Mike

A sala de aula era uma bagunça, me fazia lembrar de quando estava vivo, iria seguir as instruções do meu pai: viver naturalmente como se nada tivesse acontecido, só que com outro nome.

  Era quase como antes, mas eu estava diferente, tão diferente sem o cabelo grande desgrenhado que parecia que não havia penteado à uma semana, as roupas meio hippie, agora eu tinha mechas loiras no cabelo cortado, roupas da moda jovem, óculos Ray-Ban. Coisa que eu nunca havia me preocupado antes, mas eu precisava ser outra pessoa se eu quisesse ter a Cam de volta pra mim, como era antes.

  Então Alex entrou na sala, desajeitado é claro. Fiquei o observando falar com um amigo nerd e então acenei quando ele me olhou com ar assustado.

  -Por que aquele cara tá acenando pra você? – perguntou o amigo dele

  -Eu não sei, finje que ele não existe, cara. Ele é estranho. – falou Alex sorrindo para mim falsamente e se sentando ao lado do amigo.

  Aula de educação física, eu era ótimo, não querendo me gabar, mas era a mais pura verdade. Apesar de que quando eu era meu “eu antigo” ninguém me colocava no time de basquete, só pelo fato de ser meio hippie, eu sei lá. Ou por causa de Duncan, o valentão da escola que vivia me atormentando, mas isto iria mudar – a partir de agora.

  Fiz 5 cestas jogando com os caras da minha sala. E sorria a cada um deles.

  -Nossa! Eu tô em ótima forma! – arfei recuperando o fôlego ao lado do amigo de Alex – Cara, eu vou te falar um negócio, daqui a dez anos você vai ter uma banha tão grande na sua barriga e nada vai fazer você se livrar dele. E redução de estômago é tudo mentira! Aprendi com o meu pai, apesar de ele ser magro e...

  O garoto não estava mais lá. Bufei, peguei uma bola de basquete ao meu lado e fiz mais uma cesta após umas passadas.

  O Treinador me chamou.

  -Garoto!

  Eu me aproximei passando a bola para os outros garotos.

  -Treinador Murphy. – ele estendeu a mão

  -Uau, você ainda está aqui. – arfei apertando sua mão

  -O quê? – perguntou ele confuso

  -Você é uma lenda.

  -Pois é. – falou Murphy sem graça -20 anos, esse é meu último ano... Bons arremessos, ótimo controle.

  Eu sorri.

  -Precisamos de um amador. – continuou ele

  -Ah é?

  Ele assentiu sem vontade.

  -Por que você não vem fazer o teste?

  Eu assenti sorridente.

  -Acabou a conversa, caí fora. -Falou ele

  Dei as costas e continuei a jogar.

  Quando a educação física acabou fui até o banheiro ligar para meu pai, era intervalo de aulas.

  -E aê? O que você manda? – atendeu ele

  -As coisas estão melhorando. – falei – O treinador Murphy praticamente me colocou no time. Isso não é coincidência, eu sinto que estamos no caminho certo.

  -Ótimo, isso é demais. Você tá encontrando seu destino e bla bla bla. Ah! Escuta só! Eu preciso que você faça uma coisa pra mim, eu preciso que arranje encrenca. Não uma encrenca muito grande, só o bastante para que a diretora precise falar com seu pai.

  -Tá, tá, tudo bem, eu vou ver.

  Então desliguei o celular.

  -Alguém aí pode me ajudar? – perguntou alguém em uma das portas do banheiro.

  Eu abri a porta, era Alex.

  -Alex? – perguntei confuso o olhando com várias fitas sobre o corpo sentado sobre a privada, mas ainda estava com as calças. -Como é que... Quem fez isso com você?

  -O time de basquete. – respondeu ele sem graça

  -Mas por quê?

  -Ahn olha... Isso é meio pessoal e eu... Não te conheço. E eu tô grudado no banheiro.

  -Ah, tá desculpa é... Eu sou Mike Gold, filho do irmão do ex namorado da sua irmã Cameron. Eu acabei de entrar na escola.

  -Ah, legal. Eu te daria a mão, mas é que... Ela tá grudada na privada.

  -Oh, tudo bem. Eu ajudo.

  -É só arrancar.

  -Tá.

  Peguei o começo da fita e falei:

  -Isso vai doer.

  E a puxei, Alex grunhiu.

  Havia ido para o refeitório com ele, hora do almoço.

