Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 113
sete vidas prólogo capítulo 1




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ALGUNS ANOS ANTES


Gabriel mal podia acreditar. Como a grandiosidade daquilo pudera ter sido escondida dele e de seus Irmãos por tanto tempo. Em algum momento ele teria que encarar o fato de que quem lhe revelara aquilo fora um demônio cultuado por milhões, num passado recente, como uma deusa. Isso deveria incomodá-lo, mas estava maravilhado demais para isso.

Kälï despertara sua sexualidade. Antes dela, simplesmente não dava importância. Afinal, anjos não têm sexo. Não é assim que os homens vêem os anjos? Como seres assexuados. Mas, sentia-se outro quando estava com Kälï. Sentia-se vivo. Especial. Único. Não é à toa que ela era cultuada como uma deusa do sexo. Era simplesmente impossível a qualquer um resistir a ela. E ele não queria resistir. Gostava do azul vibrante de sua pele. Adorava se sentir envolvido e tocado por dez braços.

Mas Kälï lhe dera muito mais que prazer e conhecimento de suas próprias potencialidades.

Kälï lhe revelara um novo mundo. Um, não. Milhares. Incontáveis. Infinitos. Existiam infinitas realidades. A Terra era o centro da Criação, mas replicada infinitas vezes. Um mesmo padrão que se repetia com infinitas variações. Vistas de longe, muitas daquelas realidades eram indistinguíveis umas das outras. As diferenças eram muito sutis. Estavam, muitas vezes, em detalhes insignificantes das histórias pessoais de um único ou uns poucos de seus habitantes. Mas, à medida que o tempo passava, mais diferenças se acumulavam. Um dia, aquelas realidades tão semelhantes teriam uma História bastante diferente.

As diferenças também podiam ser de outras naturezas. Havia inúmeras diferenças geográficas entre as realidades. Uma ilha que não existia numa. Uma cidade que ficava do lado contrário do rio em outra. Diferenças no traçado dos continentes. Diferenças no mapa político. Uma variação muito comum era a forma com que a África era dividida. Em algumas destas realidades, a Califórnia pertencia ao México. Em muitas, a União Soviética ainda existia.

Às vezes, os mesmos fatos repetiam-se nos diferentes mundos, mas com uma defasagem de tempo. De poucos dias a muitas décadas. Algumas tinham até mesmo leis físicas diferentes. Em algumas realidades, o céu era normalmente vermelho. Em outras, a cor característica das folhas era o azul, não o verde.


Por um tempo, dedicara-se a explorar aqueles mundos e suas diferenças. Um homem santo de uma realidade poderia ser um serial killer em outra. Às vezes, um indivíduo, que era do sexo masculino em praticamente todas as realidades, surpreendia aparecendo como mulher em umas poucas delas. Era tudo fascinante. Sempre aparecia algo que o surpreendia e maravilhava. Estava descobrindo o quanto humanos eram surpreendentes. Cada vez mais entendia a decisão do Pai de criá-los. De dar-lhes livre arbítrio. E era fascinante e surpreendente a forma como usavam essa dádiva, que aos próprios anjos fora negada.

Descobriu, surpreso, que, embora tenha encontrado homens em todas as realidades que conheceu, não existiam anjos em todas. Em algumas, os espaços metafísicos onde existiam o Paraíso e o Inferno estavam vazios. Em muitas, não existiam quaisquer criaturas de natureza espiritual. Nestas, nem mesmo podia se manifestar em forma física, apenas como energia. Encontrou até mesmo realidades cujo espaço metafísico era dominado por outros panteões de divindades. Deuses pagãos.

Nas realidades em que anjos existiam, descobriu diferenças tão surpreendentes quanto às do mundo material. A rebelião de Lúcifer e a profecia de seu enfrentamento com Miguel no Apocalipse estavam presentes na grande maioria das realidades em que existiam anjos. Mas, não em todas. Em umas poucas, fora Miguel o líder da grande rebelião. Estranhou ver Castiel em posição de destaque em diversas realidades. Mas o mais estranho foi conhecer diferentes versões de si próprio.

Não era propriamente se encontrar com um outro que reconhecia como si mesmo. Ao adentrar em outra realidade, tornava-se um com seu eu daquela realidade. Geralmente os outros não percebiam a mudança, a não ser que dissesse algo despropositado. Era estranho se ver novamente tratado com as honras de arcanjo e de estar cercado da elite celestial. Mais estranho ainda era se ver subitamente nos lugares mais sórdidos no meio de alguma das elaboradas armações do Trickster.

O Trickster. Ele próprio ainda não era o Trickster, embora o fosse em um número espantosamente grande de realidades. Mas seria. Muito em breve ele descobriria que ser o Trickster era algo inevitável. Estava escrito no seu destino que assim seria.

Seus irmãos. Houve um tempo em que era difícil distinguir qualquer traço de individualidade entre eles. Eram um exército, mas, ao mesmo tempo, eram um só. Mas isso foi há muito tempo. Antes da criação dos homens. A criação dos homens foi o divisor de águas. Depois disso, eles nunca mais foram um só. E, agora, ele tinha segredos sujos. Kälï e a desconcertante descoberta que ninguém era único.

Não podia revelar a verdade a seus irmãos. Não sem revelar a fonte da descoberta. Isso certamente atrairia a atenção de todos para Kälï. Não descansariam até que fosse destruída. Ele próprio não seria poupado. Diriam que sua proximidade da deusa-demônio era completamente inapropriada. Uma verdadeira traição.

Mais ainda agora. Em todas as realidades observou que os anjos estavam se dividindo em facções. Que havia um processo em andamento. Anjos eram guerreiros. Almejar a guerra e a vitória era da sua natureza. Estavam novamente inquietos. A longa ausência do Pai piorava tudo. Começavam a surgir aqueles que acreditavam falar em Seu nome. A sonhar com a purificação que viria com o Apocalipse.

Os anjos sempre se ressentiram da atenção que o Pai devotava aos humanos. Esse ressentimento estava na origem da rebelião de Lúcifer e o número de seguidores que reuniu mostrava o quanto esse sentimento estava difundido. E, embora não expresso em palavras e atos, estava ainda hoje presente nos sentimentos de muitos de seus Irmão.

A idéia de que os anjos implantariam o Paraíso na Terra parecia uma grande ironia para Gabriel. Talvez se conseguissem implantar o Paraíso no Paraíso, ele pudesse levar a idéia a serio. Acabaria sendo apenas mais um banho de sangue. E todos pagariam um alto preço pelo equívoco.

Nos últimos tempos, preferia passar mais tempo no plano material. Cada vez menos se sentia identificado com aqueles que, por mera força do hábito, ainda chamava de Irmãos.


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Notas finais do capítulo

13.08.2011
O conceito de realidades alternativas onde anjos não existem aparece no episódio 6x15, "The French Mistake", onde Dean & Sean caem num universo onde são Jensen & Jared.
ESCLARECIMENTOS:
Este capítulo e os seguintes são realmente o PRÓLOGO. Lembrando que a fic narra o terceiro confronto dos Winchesters com o Trickster, esse capítulo narra algo que aconteceu antes do primeiro encontro de Gabriel com os irmãos Winchester no seriado. Todos os encontros de Gabriel com os Winchester estão, portanto, dentro do plano que logo será revelado.



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