Utopia escrita por dastysama


Capítulo 33
Capítulo 33 - A Vingança




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– Estou quase terminando seu barco, Biene, até o fim da tarde já deve estar pronto – disse Fester Wald dando os últimos retoques de tinta no barco – Pretende estréia-lo em breve?

– Sim, com certeza! – Biene exclamou, com os olhos brilhando ao ver o barco.

Mesmo o barco tendo um motor – que Biene pagara uma fortuna, mas valera à pena cada centavo – Fester se encarregou de fazer remos para ela. A melhor parte era o nome Utopia escrito ao lado, branco em azul. Logo ela seria a única a ter um barco naquela região, quem sabe outras pessoas não fizessem o mesmo? Talvez em um futuro próximo o lago de Aach tivesse várias pessoas por lá e não vazio como sempre foi.

– Estou planejando até em fazer uma aula sobre ele com as crianças. Já imaginou o lago cheio de pessoas? Nos domingos em vez de ficarmos enfunados em casa, todos poderíamos sair um pouco, andar de barco ou apenas fazer um piquenique em frente ao lago.

– Se tivessem mais pessoas aqui como você, talvez essa cidade não fosse tão morta quanto é. O povo daqui é muito supersticioso, houve algumas mortes ao longo do tempo naquele lago e eles acreditam que todos vão morrer da mesma forma.

– Mortes? Eu não sabia sobre isso – Biene disse realmente surpresa – Pensei que ninguém se atrevesse a entrar nele por isso nunca se noticiou nada desse tipo.

– Não, algumas vezes as pessoas se atrevem a entrar nele, claro que houve mortes, mas uma ou outra. Conheço algumas pessoas que nadaram e navegaram por lá e não morreram.

– Eu não vou morrer – Biene disse rindo – Fiz natação desde os cinco anos, sou capaz de nadar até em alto mar. Além do mais, não vou entrar no lago com esse frio, vou estar no barco.

– Claro que não, como eu disse, é baboseira dessa região.

 

Bill ficou debruçado sobre os livros à tarde inteira, procurando alguma coisa que despertasse curiosidade, mas nada parecia realmente ajudá-lo a desvendar o que estava acontecendo. Descobriu que o seu pai morrera um ano depois de sua suposta morte ou quem sabe, fuga, que Heinrich assumiu os negócios da família e casou com Meredith, que tiveram dois filhos homens e que Meredith morreu três anos depois. Sobre William tinha pouquíssima coisa e quanto a Johanna, não achou nada que falasse sobre ela. Chegou uma hora que não aguentava mais olhar para livros empoeirados, parecia que nada era capaz de ajudá-lo realmente.

– Achou alguma coisa? – Tom perguntou, entrando na cozinha.

– Não, nada realmente importante – Bill disse, bufando – Talvez eu esteja deixando algo passar.

– E se você dormir? Quem sabe não sonhe mais alguma coisa que te ajude?  Talvez os livros não vão te ajudar e sim essas tais memórias.

– Tenho medo de dormir e acabar sonhando com algo que eu não queira ver. O último sonho foi doloroso demais, mesmo sendo apenas visões, era como se eu pudesse sentir tudo, principalmente o desespero.

– Uma hora os sonhos tem que acabar, se você não os vê-los até o final e ficar adiando, isso vai demorar mais ainda. Talvez eles estejam relacionados com algum evento atual, sabe?

– Não, não entendi.

– Por exemplo, algo que aconteceu no passado pode estar se repetindo agora e os sonhos são para avisá-lo. Tem uns filmes muito massas que falam desse tipo de coisa, lembro uma vez que foi no cinema com uma gatinha, juro que preferia ficar beijando ela, mas o filme era tão legal que quase me esqueci que ela estava do meu lado.

– Acho que você pode estar certo – Bill disse pensativo – Vou tentar dormir, mesmo já tendo dormido tanto. A única coisa que realmente pode me ajudar são esses sonhos e não vejo a hora de eles acabarem.

– Durma, mas quando acordar, vê se não acaba matando uma pessoa sem querer, inclusive seu irmão aqui – Tom lançou seu sorriso maroto de sempre, enquanto Bill se afastava da cozinha e subia para o seu quarto.

– Que venham os sonhos – suspirou, mas com um leve medo do que poderia vir.

 

Will estava em seu quarto agora, completamente vestido e com seu rosto ainda contendo os traços da pancada que recebera de seu próprio pai. Sua raiva era tamanha, borbulhava por dentro e acelerava seus batimentos de tal forma que poderia aniquilar a primeira pessoa que atrevesse a insultá-lo novamente.