  -Como é que a gente nunca se conheceu? – perguntou ele com sua bandeja cheia de frutas e minerais, ao contrário da minha, com um hambúrguer e um refrigerante.

  -Minha mãe não queria que ninguém soubesse que ela teve um filho com o Ned. – respondi

  -Faz sentido.

  -É...

  Meu pai era milionário, apesar de amar coisas que quase ninguém se importa, ele parece mesmo um Nerd da escola. Com todo o seu amor por Star Wars, O Senhor dos Anéis, etc.

  -E já que somos praticamente... Parentes – falei –Sabe, meu pai disse que queria que a gente cuidasse um do outro. Tá?

  -Tá. – respondeu ele se sentando em uma mesa vazia - Beleza, por que não? Da próxima vez, chega antes de eles me colarem na privada.

  -Pode deixar. – falei me sentando também, e depois olhei para a comida em minha bandeja – Nossa isso deve tá uma delícia, ein?

  Quando olhei de volta para Alex ele estava olhando para alguém afetivamente, então segui seu olhar, era a Nicole Conway, a líder do time de torcida dos Hayden.

  -Quem é aquela? – perguntei conveniente.

  -Ah... – disse Alex sem graça – É a... Nicole.

  -E vocês estão ficando?

  -Não! Ela é a líder das líderes de torcida. Nunca sairia comigo. – ele pegou uma maçã e a mordeu.

  -Sabe Alex, quando eu conheci a sua irmã eu fiquei tão nervoso...

  -Conheceu a minha irmã?

  -O quê?

  -Minha irmã, você disse que “quando eu conheci a sua irmã eu fiquei tão nervoso”, não era?

  -Eu disse? Ah, que estranho. Ela é gostosa?

  -Cara, o quê? Eu não sei responder isso!

  -É brincadeira. Eu tava brincando, cara.

  Então me concentrei em minha comida, apesar de não estar com fome.

  Olhei de novo para Alex, que agora encarava alguém com raiva.

  -Duncan. – sussurrou ele - Odeio aquele cara.

   Eu segui seu olhar.

  -Aquele é o cara que te grudou na privada? – perguntei com raiva também.

  -É... Esses dias ele me enfiou na máquina de lavar da minha própria casa.

  -O que aquele idiota tava fazendo na sua casa?!

  -Ele tenta ter alguma coisa com a Cameron desde que o Dean morreu, até bajula minha mãe!

  -A... Cameron gosta dele? – falei com dificuldade

  -Não! Ela odeia ele!

  Olhei para Duncan que agora havia se sentado ao lado de Cameron, a atormentando, ele encontrou meu olhar.

  -Pára de encarar ele. – falou Alex –Ele não gosta.

  -Eu vou encarar essa. – falei me levantando.

  Segui até a mesa, o vendo dando cantadas nada boas para Cam, então ele me encarou.

  -O que você quer ow novato? – perguntou Duncan

  -Ow seu otário! – falei –Você não vai falar com uma dama assim na minha frente!

  Ele deu umas risadinhas e se levantou.

  -Por que? Você vai fazer o quê?

  Todos no refeitório olhavam para nós calados.

  -O que eu vou fazer? – perguntei sério, depois sorri – Primeiro, eu vou chamar o seu papai.

  Todos começaram a rir.

  -Sabe, Duncan. – continuei quando todos se calaram –Eu tenho pena de você.

  -Você nem me conhece.

  -Ah, conheço. Bem até demais. – falei me referindo a minha vida antes da “morte” - Você é o cara, é o capitão do time de basquete, né? Fica com as meninas bonitas. – direcionei um olhar pata Cameron e depois voltei para Duncan - O colégio é o seu reino.

  Me virei para o refeitório todo.

  -Mas pessoal. – continuei - O Duncan é um valentão. Por quê? Seria fácil dizer que o Duncan enche o saco dos mais fracos simplesmente por que ele é um babaca. – todos riram de novo, e eu continuei - Não, esse cara, é muito mais complexo que isso. De acordo com os psiquiatras famosos, o Duncan é um valentão por umas 3 razões. Um, por baixo dessa toda brutalidade e macheza existe uma garotinha insegura tentando sair do armário. – riram de novo –Dois, o cérebro do Duncan é mal-desenvolvido como o de um homem das cavernas, por isso ele é tão burro assim. – risadas – E três, ele não consegue nenhuma mulher, por isso diz que fica com todas.

  Agora as risadas foram mais altas e mais fortes.

  Duncan ficou me encarando com raiva, dei as costas e me sentei de volta com Alex.