Utopia escrita por dastysama


Capítulo 17
Capítulo 17 - Atos não pensados




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81561/chapter/17

 

– Em breve será meu mercado! Não tens ideia de quanto nós ganhamos só de trazer produtos de outros países – Thomas disse, sentado ao lado de Will na carruagem.

Ambos estavam olhando para o Mercado Gietzen, os cheiros de temperos penetrou na narina deles quando abriram a porta da carruagem. O lugar estava abarrotado de pessoas comprando os novos produtos que haviam acabado de chegar, ainda mais com o inverno que estava cada vez mais próximo. Armazenar alimentos era algo mais do que necessário no momento.

– Terá que ser tão bom quanto seu pai – Will disse analisando tudo com a perspicácia que aprendeu quando começou a trabalhar na contabilidade – Ter pulso firme, se não tudo pode ruir mais rápido do que você pensa.

– Obrigado pelo apoio moral, isso ajudará muito – Thomas disse marotamente, ele nunca dava a mínima para o que Will falava, mesmo que ele estivesse totalmente certo – Se quer comprar alguma coisa, é melhor correr.

– Acho que um dos meus empregados já veio hoje aqui mais cedo. Achas que eu iria perder a oportunidade de ter os melhores produtos?

– Depende, acho que um dos melhores produtos está ali – Thomas disse apontando para algo dentro da loja.

Os olhos de Will perscrutaram pela multidão, tentando descobrir sobre o que diabos Thomas estava falando. Lá estava a pequena criatura, com os cabelos preto azeviche em suas costas delicadas, os olhos azuis acinzentados brilhando sem aquelas maquiagem pesadas e um sorriso satisfeito ao ver as compras que estavam em uma cesta que carregava. Ela parecia uma boneca naquele vestido azul claro, nunca poderiam dizer só de olhá-la que na verdade ela trabalhava naquele sórdido cabaré.

Will não sabia o que estava acontecendo com ele, mas quando a viu lá, teve uma vontade enorme de ir até ela. Mas ele não podia, não era bonito ser visto na companhia de uma meretriz em pleno dia, de noite até que poderia, mas não na frente do mercado, quando tinha várias pessoas vendo. Johanna não havia percebido sua presença, apenas continuava a comprar, olhando atentamente cada produto, como se quisesse o melhor.

– Não entendo o que você quis dizer com isso – Will disse secamente, deixando de lado a visão que tinha de Johanna e olhando bravo para Thomas.

– Não se faça de desentendido, Will. Consegui perceber sua expressão ao vê-la, você realmente gostou da garota! Pena que ela seja uma meretriz, não é? Imagine se ela fosse uma dama, Will? Você até poderia se casar com ela, consegue se ver ao lado dela?

– Cala boca, Thomas. Não, eu não me vejo casado com uma meretriz! Mesmo que ela continue sendo pura, nunca encostaria a mão em uma garota como ela, que escolheu seguir em frente com essa ideia estúpida de que pode conseguir dinheiro vendendo a si mesma.

– Na verdade ela só trabalha como garçonete lá, ela não vai se vender facilmente, Will, se não tiver uma grande oferta como aconteceu com a minha. Mas também que alternativa ela tem? Pelo que eu saiba, a garota está sozinha, só tem outro parente e precisa de dinheiro.

– Por que estamos tendo essa conversa? Não dou a mínima para o que ela faz com a vida dela. Tenho que preocupar mais com a minha, com meus negócios e talvez com um futuro casamento.

– Você vai se casar? – Thomas exclamou boquiaberto – Já achou uma noiva e não me contou?

– Não, meu pai que a achou, ou pelo menos, é o que eu penso. Ele disse que em breve vai anunciar algo, deve ter a ver com casamento, com certeza! Ainda não tenho a mínima vontade de me casar, mas acho que terei que fazê-lo.

– Casamento para mim só vai ser mais para frente, ainda quero me divertir muito antes que isso aconteça. E você deveria fazer o mesmo. Não me importo de me pagar dez vezes mais uma meretriz desde que você aproveite sua noite.

– Obrigado, mas não aceito sua oferta – Will disse já pensando em voltar para a carruagem, quando ouviu algo que o fez parar.

– Você não é a garota do Cabaré? – a voz de um homem falou, Will se virou para trás e viu um cara segurando o braço de Johanna, a olhando de uma forma nada apaziguadora – Como deixam uma coisa tão linda andar sozinha por aí?

