Estava na minha sala quando escutei os primeiros pingos de chuva bater contra a janela do escritório. Olhei para fora e suspirei. Era incrível, toda vez que eu começava a esquecer o que aconteceu naquela noite há quatro anos atrás, vinha uma maldita chuva para me lembrar com todos os detalhes o que havia ocorrido.

 Mas uma vez olhei para fora, a chuva parecia ficar mais forte a cada segundo, enquanto a cena daquela noite repetia em minha mente como uma reprise dos seriados de sábado.

**

 Havia acabado de sair da faculdade, já deveria ser quatro e meia. Cheguei em casa, deitei no sofá e acabei adormecendo. Não sei exatamente por quanto tempo dormi, mas sei que fui tirado dos meus sonhos pelo barulho do telefone tocando.

 Sentei e peguei o telefone que ficava na mesinha ao lado do sofá. Escutei uma voz masculina do outro lado da linha.

- Senhor Uchiha Sasuke?- perguntou o homem.

- Ele mesmo, quem fala?

- Sou Yakushi Kabuto e trabalho no hospital da cidade!- informou. Hospital? Por que alguém, que supostamente, trabalha no hospital me ligaria ás... Sete e meia?

- O que quer?

-Bem, tentei me comunicar com o senhor mais cedo, mas não tinha ninguém!- respondi que estava na faculdade e então ele continuou- Não sei como lhe dizer isso por telefone, mas... Sinto lhe informar que seu irmão mais velho, Uchiha Itachi, sofreu um acidente e...

- Como ele está?- perguntei preocupado, não me dava bem com meu irmão, mas não tinha como não me preocupar.

- Esta é à parte difícil!- suspirou- Seu irmão não agüentou os ferimentos e faleceu!

 Não creditei no que havia acabado de ouvir, meus olhos arregalaram-se com a informação, desliguei o telefone sem nada dizer e me recostei no sofá olhando para o teto. Fiquei alguns minutos assim até que me levantei, peguei as chaves do carro e segui em direção ao parque central.

 Desci do carro e comecei a andar, meu irmão estava morto, era só nisso que pensava. Fui para o lado mais afastado do parque, sentei em um banco olhei para o céu escuro e nublado, fechei os olhos ao sentir os primeiros pingos da chuva. Em minha cabeça um milhão de lembranças rodavam como um filme, em todas elas Itachi e eu brigávamos enquanto meus pais nos repreendiam, agora eu estava sozinho. Meus pais haviam falecido quando eu tinha treze anos, Itachi era já era maior de idade então eu fiquei sob seus cuidados.

 Admito que nossa relação nunca foi a melhor de todas, mas ele era meu irmão e eu o amava, só Kami-sama sabia como me arrependia de não haver dito isso a ele.

 Fiquei horas assim, sentado e de olhos fechados, sentindo a chuva contra minha pele. Ouvi de longe passo se aproximarem, senti que alguém se aproximava cad vez mais da onde estava, mas continuei de olhos fechados. Senti que estava sendo observado e então abri os olhos. Na minha frente estava uma mulher, olhei-a da cabeça aos pés, cabelos negros-azulado, pele tão branca quanto a minha, corpo com curvas que eram perfeitamente realçados pelas vestes encharcadas. Mirei sua boca, tão carnuda e rosada, para depois subir o olhar e encontrar duas lindas pérolas, ela corou -ficando mais tentadora ainda –e fechou os olhos, continuei a fitá-la, era tão bela. Perecia um anjo, era tão delicada e tímida, uma verdadeira tentação.

- Quem é você?- perguntei, percebi que ela segurava um suspiro e dei um meio sorrido, que passou totalmente despercebido por ela, já que ainda estava com os olhos fechados.

- S-sou Hyuuga Hi-hinata...- sua voz era tão delicada e suave quanto sua aparência, definitivamente ela era um anjo, ela respirou fundo e continuou- E você?

- Uchiha Sasuke...- respondi e ela sentou-se ao meu lado, por que ela teve que fazer isso? Senti seu perfume adocicado e inebriante.

- O que lhe traz a esse lugar?- perguntou, fiquei um tempo em silêncio. Aquela pergunta havia feito com que me lembrasse do motivo de eu estar ali.

- Apenas pensando e você?- respondi, não queria entrar em detalhes, mal a conhecia. Ela olhou as próprias mãos e respondeu tristemente.

- Fugindo temporariamente...- e após dizer isso ela começou a chorar.

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 Eu podia mal conhece-la, mas naquela noite eu escutei todos os problemas que a afligiam. Estranhei minha atitude, pois nunca servi para ser ouvinte de desconhecidos, mas aquela mulher era diferente havia algo nela que me fez querer ficar ao seu lado e apenas ouvir sua suave voz. Quando ela acabou de relatar todos os fatos que a levavam a “fugir temporariamente” eu lhe dei um conselho. Ela sorrio, –e meu Kami, que lindo era esse sorriso –nos levantamos, ela me agradeceu e perguntou se um dia iríamos novamente nos encontrar. Eu respondi com um “Quem sabe?...” lhe dei um meio sorriso e então seguimos caminhos opostos, mas antes de nos afastarmos completamente, ainda de costas, eu disse “Até qualquer dia Hinata...” e ainda de costas ela me respondeu “Até, Sasuke...”

 Essas últimas palavras, assim como seu sorriso, continuam vivos em minha mente. Já se passaram quatro anos desde que eu a encontrei pela primeira vez, mas esse tempo que passou não foi suficiente para acabar com as minhas esperanças de encontra-la.