As aulas se passavam de forma tão lenta, que quase parava.

Mais usei de todo o tempo que tinha para tentar achar uma maneira de fazer Hisaki pagar por tudo.

Sim, tô até parecendo uma daquelas heroínas de quadrinhos.

Misericórdia.

Batia meu indicador na cadeira enquanto ouvia o professor de química falando numa língua que nem entendia.

Minha mente maquinava uma nova idéia sobre tudo.

Tinha que encontrar um jeito de resolver essa historia.

Além do mais, Justin deve receber um belo soco na cara por ter sido um imbecil.

Ah, ele deveria.

Me levantei no pulo quando a aula acabou.

Tinha que pensar sossegada no acochego do meu quarto.

Sai apressadamente dando um tchau rápido á Jordan e Martha.

Quando cheguei ao estacionamento, não vi o carro de Justin.

O que tinha acontecido?

-Vou te levar pra casa – disse Oliver por minhas costas

Me voltei pra trás o encarando.

-Suspensos – esclareceu ele num tom natural

-E eu escapei por pouco – disse aliviada enquanto ia rumo ao Porsche

Ele riu sem humor enquanto abria a porta do carro pra mim.

O caminho conversamos sobre tanta coisa, mas em nenhum momento foi tocado no assunto do assassinato.

Sabia que ele sequer pensaria nisso, mas no meu caso a sinfonia tava tocando de maneira rápida e bem desordenada.

Chegando em casa, não me deparei com Justin e achava bom que não o visse.

Subi para o meu quarto e me tranquei nele.

Pensava em uma maneira de fazer Hisaki confessar.

Isso!

O único jeito existente de resolver isso, era fazendo Hisaki falar.

Mais se fizesse isso, estaria criando a chance de que ele leve junto Justin e Oliver também, isso sem contar com quem mais estiver envolvido nessa historia.

Ah!

A batata tá assando do que meu lado.

O que eu faço?

Deixo isso de lado ou sigo em frente não me importando com as conseqüências?

Pensa, Lily. Pensa que você encontra um jeito, basta pensar.

Isso, pensa.

Muito bem, como fazer Hisaki falar?

Obter sua confissão e entregá-lo a policia?

A coisa podia funcionar de forma bem simples.

Tinha que colocar um gravador na minha roupa, tal como nos seriados que tanto morri de assistir e fazer um charme para conseguir sua confissão.

Simples e tosco assim!

Eu só tinha que fazer isso, era tão besta, mas esperava que funcionasse com Hisaki.

Suspirei me virando para ver que o entardecer já me chamava para fazer minha caminhada matinal.

Tinha tudo preparado, uma preocupação á menos para mim.

Tive como parceira de caminhada Milene que falava mais do que o homem da cobra.

O que T.K tinha dado pra ela?

Serio, nunca vi ninguém falar mais do que ela. Até Rosana perdia de feio.

Cheguei em casa encontrando enfim Justin sentando no pé da escada com a cabeça abaixada. Ele se levantou ao ver que chegava.

-Precisamos ter uma conversinha – disse ele me olhando serio

-Não tenho nada pra conversar com você – disse ríspida enquanto me encaminhava para a escada

-Lily – disse ele apelativo – Tenho que explicar tudo.

Voltei meu olhar para ele.

Seus olhos mostravam uma tristeza que parecia vir das entranhas da sua alma.

Sou sensível demais para não me comover com a tristeza dele.

Me abaixei e acariciei seu rosto.

Dois anos atrás, quando ele chorava pela morte da Evelyn eu estava pouco me lixando.

Estava me divertindo no shopping com minhas amigas, chegava estar tão alegre por eles dois não estarem juntos que nem me dei ao luxo de confortá-lo, de tentar amenizar sua dor.

Apenas virei as costas e me fingi de cega diante da sua tristeza.

Não era minha, por isso não me importava.

Senti que as lagrimas desciam do meu rosto enquanto olhava-o.

