Eu sai correndo da sala assim que sai do estado em que não tinha sentido de nada, mesmo sem saber para onde ia, eu tinha que sair dali. Fui até uma das portas que indicava o banheiro feminino, e me sentei no chão tentando respirar normalmente. Porque? Porque? Porque?

Porque quando a minha vida começava a dar certo ele tinha que voltar? Achei que todas as dificuldades pelas quais passamos tinham sido um aviso para esquecê-lo, mas por mais que eu estivesse me esforçando ao máximo para conseguir eu não contava com essa pequena lembrança do destino. As lágrimas vazavam por meus olhos sem o mínimo pudor, me avisando que toda a minha luta tinha sido em vão. Vê-lo ali, tão perfeito, feliz e bonito tinha me abalado.

Estava me sentindo aquela garotinha insegura e feia de sempre de novo. Como ele conseguia ser sempre tão lindo? 'São seus olhos...', certa vez ele me disse, tentando me animar, mas eu sabia que no fundo ele concordava comigo.

Aquilo não podia acontecer! Eu sabia que se voltasse para aquela sala de novo, não ia conseguir, ia ceder, eu ia ser fraca. Eu sabia disso. Mas então porque eu tinha uma vontade imensa de voltar, só pra voltar e olhá-lo mais um pouquinho?

Porque quando eu estava fazendo algo daquele tamanho ele tinha que estragar? Naquele momento eu sentia raiva, mesclada com tristeza e fraqueza... Eu queria ser forte, e queria mostrar para Justin que assim como ele, eu estava bem... Porque ele provavelmente estava. Bom, se não estava porque ele estava sorrindo daquele jeito antes de eu entrar, e assim que eu o fiz seu rosto se transformou em choque? Não era choque por me ver... Não podia ser...

-Jacque?

Angela estava entrando no banheiro. Eu fiz a questão de limpar as lágrimas o mais rápido possível, não queria que ela me visse naquele estado. Ela me olhou com aquela cara de pena e se sentou ao meu lado.

-Olha... Eu sei que não é fácil.

-Como você pode saber?

-Eu tenho trinta e dois anos e dois divórcios. Acredite, eu sei o que é estar magoada. Você ainda o ama, não é mesmo?

-Sim... - adimiti, mesmo que doesse.

-Mas pelo jeito ele sente o mesmo... Porque se separaram?

-Ele não sente o mesmo. Nos separamos porque nós dois sabiamos que aquilo não estava dando certo...

-Querida, não o julgue. Ele está tão mau quanto você. Mas o caso é que você precisa encarar isso.

-Eu sei, mas porque é tão difícil?

-Porque é a ordem natural das coisas. Vocês sentem algo muito forte um pelo outro. Olha, acho que você não devia deixar isso te atrapalhar, entrar lá e mostrar que é profissional. Se ajudar, não olhe nos olhos dele, os olhos são o que nos fazem voltar... - ela falou sonhadora.

Eu dei uma risada sem graça. Eu sabia que ela estava certa. Se eu olha-se naqueles olhos... Não me responsabilizava por meus atos. Bom, eu tinha que encarar isso, certo? Hora de ser forte Jacque. Eu queria ao menos que meus amigos estivessem aqui para me apoiar... Afastei os pensamentos ruins da cabeça e me levantei junto com Angela. Se tinha que fazer alguma coisa, a hora era agora.

Andamos com sorrisos confiantes até a sala, e quando entrei, não olhei no rosto dele e tentei parecer sem sentimentos, por mais que na hora meu coração tenha dado um salto mortal triplo. Sentei-me na cadeira, e senti que tinha que me explicar.

-Desculpe-me por isso. Mas estou aqui, e vamos falar de negócios. - terminei dando um grande sorriso.

Liv me olhou meio desconcertada, acho que pensou que eu não voltaria mais. Eu fazia força para não voltar minha cabeça para o par de olhos que me fitava incrédulo.

-Bom... Ok. Se vocês aceitarem, faremos uma sessão de fotos inicial amanhã, e depois partiremos para o Hotel onde vamos gravar o comercial, vai ser simples e vou escutar todas as suas sugestões, só peço algo bem provocante, com cara de perfume francês, se é que me entendem.

Nós acentimos com a cabeça.

-Ótimo, então é só vocês assinarem. Jacque, sua mão vai vir amanhã, certo?

-Sim.

-Perfeito, então vejo vocês amanhã aqui mesmo, ok?

-Sim, muito obrigada Liv. E desculpe pelo imprevisto.

-Oh, não as desculpas são minhas... Eu não sabia.

-Está tudo bem.

Assinamos o contrato e nos despedimos. Eu sai dali traumatizada. Nunca tinha feito tanta força para não olhar alguém ou pensar em alguém, e agora tinha que continuar assim, para que tudo não tivesse sido em vão.

******

-Ela nem olhou na minha cara... - repeti incrédulo para Scooter. - Ela simplesmente fingiu que eu não estava ali...