Agora ele era prisioneiro em seu próprio quarto, fora trancado ali até segunda ordem. Seu pai tratou até de lacrar as janelas e não havia nenhuma maneira de poder sair dali. O que mais queria nesse instante era saber sobre Johanna, se ela estava bem ou se Meredith fez algo de ruim com ela.

Tudo havia desmoronado, não parecia mais aquele homem de antes, que preferia a honra da sua família acima de tudo. Honra? Que honra ele teria de um pai ditador? De um irmão ausente? A única pessoa que sempre amou de sua família foi sua mãe, mas onde ela estava agora? Morta. Com toda essa honra ele havia ferido quem mais amava, sem falar em outras pessoas.

De repente ele ouviu um burburinho do lado de fora, passos e barulhos de luta. Havia objetos se quebrando e pessoas caindo. Tentou descobrir o que estava acontecendo, se aproximou da porta quando ouviu uma voz conhecida.

– Will, você está aí? – disse uma voz ofegante.

– Thomas! É você? Não acredito! O que está fazendo?

– Sai da porta agora, vamos arrombá-la antes que nos capturem.

William se afastou da porta o mais rápido possível quando viu que a madeira começou a estalar. Com muito esforço a porta foi se transformando em um monte de lascas e um buraco se formou bem no meio das duas portas onde havia a maçaneta. Logo podia-se ver Thomas segurando uma estátua de cobre que ficava no corredor, e estava sendo ajudado por Gustaf e também por Jörg.

– Gott! Vocês vieram me salvar, precisam me contar o que está acontecendo com Johanna!

Gustaf largou a estátua de cobre e atravessou o portal em direção a William, lançando um soco em seu maxilar o mais forte que podia.

– Seu desgraçado! O que você fez com minha irmã? Eu vou matá-lo!

– Gustaf pare com isso! Não vai ajudar em nada! – Jörg correu até Gustaf o segurando – Precisamos da ajuda dele para libertar Johanna.

– Will, escute bem – Thomas disse ajudando William a se levantar – Eu arrombei o cofre e peguei o máximo de dinheiro que pude, vamos tentar libertar Johanna e vocês dois vão fugir o mais longe possível, entendeu?

– O que está acontecendo, afinal? – Will perguntou, passando a mão em seu maxilar dolorido.

– Se não salvarmos Johanna até cinco da tarde, ela vai ser enforcada, William. Meredith conseguiu que ela fosse condenada a pena de morte por furto, uma condenação falsa.

– O que? Não podemos deixar isso acontecer! Eu preciso salvar ela, Thomas, não posso deixar mais ninguém feri-la!

William se recompôs e correu até seu guarda-roupa, revirando suas roupas até encontrar um estojo preto que escondia ali. Quando o localizou, o abriu e retirou a pistola Kentucky de dentro. Lembrava muito bem quando ganhou uma do pai, viera importada da Inglaterra, tinha trezes anos e a usava para caçar nos fins de semana. Sempre que ia caçar, fingia errar as raposas para não as ver mortas, o pai sempre caçoou dele, o chamando de mongolóide. Hoje ele iria mostrar quem tinha sangue frio.

– O que vai fazer com isso? – Thomas perguntou ao ver a arma.

– Estou me prevenindo, caso tenha necessidade – William disse, colocando a arma dentro de seu casaco – Não estou mais aqui para brincadeira.

– Melhor vocês correrem – uma mulher surgiu na porta, Will a reconhecera, era uma das meretrizes que trabalhava para Jörg – Mais capangas do seu pai estão vindo, vão pelos fundos da cozinha, as empregadas estão dando cobertura. Apressem-se!

Os quatro correram para o corredor, seguindo a moça que corria habilmente mesmo com vestido. Passaram pelos labirintos de quartos até chegar à cozinha, onde várias empregadas os deixaram passarem sem medo do que poderia acontecer.

– Johanna era nossa amiga – uma das empregadas disse ao ver William – Por favor, a salve!

Ela nem precisava dizer nada, ninguém precisava avisá-lo do que deveria fazer. Ele iria tentar salvá-la nem que fosse a última coisa que fizesse, nem que precisasse desafiar a cidade inteira. William nunca teve uma certeza tão grande na sua vida como aquela, ele havia abandonado tudo, começando pela mansão que cada vez ficava para trás, enquanto descia os morros com a maior velocidade que podia.


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