Fui uma garota insensível e imbecil que nem sabia valorizar o irmão que Justin.

Talvez tenha sido mais do que isso.

Abracei-o fortemente.

-Desculpe – murmurei – Desculpe, desculpe.

Ele então afagou minhas costas.

Relaxei.

-O que houve meninos? – perguntou mamãe aparecendo preocupada

Nos afastamos um do outro.

Justin sorriu pra ela largamente.

-Lily aprendeu – disse ele solene

Ela o olhou depois pra mim e me deu um sorriso que não via faz tempo.

-É bom ver que minha menina finalmente está amadurecendo – disse ela passando a mão pelo seu cabelo

Os olhei por um instante chocada, depois apenas tive pique para sorrir.

Sim, tinha me dado conta de que minhas atitudes eram mesquinhas, egoístas e prepotentes.

Acho que alguém adoraria me ouvir dizendo isso.

Sou um ser humano, não sou perfeita, mas meus defeitos infelizmente superaram minhas qualidades, até agora.

Me levantei.

-Preciso tomar um banho – avisei começando a subir a escada – Nos falamos depois.

Tomei aquele banho relaxante e demorado.

Tava precisando disso.

Em seguida, fui preguiçosamente fazer o bendito dever de casa.

Mentira, fiz apenas aqueles que julgava necessário o resto deixei de mão.

Demorou apenas um tempinho, até Rosana e Lise darem as caras aqui em casa, me divertindo como sempre.

Prefirimos apenas assistir um filme juntos no aconchego da minha cama, tínhamos aula afinal amanhã.

Tristeza.

Contei á elas sobre meu plano de fazer Hisaki confessar.

-Tá louca menina! – exclamou Lise me olhando com os olhos quase pra sair das órbitas

Pisquei atordoada com seu ataque.

-Amiga – disse Rosana passando a mão no cabelo dela, achando com toda a certeza que ela era alguma espécie de cadela.

-Você não vai fazer nada – decretou Lise me olhando seria – Fique quieta no seu canto, essa coisa já passou, então fica na sua.

-E deixar ele solto por ai? – retorqui – Quer que ele mate mais alguém?

Ela levou seus dedos para o começo do seu nariz e fechou os olhos.

-Lily – disse ela com uma respiração forte – Não banque a heroína, pelo bendito ser que rege essa droga de vida!

-Não vou mudar de idéia coisa alguma – rebati – Fica na boa, não correrei nenhum risco. Disso estou te dando a certeza.

-Você não conhece Hisaki – disse ela sombria

-E você o conhece? – retorqui

-Mais do que você imagina – rebateu ela passando a mão no cabelo

-Gente – disse Rosana – Qual o babado com o Hisaki?

-Nana, fica pra depois – respondeu Lise calçando sua rasteirinha – Vamos indo, a noite já teve surpresas demais.

-Ficou zangada? – indaguei hesitante a olhando

-Não estou e nunca estarei – disse ela seria – Apenas estou deixando que você faça o que bem te dar na telha, se pretende fazer isso, ótimo, não te apoio, mas também não irei de impedir. A decisão é sua, amiga. Apenas sua.

Olhei em seus olhos.

Uma crença que não iria ser abalada tão logo.

-Meninas – disse Rosana nos olhando alternadamente – Não façam essas caras que me assustam.

Me virei para ela e apertei suas bochechas, fazendo-a dar um gritinho.

Sorri seguida de Lise que caminhou para porta.

-Vamos, Nana – disse ela – Até amanhã, Lily.

-Tchau, coração – disse Rosana me enforcando.

-Tchau, meninas – me despedi me levantando para acompanhá-las até a porta.

Lise deu um rápido beijo em Justin.

Parecia aborrecida com ele.

Talvez por conta do incidente de hoje de manhã.

Quem mandou ele ser mulherengo?

Subi pro meu quarto.

Sono da beleza, cumpra sua obrigação.