– Me solte, por favor – Johanna disse tentando puxar o braço do aperto de ferro dele. Algumas pessoas do mercado olharam para aquela pequena confusão, mas não deram atenção nenhuma, pouco se importavam, ainda mais se a garota na realidade era uma meretriz.

– Jörg não me deixa chegar nem perto de você – o homem continuou a falar sem se importar se os outros ouviam – Será que você pertence a ele? Por isso ele não gosta que a toquem? Eu faria tudo para tê-la por uma noite, pago muito bem se quiser.

– Não vou fazer nada com você – ela disse com tanta fúria para uma pessoa tão pequenina quanto ela. Novamente Johanna tentou puxar o seu braço, mas ele a puxou para mais perto de si – Me solte, seu brutamontes!

Will nem viu quando nem como aconteceu. Só sentiu seu punho atingindo o rosto do homem e ele caindo com tudo para trás, desnorteado. Ele sentia tanta raiva dentro de si, um nojo tremendo daquele homem por estar tentando acabar com o pouco de honra que aquela garota ainda tinha. Mas não era ele que não se importava? Ele não sabia, só queria matar aquele homem, ali mesmo.

– Seu merda! Por que fez isso? – exclamou o homem no chão, segurando o rosto que sangrava abundantemente pelo lábio cortado.

– Você ainda tem o atrevimento de perguntar? Você está desonrando a imagem de uma dama em lugar público. Se nenhum desses hipócritas que estão assistindo não vão fazer nada para protegê-la, eu farei.

– Ela não é uma dama – ele disse aquilo como se justificasse os fatos – É uma prostituta! Eu já a vi no Verführung&Wollust, é uma vadiazinha que não se acha boa o suficiente para aceitar qualquer oferta e...

Um chute certeiro atingiu o estômago do homem que ficou se contorcendo no chão. O peito de Will subia e descia conforme sua respiração ficava mais forte. Todos os tendões do seu corpo pareciam estar queimando sobre brasa, loucos para acabar com aquele imbecil de uma vez. Mas ele tinha que manter a compostura, ainda mais depois de estar protegendo uma meretriz.

– Não importa se é uma dama ou uma meretriz, ela merece o respeito até de um idiota como você! E se ela não aceita sua oferta, é uma garota muito esperta, afinal acho que qualquer mulher deve ter nojo de ir para cama com um hipócrita como você, ainda mais se for só por dinheiro – Will olhou para as pessoas do mercado, todas haviam se aglomerado para ver a briga – O que estão olhando? Voltem para as suas compras agora. Se não tiveram um pingo de decência de ajudá-la, pelo menos podiam voltar as suas atividades costumeiras.

Pronto, ele havia acabado com sua reputação. Em menos de segundos, todos da cidade saberiam que um Baumgärtner havia protegido uma prostituta. A vontade dele era de se socar a si mesmo, mas quando se virou e viu os olhos enormes de Johanna banhado de lágrimas, ele percebeu que tudo que ele fizera, havia valido a pena só de vê-la ali, segura.

– Melhor cairmos fora daqui! – Thomas disse puxando o braço de Will, apesar de ele ser às vezes meio imaturo, ele sabia muito bem manter a sua reputação e todos olhavam para Thomas com um enorme respeito – Seu pai vai te matar se descobrir isso!

– Estou morto – Will disse suspirando e saindo dali, caminhando até a carruagem, mas ainda olhando para uma Johanna sem-graça e com lágrimas nos olhos. Ele realmente pensou em consolá-la, mas não podia, não quando o mercado estava cheio de pessoas fofoqueiras. O melhor seria se afastar dela.

– Foi tudo tão rápido! – Thomas começou a rir quando entrou na carruagem – Por um momento você estava do meu lado, no outro já estava socando aquele homem com uma fúria que nunca vi em você! Por que fez isso, Will? Não é você o Senhor Eu-prefiro-honrar-minha-família-e-minha-reputação?

– Cala boca, Thomas. Já cometi um erro, não me faça cometer outro para fechar essa sua boca – Will disse de mau humor.

– William Baumgärtner apaixonado por uma prostituta, isso não soa irônico? O que vai fazer dessa vez? Sequestrá-la e fugir para se casar em alguma cidade vizinha?

Will não respondeu, não queria gastar suas palavras com alguém tão teimoso como Thomas. Apenas apoiou seu cotovelo na janela da carruagem, enquanto iam embora, mas seus olhos continuaram a fitar o vulto dela, caminhando lentamente, quem sabe, de volta para o seu lar. Se ela podia chamar aquilo de lar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Utopia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.