acabou paraplégico e terrivelmente mutilado. Indefeso, foi torturado pelo irmão por anos, até ser sacrificado por Sam no ritual satânico que abriu o portal do Inferno, dando início ao Apocalipse. Ao ver a faca ritual empunhada por Sam ser levantada, Dean fechou os olhos e lembrou da primeira vez que teve o irmão, um bebê com poucos dias de vida, no colo. Em seu rosto se formou um sorriso triste e ele abriu seu coração para um sentimento que acreditava definitivamente perdido. Amor. Quando a faca transpassou seu coração, não encontrou ali nem medo, nem ódio nem mágoa. Somente o mesmo velho amor incondicional que o sorriso daquele bebê lhe despertou muitos anos antes. Com o portal escancarado, demônios e outras criaturas do Inferno atravessaram. A abertura do portal do Inferno coincidiu com o fechamento do portal do Paraíso. A alma de Dean foi a última a atravessar o portal. Dias terríveis se seguiriam. Lúcifer e os anjos caídos da primeira rebelião recebem o apoio da facção liderada por Uriel. Acuados, os anjos leais a Miguel lançaram o fogo purificador contra as hordas demoníacas quando estas já se consideravam vitoriosas. Na Terra, restaram apenas cinzas e fumaça. Nenhum resquício de vida.


Gabriel respira fundo ao encarar o tamanho do desafio que tem pela frente.

– É agora, Dean. Ou melhor, Deans. Preparados ou não, é hora de virarmos esse jogo.


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Notas finais do capítulo

06.09.2011