-Eu sei, eu sei. Mas isso é uma tática feminina, para não se renderem, elas não dão chances. Eu tenho uma irmã, sabe.

Eu não estava nem aí para a irmã dele, só prestava atenção na minha própria consciência, que me repetia várias vezes a mesma coisa: 'Ela não ama você.' 

Sinceramente? Eu não sabia o porque de isso ser tão importante, mas sabia que era. Eu queria esquecer ela! Mas agora eu não tirava ela da cabeça, e meu coração continuava sangrando pelas falsas tentativas de fazê-lo parar... A minha mente estava uma confusão.

-Eu preciso ficar sozinho.

-Ok... Me chame se precisar, ok? - Scooter falou.

-Sim, sim...

Ele saiu do quarto me deixando a sós com os meus pensamentos. Porque ela tinha voltado para mim? E agora que eu estava tão perto, ela não queria nada. Ela simplesmente fingia que eu não estava mais lá, e sumia. Eu estava com uma vontade louca de beijá-la e tê-la para mim novamente, mas eu não podia. Eu não queria... Ou queria? Nada estava claro para mim, nada. Eu só precisava de uma boa tarde de sono... E talvez eu imendasse com a noite também...

-Acorda JB!

Eu estava sendo chacoalhado as oito horas da manhã. Ótimo. Scooter entendeu o meu gemido como algo positivo, ou como algum sinal de eu estar vivo.

Sai da cama com uma batalha sendo travada dentro da minha cabeça: Fugir e nunca mais ver Jacqueline Mason, para não ter que enfrentar os meus problemas, ou simplesmente encarar isso e passar dos limites, porque eu tinha certeza que se eu fosse vê-la, eu não ia conseguir ficar de longe sem olhar para ela, como ela tinha feito comigo.

Mas enfim, quando terminei de secar o cabelo, depois de ficar vinte minutos parado no chuveiro tentando entender porque isso estava acontecendo, eu ja tinha uma resposta concreta na minha cabeça, afinal, eu tinha assinado um contrato, eu tinha que aparecer.

Quando descia as escadas, sem o sorriso juvenil que tinha estampado no rosto nos últimos dias, fui direto para a van sem falar com ninguém. Eu só queria que minha mãe pudesse estar comigo, me aconcelhando... Mas eu sabia que ela estava pior do que eu, e doia não poder fazer muita coisa por ela, afinal amor é assim mesmo, nós simplesmente gostamos de nos magoar. Eu sabia bem disso, ja que estava indo fazer isso neste exato momento.

Quando chegamos no prédio onde seria feito o photoshoot, eu comecei a ficar nervoso. Minhas mãos suavam e eu respirava fundo mais vezes do que era necessário. Eu conhecia aquela sensação, a que só acontecia quando eu sabia que ia vê-la. Mas o nervosismo simplesmente explodio no momento em que me deparei com uma cena que nunca mais esqueceria.

Jacque falava com Angela, e tinha suas curvas completamente a mostra por causa do tubinho vermelho que vestia, seus pés estavam cobertos por scarpins pretos e seus lábios estavam sensualmente cobertos pelo batom vermelho e cremoso. Se algum dia eu tinha achado uma mulher sexy, nada se comparava com aquilo. Meu corpo ficou completamente quente, e minha respiração se acelerou por conta da visão do paraíso. Meus olhos não desgrudavam dela. Como eu podia ter tentado esquecer aquela deusa?

Ela se encaminhou até o fundo branco, e começou a fazer as poses sensuais que Liv mandava. Era basicamente mostrar que ela podia ser sexy, e ela podia. Eu continuava parado na porta, apenas olhando para ela, e me lembrando de cada parte daquele corpo perfeito. Eu conhecia aquelas curvas... Conhecia de cor. Os flashes de seu quarto escuro passavam pela minha cabeça, seu corpo embaixo do meu, seus olhos fechados com força, e sua boca sussurrando meu nome...

Liv me avistou quando ela segurava o vidrinho de perfume e dava um beijo nele. A francesa falava algo  que eu não entendi muito bom, e me arrastou para uma sala, aonde eu vesti a roupa antiquada sem ao menos ter fechado a boca. Quando sai eu paarecia um executivo sexy demais para ficar dentro do escritório. Quando saí, eles estavam revisando as fotos.

-Ótimo, você está pronto! Menino, você consegue ser bonito, hein?- eu ri, e ela afundou um chapéu preto na minha cabeça. - Agora vá lá e arrase. Eu só peço uma coisa: Seja sexy, ok?

-Ah, isso eu sei fazer...

O pessoal no estúdio riu, eu vi ela rir baixinho mas rolar os olhos. Aquilo me deu forças para brincar com suas defesas, pois ela ainda não olhava nos meus olhos. Aquilo para mim era fácil. Era como nos outros photoshoots, eu mesclava sorrisos arrebatadores, com olhares mais sexys, e até fazia poses mais ousadas de vez em quando. Era minha praia, e eu me divertia muito, mais ainda quando via as reações dela ao me observar piscar ou sorrir para a câmera.

-Ficou perfeito Jusitn! -Liv falou, me abraçando. Ela era realmente animada. - Agora, precisamos de um de vocês dois juntos.

Jacque olhou meio surpresas para Liv, mas eu ja sabia que essa parte chegaria, acho que ela apenas não confiava em si mesma muito perto de mim, nem eu perto dela.

-Eu sei que a situação de vocês não é das melhores, mas... Por favor, tentem ser sexys, ok?

Eu ri de leve, pois o comentário tinha descontraido o ambiente que estava tenso. Me dirigi para o fundo branco assim como Jacque, e ficamos a espera de suas intruções.

-Ok, hum... Jacque poderia ficar de costas para ele? - Jacque se virou devagar. - Agora você abraça ela, e sejam sexys.

Eu passei meus braços por sua cintura com cuidado, e pressionei seu corpo contra o meu. No momento em que fiz isso meu mundo parou. Senti seu cheiro, completamente doce e viciante para mim, sua pele quente e macia... Eu fechei meus olhos e enterrei minha cabeça em seus cabelos. Eu podia sentir seu coração batendo rápido, e sua respiração ofegante.

O flashe da câmera me trouxe de volta para a realidade e ela se afastou rapidamente de mim.

-Muito bom, muito bom, gostei desta foto. Agora acho que queria algo mais para por como foto principal da propaganda... Podia ser um simples abraço, só que vocês olhavam para a câmera.

Obedecemos, e nos viramos um para o outro novamente, ela ainda evitava meu olhar, e eu a abracei pela cintura fazendo com que ela ofegasse então olhamos para a câmera. Outro flashe. Devo adimitir que aquilo estava me deixando louco. Tocá-la ali, tão linda e perfeita, mas saber que ela estava me repelindo a todo o momento como se sentisse repulsa por mim.

-Muito bem! Vocês tem química... O que você acha Ang? Você que trabalha com isso... Eu estou só tentando... - Liv falou para Angela.

-Acho que deviamos deixar que eles fizessem sozinhos. Eles são capazes. - ela falou sorrindo muito gentilmente.

Eu sabia que Angela sabia muito mais do que demonstrava, e estava nos persuadindo silênciosamente a fazer alguma coisa. Mas eu achei que era um bom momento para testar mais um pouco suas defesas. Eu queria descobrir se naquele coração ainda tinha algum espaço para mim, ou se eu teria que lutar para conseguir o meu.

Eu fui até ela e peguei sua mão, a girei e sorrindo lhe disse:

-Vamos improvisar.

Ela não falava nada, mas eu sabia que seu coração tinha pulado mais rápido com aquilo. Eu a abracei pela cintura e desci minha cabeça até seu pescoço. Eu me lembrava de como era beijá-lo, e sorri com a possibilidade de fazê-lo, pousei meus lábios ali em sua pele quente e fechei meus olhos. O flashe da câmera me avisou que eu podia ver sua reação. Seus olhos se abriram e ela engoliu em seco.

Dessa vez eu fui um pouco mais longe e a girei novamente e depois a fiz tombar para baixo e apenas olhei em seus olhos. Mais uma vez o flashe. Eu a levantei e sorri com uma idéia na cabeça. Peguei suas pernas e a aconcheguei em meus braços.

-Justin, o que...

-Shhh.

Ela se calou na mesma hora, e ficou apenas me olhando como se tentasse entender o que eu estava fazendo. Outra vez o flashe. Eu a coloquei delicadamente no chão e então pus meu chapéu em sua cabeça.

-Brinque comigo também. - pedi e ela deu uma risada espontânea.

Quando percebeu o que fez ela parou e balançou a cabeça. Eu a peguei no colo, a levantei e a girei no ar, fazendo ela rir novamente. Eu estava conseguindo o que queria, e suas risadas me mostravam que eu ainda tinha alguma chance. Eu não sabia como minha mente tinha mudado tão rápido, porque a alguns minutos eu simplesmente queria que nada disse estivesse acontecendo e não queria enfrentar, mas agora eu só queria estar ao lado dela cada vez mais. Não sabia como eu tinha tido tanta força para deixá-la sair da minha vida.

Quando a coloquei no chão novamente, seu rosto estava enfeitado pelo sorriso juvenil que eu tanto amava, e ela tinha os braços envoltos em meus ombros, olhava em meus olhos com tanta intensidade e felicidade que eu não podia dizer que era a mesma garota de alguns minutos atrás. Ela ficou me fitando por alguns segundos e depois parou com o que fazia. Sua defesa voltou mais forte que nunca e ela me soltou virando o rosto para o lado. O que eu tinha feito de errado? Porque eu não tinha transpassado e acabado de vez com suas defesas? Quais eram seus medos? Eu não entendia.

-Acho que acabamos por hoje queridos. - Angela falou.

Jacque saiu do lugar e foi direto para os camarins, e eu, fui deixado completamente derrotado ali.